sexta-feira, 29 de julho de 2016

CINEMA - A GAROTA DINAMARQUESA

Boa noite amigos,

Eddie e Alicia contracenando nos papéis das pintoras Lili
Elber e Gerda (imagem emprestada de www.adorocinema.
com.).
Comemorado como mais uma produção binacional de dois grandes parceiros (Reino Unido e Estados Unidos) e direção bem ao estilo de Tom Hooper, que já enveredara, com sucesso, pela categoria do chamado cinema de época (antes, o premiado O Discurso do Rei), o drama cinebiográfico, The Danisch Girl,  traduzido no Brasil como A Garota Dinamarquesa, e,em Portugal, como A Rapariga Dinamarquesa, é um belo filme, destacando-se  duas soberbas interpretações dos protagonistas, Eddie Redmayne (no papel da pintora Lili Elbe) e de Alicia Vikander (interpretando a pintora dinamarquesa, Gerda). Revela, ainda, a sensível fotografia de Danny Cohen e uma trilha sonora que se harmoniza perfeitamente com o clima intimista e de certo suspense em que se desenvolve o drama,  a cada cena, a cada abertura ou fechamento de uma porta, ou a entrada e saída de numa clínica. O longa foi indicado em quatro categorias ao Oscar de 2.016 (melhor ator, melhor atriz coadjuvante, melhor figurino e melhor design de produção). Só Alicia levou a estatueta como melhor atriz coadjuvante, um prêmio merecido. O seu desempenho foi tão bom na pele de Gerda, que há quem sustente devesse ser ela a verdadeira protagonista, a própria Garota Dinamarquesa, que dá nome ao filme. Trata-se de um roteiro adaptado do romance homônimo de David Sbershoff, que conta a história do pintor dinamarquês, Einar Mogens Wegener e seu relacionamento amoroso-profissional com a pintora compatriota Gerda. Em certa ocasião a esposa o incentiva a posar para ela, como uma figura feminina,  em substituição a uma modelo que faltara ao encontro, experiência que suscita no marido, a descoberta de uma segunda identidade. A ambigüidade provocada pela representação e a identificação que ele sente se desenvolver no seu íntimo,  na própria alma, como afirma em certo diálogo, leva Einar a se converter em Lili Elbe e a romper o casamento com Gerda, com quem não consegue mais se relacionar como parceiro masculino.

O jovem e talentoso ator Eddie Redmayne, no papel do físi-
co Stephen Hawking, em A Teoria de Tudo, uma interpre-

tação impressionante que lhe garantiu o Oscar de melhor

 ator em 2.015 (imagem emprestada de www.dailymail.

co.uk).
O cenário é a Copenhagen de 1.920 e LiLi, sem entender esse aspecto transgênero de sua personalidade, se submete a inúmeros tipos de profissionais e tratamentos. Diagnosticada como doente, paranoica, esquizofrênica  e anormal, foge de internações e tratamentos convencionais, com a ajuda da própria ex-esposa e de um amigo de infância, até que um médico francês reconhece a sua condição de transexual e se propõe a realizar uma cirurgia de mudança de sexo, a que ela se submete, com todos os riscos que isso implicava na época, para assim reconhecer-se como se vê e sente. Reputa-se ter sido este o primeiro caso de cirurgia de mudança de sexo realizada no mundo. Os personagens são reais, mas há os que defendem que tanto o filme, quanto o romance no qual é baseado, não retratam exatamente a realidade da vida e da relação entre as pintoras Lili e Gerda (para estes Gerda seria lésbica e a relação entre ela e Einar nunca teria sido de um casal hetero tradicional; Gerda não teria compreendido o marido e o acompanhado em todos os seus passos seguintes, incluído a cirurgia, demonstrando carinho e amor incondicionais como acontece no roteiro do romance e do longa;  o filme ignora a real causa da morte de Lili, e bem assim, o processo de anulação do casamento que teria acontecido na vida real, etc., etc.). Apesar disso, trata-se de uma cinebiografia, de um drama, que não se qualifica como documentário e, por isso mesmo, não tem compromisso com a estrita realidade dos fatos. E convenhamos,  tanto o romance, quanto o cinema, não podem prescindir da ficção, do compromisso estético próprio de toda forma de arte, assim como a licença poética é conferida ao  poeta para que a poesia seja só e apenas poesia, catarse, ópio, fragmentos cuidadosa e seletivamente recortados da vida real com coloridos próprios da ótica do autor.
A atriz Alicia  Vikandir de 27 anos, vencedora do Oscar
2016, de melhor atriz coadjuvante pela sua Gerda de A Ga-
rota Dinamarquesa (imagem emprestada de horadalitur.
blogspot.com.) 
 Feita essa observação necessária, diga-se que o  longa prende, encanta e em certa medida emociona e transporta o espectador para a  necessidade de entendimento e reflexão, ao tratar da difícil problemática da transexualidade, numa época em que ela não era distinguida da homossexualidade, ambas reputadas como patologias mentais, a sujeitar os seus portadores  a graves episódios de auto-rejeição e culpa, a tratamentos inúteis e dolorosos, incluindo internações,  e ainda,  a sanções sociais e jurídicas capazes de mantê-los rejeitados e à margem das sociedades em que deveriam estar inseridos e acolhidos. 
O ator britânico,  Eddie Redmayne, de 33 anos, recebendo
o Oscar de Melhor Ator pelo longa A Teoria de Tudo  --
(imagem emprestada de www.darlymail.co.uk.).
O enfoque da problemática vivida pelos transgêneros,  porém, não é piegas e toda a mensagem é transmitida em tom leve e sensível, para o que contribuem as ótimas interpretações dos atores, os figurinos, a bela fotografia e o tom intimista que permeiam as cenas e os diálogos, às vezes duros e dolorosos mantidos entre os personagens. Um belo filme que merece ser visto, como cinema sério e de arte.



Até amanhã amigos.



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