Oi amigos,
Uma homenagem para a mãe Elis e um presente para os fãs saudosos da obra da maior cantora do Brasil. Assim pode
ser justificado o projeto de Maria Rita, que resultou em um espetáculo de palco, que
corre o Brasil, e em dois CDs gravados
ao vivo, com o "essencial" de Elis Regina,
a grande diva da música popular brasileira, cuja carreira próspera foi
interrompida bruscamente aos 36 anos, num triste dia de janeiro de 1.982. Não
vi o show, comprei os CDs e os ouvi atentamente, cada faixa, cada arranjo, cada
detalhe da interpretação da filha na revisita aos sucessos da mãe. São 28
faixas distribuídas em dois CDs com 14 músicas cada um. Na abertura, Imagem de Luiz Eça e Aloysio de Oliveira, música
e versos que viraram uma espécie de marca ou "slogan" com que a Pimentinha saudava
os fãs e os advertia para a necessidade de se proteger o que era autenticamente
nacional, a nossa música, contra a ameaça suposta vinda do exterior. Ou da
ditadura, quem sabe. Tempos Bicudos, aqueles: “Ai que bom é ver vocês/ E cada vez que
eu volto é para dizer/Que sem ter vocês/Sem ver vocês/ Não sou ninguém/Canta
que a vida passa/E se ela passa/Melhor cantar/É de vocês o meu cantar/É só pra
vocês nosso cantar”. Daí por diante uma seleção variada de sucessos,
gêneros diversos, que se imortalizaram na interpretação original e definitiva de Elis (sambas, boleros, marchas,
bossa- nova, sambas-canção...). De Arrastão de Edu e Vinícius,
do começo da carreira, a Redescobrir, de Gonzaguinha, já na
maturidade; de Águas de Março, do
Maestro Tom Jobim a Saudosa Maloca, do
folclórico sambista ítalo-paulista, Adoniran Barbosa. De Alô, Alô, Marciano, da roqueira Rita Lee a Me Deixas Louca, versão brasileira de Paulo Coelho. Em algumas
faixas muitas palmas revelando o entusiasmo do público pela canção eleita.
Noutras, a cantora, sentindo o entusiasmo da platéia, a ela oferece generosa parceria, como em Madalena,
de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro, e no hino sertanejo, Romaria, de Renato Teixeira. Tudo milimetricamente captado,
revelando que Maria Rita fez questão de conhecer cada detalhe das gravações da
mãe,das mudanças forçosamente introduzidas no original da canção, da colocação
de frases ou de falsetes, aqui e acolá, e assim por diante, para emprestar a
sensação de se ouvir Elis mesmo. O “essencial” de Elis? Não sei. Tudo em Elis
era essencial. Difícil selecionar. Há muita coisa que se incluiria no “essencial”
e que ficou de fora: Edu, de “Upa
Neguinho”, “Corrida de Jangada”, “Pra
Dizer Adeus”, “Memórias de Marta Saré”; Chico Buarque do antológico “Atrás da
Porta”, Milton de “Travessia”, de “Canção
do Sal”, de “Canção da América”, Tom de “Wave”, de “Corcovado”, de "Fotografia";
Carlos Lyra e Vinícius de “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”; Gil de “Lunik 9”,
Marcos e Paulo Cesar Valle de “Preciso Aprender a Ser Só” e "Black is Beautiful"; Baden de “Lapinha”, de “Canto de
Ossanha”; Violeta Parra, de “Gracias a La Vida”; Zé Rodrix e Tavito, de “Casa no
Campo”; Fagner de “Mucuripe”; Pedro Caetano de “É com Esse Que eu Vou”. E
tantas, tantas outras. Bem, os arranjos acompanharam os originais, num
trabalho dos músicos digno de nota. Não
há qualquer intenção deliberada de disfarçar
o objetivo da imitação, de reprodução mesmo. E como tal o resultado é competente, sem dúvida. Afinal, Maria Rita tem o privilegiado potencial de voz
da mãe e o mesmo timbre, virtudes emanadas de um bendito DNA. Faltava revelar a intenção
da homenagem e a vontade de estudar a obra e de
revisitá-la, agora não só como
uma filha que ama e respeita, mas como uma admiradora consciente da
importância de Elis, mais que uma estrela, uma lenda para ser contada e cantada em prosa e
verso para a posteridade da história da música brasileira. Valeu!
Até amanhã amigos.
CD 2 – 1) Tatuagem (Chico
Buarque/Ruy Guerra); 2) Me Deixas Louca
(Mi Vuelves Loco) – Armando Manzaneiro, versão Paulo Coelho; 3) Essa Mulher (Joyce/Ana Terra); 4) Se Eu Puder Falar com Deus (Gilberto
Gil); 5) Zazueira (Jorge Ben Jor); 6) Alô, Alô, Marciano (Rita Lee/Roberto
de Carvalho); 7) Aprendendo a Jogar (Guilherme
Arantes); 8) Doce Pimenta (Rita
Lee); 9) Morro Velho (Milton Nascimento);
10) O Que Foi Feito Devera (de Vera) –
Maria-Maria, (Milton
Nascimento/Fernando Brant); 11)
Fascinação (Fascination) – F.D.
Marchetti, versão Armando Louzada); 12)
Romaria (Renato Teixeira); 13)
Madalena (Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza); 14) Redescobrir (Luiz Gonzaga Junior);
P.S. (2) Ao formular os
agradecimentos, no folheto que acompanha os CDs, Maria Rita assim conclui, dirigindo-se à mãe: “Mamãe, obrigada por tanto e por tudo. Que você siga viva no palco
maior, que é o coração de seu público, o seu lugar, soberana e rainha que é.
Amor e orgulho, intenso, irrestrito. Da sua filha”.
Absolutamente emocionante!
Absolutamente emocionante!
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