quarta-feira, 10 de abril de 2024

ROBERTO GODOY MEU AMIGO - ATÉ UM DIA - BAITA ABRAÇO!


A imagem do nosso Godoy foi emprestada do 
veículo de imprensa "O Povo".


Já se vão onze dias desde que me despedi do grande jornalista,  Roberto Godoy Marques Filho, para nós, amigos do coração,   apenas o “Beto”, um companheiro afável, humilde, com um largo sorriso e que mostrava um prazer enorme de dividir algumas cadeiras na conveniência do Posto Shell da esquina da Av. Julio de Mesquita com a rua Guilherme da Silva,aqui em Campinas, com quem se achegasse, nunca se recusando a responder indagações ou manifestar opiniões sobre qualquer assunto, mercê de sua vasta vivência e cultura, para além da área em que se tornara o maior especialista do país, qual seja, a de “Assuntos de Defesa, Segurança, Armas e Guerras”. E, à curiosidade de se saber como uma pessoa de paz, de refinada diplomacia, plena de gestos de atenção e carinho para com  seus semelhantes, poderia se tornar um expert em guerras e armamentos, dizia “Ao contrário do que se imagina eu não tenho coleção de maquetes, de blindados, nada disso. O assunto nunca foi meu hobby, mas é fascinante.”  E foi preciso esse tempo de depuração e compreensão para me permitir voltar à dura e fria realidade da ausência,  sentar na cadeira que me leva ao computador do escritório de casa e tentar escrever algumas linhas para  expressar o tamanho da minha tristeza e do vazio experimentado pela brusca partida desse ser humano especial, que a despeito de sua consagrada vida profissional na imprensa brasileira, dos prêmios relevantes que recebeu, incluindo o   mais importante do jornalismo nacional, era ávido pelo diálogo, pelo humor que se podia extrair diariamente das reiteradas pexotadas  de políticos e celebridades. Nos últimos tempos, já abatido pela doença, nas raras saídas em que se permitia, tirante as hospitalizações, gostava de ir ao posto e me avisava com antecedência. De minha parte buscava sempre ajustar a minha agenda e, às vezes, cancelar ou permutar compromissos, para não perder a oportunidade de encontrá-lo, sempre uma festa. Brincávamos quando ficávamos mais tempo sem nos encontrar, advertindo, ora eu, ora ele,  que  “a pauta estava crescendo”. E que pauta deliciosamente interminável! No mais, falávamos, quando possível, por telefone ou trocávamos mensagens via whatsapp. A última mensagem que me enviou foi exatamente no dia 16 de março, menos de quinze dias de seu súbito passamento, em razão de um enfarto fulminante, quando as notícias que me enviava, atualizando o seu estado de saúde, indicavam um progresso no tratamento do câncer. Ficam de Roberto duas características pessoais e marcantes: ao apreciar um comentário, um “causo”, uma piada, abria um largo sorriso, ao mesmo tempo em que aplaudia efusivamente quem quer que fosse esse seu interlocutor, costumeiro ou ocasional; nas mensagens escritas terminava com a seguinte expressão: Baita abraço”. Esse “Baita” soava como medida e dimensão de sua amizade, de seu apreço, de seu amor, uma hipérbole de sua grandeza de alma. Voltei, como volto quase todos os dias da semana, à conveniência do posto, onde tomo dois cafés e como o melhor pão de queijo da praça. Na sexta,  ao olhar aquela mesa onde costumávamos sentar, nos últimos tempos, do lado de fora, para facilitar o seu acesso e acomodação da cadeira de rodas, senti um imenso vazio. Minha memória me transportou para aqueles versos de saudades do compositor Sérgio Bittencourt, letra da canção Naquela Mesa, feita em homenagem ao seu pai, Jacó do Bandolim.  E bem baixinho, para ninguém ouvir, cantei ao Roberto, que me espera do outro lado da vida: “Naquela mesa está faltando você, e a saudade sua está doendo em mim.” Que Deus e a sua santinha que você jamais abandonou e que foi delicadamente colocada ao lado de seu corpo o ajudem a encontrar o caminho do infinito, meu queridíssimo amigo. Um dia desses passo lá no Cemitério Flamboyant para te levar uma rosa. E bem baixinho lhe passar uma raspança por ir embora assim, assim, sem pedir autorização, nem despedir dos amigos.

Baita abraço! Amor eterno.

 


domingo, 31 de março de 2024

POEMA - OI ESTRELINHA BRILHANTE!

Boa tarde amigos prezados.
Hoje, domingo santo de Páscoa, mando aqui só uma pequena poesia para reflexão, esperando que todos nós atentemos para o significado de uma ressurreição que possa trazer luz para nossa existência e travessia para um futuro em que sejamos melhores, sábios,  profundos e mais  humanos.



 OI ESTRELINHA BRILHANTE! 

(Inspirada nos ensinamentos extraídos da obra “O Mundo de Sofia” de Jostein Gaarder e escrita, por mim, no último dia 24 de março de 2.024).


Oi Estrelinha brilhante,
Que enfeita o céu todas as noites de lua cheia, 
Disseram que você não existe mais há milhões de anos-luz,
Então me ensina como é brilhar não existindo,
Se eu vivo neste mundo, há muito tempo, sem saber existir. 


 Boa e tranquila noite,

sábado, 2 de março de 2024

SOBRE TEREZAS


Bom dia amigos,

Imagem de cantiga de roda emprestada do
site MultiRio.

Quem na infância não  ouviu algumas cantigas antigas que fazem parte do nosso rico folclore. Pois, Terezinha de Jesus, composição atribuída a um obscuro Tomás Lima, é uma dessas preciosidades que as crianças, na infância, ouviam e cantavam. Os versos diziam: Terezinha de Jesus/deu uma queda foi ao chão/acudiram três cavalheiros/Todos de chapéu na mão/O primeiro foi seu pai/O segundo seu irmão/O terceiro foi aquele/que a Tereza deu a mão.” A singeleza da composição, no entanto, faz pensar que dos três cavalheiros, teria Terezinha desprezado os dois primeiros, respectivamente, seu pai e seu irmão, para aceitar o auxílio do estranho, que a canção  a ele se refere unicamente como “aquele que a Tereza deu a mão”. Mas estudiosos do assunto garantem que o socorro oferecido pelo pai e irmão significam que a família está sempre nos apoiando, nos ajudando em todas as circunstâncias e dificuldades da vida, incondicionalmente. O terceiro, então, seria o "príncipe encantado", que precisa ainda ser conquistado e em relação a quem a Terezinha espera viver um grande, eterno, feliz e infinito amor. Bonitinho, né?  Nosso Chico Buarque compôs a música Terezinha (Sem Jesus no título), narrando a saga de uma certa Tereza que foi visitada por três cavalheiros, tal como na cantiga. Recusou dois, para ficar com um terceiro. Não quis o primeiro, que trouxe presentes e não lhe negava nada: O primeiro me chegou/como quem vem do florista/trouxe um bicho de pelúcia/Trouxe um broche de ametista/Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha/Me mostrou o seu relógio, Me Chamava de rainha. Disse não também ao que veio do bar fuçando tudo, sem qualquer limite ou respeito: “O segundo me chegou/como quem chega do bar/Trouxe um litro de aguardente/tão amarga de tragar/Indagou o meu passado e cheirou minha comida/Vasculhou minha gaveta/Me chamava de perdida. O terceiro, aquele que ganhou o coração da jovem foi o que nada trouxe e nada perguntou, tratou-a com dignidade e respeito, valorizando-a como mulher e companheira: O terceiro me chegou, como quem chega do nada/Ele não me trouxe nada/ Também nada perguntou/Mal sei como ele se chama/Mas entendo o que ele quer/Se deitou na minha cama e me chama de mulher/.  No fim dessa história Chico nos brinda com essa linda metáfora: “Foi chegando sorrateiro/ e antes que eu dissesse não/Se instalou como um posseiro/dentro do meu coração.”  Sobre posse, possuidores, poceiros e posseiros eu costumo falar aos meus alunos da Faculdade de Direito, quando ingressamos no módulo dos Direitos Reais. 

 Até mais, amigos.

sábado, 17 de fevereiro de 2024

SOBRE CÁLICES, CALE-SE E DORES

 Boa tarde amigos,

 

O jogador inglês, David Beckham pedindo
silêncio e respeito ao adversário.


A música “Cálice”, de Chico Buarque e Milton Nascimento foi composta no ano de 1.973, porém censurada, só foi liberada para lançamento no ano de 1.978. O Cálice, metáfora à qual se refere a Bíblia Sagrada, utilizada por Jesus Cristo para pedir ao pai que o livre do destino de sofrimento e da morte - “Pai Afasta de Mim esse Cálice”- , foi eleita pelos criadores para se referir ao “Cale-se” imposto pela ditadura militar para coibir qualquer tipo de manifestação de protesto contra o regime e suas arbitrariedades, perseguições e mortes.  Além dos versos principais, fortes na condenação do arbítrio, em determinado trecho, a letra (seria a original?) diz: “... De que me vale ser filho da santa, melhor seria ser filho da outra....”. A outra, claro, é a “puta”, à qual não se poderia referir na ocasião, muito menos preterindo a “santa”.  Restabelecida a ordem democrática no país, agora em 2.022, Chico compôs uma canção batizada de “Que tal um Samba?”, na qual convida todos a amenizar os perrengues do dia a dia e nele há um trecho assim escrito: “.... Depois de tanta mutreta, depois de tanta cascata, depois de tanta derrota, depois de tanta demência. E uma dor filha da puta, que tal? Puxar um samba. Que tal um samba?”. A distância em anos e décadas entre o tempo do Cálice e o Que tal um Samba? explica um pouco a diferença de sentimentos do poeta, quanto aos respectivos momentos: enquanto o Chico, mocinho, estava preocupado com a discriminação quanto à  origem da pessoa (ser filho da Santa ou da puta, tanto fazia), o Chico de hoje prefere contemplar a dor filha da puta que ele deve sentir, todos os dias, assim como eu e todos nós da sua geração, que ainda estamos por aqui,  Mas foi econômico ao colocar a “dor” no singular, tantas são as nossas dores da terceira idade. Será, no entanto, que podemos usar essa expressão “filha ou filho da puta” para ofender ou desqualificar alguém ou alguma coisa? Bom, mas esse assunto é para outro dia.

Bom final de semana.

Abraços ....