A imagem do nosso Godoy foi emprestada do veículo de imprensa "O Povo". |
Já se vão onze dias desde que me despedi
do grande jornalista, Roberto Godoy
Marques Filho, para nós, amigos do coração,
apenas o “Beto”, um companheiro
afável, humilde, com um largo sorriso e que mostrava um prazer enorme de
dividir algumas cadeiras na conveniência do Posto Shell da esquina da Av. Julio
de Mesquita com a rua Guilherme da Silva,aqui em Campinas, com quem se
achegasse, nunca se recusando a responder indagações ou manifestar opiniões
sobre qualquer assunto, mercê de sua vasta vivência e cultura, para além da área em que se tornara o
maior especialista do país, qual seja, a de “Assuntos de Defesa, Segurança, Armas e Guerras”. E, à curiosidade de se saber como uma pessoa de paz, de
refinada diplomacia, plena de gestos de atenção e carinho para com seus semelhantes, poderia se tornar um expert em guerras e armamentos, dizia “Ao contrário do que se imagina eu não
tenho coleção de maquetes, de blindados, nada disso. O assunto nunca foi meu
hobby, mas é fascinante.” E foi
preciso esse tempo de depuração e compreensão para me permitir voltar à dura e
fria realidade da ausência, sentar na
cadeira que me leva ao computador do escritório de casa e tentar escrever
algumas linhas para expressar o tamanho
da minha tristeza e do vazio experimentado pela brusca partida desse ser humano
especial, que a despeito de sua consagrada vida profissional na imprensa
brasileira, dos prêmios relevantes que recebeu, incluindo o mais importante do jornalismo nacional, era
ávido pelo diálogo, pelo humor que se podia extrair diariamente das reiteradas
pexotadas de políticos e celebridades.
Nos últimos tempos, já abatido pela doença, nas raras saídas em que se
permitia, tirante as hospitalizações, gostava de ir ao posto e me avisava com
antecedência. De minha parte buscava sempre ajustar a minha agenda e, às vezes,
cancelar ou permutar compromissos, para não perder a oportunidade de
encontrá-lo, sempre uma festa. Brincávamos quando ficávamos mais tempo sem nos encontrar, advertindo, ora eu, ora ele, que “a pauta estava crescendo”. E que pauta
deliciosamente interminável! No mais, falávamos, quando possível, por telefone
ou trocávamos mensagens via whatsapp. A última mensagem que me enviou foi
exatamente no dia 16 de março, menos de quinze dias de seu súbito passamento,
em razão de um enfarto fulminante, quando as notícias que me enviava,
atualizando o seu estado de saúde, indicavam um progresso no tratamento do
câncer. Ficam de Roberto duas características pessoais e marcantes: ao apreciar
um comentário, um “causo”, uma piada, abria um largo sorriso, ao mesmo tempo em
que aplaudia efusivamente quem quer que fosse esse seu interlocutor, costumeiro ou ocasional; nas mensagens escritas terminava com a seguinte expressão: Baita
abraço”. Esse “Baita” soava
como medida e dimensão de sua amizade, de seu apreço, de seu amor, uma
hipérbole de sua grandeza de alma. Voltei, como volto quase todos os dias da
semana, à conveniência do posto, onde tomo dois cafés e como o melhor pão de
queijo da praça. Na sexta, ao olhar aquela mesa onde costumávamos sentar, nos últimos tempos, do lado de fora,
para facilitar o seu acesso e acomodação da cadeira de rodas, senti um imenso vazio. Minha memória me transportou para aqueles versos de saudades do compositor Sérgio Bittencourt, letra da canção Naquela Mesa, feita em homenagem
ao seu pai, Jacó do Bandolim. E bem baixinho, para ninguém ouvir, cantei ao Roberto, que me espera do outro lado da vida: “Naquela mesa está faltando você, e a saudade sua está doendo em mim.”
Que Deus e a sua santinha que você jamais abandonou e que foi delicadamente
colocada ao lado de seu corpo o ajudem a encontrar o caminho do infinito, meu queridíssimo amigo. Um dia desses
passo lá no Cemitério Flamboyant para te levar uma rosa. E bem baixinho lhe
passar uma raspança por ir embora assim, assim, sem pedir autorização, nem despedir dos amigos.
Baita abraço! Amor eterno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário