quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

TV - COMO APROVEITAR O FIM DO MUNDO


Boa noite amigos,
Muito se falou neste final de ano a respeito do fim do mundo, o que se daria, segundo a previsão do chamado “Calendário Maia”, no dia 21 de dezembro de 2.012. Aproveitando o “gancho”, a TV Globo programou uma série especial para ser exibida a partir do dia 1 de dezembro, em oito episódios, no horário das 5as. feiras, depois da “Grande Família”. O último capítulo seria exibido exatamente na quinta, 21 de dezembro, mas o alerta é para o fato de que ele poderia não ser levado ao ar, isto se o mundo acabasse efetivamente, e dependendo da hora do apocalipse.  Agora já se sabe que o mundo não acabou,  ele foi exibido normalmente e, a exemplo dos anteriores, foi ótimo. No roteiro,  dois colegas de trabalho, o Contador Ernani (Danton Mello) e a funcionária do RH da empresa, Katia (Aline Moraes) decidem fazer tudo o que têm vontade antes do mundo acabar, ou seja, aproveitar o acenado próximo fim do mundo para as “curtições” mais exóticas,  contando com a colaboração e a cumplicidade um do outro, tudo sem complexo de  culpa, evidentemente. O texto é excelente e a dupla de atores fantástica. Além de ótimos profissionais, o que já se sabia, Danton e Aline conseguiram criar e transmitir uma química formidável e,  no conjunto produzem, na minha opinião,  um resultado ainda melhor do que o do casal Rui e Vani,  de “Os Normais”, protagonizado pelos atores Luis Fernando Guimarães e Fernanda Torres. Por falar em “Os Normais”, o roteiro é dos mesmos criadores do seriado e da dupla que durante anos brindou o telespectador com textos e cenas cômicas, levadas ao cinema em dois longas que agradaram público e crítica: Alexandre Machado e Fernanda Young.  Como Aproveitar o Fim do Mundo foi uma das poucas  produções de final de ano da Globo que trouxe algo de novo e de boa qualidade. A série pode muito bem ser adaptada para ao cinema,  aproveitando o momento e o talento da dupla, para produzir mais uma dessas comédias românticas nacionais que têm feito sucesso, a exemplo de “Se Eu Fosse Você 1 e 2” e “De Pernas para o Ar 1 e 2”. Também pode e deve ser oferecida em vídeos para os apreciadores do gênero, que não tiveram condições de acompanhar os capítulos na televisão. Entretenimento e  qualidade nunca foram conceitos que se repelem. O seriado comprova a assertiva, mais uma vez.

Até amanhã amigos.  

P.S. (1) A série “Os Normais” foi exibida em 71 (setenta e um) capítulos pela Rede Globo, entre 1º de junho de 2.001 e 3 de outubro de 2.003, com grande audiência (média de 28 pontos no Ibope), excelente para o horário das 22,30 horas;

P.S. (2) Alexandre Machado e Fernanda Young, além de roteiristas dos seriados Os Normais e Como Aproveitar o Fim do Mundo, também assinaram os "escripts"  dos seriados “Minha Nada Mole Vida”, “Separação” e “Macho Man”, que indistintamente, marcaram presença de crítica e público quando exibidos na TV Globo, evidenciando a competência da dupla para criação de roteiros e textos de qualidade;
P.S. (3) A imagem que abre a coluna foi emprestada do site "linkatual.com" e a dos atores Danton e Aline do "blogs.diariodonordeste.com.br".

 

 

 

 

 

domingo, 23 de dezembro de 2012

MPB- REDESCOBRIR - MARIA RITA REVISITA OBRA DE ELIS


Oi amigos,
Uma homenagem  para a mãe Elis e um presente  para os fãs saudosos  da obra da maior cantora do Brasil. Assim pode ser justificado o projeto de  Maria Rita, que resultou em um espetáculo de palco, que corre o Brasil, e em  dois CDs gravados ao vivo, com o "essencial" de Elis Regina, a grande diva da música popular brasileira, cuja carreira próspera foi interrompida bruscamente aos 36 anos, num triste dia de janeiro de 1.982. Não vi o show, comprei os CDs e os ouvi atentamente, cada faixa, cada arranjo, cada detalhe da interpretação da filha na revisita aos sucessos da mãe. São 28 faixas distribuídas em dois CDs com 14 músicas cada um. Na abertura, Imagem de Luiz Eça e Aloysio de Oliveira, música e versos que viraram uma espécie de marca ou "slogan" com que a Pimentinha saudava os fãs e os advertia para a necessidade de se proteger o que era autenticamente nacional, a nossa música, contra a ameaça suposta vinda do exterior. Ou da ditadura, quem sabe. Tempos Bicudos, aqueles:  Ai que bom é ver vocês/ E cada vez que eu volto é para dizer/Que sem ter vocês/Sem ver vocês/ Não sou ninguém/Canta que a vida passa/E se ela passa/Melhor cantar/É de vocês o meu cantar/É só pra vocês nosso cantar”. Daí por diante uma seleção variada de sucessos, gêneros diversos, que se imortalizaram na interpretação original  e definitiva de Elis (sambas, boleros, marchas, bossa- nova, sambas-canção...). De Arrastão de Edu e Vinícius, do começo da carreira, a Redescobrir, de Gonzaguinha, já na maturidade; de Águas de Março, do Maestro Tom Jobim a Saudosa Maloca, do folclórico sambista ítalo-paulista, Adoniran Barbosa. De Alô, Alô, Marciano, da roqueira Rita Lee a Me Deixas Louca, versão brasileira de Paulo Coelho. Em algumas faixas muitas palmas revelando o entusiasmo do público pela canção eleita. Noutras, a cantora, sentindo o entusiasmo da platéia, a ela  oferece generosa parceria,  como em Madalena, de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro, e no hino sertanejo, Romaria, de Renato Teixeira. Tudo milimetricamente captado, revelando que Maria Rita fez questão de conhecer cada detalhe das gravações da mãe,das mudanças forçosamente introduzidas no original da canção, da colocação de frases ou de falsetes, aqui e acolá, e assim por diante, para emprestar a sensação de se ouvir Elis mesmo. O “essencial” de Elis? Não sei. Tudo em Elis era essencial. Difícil selecionar. Há muita coisa que se incluiria no “essencial” e que ficou de fora: Edu, de “Upa Neguinho”,  “Corrida de Jangada”, “Pra Dizer Adeus”, “Memórias de Marta Saré”; Chico Buarque do antológico “Atrás da Porta”,  Milton de “Travessia”, de “Canção do Sal”, de “Canção da América”, Tom de “Wave”, de “Corcovado”, de "Fotografia"; Carlos Lyra e Vinícius de “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”; Gil de “Lunik 9”, Marcos e Paulo Cesar Valle de “Preciso  Aprender a Ser Só” e "Black is Beautiful"; Baden de “Lapinha”, de “Canto de Ossanha”;  Violeta Parra, de “Gracias a La Vida”; Zé Rodrix e Tavito, de “Casa no Campo”; Fagner de “Mucuripe”; Pedro Caetano de “É com Esse Que eu Vou”. E tantas, tantas outras. Bem,  os arranjos acompanharam os originais, num trabalho dos músicos digno de nota.  Não há qualquer intenção deliberada de  disfarçar o objetivo da imitação, de reprodução mesmo.  E como tal o resultado é  competente, sem dúvida.  Afinal,  Maria Rita tem o privilegiado potencial de voz da mãe e o mesmo timbre, virtudes emanadas de um bendito DNA. Faltava revelar a intenção da homenagem  e a vontade de  estudar a obra  e de  revisitá-la, agora não só como  uma filha que ama e respeita, mas como uma admiradora consciente da importância de Elis, mais que uma estrela, uma  lenda para ser contada e cantada em prosa e verso para a posteridade da história da música brasileira. Valeu!
Até amanhã amigos.
 P.S. (1) Os CDs. são assim compostos. CD 11)  Imagem (Luiz Eça/Aloysio de Oliveira); 2) Arrastão (Edu Lobo/Vinícius); 3) Como Nossos Pais (Belchior); 4) Vida de Bailarina (Américo Seixas/Dorival Dias); 5) Bolero de Satã (Guinga/Paulo Cesar Pinheiro); 6) Águas de Março (Tom Jobim); 7) Saudosa Maloca (Adoniran Barbosa); 8) Agora Tá (Tunai/Sérgio Natureza); 9) Ladeira da Preguiça (Gilberto Gil); 10) Vou Deitar e Rolar (Quaquaraquaquá) (Baden Powel/Paulo Cesar Pinheiro); 11) Querelas do Brasil (Maurício Tapajós/Aldir Blanc); 12) O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco/Aldir Blanc); 13) Menino (Milton Nascimento/Ronaldo Bastos); 14) Onze Fitas (Fátima Guedes).
CD 2 – 1) Tatuagem (Chico Buarque/Ruy Guerra); 2) Me Deixas Louca (Mi Vuelves Loco) – Armando Manzaneiro, versão Paulo Coelho; 3) Essa Mulher (Joyce/Ana Terra); 4) Se Eu Puder Falar com Deus (Gilberto Gil); 5) Zazueira (Jorge Ben Jor); 6) Alô, Alô, Marciano (Rita Lee/Roberto de Carvalho); 7) Aprendendo a Jogar (Guilherme Arantes); 8) Doce Pimenta (Rita Lee); 9) Morro Velho (Milton Nascimento); 10) O Que Foi Feito Devera (de Vera) Maria-Maria, (Milton Nascimento/Fernando Brant); 11) Fascinação (Fascination) – F.D. Marchetti, versão Armando Louzada); 12) Romaria (Renato Teixeira); 13) Madalena (Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza); 14) Redescobrir (Luiz Gonzaga Junior);
P.S. (2) Ao formular os agradecimentos, no folheto que acompanha os CDs, Maria Rita assim conclui, dirigindo-se à mãe: “Mamãe, obrigada por tanto e por tudo. Que você siga viva no palco maior, que é o coração de seu público, o seu lugar, soberana e rainha que é. Amor e orgulho, intenso, irrestrito. Da sua filha”.  
Absolutamente emocionante! 




sábado, 22 de dezembro de 2012

CINEMA - MINHAS MÃES E MEU PAI

Boa noite amigos,


                                                                  Produção inglesa de 2.010, a comédia dramática The Kids Are All Right,  titulada no Brasil de “Meus Pais e Minha Mãe” e em Portugal de “Os Miúdos Estão Bem” é um ótimo filme, agora apenas encontrável em vídeo, ou em canal de TV fechado, e foi considerado, no ano de  seu lançamento, a sensação do Festival de Berlim. O excelente roteiro original é dividido entre Lisa Cholodenko (que é também a diretora do longa) e Stuart Blumberg e focaliza uma família composta do casal homossexual,  a médica, Nic (Annette Bening) e a paisagista, Jules (Juliane Moore), e de dois filhos biológicos, os irmãos unilaterais,  Joni (Mia Wasikowska), prestes a completar 18 anos e a deixar a casa materna,  e Laser (Josh Hutcherson), de 15 anos, um de cada uma das parceiras, cujas concepções se deram por via de  inseminação artificial feita com sêmen de um mesmo doador (pai genético, portanto, de ambos os filhos).  Ao ambiente familiar estável e de relativa harmonia, apesar dos conflitos comuns  entre os seus componentes, se acrescenta um fato novo e que vai mexer com a estrutura emocional da família: os filhos resolvem conhecer a identidade do pai biológico, o tal doador de sêmen e aí encontram o solteirão especialista em gastronomia, Paul (Mark Ruffalo). De lado a lado, filhos e pai mostram, de início, interesse num relacionamento mais profundo e o drama se desenrola a partir da inserção desse  novo membro, no mundo familiar. São 106 minutos de curiosidade, apreensão, sensibilidade e emoção. Por que você resolveu vender sêmen? é uma das indagações do jovem adolescente Laser para o pai, E quanto você cobrou?  A diretora,  homossexual assumida, desenvolve a mensagem de forma leve e descomplexada,  sem a preocupação de transformar a rotina dos personagens em objeto de reflexões profundas sobre a questão social e filosófica dos homossexuais  e do direito deles de  constituírem famílias  tradicionais. O foco são os desencontros, a insegurança e mesmo a crise matrimonial  que vivem as personagens Nic e Jules, quando esta, por razões que ela própria questiona,  cede a um relacionamento sexual casual com Paul, deslize repelido por todos os demais membros daquela família, unidos de forma sólida, apesar dos conflitos,   pelos anos de convivência e de troca de afetividade.  A crítica elogia a obra  e há quem afirme que se trata de um dos melhores filmes do ano passado (vide Fred Burle in Fred Burle no Cinema). A bilheteria nos cinemas do Brasil não chegou a 50.000 espectadores, muito pequena para um filme de qualidade indiscutível. Foram quatro indicações ao Oscar em 2.011: Melhor Filme; Melhor Atriz para Anette Bening; Melhor Ator Coadjuvante para Mark Ruffalo) e Melhor Roteiro Original para Lisa Cholodenko e Stuart Blumberg, embora não tenha levado nenhuma das estatuetas, o que também não é indicativo absoluto de qualidade ou de falta de qualidade. Não deixe de ver.
Até amanhã.
P.S. (1) A imagem da coluna de hoje foi emprestada do site correiodeuberlandia.com.br;
P.S. (2) A atriz norte-americana, Annette Carol Bening, a Nic do filme nasceu no Texas em 1.958,  tendo entrado definitivamente para o cinema em 1.989, com atuação no filme Valmont – Uma História de Seduções. Em 1.999 participou de seu filme mais popular, Beleza Americana, e em 2.004 ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz, pelo filme Adorável Júlia.
 
 
 

domingo, 16 de dezembro de 2012

MUNDIAL DE CLUBES 2012 - CORINTHIANS CAMPEÃO


Boa noite,  meus amigos.
Para o futebol este é um domingo especial. Para o Brasil também. O título que o alvinegro do Parque São Jorge acaba de conquistar no Japão, se soma a outros, de igual importância, incrementando as nossas estatísticas internacionais, tanto da Seleção Brasileira, já consagrada,  quanto dos clubes brasileiros, que indiscutivelmente precisam ganhar o respeito do mundo futebolístico, especialmente da Europa, o grande centro e o coração do esporte criado por Charles Miller no final do século XIX.   Com exceção do Santos de Pelé, que na década de 60, conseguiu ganhar títulos internacionais importantes, como a Libertadores e o Mundial de Clubes, em duas versões (1962 sobre o Benfica, e 1.963 sobre o Milan), só depois de 1.980, quando o Flamengo logrou conquistar o campeonato sul-americano e o Mundial versão 1.981 (sobre o Liverpool),  é que as equipes brasileiras começaram a ser conhecidas e, de certa forma, respeitadas. Queiram ou não, o Mundial de Clubes, que até alguns anos atrás  não era propriamente um campeonato mundial ,  mas intercontinental,  uma espécie de “tira-teima” para saber quem é o melhor dentre os melhores,  reunindo apenas  o campeão europeu e  o campeão sul-americano, ganhou desde 2.005, quando a Fifa passou definitivamente a organizá-lo, a ter uma importância adicional também para os europeus. Acabou aquela história de que o Mundial não passava de uma grande festa patrocinada pela Toyota em homenagem ao povo japonês e aos esportistas do mundo inteiro.   O  Chelsea queria muito esse título e prova disso foi que a derrota para o Corinthians,num jogo extremamente disputado, calou fundo, como se pôde observar pelo semblante contrariado das estrelas da equipe inglesa, algumas delas  chegando até ao choro discreto, e as declarações pós-jogo de seu técnico.  O nosso ótimo  David Luis, uma das principais estrelas da equipe inglesa,  que dizem se confessou corintiano, ressaltando a sua intenção de encerrar a carreira jogando no time “do bando de loucos”, foi um dos que mais sentiu a perda do título, sem dúvida, relevante para coroar o bom ano do time inglês. O mesmo empenho se viu na final do ano passado quando o badaladíssimo Barcelona, de Messi e Companhia, chegou ao Japão e jogou todas as fichas para a conquista do título, numa final com o Santos de Neymar, que sofreu um apagão inacreditável e, em consequência,  uma goleada histórica e incomum na competição, justamente para a grande equipe catalã. A presença de toda a cúpula da FIFA, incluindo o seu Presidente e a repercussão internacional da partida final, testemunham o nosso ponto de vista: foi sim, mas hoje o Mundial de Clubes, não é mais só uma festa japonesa, um amistoso desprezado pelos europeus. É um campeonato de grande visibilidade, uma vitrine com sua importância, ainda que relativa, mas que traz à equipe campeã dinheiro e prestígio, uma interessante “dupla” de que ninguém quer abrir mão. E, de quebra,  aos torcedores das equipes vitoriosas,  a convicção inabalável de que o seu time é o melhor do Mundo, pelo prazo de 1 (um) ano,  ainda que não o seja. Daí o grande significado da  conquista do Timão, que deve mesmo ser comemorada por sua imensa nação, e os respectivos dividendos colhidos, de forma profissional e eficiente, pela sua Diretoria.

Até amanhã amigos.

 P.S. (1) A imagem da coluna  foi emprestada do site globoesporte.glob.com;
P.S. (2) O Brasil foi campeão desse torneio em 10 oportunidades. Com o Santos em 1962 (sobre o Benfica)  e 1963 (sobre o Milan); com o Flamengo em 1.981 (sobre o Liverpool); com o Grêmio em 1.983 (sobre o Hamburg); com o São Paulo em 1.992 (sobre o Barcelona), em 1.993 (sobre o  Milan) e em 2.005 (sobre o Liverpool); com o Internacional em 2.006 (sobre o Barcelona),  e com  o Corinthians em 2.000 e 2.012 (sobre o Chelsea).
 
 

 

AOS MEUS AMIGOS CORINTIANOS E À GRANDE NAÇÃO ALVINEGRA


Bom dia amigos
Uma final de arrepiar, com a cara do Corinthians (Imagem emprestada do site ririri.com.br).  Um título sofrido com a cara do Corinthians. Emoções de última hora: Bola na trave, impedimentos não marcados, quatro grandes defesas de um goleiro gigante bola de ouro: Um nome para a meta da seleção brasileira, vaga indiscutivelmente ainda aberta. Um gol chorado, solitário, de um peruano que entra para a história de um dos dois clubes mais populares do Brasil: Guerreiro como toda a equipe que incorporou o espírito de seu treinador e de sua imensa torcida. Parabéns hoje a todos os meus queridos amigos alvinegros que acordaram cedo para viver esse momento especial: Celinha Vasconcelos de Souza, Mima,  Dora Martins, grande Juíza,  Serginho da Unicamp, Vaguinho da Puc, mana Leny, feliz da vida, Osmar Dalbon. Aos famosos Hortência do basquete, Dan Stulbach, grande ator, Casagrande, ex-atleta, parte integrante da chamada “democracia corinthiana”, companheiro de Sócrates e  da história da tradicional equipe paulista. Valeu!
 

Até mais tarde.

 

 

 

 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

CINEMA NACIONAL - O CENTENÁRIO DE AMACIO MAZZAROPPI


Boa noite amigos,

 Neste ano que está chegando ao fim, comemora-se, dentre outros eventos relevantes, o centésimo aniversário de um dos mais importantes cineastas, produtores e atores do cinema nacional da segunda metade do século passado: AMÁCIO MAZZAROPPI.  O criador do famoso personagem Jeca Tatu  nasceu no dia 09 de abril de 1.912 em São Paulo e morreu em 13 de junho de 1.981. Entre 1.951 quando produziu o primeiro filme, “Saí da Frente”, até “O Jeca e a Égua Milagrosa”, de 1.979, o último,  lançado em 1.980, foram 32 (trinta e dois) filmes na sua extensa filmografia, que levaram milhões de espectadores aos cinemas de todo o país. Mazzaroppi foi o representante de uma arte construída sobre o Brasil da década de 40, ao tempo em que o país experimentava a conversão do rural para o urbano . A esse respeito, assim se manifesta GLAUCO BARSALINI, em sua dissertação de Mestrado denominada “Amácio Mazzaroppi: Crítico de seu tempo”, defendida no ano de 2.001 no Departamento de Multimeios da Unicamp – Universidade Estadual de Campinas, sob orientação da Professora Doutora Haydée Dourado de Faria Cardoso e publicada como “MAZZAROPPI O JECA DO BRASIL, pela editora Átomo “..O caipira acabou sendo eleito, nessa filmografia, por críticos de cinema da época, para representar a nacionalidade. O nacional aparece como sinônimo de rural, de puro, daquilo que deve ser mantido; e o moderno, ao contrário, como o equivalente ao estrangeiro e imperialista, a tudo aquilo que corrompe e destrói” (ob.citada, p. 19). A obra de Mazzaroppi, de qualquer forma, não pode ser ignorada na história do cinema nacional, pelo seu significado, pela sua importância, pelo seu pioneirismo e pela identidade que criou com o público e os valores da sociedade brasileira, questionados ou modificados em decorrência da alteração das condições econômicas e sociais. Daí o sucesso de seus filmes, arrastando multidões para os cinemas. A minha incursão  ( e certamente a de muita gente da minha época e idade), pelas chanchadas do cinema nacional se deu efetivamente por meio dos filmes de Mazzaroppi, o primeiro deles, coincidentemente lançado no mês e ano de meu nascimento (janeiro de 1.952). Vi todos os seus filmes. Tenho-os hoje  em DVD, projeto da  Cinemagia com produção executiva e de projeto de Marcelo Hespanhol e Paulo Duarte, para rever quando tenho vontade, e para satisfazer o interesse eventual de meus amigos e fãs do artista.

Até amanhã.

CRÔNICA: CHOFER DE PRAÇA - A NOITE QUE EU VI  MEU PAI RIR E  CHORAR - UMA HOMENAGEM PÓSTUMA AO SEU NAGIB.

O ano era de 1.959. O cenário o velho bairro do Taquaral na cidade de Campinas, Estado de São Paulo.  O palco propriamente dito o  Cine São José, de tantas lembranças naquela década e nas subsequentes, colorindo com suas gazetinhas e matinês, os meus anos de infância e de primeira adolescência, até desaparecer,muitos anos passados,  dando lugar a um templo religioso. Por seu intermédio me apaixonei pela sétima arte de maneira definitiva. Era uma noite especial. Acho que todas as manhãs, tardes ou noites do cine São José eram mesmo mágicas para mim, que adorava viajar com os personagens e as histórias contadas pelos cineastas da época e interpretadas por heróis e vilões, índios e caras-pálidas e mulheres belíssimas.  O cinema exibia uma comédia nacional de Amácio Mazzoppi. Um velho comerciante sírio, que não fazia questão de cinema, ou outra forma de arte estava lá sentado com toda a sua família. Era o meu pai, sempre sério e introspectivo. O nome do filme era “Chofer de Praça”, acho que a primeira comédia/drama que assisti na vida. No roteiro, um caipira do interior de São Paulo, ruma para a cidade grande e arruma um emprego, lutando,  com grande sacrifício,  para pagar os estudos  do filho que fazia Medicina.  Entre diálogos e cenas engraçadas, meu pai esboçava sorrisos que jamais vi novamente, nem esqueci evidentemente. No final, o motorista de praça e sua mulher ficam sabendo  de que aconteceria a Festa de formatura do filho, preparam-se para comparecer à solenidade,  mas o jovem doutor, publicamente, ignora a presença deles, fingindo sequer conhecê-los, envergonhado da condição dos pais. Silêncio absoluto no cinema. O espectador em geral revoltado. Aqui e acolá ouve-se   um resmungo de inconformidade, de censura ao doutor que perdera a humildade e se revelava ingrato e desprovido de humanidade. Uma lágrima escorre do rosto do velho e rude comerciante, revelando a expressão máxima de sua sensibilidade, denunciada pela proximidade da luz do "lanterninha".  Nunca mais esqueci essa noite única. Meu pai, minha mãe, eu e meus irmãos juntos no cinema. O filme nacional. O nosso herói caipira, gênio da interpretação, nos fazendo rir e chorar. Uma noite inesquecível e única na nossa íntima vida familiar.

Até amanhã amigos.

P.S. (1) “Chofer de Praça” foi o nono filme de Mazzaroppi, a primeira produção da PAM FILMES. A direção e o roteiro são de Milton Amaral e Carlos Alberto S. Barros. Em branco e preto, o filme tem 96 minutos e Lana Bittencourt “Se Alguém Telefonar”, Agnaldo Rayol, “Onde estará Meu Amor?” e o próprio Mazzaroppi, “Izabel, não Chores”, são as canções e os cantores do filme.  

P.S. (2) A imagem da coluna, de Mazzaroppi, foi emprestada do site jornaldeangola.sapo.ao.

P.S. (3) O Cine São José, inaugurado em 05 de dezembro de 1.958, ficava na rua Paula Bueno, 992, Bairro do Taquaral e pertencia à Empresa Cinematográfica de Campinas S.A.  No dia da inauguração exibiu o filme “Uma Americana na Itália”,  com os atores Vittorio Gasmann e Diana Dors.  Atualmente no local funciona uma Igreja do Nazareno;

 P.S. (4) Glauco Barsalini é Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais  pela Unicamp, Mestre em Multimeios pela mesma Universidade e Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Puc de Campinas. Atualmente é também professor na Faculdade de Direito da Puc, nosso prezado colega de docência.

 P.S. (5) O "lanterninha" era um funcionário do cinema que, com uma lanterna na mão, encaminhava os espectadores retardatários às cadeiras vazias, com o filme já começado e as luzes apagadas, para evitar acidentes.

P.S. (6) EIS A FILMOGRAFIA DE AMACIO MAZZAROPPI.  Os anos se referem ao lançamento dos filmes.  1)  SAI DA FRENTE (1.952), 2) NADANDO EM DINHEIRO (1.952), 3) CANDINHO (1.954), 4) A CARROCINHA (1.955), 5) O GATO DA MADAME (1.956), 6) FUZILEIRO DO AMOR (1.956), 7) O NOIVO DA GIRAFA (1.957), 8) CHICO FUMAÇA (1.959), 9) CHOFER DE PRAÇA (1.959), 10) JECA TATU (1.960), 11) AS AVENTURAS DE PEDRO MALASARTES (1.960), 12) ZÉ DO PERIQUITO (1.961), 13) TRISTEZA DO JECA (1.961), 14) VENDEDOR DE LINGÜIÇA M (1.962), 15) CASINHA PEQUENINA (1.963), 16) O LAMPARINA (1.964), 17) MEU JAPÃO BRASILEIRO (1.965), 18) O PURITANO DA RUA AUGUSTA (1.966), 19) O CORINTHIANO (1.967), 20) O JECA E A FREIRA (1.968), 21) NO PARAÍSO DAS SOLTEIRONAS (1.969), 22) UMA PISTOLA PARA DJECA (1.969), 23) BETÃO RONCA FERRO (1.971), 24) O GRANDE XERIFE (1.972), 25) UM CAIPIRA EM BARILOCHE (1.973), 26) PORTUGAL MINHA SAUDADE (1.974), 27) O JECA MACUMBEIRO (1.975), 28) JECA CONTRA O CAPETA (1.976), 29) JECÃO... UM FOFOQUEIRO NO CEÚ (1.977), 30) JECA E SEU FILHO PRETO (1.978), 31) A BANDA DAS VELHAS VIRGENS (1.979), 32) O JECA E A ÉGUA MILAGROSA (1.980).  









 



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

MÚSICA BRASILEIRA - ROBERTO CARLOS - ESSE CARA SOU EU


 
Boa noite amigos.
No mês passado a  Sony Music  lançou um E.P. do Rei Roberto Carlos, cujo título é o mesmo da faixa número 1, a balada Esse Cara Sou Eu.  São quatro (4) músicas, duas inéditas e duas regravações, todas integrantes de  trilhas sonoras de novelas da Rede Globo de Televisão.  Tanto Esse Cara Sou Eu, como Furdúncio (2ª. Faixa), uma funk melody  composta em parceria com Erasmo Carlos, podem ser ouvidas na atual novela das 21,00horas, Salve Jorge, de Glória Perez. Completam o disco, as regravações dos antigos sucessos, A Mulher Que Eu Amo, composta por inspiração da falecida namorada Maria Rita, e A Volta,  integrantes,  respectivamente, das trilhas sonoras das novelas Viver a Vida (2009/2010) e América (2.005). São músicas românticas, no melhor estilo do Rei, e que encantam pela simplicidade das letras bem feitas, a interpretação sempre diferenciada  de Roberto Carlos e os belíssimos arranjos. O E.P. funciona também como um aperitivo  aos milhares de fãs do cantor, do novo CD que Roberto está gravando, pois desde 2.003 que o Rei não lança um disco com músicas novas.

 CRÔNICA - ESSE CARA SOU EU - Para Luis Fernando Veríssimo e torcendo por sua completa recuperação.

"Ali, na sala, os adultos se propunham um desafio: afinal, quem será "o cara"? Uns diziam que o questionamento é antigo. E justamente os mais velhos, afiançavam que  "o cara" só pode ser  o Romário, ex-jogador, o grande nome do tetracampeonato mundial de Futebol, nos Estados Unidos, em 1.994, hoje respeitável Deputado Federal.  Foi  ele próprio quem garantiu.  Até contou, sem rebuços, um dia, numa entrevista,  quem o batizara com tal  epíteto. Teria sido ninguém mais, ninguém menos,  do que o próprio  “Papai do Céu”.   Não cara, objetavam os mais novos. Essa coisa é mais recente e não remonta ao século passado. E digo mais, salientava o Honório. "Esse cara" pode inclusive ser do sexo feminino. Feminino? Uma mocinha?, redarguiu o Henrique, mais maduro e surpreso. É, porque tem um filme chamado “Ela é o Cara”. Esse negócio de ser "o Cara", independe agora do sexo, sabe? Ser "o cara" é o máximo e o máximo pode ser de qualquer um dos três sexos hoje reconhecidos oficialmente pela jurisprudência do STF. Pode ser a Dilma, a Marta Suplicy, a Maria da Penha, o Obama, Sir Elton John, o Joaquim Barbosa, o Silvio Santos, o Paulo Maluf ou a Musa do Brasileirão, que tal?.   Ô Ambrósio, desafiou o Henrique tirando um sarro,  Tu já transou com alguma cara? Já levou pro motel? Putz! Essa geração está mesmo perdida. A nordestina Lindineide, ponderou: Gente, gente, por falar em Obama, vocês não podem ter esquecido. O homem mais poderoso do mundo, falou que o "Cara" era o Lula, lembram?  Alguém vai contrariar o homem?". Luis, especialista em assuntos bélicos,  com curso de pós-graduação na Universidade de Harvardy, advertiu o grupo que a investigação tinha que partir de outra premissa, pois a pergunta a ser feita e desvendada   não é quem é "o cara" e sim quem "sou eu", porque essa é a pista certa. Se "esse cara" sou eu, descobrindo quem "sou eu", a gente fica sabendo quem é "o cara", certo?  A Maria já aborrecida com o andar da carruagem, quis pôr um fim na conversa: Chega, galera. Isso não tem fundamento. A coisa é muito simples. "O cara" só pode ser o compositor ou o cantor. Mas como no caso, o cantor e o compositor é o mesmo, fica simples. "O cara", gente, é o Roberto Carlos, podendo, no máximo, ser também o Erasmo, companheiro permanente e inseparável  do Rei. Assim, do tipo "Sandy e Junior", ou pizza "quatro queijos" ou o famoso  "4 em um da Cica".    E se for o caso, eles podem estar falando de alguém que seria mulher, mas não é, porque o Tremendão chegou a confundir uma vez, na praia de Copacabana,  a Roberta Close com a Sophia Loren. A bancada mais jovem não resistiu e caiu na gargalhada. Roberta Close?, Sophia Loren? Quem será essa gente de quem a gente nunca ouviu falar. O Roberto ainda vá. É o nosso Papai Noel.  Desde que nós nascemos que ele aparece na Globo,  no Natal, todo ano, avisando Jesus Cristo que ele está ali. Como se alguém tivesse dúvida. A Rosana, estudante de Psicologia na Puc, considera mais uma hipótese, dita, plausível: "O Cara", gente, pensem um pouco,  é o alterego do Rei. Quando tentava justificar a conclusão, contudo, foi interrompida pelo  único torcedor do Flu presente, que por sinal era mineiro:  Eta povo ignorante, sô! "O cara" é o Fred, o artilheiro do campeonato brasileiro, campeão pelo Flu, eleito o melhor jogador do torneio pela CBF. "Ceis"  não viram? O Romário pode ter sido "o Cara", mas agora "o Cara" é o Fred. E ponto final. Quando a coisa começava a querer desandar, com palpites e objeções de todos os lados, o Rafinha, meu neto,  quis também meter a sua colher. Puxou as minhas calças e com aquela simpatia atávica (do avô materno, claro),  gritou pra todo mundo ouvir e acabar com a conversa – Vô, vô, Sabe, o Cara é o Rodrigo "Zombardi". Aquele que namora a Morena naquela novela chata da Globo, tá?. No que eu resignado, comendo meu pão de queijo,  respondi: Tá, claro! Mas acho mesmo que o "cara", no momento, é esse pãozinho bão, apreciado na companhia do cafézinho quente de coador. Num canto da sala, o Jorginho Lelé,  alienado em relação aos fundamentos, mas atento ao móvel de toda a discussão, ia desfiando o seu rosário de caras: cara-de pau, cara-metade, cara-de-cu,  cara-pálida, cara-de-bosta........."

Até amanhã amigos.

P.S. (1) E.P.  significa Extendend Play, nome que se dá a uma gravação em vinil ou CD que é longa demais para ser considerada um compacto (single), e muito curta para ser classificada como um álbum. Alguns preferem chamá-la de mini-álbum.

P.S. (2) A imagem da coluna de hoje é a capa do E.P. de Roberto Carlos e foi emprestada do site sonymusicbrasil.tumbia.com

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 2 de dezembro de 2012

LITERATURA - VERÍSSIMO - DIÁLOGOS IMPOSSÍVEIS


Boa noite amigos,

O improvável diálogo entre três estátuas de ilustres personagens, é apenas um dos contos desse livro do autor dos consagrados “O Analista de Bagé” e “As Mentiras Que os Homens Contam”. Posicionados em locais muito diferentes e distantes, Carlos Drumond de Andrade, num banco na Praia de Copacabana, Fernando Pessoa, defronte ao Café “A Brasileira”, em Lisboa,  e Mário Quintana, na Praça de Alfandega, em Porto Alegre, têm lá suas queixas quanto às  limitações  que sofrem com a rija imortalidade (Estátuas (20/11/11). Lançado recentemente pela editora  Objetiva, “Diálogos Impossíveis” (a imagem da coluna de hoje é da capa do livro) é uma coletânea de textos escritos,  em tempos diferentes, pelo escritor Luis Fernando Veríssimo e publicados pelos jornais “O Estado de Sâo Paulo” e “Zero Hora”. Dentre os personagens, reais ou imaginários, gente ilustre como Robespierre, Abrão e Isaque, Goya, Picasso, Lobo Mau e Chapeuzinho, Batman, Don Juan; ou desconhecidos, como o  Padre Alfredo e a tia que caiu no Sena. Concessão literária permite a Veríssimo reunir  pessoas ou personagens que jamais seriam capazes de se encontrar na vida real, pois ou são míticas, ou, então, não tiveram a possibilidade de coexistir na história da humanidade. Nos diálogos, sente-se o estilo do escritor, mestre em fazer humor leve, limpo, inteligente e sarcástico. No momento em que escrevo essa resenha, Luis Fernando tenta se restabelecer de grave problema de saúde que enfrentou, e ainda se encontra internado. Torcemos por sua recuperação e por seu retorno ao mundo das letras, que sente, sem dúvida,  a sua ausência. O livro é um ótimo presente de fim de ano para os apreciadores do gênero e do estilo do autor e pode ser adquirido por apenas R$20,00 (vinte reais), preço indicado para comercialização, pela Editora.

Até amanhã amigos,

P.S. (1) Uma palhinha do livro: “A posteridade não é mais um lugar seguro. Com a nova liberalidade, principalmente em matéria de sexo, as biografias agora contam tudo. Biografia sem uma revelação antes desconhecida ou suprimida não tem graça, ou não é biografia. Até as autobiografias precisam incluir confissões reveladoras, para serem confiáveis (......)  John Kennedy, sabe-se agora, jamais perguntava a americanas o que o seu país poderia fazer por elas, mas o que elas poderiam fazer pelo seu país ali mesmo, em cima da mesa do Gabinete Oval” (REVELAÇÕES, p.23);

P.S. (2) “O Analista de Bagé” é o personagem  mais popular do escritor Luis Fernando Veríssimo. Inicialmente suas aventuras vieram  versadas em forma de crônica, depois viraram  histórias em quadrinhos e durante os anos de 1.985/1992, foram contadas em  página inteira das edições da revista masculina, Playboy.

 

  

 

 
 

 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

ADEUS, NEIDE CARICCHIO

Boa noite amigos,
 
Amiga de tantos e tantos anos, perdidos na noite dos tempos, era sempre uma grande alegria encontrá-la, o que acontecia, raramente embora, nos últimos anos.
Na década de 70, saíamos pela noite de Campinas, frequentando ambientes simples e marginais, próprios de boêmios e sonhadores.  Do Bar da Lingüiça àquela adega, cujo nome não me lembro (se é que tinha nome), lá na Sales de Oliveira.  Eu, ela, o Bentão, o Zé de Oliveira,  a Vanderli, o Hélio, a Lysia, o glorioso Manuel Fábio, que nos deixou há tão pouco tempo, em noitadas históricas nas quais dividíamos as nossas tristezas e alegrias, regadas ao vinho, chopp, e algum tira-gosto, as inquietações políticas, o lirismo dos nossos poetas e os seus eventuais préstimos na nossa vida e nos nossos sonhos.
Era  um Brasil de ditadura, de protestos, de Geraldo Vandré, Chico e Caetano, de um povo que tentava resgatar a sua identidade étnica, cultural, política e a sua liberdade.
Ela mais velha entre nós, e portanto, mais sábia,  mais experiente, parecia, contudo, a mais jovem naquele espírito maravilhoso, e  sempre  tinha uma palavra, uma piada, uma história, uma sacada inteligente, que alegrava os nossos encontros.
Procuradora Municipal ilustre e de carreira, tinha chefiado a Procuradoria e sido Secretária dos Negócios Jurídicos do governo do Prefeito Rui Novaes. Era um exemplo de mulher vencedora, que rompera barreiras, numa época em que pouco se concedia às mulheres, especialmente na política. Tempos de Leila Diniz, cuja corajosa trajetória foi abortada por um acidente aéreo, que também levou o nosso Agostinho dos Santos.  Confidenciou-me um dia que seu nome tinha sido levado a certo General do Exército, por um puxa-saco da revolução,  como suposta militante comunista,  o que, se não se positivou, nem lhe custou violência física ou prisão, chegou a restringir, de certa forma, algumas de suas pretensões profissionais. Não impediu, porém, de maneira alguma, o seu sucesso e a sua marcante trajetória, como pessoa e profissional.
Eu sempre brincava, que ela se tornara imortal, des que seu nome fora inscrito numa placa (acho que não era placa, mas inscrição em alvenaria mesmo), debaixo do Viaduto Miguel Vicente Cury, como sendo a Secretaria dos Negócios Jurídicos no governo do Prefeito Rui Novaes, responsável por aquela obra.
Uma grande tristeza foi a morte repentina e absolutamente precoce de sua querida sobrinha Maria Inês (ela nunca se casara, nem tivera filhos, dedicando seu amor aos irmãos e sobrinhos, especialmente aos filhos de Maria Inês, que ficaram órfãos).
Aposentada na Prefeitura desde a década de 80, comandou, com grande desenvoltura, um alentado escritório de advocacia em Campinas, um dos mais famosos e competentes na área de direito administrativo e direito do Trabalho, juntamente com o advogado Wilson Rahal, de quem era discípula,  responsável por grandes causas em favor, sobretudo, dos servidores públicos ativos e inativos e de seus dependentes.
Quando fiz concurso para a Magistratura e assumi o cargo de Juiz Substituto em Campinas, encontrei-me com ela no corredor do segundo andar do Palácio da Justiça e ela, delicadamente, me estendeu a mão, num cumprimento formal, preocupada com a distância que deveria manter entre a advogada militante e o Juiz de Direito, nas dependências do Fórum.
Recusei o cumprimento e a beijei como sempre fazia, sem a preocupação que ela demonstrara, de forma generosa,  com a minha imagem e a minha posição.
Nossas conversas eram intermináveis. Varávamos a noite tagarelando sobre os mais diversos assuntos. Ela dizia à Mara minha mulher, quando nos despedíamos lá pelas tantas da madrugada, que ainda não tínhamos acabado o assunto. Era sempre assim.
Pontepretana por tradição de família e eu bugrino, tínhamos a sensatez de não falarmos de futebol, papo que eu mantinha e mantenho com outros companheiros e que certamente,  nunca fez falta, no nosso caso.
Nas últimas décadas, os nossos encontros aconteciam na casa da Ophélia, outra grande amiga, outra mulher exemplar, nos jantares com que Ophélia nos brindava, de tempos a tempos,  regados a whisky, vinho e cerveja, com comida tradicional nordestina ou européia, "papo mole" ou "papo cabeça", à escolha do fregues, música, canto e poesia.
Não fumávamos mais, como nos velhos tempos.  Ela também já não bebia, mantendo uma vida mais consentânea com a idade que chegava irremediavelmente. Mas a alegria, a jovialidade, o interesse por tudo e por todos continuavam vivos, vivíssimos.
A semana passada fiquei sabendo que  fora internara depois de passar mal.
A Ophélia me dava notícias quase diárias de seu estado de saúde, que piorara muito nos últimos dias e não prenunciava um final feliz.
Hoje recebi dois telefonemas seguidos: o da Mara, minha mulher e o da Ophélia, me transmitindo a triste notícia de seu falecimento.
Acho que hoje não chego a lamentar demais a morte de meus amigos. Aceito-a como contingência da vida e  não quero vê-los sobreviverem com dificuldade e sem qualidade de vida, com sérias seqüelas, por exemplo.  Meu amor por eles é menos egoísta. Recebo a notícia da morte de meus amigos, assim, sem muito sofrimento, até com suposta resignação, louvando o fato de que nessa vida temporal e finita, me deram a possibilidade, a honra  e a alegria de uma contemporaneidade de compartilhamento e trocas.
Campinas, a sociedade campineira, os parentes e amigos perdem uma grande cidadã, que muito fez pela cidade, uma excepcional mulher e uma companheira leal e sensível.
A advocacia campineira perde uma de suas mais ilustres profissionais.
Adeus minha grande e estimada amiga,  Neide Caricchio.
Agora não  podemos  mais terminar a nossa conversa, aquela que nunca terminava.
Ou vamos fazê-lo, quem sabe,  qualquer dia, rindo bastante, como a gente fazia, tomando um whiskinho.
Quem sabe!
Lá no infinito, como diz aquele samba belíssimo da Gaviões da Fiel, que ganhou o carnaval de São Paulo há anos "O que é Bom Dura Pra Sempre".
Até amanhã.
 
P.S. (1) Se é verdade que o Prefeito Rui Novaes  teve contra si a demolição do Teatro Municipal Carlos Gomes, realizou também  uma obra que na época foi importante para Campinas: a construção do Viaduto Miguel Vicente Cury, que ligava a Vila Industrial ao Centro da Cidade, substituindo um caminho estreito que não se coadunava com a grandeza que a cidade assumia e que permitia a passagem apenas de um veículo de cada vez;
P.S. (2) Antes do espaço sob o viaduto Miguel Vicente Cury ser transformado em terminal de ônibus e, posteriormente, invadido por comércio ambulante, ali existia uma bela praça, muito bem arrumada. Era lá que ficava a tal inscrição com os dados da inauguração da obra. Nem sei se ela (a inscrição) ainda existe; 
P.S. (3) Neide tinha 79 anos. No seu “curriculum vitae” consta, ainda,  ter sido Chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal de Campinas, entre 1.983 e 1.985,Conselheira Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo e Vice-Presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo (CAASP);
 
P.S. (4) A imagem de Neide que ilustra a coluna de hoje foi emprestada do site g1.globo.com;

P.S. (5) Algumas figuras, durante a revolução, se prestavam a denunciar pessoas que julgavam contrárias ao movimento. Às vezes a denúncia era infundada ou gratuita, e visava: a)  ou excluir a competição de alguém que tinha mais competência que o denunciador, ou, b)  simplesmente "se dar bem" ou "ficar bem" com os militares. Gente desprezível essa, mas não se pense que eram apenas pessoas comuns. Tinha muito cidadão ilustre ou importante que se prestava a esse tipo de coisa. Não deixaram saudade, certamente;

 
 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

BOCÓ DE MOLA

Boa noite amigos,
Bocó de Mola I
Na minha infância e mocidade, décadas de 50 e 60, ouvíamos muitas expressões no interiorzão  de São Paulo, cujo significado desconhecíamos por completo. Muitas delas vinham do pessoal do sítio que gastava fiado, por ano, no armazém do meu pai, lá em Pirambóia, pequena localidade ao pé da Serra de Botucatu.  Confesso que tempos depois, quando descobri por exemplo que o “calipá” a que se referiam os adultos era uma plantação de eucaliptos, portanto, um “eucaliptal”, quase tive um treco. Esta semana, não me lembro porque, me lembrei de outro verbete muito utilizado naquela época, mesmo em casa, por minha mãe, parentes, colegas e  até pelo pessoal da imprensa. Trata-se do “bocó de mola”. Bem, a gente tinha uma vaga noção do significado da palavra, por certo um insulto, sem chegar a ser palavrão. O bocó seria um tonto, um imbecil, um “stupid personal” como vi agora há pouco num site que cuida de traduzir palavras do nosso idioma para o inglês. Afinal, ser um “stupid personal” deve ser mais chique do que ser um “bocó de mola”, assim como “fazer cocô atrás do eucaliptal”  supõe-se mais elegantemente  higiênico do que “cagá atrás do calipá”, que era pra o que servia o próprio,  para a molecada.  Não achei a expressão por inteiro nos dicionários mais conhecidos. O “bocó” sim, no sentido do que a gente desconfiava. Do Dicionário Brasileiro de Insultos, porém, de autoria de Altair J. Aranha, lançado pela Editora Ateliê, existe o seguinte registro, verbis: “Bocó – o que tem um comportamento meio infantil, apatetado. “Bocó de Mola” – um bobo a quem se dá corda; “nasceu e cresceu bocó”; vai  morrer assim”. Pois bem, agora acabo de me lembrar a razão de me vir a mente o tal “bocó de mola”.  Ouvi pela rádio as justificativas que um determinado político estava dando a respeito de certa conduta supostamente criminosa a ele imputada. Coisa mais estapafúrdia, inverossímil, improvável. Daí me veio a mente, numa espetacular e instantânea retrospectiva da memória, a tal expressão. Estava  sozinho. Por isso nada disse. Mas pensei cá comigo:  Tá achando que eu sou um “bocó de mola”, é?

Bocó de Mola II

Quando alguém chamava alguém de “bocó de mola” o destinatário imediatamente se ofendia. Não raro, partia para a briga e saía a socos e pontapés contra o agressor... Batia e apanhava, ou apanhava, ou só batia, mas era questão de honra.

Na outra versão, aquela ali de cima, o “bocó de mola” era uma forma de indignação quando éramos atingidos no nosso “brio”, ou reagíamos em nome da nossa sociedade, contra a lesão praticada ao patrimônio público ou a direito fundamental nosso ou de terceiro; contra o absurdo, o inaceitável, o abominável.

Hoje não reagimos contra os nossos agressores e  aceitamos o abominável, o saque, a lesão, como se tudo isso fosse natural, ou não nos dissesse respeito.

Ganhamos o medo, perdemos a honra, o brio, a capacidade de indignação.
Somos bocós de mola, sim, em nome exclusivo de nosso egoístico sentido de auto-preservação e  de preservação de nosso mundo restrito.

Até amanhã amigos,

P.S. (1) A imagem da coluna de hoje foi emprestada ao blog musicasparacantarbrincando.blogspot.com.;

P.S. (2) A indignação e a coragem são virtudes irmãs. Delas assim falou Augusto dos Anjos: “A esperança tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem a mudá-las.”;

P.S. (3) Indignação também é o nome de uma poesia de Henrique do Carmo, triste e desalentadora que reza: “Indignação. Promessas não cumpridas.  Mortes sem motivo. Indiferença de extrema falta de piedade. Somos mais sujos que o solado dos sapatos dos ditadores. Nosso cheiro causa ânsia. Nossa fala causa indignação. Nosso comportamento, causa vergonha. Tenho nojo dos humanos. Tenho nojo de mim. Por ser um. O ser mais inteligente. É o ser mais ignorante. É preferível a pureza dos animais.À podridão dos seres humanos.”;

P.S. (4) “Deus é justo juiz. Deus que sente indignação todos os dias”, Biblía Sagrada, Salmo 7.11;

P.S. (5) “Observo hoje uma falta de indignação coletiva. Os valores morais que alicerçaram a sociedade mudaram ou fomos nós que mudamos ao nos tornarmos indiferentes?” – Esse o questionamento de Plinio Lopes Junior.