Boa tarde amigos,
Espero que todos estejam bem. Ausente quase todo o
mês, por força de ocupações e novos projetos, retorno para falar sobre
televisão, esse veículo que faz parte de nossas vidas, antes mesmo dos
celulares e computadores, hoje igualmente inseparáveis. E também de Campinas, de seu maior e mais antigo cemitério, e dos personagens e filmes de terror ligados à nossa memória de infância. Bem, confesso que acompanhar
os capítulos da minissérie AMORTEAMO, uma criação de Cláudio
Paiva, Guel Arraes e Newton Moreno, com direção geral de Flávia Lacerda, é um
programa que tem me conquistado atualmente. A série foi fragmentada em cinco capítulos, três já veiculados nos dias 08, 15 e 22 deste mês, e os dois últimos a serem transmitidos em 29
de maio e 5 de junho. Trata-se de um ficção ambientada no Recife do começo do século passado, tendo como temática o binômio amor/morte (ou o
amor tão forte quanto a morte) e se desenvolve por meio da história de triângulos amorosos que se desfazem, em razão do falecimento (por homicídio ou
suicídio) de um de seus componentes. Os mortos, porém, ressurgem para reviver os momentos de paixão abortados pelos óbitos, e, ainda, para uma prestação de contas com
seus desafetos. Um dos triângulos
amorosos é composto por Aragão (Jackson Antunes), Chico (Daniel de Oliveira) e Arlinda (Letícia Sabatella). Outro,
por Gabriel
(Johnny Massaro), Malvina (Marina Ruy Barbosa)
e Lena (Arianne Botelho). Os
atores escolhidos para a trama vêm dando
um banho de interpretação, sem nenhuma exceção. O incrível Tonico Pereira (o Zé, Coveiro do cemitério) Maria
Luiza Mendonça (a Dora, dona de um prostíbulo) e Guta Stresser, a Bebel da Grande Família, no papel de Cândida, dona
de um bar e a maior fofoqueira do pedaço, merecem destaque. Mas,
todos, protagonistas ou não, contribuem
decisivamente, para que o espectador experimente aquela sensação de estranheza,
de terror, de dramaticidade da obra. Afinal, o projeto foi mesmo diferente e
ousado.
Apesar da ausência de referência a esse respeito, Amorteamo é uma obra enquadrável no gênero terror, independentemente dos objetivos de seus criadores. Suscita em
nossa memória de infância e adolescência, aquela atmosfera dos filmes e personagens do
gênero, como O Drácula de Bran Stocker,
ou o clássico Drácula de Christopher
Lee. Menção honrosa, ainda, aos atemorizantes, Frankeinstein e Lobisomen, dentre os mais antigos, de minha adolescência perdida na noite dos tempos. E porque não, o amoral Zé do Caixão, criação do cineasta José Mojica Marins, como o nosso protótipo tupiniquim de personagem
tétrica. Aproveito para louvar O Mojica, cineasta idealista, precursor no país sem tradição de filmes de mistério e
terror, com orçamentos minúsculos, sem recursos técnicos, mas com uma vontade enorme de nos
introduzir, nos assustar e nos convencer
nas suas películas apavorantes (ou resvalando á comédia como consideram alguns amigos, por conta de recursos primários durante as cenas de terror). Não tenho dúvidas em considerar (mesmo que ainda faltem dois capítulos para o encerramento) que Amorteamo é uma das melhores produções de dramaturgia da TV Globo
nos últimos anos. As cores (cinza escuro e preto) obtidas no trabalho da cenógrafa
Cristina Bethencourt e os efeitos
especiais, a cargo de Gustavo Gamier, são decisivos para
assegurar o clima sombrio e permanente, efeitos aprimorados pelo pessoal da pós-produção, com a utilização de recursos virtuais. Dá tempo de assistir aos
dois últimos capítulos, nas duas sextas-feiras próximas. E depois acompanhar desde o início, pelo DVD que, cedo ou
tarde, será lançado e posto à disposição do espectador, no comércio real ou virtual. Ponto positivo para a emissora do Projac;
Até amanhã amigos.
P.S. (1) Em entrevista concedida no dia de lançamento
da minissérie, a diretora geral, Flávia
Lacerda, lembrou a seriedade e o envolvimento de todo o grupo na produção
da trama: “A gente está fazendo de conta
que as coisas existem. A gente tem trabalhado com um universo todo virtual. Os
nossos atores foram muito guerreiros ao trazer tanta verdade para situações tão
difíceis”;
P.S. (2) A atriz Marina
Ruy Barbosa, uma das protagonistas, está radiante (ou melhor, sinistra) no desempenho da Malvina. Marina tem apenas 19 anos, embora já tenha feito vários personagens
em novelas da TV Globo, a última das
quais a doce Maria Isis, amante do comendador
na novela Império, sucedida pela
atual Babilônia, no horário das
21,00 horas. É a primeira vez que ela
encara uma vilã e um trabalho diferente e complexo, que a levou, inclusive, a
gravar cenas intensas, como a que seu
personagem, vestido de noiva, se atira de um precipício, depois de abandonada no altar. E, ainda, a que a obriga a deitar-se em um caixão, após o corpo de Malvina ser resgatado, sem vida, das águas do rio;
P.S. (3) O co-criador do projeto Amorteamo, Cláudio Paiva, claramente entusiasmado com o resultado da
empreitada, declarou à imprensa por ocasião da festa de lançamento: “Este projeto foi uma loucura, uma insanidade que todos bancaram.
Tiveram tesão na ideia e isso é fundamental. É uma mega produção que foi feita
em pouco tempo”;
P.S. (4) O ator Johnny
Massaro, na pele de Gabriel, um jovem sem medo da morte, nem de cemitério, resolveu, por conta do projeto, deixar
as unhas da mão compridas, porque achou que o personagem deveria tê-las. Ficou
dois meses sem cortá-las. Será que não é influência, ainda que
inconsciente, do nosso Mojica? Ou
melhor, Zé do Caixão. Curioso como o personagem domina o ator e o engole na
memória do público. Nunca me esqueci do nome “Zé do Caixão”. Mas para mencionar
o nome do Mojica, tive que refrescar minha memória no “Google”;
P.S. (5) Em que cemitério foram gravadas as muitas
cenas de Amorteamo? Cemitério do Morumbi?
Do Araça em São Paulo? São Judas Tadeu, no Rio? Cemitério de Santo
Amaro, em Recife? Não. O cemitério que se vê no seriado é cenográfico e os
túmulos feitos de material leve, como isopor.
P.S. (6) Muitas das sepulturas exibidas no seriado
lembram aquelas que os mais abastados mandavam construir para seus mortos
queridos, nos cemitérios das cidades brasileiras, nos século XIX e XX. O Cemitério da Saudade, de Campinas, inaugurado no ano de 1.881, tem muitos
mortos ilustres enterrados sobre túmulos majestosos, e até capelas. Um deles é Francisco
Glicério. Verdadeiras obras de arte. É considerado um dos mais importantes
cemitérios do Brasil por conta dessa riqueza arquitetônica, da beleza e
importância das obras de arte que adornam parte de seus túmulos, dentre elas peças em mármore carrara, granito, cobre e latão, esculpidas por artistas como Tomagnini, J. Rosadas, Velez, Albertini e Coluccini;
P.S. (7) O Cemitério foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Condepacc) e foi cenário de parte do filme Memórias Postumas de Brás Cubas, baseado na obra homônima do imortal Machado de Assis. O longa foi estrelado por Sônia Braga e Reginaldo Faria. O cemitério possui nada menos que 32.000 túmulos e ali se encontram sepulturas de heróis da revolução de 32, da Polícia Militar do Estado de São Paulo e de muitas pessoas consideradas milagreiras, como o escravo Toninho e uma prostituta de nome Jandira, que ateou fogo ao próprio corpo, quando teve seu casamento desfeito, e a quem se atribuem milagres;
P.S. (8) As imagens que ilustram a coluna de hoje são:
1) da atriz Marina Ruy Barbosa, em Amorteamo, na pele da personagem Malvina, com perucas pretas e figurino inspirado no filme
americano, Noiva Cadáver, e foi emprestada de Gshow.globo.com.; 2) do cemitério virtual que se vê em Amorteamo, foto emprestada do mesmo
site acima;
3) do Portal de entrada do Cemitério da Saudade de Campinas, com o monumento aos Heróis
da Revolução de 1.932, emprestada de wikipedia.com.;
4) da capela onde se acha enterrado o Monsenhor
Emílio José Salim, fundador da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas e seu primeiro e inesquecível Reitor
(foto de meu celular); 5) da placa de inscrição na capela-tumulo do referido Monsenhor (foto do meu celular); 6) imagem de meu
celular, de túmulo com obra de arte no Cemitério
da Saudade de Campinas; 7) de cena do filme nacional de 2.001, Memórias
Póstumas de Braz Cubas, gravada no Cemitério da Saudade de Campinas, destacando-se
o ator Reginaldo Faria, no papel do
protagonista. A direção do longa é de André
Klotzel e a imagem emprestada de arte1.band.uol.com.br.
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