sexta-feira, 29 de julho de 2016

CINEMA - A GAROTA DINAMARQUESA

Boa noite amigos,

Eddie e Alicia contracenando nos papéis das pintoras Lili
Elber e Gerda (imagem emprestada de www.adorocinema.
com.).
Comemorado como mais uma produção binacional de dois grandes parceiros (Reino Unido e Estados Unidos) e direção bem ao estilo de Tom Hooper, que já enveredara, com sucesso, pela categoria do chamado cinema de época (antes, o premiado O Discurso do Rei), o drama cinebiográfico, The Danisch Girl,  traduzido no Brasil como A Garota Dinamarquesa, e,em Portugal, como A Rapariga Dinamarquesa, é um belo filme, destacando-se  duas soberbas interpretações dos protagonistas, Eddie Redmayne (no papel da pintora Lili Elbe) e de Alicia Vikander (interpretando a pintora dinamarquesa, Gerda). Revela, ainda, a sensível fotografia de Danny Cohen e uma trilha sonora que se harmoniza perfeitamente com o clima intimista e de certo suspense em que se desenvolve o drama,  a cada cena, a cada abertura ou fechamento de uma porta, ou a entrada e saída de numa clínica. O longa foi indicado em quatro categorias ao Oscar de 2.016 (melhor ator, melhor atriz coadjuvante, melhor figurino e melhor design de produção). Só Alicia levou a estatueta como melhor atriz coadjuvante, um prêmio merecido. O seu desempenho foi tão bom na pele de Gerda, que há quem sustente devesse ser ela a verdadeira protagonista, a própria Garota Dinamarquesa, que dá nome ao filme. Trata-se de um roteiro adaptado do romance homônimo de David Sbershoff, que conta a história do pintor dinamarquês, Einar Mogens Wegener e seu relacionamento amoroso-profissional com a pintora compatriota Gerda. Em certa ocasião a esposa o incentiva a posar para ela, como uma figura feminina,  em substituição a uma modelo que faltara ao encontro, experiência que suscita no marido, a descoberta de uma segunda identidade. A ambigüidade provocada pela representação e a identificação que ele sente se desenvolver no seu íntimo,  na própria alma, como afirma em certo diálogo, leva Einar a se converter em Lili Elbe e a romper o casamento com Gerda, com quem não consegue mais se relacionar como parceiro masculino.

O jovem e talentoso ator Eddie Redmayne, no papel do físi-
co Stephen Hawking, em A Teoria de Tudo, uma interpre-

tação impressionante que lhe garantiu o Oscar de melhor

 ator em 2.015 (imagem emprestada de www.dailymail.

co.uk).
O cenário é a Copenhagen de 1.920 e LiLi, sem entender esse aspecto transgênero de sua personalidade, se submete a inúmeros tipos de profissionais e tratamentos. Diagnosticada como doente, paranoica, esquizofrênica  e anormal, foge de internações e tratamentos convencionais, com a ajuda da própria ex-esposa e de um amigo de infância, até que um médico francês reconhece a sua condição de transexual e se propõe a realizar uma cirurgia de mudança de sexo, a que ela se submete, com todos os riscos que isso implicava na época, para assim reconhecer-se como se vê e sente. Reputa-se ter sido este o primeiro caso de cirurgia de mudança de sexo realizada no mundo. Os personagens são reais, mas há os que defendem que tanto o filme, quanto o romance no qual é baseado, não retratam exatamente a realidade da vida e da relação entre as pintoras Lili e Gerda (para estes Gerda seria lésbica e a relação entre ela e Einar nunca teria sido de um casal hetero tradicional; Gerda não teria compreendido o marido e o acompanhado em todos os seus passos seguintes, incluído a cirurgia, demonstrando carinho e amor incondicionais como acontece no roteiro do romance e do longa;  o filme ignora a real causa da morte de Lili, e bem assim, o processo de anulação do casamento que teria acontecido na vida real, etc., etc.). Apesar disso, trata-se de uma cinebiografia, de um drama, que não se qualifica como documentário e, por isso mesmo, não tem compromisso com a estrita realidade dos fatos. E convenhamos,  tanto o romance, quanto o cinema, não podem prescindir da ficção, do compromisso estético próprio de toda forma de arte, assim como a licença poética é conferida ao  poeta para que a poesia seja só e apenas poesia, catarse, ópio, fragmentos cuidadosa e seletivamente recortados da vida real com coloridos próprios da ótica do autor.
A atriz Alicia  Vikandir de 27 anos, vencedora do Oscar
2016, de melhor atriz coadjuvante pela sua Gerda de A Ga-
rota Dinamarquesa (imagem emprestada de horadalitur.
blogspot.com.) 
 Feita essa observação necessária, diga-se que o  longa prende, encanta e em certa medida emociona e transporta o espectador para a  necessidade de entendimento e reflexão, ao tratar da difícil problemática da transexualidade, numa época em que ela não era distinguida da homossexualidade, ambas reputadas como patologias mentais, a sujeitar os seus portadores  a graves episódios de auto-rejeição e culpa, a tratamentos inúteis e dolorosos, incluindo internações,  e ainda,  a sanções sociais e jurídicas capazes de mantê-los rejeitados e à margem das sociedades em que deveriam estar inseridos e acolhidos. 
O ator britânico,  Eddie Redmayne, de 33 anos, recebendo
o Oscar de Melhor Ator pelo longa A Teoria de Tudo  --
(imagem emprestada de www.darlymail.co.uk.).
O enfoque da problemática vivida pelos transgêneros,  porém, não é piegas e toda a mensagem é transmitida em tom leve e sensível, para o que contribuem as ótimas interpretações dos atores, os figurinos, a bela fotografia e o tom intimista que permeiam as cenas e os diálogos, às vezes duros e dolorosos mantidos entre os personagens. Um belo filme que merece ser visto, como cinema sério e de arte.



Até amanhã amigos.



domingo, 24 de julho de 2016

O FEIJÃO CARIOQUINHA É PAULISTA?

Boa tarde amigos,
Feijão tropeiro, uma iguaria muito apreciada em Minas

Gerais e no Rio Grande do Sul (imagem emprestada  de
 comida.uncomo.com.br/pratosdomundo).
O feijão carioca ou carioquinha, o arroz e as passagens aéreas são os mais recentes vilões da inflação do mês de junho. O preço do feijão, contudo, é o grande protagonista do ano e não há muita esperança de que o produto possa baixar de preço. O arroz-feijão, um casamento perfeito, segundo os nossos nutricionistas, porque oferece grande diversidade de proteínas, vitaminas, carboidratos e sais minerais, é uma invenção tipicamente brasileira e deve ser considerada a dupla fundamental a ser garantida como essencial à mesa da família brasileira, especialmente da população mais pobre. No caso do feijão carioca a culpa foi debitada fundamentalmente ao clima. Os dois maiores produtores, os Estados do Paraná e de Minas Gerais, respectivamente, tiveram a produção muita afetada pelas chuvas e, depois, pelo frio, o que determinou perdas e menor oferta no mercado. O preço, então, pela velha e infalível lei da oferta e da procura, foi às nuvens. 
Porco da raça carioca,  que dá nome ao feijão carioqui-
nha, com a cantora Valesca Popozuda, numa das versões
do programa A Fazenda exibido pela TV Record (imagem
emprestada de afazenda.r7.com.).
Contribuíram, também, a falta de estoque e a elevação dos custos de produção, como, energia, insumos e mão de obra. Mesmo tendo o governo brasileiro acenado com a importação do produto, a questão não é simples, porque o feijão carioca é um produto produzido  basicamente no Brasil. Conclusão: o jeito é mesmo substituir o produto por outro que ofereça as mesmas propriedades, ou algo por volta disso. Uma dica importante é a seguinte: a alta não atingiu o preço do feijão preto, que é o mais consumido em alguns Estados brasileiros, como no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Essa é a melhor solução para os paulistas e outros conterrâneos que têm no feijão carioca o consumo básico, por razões culturais.

Até mais amigos, 
Feijão tropeiro nordestino, uma versão em que a farinha de 

mandioca da receita original é substituída pelo cuzcuz (ima
gem emprestada de papjerimun.blogspot.com.br.)
P.S. (1) Outro dia acordei com o seguinte dilema: Por que o carioca come feijão preto e é o paulista quem consome basicamente o feijão carioca? Seria uma provocação bairrista? Bem, o mais importante é saber a origem do nome do feijão carioca. É carioca da cidade do Rio de Janeiro? Não. Leonardo Melo, coordenador do programa de melhoramento do feijão da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) explica que o  feijão carioca surgiu em uma propriedade rural de São Paulo, na década de 70. Um belo dia, o produtor encontrou uma planta diferente em meio a sua lavoura, provavelmente originada de uma mutação genética. Era uma planta grande e vistosa, capaz de produzir o dobro das outras. O fazendeiro, percebendo os benefícios, levou a semente dessa planta curiosa para o Instituto Agronômico de Campinas, que começou a multiplicar e testar esse grão. Aqui, eles comprovaram que esse feijão de grãos bege com listras marrons tinha uma produtividade muito maior que os outros tipos já existentes. Curiosamente, a cor é a mesma de uma raça de porco caipira, chamada carioca, muito comum na época. O carioca era um porco gordo e bege, que tinha essas listras espalhadas pelo corpo. Vendo isso, o produtor decidiu homenagear o novo feijão com o nome do animal. Nada a ver com os desenhos em forma de onda do calçadão de Copacabana, uma versão que chegou a correr por aí., sem fundamento. <http://super.abril.com.br/blogs/oraculo/se-carioca-come-feijao-preto-por-que-o-feijao-carioca-tem-esse-nome/> Acesso em 24 de julho de 2.016.

O festejado caldo de feijão, um prato que pode ser servido

em pequenas tigelas ou em copos, como entrada de feijoa
das ou como prato para recuperar forças dos boêmios após
a ingestão de grande quantidade de álcool (imagem em--
prestada de caldospaulista.com.br.)
P.S. (2) O feijão preto é a variedade preferida do pessoal do Rio de Janeiro, provavelmente como herança dos tempos do Brasil Império, em que os escravos o cozinhavam junto com carnes menos nobres, que sobravam ou eram descartadas das panelas dos patrões, dando origem à nossa famosa feijoada.  Representa atualmente 20% da produção brasileira de feijão e de seu consumo, perdendo para o tipo Carioquinha e outros que, juntos, são consumidos por mais de 70% da população brasileira. O feijão preto também é apreciado na cozinha mexicana, acompanhando pratos como chilli, taco e burritos;

P.S. (3) O feijão carioquinha se caracteriza por seu tamanho médio e grãos com listas marrons fortes. Rende um bom caldo e cozinha rapidamente. É o mais indicado para um belo feijão tropeiro, prato em que o feijão é misturado com farinha, cheiro-verde, lingüiça ou outros embutidos, ou ainda, com carne de sol da cozinha nordestina.

P.S. (4) O feijão tropeiro é receita originalmente criada pelos bandeirantes e tropeiros paulistas para garantir-lhes uma alimentação forte e nutritiva enquanto seguiam por caminhos obscuros a serem ainda desbravados.

A dupla protagonista das refeições dos brasileiros e que -

tem comprovado alto valor nutritivo (imagem emprestada
de cafe2dejulho.com.br.).
P.S. (5) Quando se fala na qualidade nutricional do feijão, um ótimo alimento para a saúde quando consumido moderadamente, trata-se de verdade científica comprovada. Abaixo vejam a tabela de composição nutricional  (TACO – Tabela Brasileira de Composição de Alimentos),   tanto do feijão preto, quando do feijão carioquinha, com muito poucas diferenças, a indicar que um pode ser substituído pelo outro, sem perda da qualidade nutricional.


Composição nutricional do feijão (por 100g):
Feijão – preto
Feijão-carioca
Calorias
77 cal
76 cal
Proteínas
4,5 g
4,8 g
Lipídeos
0,5 g
0,5 g
Colesterol
0,0 mg
0,0 mg
Carboidrato
14 g
13,6 g
Fibra
8,4 g
8,5 g
Cálcio
29 mg
27 mg
Ferro
1,5 mg
1,3 mg
Potássio
256 mg
255 mg


segunda-feira, 18 de julho de 2016

HECTOR BABENCO E ABBAS KIAROSTAMI - DOIS CINEASTAS QUE SE VÃO

Boa noite amigos,

A mulher Aranha (Sonia Braga) contracena com o ator Raul
Julia,em O Beijo da Mulher Aranha (imagem emprestada -
de www.ccine.10.com.br)
A sétima arte e os cinéfilos dos quatro quadrantes do mundo perderam  este ano, Abbas Kiarostami, morto, em Paris,  no dia 04 de julho passado. Era considerado o mais importante nome do surpreendente, moderno e profundo cinema iraniano.Gosto de Cereja (1997), O Vento nos Levará (1999) e Cópia Fiel  (2010),  são três verdadeiras obras-de-arte da filmografia do diretor, para citar alguns de seus bons filmes. E o cinema nacional se despediu na quinta-feira, de outro grande diretor. Morreu, aos 70 anos, Hector Babenco, nascido na Argentina, de ascendência judaico-ucraniana, mas que se naturalizou brasileiro aos 19 anos e aqui viveu para contar, nas suas películas, os dramas da natureza humana, vistas, quase todas, sob a ótica de personagens que contaram ficções fincadas na realidade brasileira. Babenco se lançou na arte em 1.975, com o drama O Rei da Noite, estrelado por Paulo José e que tinha no elenco atrizes como Marilia Pera, Vick Militello e Marcia Real. Dois anos depois, contou a história de um lendário bandido, que desafiou o sistema e a polícia brasileiros, no início da ditadura militar, no drama-biográfico,  Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia, baseado no livro homônimo de José Louzeiro, que também assinou a co-autoria do roteiro e teve  Reginaldo Faria, no papel-título.

O cineasta Hector Babenco em foto recente (imagem empres-
tada de cinema.uol.com.br.)
O filme foi sucesso, arrastando para as bilheterias quase 5.500.000 espectadores, o 9º maior público do cinema nacional, até hoje. Ganhou 4 kikitos de ouro no Festival de Gramado, com melhor ator para Reginaldo Faria, melhor ator coadjuvante para Ivan Cândido, além de melhor fotografia e edição. Em 1.980, ganhou elogios da crítica americana que considerou, Pixote – A Lei do Mais Fraco, seu  terceiro longa,  lançado naquele ano, um dos dez melhores filmes da década de 80. Com exuberante atuação de Marília Pera, o papel título foi entregue ao adolescente Fernando Ramos da Silva, que vivia marginalizado nas ruas de São Pauloo que deu ao  drama maior realismo. A película foi assistida por quase 2.600.000 espectadores. A fama internacional, porém, viria em 1.984, com o filme brasileiro-estadunidense, O Beijo da Mulher Aranha (Kiss Of The Spider Woman), gravado originalmente em inglês. Baseado no livro “El beso de La Mujer Aranha” do argentino Manuel Puig é um ficção que conta a história e o relacionamento de dois companheiros de cela, numa prisão brasileira, um preso político e um homossexual, com vidas, expectativas e visões diferentes do mundo.
Um dos cartazes de publicidade do longa Carandiru, uma -
megaprodução de doze milhões de reais (imagem empres-
tada de www.cinemark.com.br.)
O longa é uma das películas que usa o discurso metalinguístico no cinema, consistente em  “um filme dentro do outro”. Na pele do homossexual, Luis Molina, a obra deu ao ator americano, William Hurt,  o único Oscar de Melhor ator que colacionou para o seu currículo, além da Palma de Ouro do Festival de Cannes e trouxe prestígio para os atores Raul Julia (Valentin Arregui), porto-riquenho, e aos brasileiros,  Sonia Braga, José Lewgoy e Milton Gonçalves. Por conta do bom conceito internacional, Babenco, três anos depois, iria dirigir dois monstros sagrados do cinema americano, Jack Nicholson e Meryl Streep, no drama Ironweed, de 1.987, baseado na relação entre Francis Phelan e Helen Arches, um casal de alcoólatras, que vive para exorcizar o dramático passado e as marcas por ele deixadas.  A dupla de atores foi indicada para o Oscar de 1.988, nas categorias de melhor ator e melhor atriz, respectivamente. Babenco, por seu turno, também foi indicado ao prêmio Golden St. George, no Festival de Moscou. Seguiram-se dois filmes (Brincando nos Campos do Senhor, de 1.990, e, Coração Iluminado, de 1.998), que não  fizeram fama, nem carreira como os anteriores, até que, em 2.003,   Hector levou para as telas,  Carandirú,  para contar, ao seu modo, o episódio da morte de 111 presos no maior presídio do Brasil.  Com um orçamento de R$12.000.000,00 (doze milhões de reais), incomum para os filmes nacionais e um vasto elenco de atores brasileiros e estrangeiros de primeira grandeza (Wagner Moura, Lázaro Ramos, Rodrigo Santoro, Milton Gonçalves, para citar alguns), Carandirú praticamente repete o sucesso de Lúcio Flávio, com um público próximo da casa dos cinco milhões. 

O ator argentino, Gael Garcia Bernal, um dos preferidos do -
cineasta, Pedro Almodóvar, no papel do tradutor Rimini, no-
longa, O Passado, de Babenco (2.007). 
Apesar da grandiosidade do elenco, do bom roteiro baseado no Livro Estação Carandirú, de  Dráuzio Varella, por meio do qual o médico conta a sua experiência quando atuou no programa de prevenção da AIDS, naquele Presídio, livro que já era best seller nas livrarias de todo o Brasil, a crítica especializada não poupou o diretor, acusando-o de fazer um filme que não suscitava qualquer discussão, nenhuma polêmica, feito para “ganhar dinheiro”, o que, se era um exagero, também não estava longe da verdade. O fato e que Babenco, elege uma das versões do controvertido episódio (talvez o mais conveniente à estética do espetáculo) e não se importa em relativizá-lo, nem em trazer o espectador para um debate mais democrático e profundo da problemática dos presídios brasileiros e do próprio episódio.  Foi esse o seu último grande filme. Depois dele, seguiram-se apenas  outros dois: O Passado, em 2.007 e, Meu Amigo Hindú, agora em 2.016. 

Lucio Flávio, O Passageiro da Agonia, primeiro sucesso de
Babenco, com bilheteria de quase cinco milhões e meio
de espectadores (imagem emprestada de produto.mercado
livre.com.br.)
Neste último fechou o ciclo de sua carreira com um drama autobiográfico, pois o personagem principal, um cineasta, como ele, na pele do ator americano, Willem Dafoe, é, assim como ele, diagnosticado com um câncer e divide no hospital, os momentos de sofrimento, medo e incerteza com um menino hindu. A vida do cineasta chegou ao fim esta semana, quando seu coração, sempre cheio de dúvidas, mas, sobretudo, acumulado de emoção pela vida e pelo drama da condição e diversidade humanas e que ele fez questão de contar, à sua maneira,  parou antes de uma cirurgia para debelar uma sinusite. Deixou a mulher, a atriz Bárbara Paes, duas filhas e dois netos. E uma legião de amigos e admiradores. Todos, indistintamente, reconhecendo a sua qualidade humana e o seu profissionalismo. E a sua brasilidade, uma brasilidade que ele costumava afirmar em cada ato, em cada discurso aos jovens, convidando-os para ter orgulho de ser brasileiro, para o desafio de ser o que é, para o respeito à diversidade e à dignidade de cada um. Hector Babenco e Abbas Kiarostami passam para o outro lado da vida. E ao cinema, ao bom cinema, ao cinema de qualidade e de arte farão  falta, certamente. Nele fizeram uma majestosa carreira.


Até amanhã amigos.


Cena de Pixote - A Lei do Mais Fraco (1.980), um dos 10 me-
lhores filmes da década de 80, segundo a crítica especializa-
da americana (imagem emprestada de www.christianocarva
lho.com.br.)
 P.S. (1) No cinema, quando se fala que há “um filme dentro do filme” temos o que chamamos de discurso metalinguístico. Isso se dá quando um filme fala de um outro filme, ou cita um filme, ou o seu roteiro é sobre o mundo cinematográfico, ou se refere a biografias de atores ou diretores, ou finalmente, quando é sobre como fazer um filme, utilizando roteiro e linguagem dos bastidores do cinema. Dos filmes mais recentes, podemos citar como exemplo o longa Hitchcock, que retrata a vida do mais conhecido diretor do cinema de suspense, voltado para as dificuldades enfrentadas pelo cineasta em convencer produtores a  investir no roteiro para o cinema, de  Psicose,  que levado às telas, se transformou num dos filmes de maior sucesso de público e crítica do consagrado diretor inglês.


Ao lado da bela atriz Maria Fernanda Cândido, o ator -
americano, Willem Dafoe, que vive o personagem Diego,
alter-ego de Babenco no último longa do cineasta, Meu-
Amigo Hindu (imagem emprestada de www.altoastral.
com.br). 
P.S. (2) O adolescente, Fernando Ramos da Silva, que interpretou o Pixote, não conseguiu seguir na carreira de ator. Embora contratado pela TV Globo, por instâncias de José Louzeiro, não conseguiu permanecer na emissora por conta de sua incapacidade de decorar textos, dada a condição de semi-analfabeto. Voltou às ruas e à vida de antes. Foi morto, no ano de 1.987, em confronto com policiais.






sábado, 16 de julho de 2016

ARBITRAGENS POLÊMICAS E O FUTEBOL BRASILEIRO

Boa noite amigos,

Miguel Borja, atacante do Atlético Nacional de Medellin.
Marcou os 4 gols contra o São Paulo, que eliminaram o -
tricolor da Libertadores. Foi ainda responsável pela     ex
pulsão do jogador Maicon, na primeira partida disputada
no Morumbi,com 61.000 pagantes. Imagem emprestada -
de olimpiadas,real.com.br..
Não é novidade para ninguém, que o futebol brasileiro, um dos mais importantes indicadores culturais de nossa nação,anda em baixa. E significativamente, em especial depois daquele fatídico  7 a 1, que nos foi impiedosamente imposto pela Alemanha campeã, em 2.014, dentro de nossa casa. O processo de resgate tem sido lento e incerto. Os tempos são outros, sem dúvida alguma. O que gostaria de comentar é que o Brasil, que sempre teve, além de um futebol que inspirou o mundo, cantado e prosa e verso, aqui e acolá, pelo seu diferencial de arte, que revelou ídolos mundiais como Pelé, Ronaldinho, Romário,  Ronaldo Fenômeno e outros, não só deixou de apresentar o que de uma seleção pentacampeã mundial se espera sempre, como também parece ter perdido o prestígio político e o respeito com que sempre contou, e que não é pouco no mundo em que vivemos.  Deveras! As investigações criminais que atingiram, em cheio, vários dirigentes da Fifa, historicamente comandada por brasileiros e que resvalou, também, na Confederação Brasileira de Desportos, cujo ex-Presidente, José Maria Marin, está confinado em Nova York, aguardando julgamento de processo instaurado por corrupção, e o próprio Presidente, Marco Polo  Del Nero, que não sai do Brasil para nada e de jeito nenhum (porque será?), mancharam a nossa antologia  e da qual todos nós nos orgulhávamos. Temos sido vítimas de arbitragens ruins, para não dizer desastrosas, sem que nada aconteça. Nem uma providência, nem sequer um esboço de protesto. Fomos desclassificados, merecidamente, diga-se de passagem, mas injustamente, pelo Peru, na Copa América do Centenário, disputada nos Estados Unidos da América, por um gol irregular que o mundo inteiro viu, mas o árbitro chileno Andres Cunha, e os seus auxiliares não viram. E o que aconteceu? Nada. O São Paulo, diante de mais de 60 mil torcedores que lotaram o Morumbi, no primeiro jogo da semi-final da Taça Libertadores da América, foi prejudicado com a expulsão do jogador Maicon, num lance em  que se limitou a afastar, com a palma da mão aberta, o rosto do atacante Borja, que ameaçava atrasar o jogo (vi e revi o incidente muitas vezes pela TV e fiquei exatamente com a mesma impressão, ou seja, que não houve a menor intenção de agressão). Apesar disso,  o árbitro argentino, Mário Vigliano, próximo do lance, puniu o jogador e a equipe com uma expulsão inaceitável. Vale notar que o tal Vigliano foi  promovido aos quadros  da FIFA em 2.013 e, logo no ano seguinte, foi punido pela Associação de Futebol Argentino, porque, no clássico entre Boca Juniors e River Plate, o mais importante do nosso país vizinho, viu (????),  um toque de mão inexistente de um defensor e apitou pênalti contra o Boca, expulsando o atleta.  

Foto do atacante Borja Gonzalez, 
Atletico ,de Madrid, ora empresta-
do ao Ebar (www.gettyimagens.
pt.
Nada obstante, esse mesmo árbitro é escalado pela incompetente Conmebol, para apitar uma das semi-finais  do mais importante campeonato sul-americano e acaba estragando o espetáculo. Diga-se, a bem da verdade, que até aquela altura do jogo, o placar estava 0 a 0, e o São Paulo buscava incessantemente o seu gol, o que lhe permitiria jogar o segundo jogo, na casa do adversário, por um simples empate. Nem se diga que se tratava de interpretação do árbitro num lance em que, bem ou mal, o fato teria ocorrido. A própria súmula do argentino Vigliano pode servir como referência para o seu exagero e despropósito na expulsão do atleta, pois ao relatar o fato, assim se expressou: “Aos 73 minutos expulsei o jogador número 27 local, Sr. Maicon Roque Pereira,  por aplicar um tapa a um rival com a palma da mão aberta, sem ocasionar nenhum dano ao rival, com o jogo parado.” Ora essa descrição indica que o cartão vermelho foi proporcionalmente inadequado à conduta do atleta, porque a regra 12 do livro da International Board, em vigor há mais de dois meses, só justifica o cartão vermelho nesse tipo de conduta quanto houver violência real ou presumida, do que não se tratou, evidentemente, como confessado pelo árbitro, na súmula do jogo.  Pior ainda foi o recente julgamento do atleta pelo Tribunal Disciplinar da Conmebol que, à vista desse relato, resolve aplicar ao jogador a pena de três jogos de suspensão, ou seja, além de ficar de fora do jogo de volta contra o Atlético  Nacional, na quarta-feira passada, estaria fora das finais, no caso de classificação do São Paulo. Para completar, o chileno Patrício Polic, escalado para a partida da última quarta-feira, deixou de apitar um pênalti evidente, em favor da equipe brasileira, aos 47 minutos do primeiro tempo, quando o placar estava 1 a 1 e o lance poderia ensejar o término da primeira etapa com 2 a 1 para o São Paulo, o que modificaria totalmente o panorama do espetáculo para o segundo tempo (o São Paulo estaria a apenas l gol de sua classificação e teria 45 minutos para tentar essa vantagem no placar). A não assinalação do lance capital, é claro, alterou todo o panorama e independentemente do que poderia ter acontecido (e não se sabe o que poderia ter acontecido, é claro), a má arbitragem influenciou no resultado da partida, o que basta para condená-la definitivamente,  como assevera o árbitro aposentado, Leonardo Gaciba, atual comentarista da Rede Globo de Televisão, ao analisar a conduta de seu companheiro de profissão. Nada disso, porém, e é bom que se esclareça, justifica o mau desempenho tanto da seleção, como dos clubes brasileiros em campeonatos dos quais foram protagonistas e hoje amargam uma pálida participação de coadjuvantes. 

Imagem do zagueiro Maicon, do São Paulo, expulso na pri-
meira partida da semi-finais da Libertadores, punido com 
três jogos de suspensão pela Commeboll. (foto emprestada
de liberal.com.br).
O Atlético Nacional, que passou para a final com uma campanha absolutamente irretocável, jogou um futebol primoroso de conjunto, apresentando, ainda, talentos individuais que foram decisivos para o sucesso dessa campanha, como o ótimo atacante Miguel Borja, de 23 anos, e que liquidou a equipe paulista com os 4 gols marcados nos dois jogos (2 no Morumbi e 2 no estádio Atanásio Girardot, em Medellin). O São Paulo, ao contrário, fez uma campanha irregular, chegando a semi-final "aos trancos e barrancos",  muito mais em função do regulamento (perdeu a partida para o Atlético por 2 a 1 em Minas, tendo vencido pelo placar mínimo em São Paulo, o que permitiu que seguisse pelo gol marcado fora de casa), do que por virtudes evidenciadas dentro das 4 linhas,  a despeito do esforço de seu técnico, um  considerado especialista nesse tipo de campeonato. Quanto ao futebol jogado no campo, a ausência dos chamados jogadores fora de série, capazes de decidir partidas e campeonatos, deixam  as equipes cada vez mais parecidas e os jogos equilibrados. Valem, como se viu, por exemplo, na partida final da Eurocopa entre França e Portugal, as estratégias dos técnicos, entrosamento coletivo, preparo físico e psicológico,  e especialmente a sorte, essa coisa aleatória capaz de colocar o goleiro na trajetória da bola metida pelo atacante, por acaso, ou a trave, ou o morrinho artilheiro, ou o desvio da bola no pé ou na cabeça de um homem de barreira, a determinar resultados inesperados. Há alguns anos, essa Libertadores apostaria numa final entre São Paulo e Boca Junior, duas equipes tradicionais de campeões do mundo. Mas, minha gente, a final não será essa não. Será entre Atlético Nacional e Independiente Del Valle, ou seja, entre uma equipe colombiana e outra equatoriana, que mandaram seus respectivos adversários e suas tradições, para casa, mais cedo. Com muita competência, assinale-se, a mostrar que brasileiros e argentinos estão em baixa e precisam urgentemente rever conceitos e práticas.  Outros são os tempos, certamente.


Até amanhã amigos,



P.S. (1) A grande sensação da versão atual da Libertadores da América é o atacante Miguel Borja do Atlético Nacional da Colômbia. O atleta de apenas 23 anos é o artilheiro da competição, demonstra muitas qualidade, como velocidade e destreza. Já está convocado e poderá ser visto jogando por seu país, agora em agosto, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro;

P.S. (2) O Borja do Atlético não é o mesmo do outro Atlético europeu. Pois o Borja do Atlético de Madri, atualmente emprestado ao Ebar, tem os mesmos 23 anos de seu homônimo sul-americano, é também destro, joga como atacante e tem praticamente a mesma altura daquele, cerca de 1,90 m.. O da Espanha é conhecido como Borja Gonzalez e possivelmente ganha muito mais que seu irmão colombiano;

P.S. (3) Para que servem os auxiliares e o 4º árbitro? E a pergunta que se faz quando se verifica tantos erros capitais em arbitragens que determinam resultados e causam desastres para as equipes prejudicadas, moral e financeiramente. E possível que quatro árbitros não vejam um lance como aquele gol de mão do peruano contra o Brasil, na Copa América? Nâo dá mais para aguentar tanta justificativa: - O árbitro é humano e pode errar;-  O lance é muito rápido e não dá para definir. - O juiz estava distante do lance. - A visão do juiz estava encoberta – Ele não tem à disposição a câmera da Globo, etc. e tal.  Qualquer profissional tem obrigação de ser competente e de desenvolver virtudes para tal. A equipe de arbitragens tem 4 árbitros com aqueles monitores de comunicação. E para quê?  Para nada, realmente, ou então para fazer lambança, para usar uma expressão antiga do ex-árbitro, Arnaldo Cezar Coelho. revelando incompetência e o despreparo para a função. Culpa de quem se candidata, de quem prepara, de quem escolhe e de quem promove.