domingo, 20 de outubro de 2024

O HUMOR E A COMÉDIA QUE SALVAM

 

Boa noite amigos,

 

Através do humor vemos no que parece racional, o irracional; no que parece importante, o insignificante. Ele também desperta o nosso sentido de sobrevivência e preserva a nossa saúde mental” CHARLES CHAPLIN.

 


Muito se disse a respeito do humor e da comédia. O humor salva, dá sentido à vida e às coisas. Sem o humor, afirmou um dia Ary Toledo, que nos deixou recentemente, “a vida é um absurdo”. O humor e a comédia servem a tudo e a todos. Espalham a alegria e sugerem reflexão. O humor inteligente é intrigante, escancara as contradições do ser humano, a sua vileza, a sua pequenez, fere os poderosos com piadas, provocando sorrisos, escamoteando as dores e os sofrimentos do ser humano, condenando a sanha pelo poder e pelo arbítrio, reinante em todos os lugares, em todos os tempos, desde o surgimento da espécie humana. Fazer humor, fazer rir é coisa séria.  Ponderam os atores, com frequência, que o desafio de fazer comédia é maior do que atuar em outro gênero, seja drama ou tragédia.  William Shakespeare com talento e argúcia,  driblou a dura censura inglesa,  na era medieval da Inglaterra Elisabetana anti-semita, ao contar a saga do judeu Shylok e seu sofrimento, dores e perdas,  simplesmente catalogando o seu  “Mercador de Veneza” como o gênero  comédia, que faria rir os incultos censores e à nobreza ignorante,  com o desfecho que ridicularizava o credor que,  sem direito à prestação que por lei faria jus, ainda sofreu penas absurdas como de confisco e de conversão compulsória ao cristianismo. O humor é democrático e, não raras vezes, não se constrói sobre o outro, ou os outros, mas sim sobre o  próprio contador das estórias e casos e, por isso, não é arrogante, nem ultrajante. O humor é também uma opção de vida, uma alternativa de afastar ou minimizar os sentimentos de perda, fracasso, impotência, medo, depressão,  que crescem em tempos de pandemias e de impiedosas e estúpidas guerras.  A mim o humor é fundamental. Em todos os tempos, desde criança. Aprontei situações inusitadas com meus colegas e também fui vítima daquelas por eles arquitetadas. E, ao contrário do que se pode supor, por isso não se desfez amizades, mas ao contrário, fortaleceu os laços de fraternidade que nos unia e que hoje são parte da nossa memória comum e que nos é tão caras, nos encontros raros que ainda acontecem ao acaso, aí pela vida afora, já na terceira idade. Passando da casa dos setenta anos, não perdi o senso de humor, não perdi a alegria, não me entreguei à tristeza, embora não possa responder pelo amanhã. Vivo cada dia como se fosse o último, como um bônus. Brincar com as deficiências e as perdas que a ancianidade nos impõe é, ainda, a mais sábia forma de continuar a vida com leveza. Escrevi três livros de contos. Neles busquei relatar, com minha memória afetiva, os “causos” curiosos que foram aparecendo no exercício das minhas profissões de advogado, professor e Juiz de Direito e que muito me disseram e dizem sobre a antropologia humana, o poder da imaginação e a capacidade de amar, apesar de tudo.

 

Boa semana amigos.

P.S. (1) A imaginação é mais importante que o conhecimento”  (Albert Einstein).

P.S. (2)  “Não é que eu tenha medo de morrer. É que eu não quero estar lá na hora que isso acontecer”  (Woody Allen).


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