sábado, 23 de maio de 2015

MINISSÉRIE "AMORTEAMO" E CEMITÉRIO DA SAUDADE EM CAMPINAS

Boa tarde amigos,
Espero que todos estejam bem. Ausente quase todo o mês, por força de ocupações e novos projetos, retorno para falar sobre televisão, esse veículo que faz parte de nossas vidas, antes mesmo dos celulares e computadores, hoje igualmente inseparáveis. E também de Campinas, de seu maior e mais antigo cemitério, e dos personagens e filmes de terror ligados à nossa memória de infância. Bem, confesso que acompanhar os capítulos da minissérie AMORTEAMO, uma criação de Cláudio Paiva, Guel Arraes e Newton Moreno, com direção geral de Flávia Lacerda, é um programa que tem me conquistado atualmente. A série foi fragmentada em cinco capítulos, três já veiculados nos dias 08, 15 e 22 deste mês,  e os dois últimos a serem transmitidos em  29 de maio e 5 de junho. Trata-se de um ficção ambientada no Recife do começo do século passado, tendo como temática o binômio amor/morte (ou o amor tão forte quanto a morte) e se desenvolve por meio da história de  triângulos amorosos que se desfazem, em razão do falecimento (por homicídio ou suicídio) de um de seus componentes. Os mortos, porém, ressurgem para reviver  os momentos de paixão abortados pelos óbitos,  e, ainda, para uma prestação de contas com seus desafetos. Um dos triângulos amorosos  é composto por Aragão (Jackson Antunes), Chico (Daniel de Oliveira) e Arlinda (Letícia Sabatella). Outro,  por Gabriel (Johnny Massaro), Malvina (Marina Ruy Barbosa) e Lena (Arianne Botelho). Os atores escolhidos para a trama  vêm dando um banho de interpretação, sem nenhuma exceção. O incrível Tonico Pereira (o Zé, Coveiro do cemitério)  Maria Luiza Mendonça (a Dora, dona de um prostíbulo) e Guta Stresser, a Bebel da Grande Família,  no papel de Cândida, dona de um bar e a maior fofoqueira do pedaço, merecem destaque. Mas, todos,  protagonistas ou não, contribuem decisivamente, para que o espectador experimente aquela sensação de estranheza, de terror, de dramaticidade da obra. Afinal, o projeto foi mesmo diferente e ousado.
Apesar da ausência de referência a esse respeito, Amorteamo é uma obra enquadrável no gênero terror, independentemente dos objetivos de seus criadores. Suscita em nossa memória de infância e adolescência, aquela atmosfera dos filmes e personagens do gênero, como O Drácula de Bran Stocker, ou o clássico Drácula de Christopher Lee. Menção honrosa, ainda,  aos atemorizantes, Frankeinstein Lobisomen,  dentre os mais antigos, de minha adolescência perdida na noite dos tempos. E porque não, o amoral Zé do Caixão, criação do cineasta José Mojica Marins,  como o nosso protótipo tupiniquim de personagem tétrica. Aproveito para  louvar O Mojica, cineasta  idealista, precursor no país sem tradição de filmes de mistério e terror, com orçamentos minúsculos,  sem recursos técnicos, mas com uma vontade enorme de nos introduzir, nos assustar e nos convencer nas suas películas apavorantes (ou resvalando á comédia como consideram alguns amigos, por conta de recursos primários durante as cenas de terror). Não tenho dúvidas em considerar (mesmo que ainda faltem dois capítulos para o encerramento) que Amorteamo é uma das melhores produções de dramaturgia  da TV Globo nos últimos anos. As cores (cinza escuro e preto) obtidas no trabalho da cenógrafa Cristina Bethencourt e os efeitos especiais, a cargo de Gustavo Gamier, são decisivos para  assegurar o clima sombrio e permanente, efeitos aprimorados pelo pessoal da pós-produção, com a utilização de recursos virtuais. Dá tempo de assistir aos dois últimos capítulos, nas duas sextas-feiras próximas. E depois  acompanhar desde o início, pelo  DVD que, cedo ou tarde, será lançado e posto à disposição do espectador, no comércio real ou virtual. Ponto positivo para a emissora do Projac;
Até amanhã amigos.
P.S. (1) Em entrevista concedida no dia de lançamento da minissérie, a diretora geral, Flávia Lacerda, lembrou a seriedade e o envolvimento de todo o grupo na produção da trama: “A gente está fazendo de conta que as coisas existem. A gente tem trabalhado com um universo todo virtual. Os nossos atores foram muito guerreiros ao trazer tanta verdade para situações tão difíceis”;
P.S. (2) A atriz Marina Ruy Barbosa, uma das protagonistas, está radiante (ou melhor,  sinistra) no desempenho da Malvina. Marina tem apenas 19 anos, embora já tenha feito vários personagens em novelas da TV Globo, a última das quais a doce Maria Isis, amante do comendador na novela Império, sucedida pela atual Babilônia, no horário das 21,00 horas.  É a primeira vez que ela encara uma vilã e um trabalho diferente e complexo, que a levou, inclusive, a gravar cenas intensas,  como a que seu personagem, vestido de noiva,  se  atira de um precipício,  depois de abandonada no altar. E, ainda,  a  que a obriga a deitar-se  em um caixão, após o corpo de Malvina  ser resgatado, sem vida, das águas do rio;
P.S. (3) O co-criador do projeto Amorteamo, Cláudio Paiva, claramente entusiasmado com o resultado da empreitada, declarou à imprensa por ocasião da festa de lançamento: “Este projeto foi uma loucura, uma insanidade que todos bancaram. Tiveram tesão na ideia e isso é fundamental. É uma mega produção que foi feita em pouco tempo”;
P.S. (4) O ator Johnny Massaro, na pele de Gabriel, um jovem sem medo da morte, nem de cemitério, resolveu, por conta do projeto, deixar as unhas da mão compridas, porque achou que o personagem deveria tê-las. Ficou dois meses sem cortá-las. Será que não é influência, ainda que inconsciente, do nosso Mojica? Ou melhor, Zé do Caixão. Curioso como o personagem domina o ator e o engole na memória do público. Nunca me esqueci do nome “Zé do Caixão”. Mas para mencionar o nome do Mojica, tive que refrescar minha memória no “Google”; 

P.S. (5) Em que cemitério foram gravadas as muitas cenas  de Amorteamo? Cemitério do Morumbi?  Do Araça em São Paulo? São Judas Tadeu, no Rio? Cemitério de Santo Amaro, em Recife? Não. O cemitério que se vê no seriado é cenográfico e os túmulos feitos de material leve, como isopor.
P.S. (6) Muitas das sepulturas exibidas no seriado lembram aquelas que os mais abastados mandavam construir para seus mortos queridos, nos cemitérios das cidades brasileiras, nos século XIX e XX. O Cemitério da Saudade, de Campinas, inaugurado no ano de 1.881,  tem muitos  mortos ilustres enterrados sobre túmulos majestosos, e até capelas. Um deles é Francisco Glicério. Verdadeiras obras de arte. É considerado um dos mais importantes cemitérios do Brasil por conta dessa riqueza arquitetônica, da beleza e importância das obras de arte que adornam parte de seus túmulos,  dentre elas peças em mármore carrara, granito, cobre e latão, esculpidas por artistas como Tomagnini, J. Rosadas, Velez, Albertini e Coluccini;

P.S. (7) O Cemitério foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Condepacc) e foi cenário de parte do filme Memórias Postumas de Brás Cubas, baseado na obra homônima do imortal  Machado de Assis. O longa  foi estrelado por Sônia Braga e Reginaldo Faria. O cemitério possui nada menos que 32.000 túmulos e ali se encontram sepulturas de heróis da revolução de 32, da Polícia  Militar do Estado de São Paulo e de muitas pessoas consideradas milagreiras, como o escravo Toninho e uma prostituta de nome Jandira, que ateou fogo ao próprio corpo, quando teve seu casamento desfeito, e a quem se atribuem milagres;

P.S. (8) As imagens que ilustram a coluna de hoje são: 1) da atriz Marina Ruy Barbosa, em Amorteamo, na pele da personagem Malvina, com perucas pretas e figurino inspirado no filme americano, Noiva Cadáver,  e foi emprestada de Gshow.globo.com.; 2) do cemitério virtual que se vê em Amorteamo, foto emprestada do mesmo site acima;

3) do Portal de entrada do Cemitério da Saudade de Campinas, com o monumento aos Heróis da Revolução de 1.932, emprestada de wikipedia.com.; 4) da capela onde se acha enterrado o Monsenhor Emílio José Salim, fundador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e seu primeiro e inesquecível Reitor (foto de meu celular);  5) da placa de inscrição na capela-tumulo do referido Monsenhor (foto do meu celular); 6)  imagem de meu celular, de túmulo com obra de arte no Cemitério da Saudade de Campinas; 7) de cena do filme nacional de 2.001,  Memórias Póstumas de Braz Cubas,  gravada no Cemitério da Saudade de Campinas, destacando-se o ator Reginaldo Faria, no papel do protagonista. A direção do longa é de André Klotzel e a imagem emprestada de arte1.band.uol.com.br.






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