sábado, 2 de março de 2024

SOBRE TEREZAS


Bom dia amigos,

Imagem de cantiga de roda emprestada do
site MultiRio.

Quem na infância não  ouviu algumas cantigas antigas que fazem parte do nosso rico folclore. Pois, Terezinha de Jesus, composição atribuída a um obscuro Tomás Lima, é uma dessas preciosidades que as crianças, na infância, ouviam e cantavam. Os versos diziam: Terezinha de Jesus/deu uma queda foi ao chão/acudiram três cavalheiros/Todos de chapéu na mão/O primeiro foi seu pai/O segundo seu irmão/O terceiro foi aquele/que a Tereza deu a mão.” A singeleza da composição, no entanto, faz pensar que dos três cavalheiros, teria Terezinha desprezado os dois primeiros, respectivamente, seu pai e seu irmão, para aceitar o auxílio do estranho, que a canção  a ele se refere unicamente como “aquele que a Tereza deu a mão”. Mas estudiosos do assunto garantem que o socorro oferecido pelo pai e irmão significam que a família está sempre nos apoiando, nos ajudando em todas as circunstâncias e dificuldades da vida, incondicionalmente. O terceiro, então, seria o "príncipe encantado", que precisa ainda ser conquistado e em relação a quem a Terezinha espera viver um grande, eterno, feliz e infinito amor. Bonitinho, né?  Nosso Chico Buarque compôs a música Terezinha (Sem Jesus no título), narrando a saga de uma certa Tereza que foi visitada por três cavalheiros, tal como na cantiga. Recusou dois, para ficar com um terceiro. Não quis o primeiro, que trouxe presentes e não lhe negava nada: O primeiro me chegou/como quem vem do florista/trouxe um bicho de pelúcia/Trouxe um broche de ametista/Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha/Me mostrou o seu relógio, Me Chamava de rainha. Disse não também ao que veio do bar fuçando tudo, sem qualquer limite ou respeito: “O segundo me chegou/como quem chega do bar/Trouxe um litro de aguardente/tão amarga de tragar/Indagou o meu passado e cheirou minha comida/Vasculhou minha gaveta/Me chamava de perdida. O terceiro, aquele que ganhou o coração da jovem foi o que nada trouxe e nada perguntou, tratou-a com dignidade e respeito, valorizando-a como mulher e companheira: O terceiro me chegou, como quem chega do nada/Ele não me trouxe nada/ Também nada perguntou/Mal sei como ele se chama/Mas entendo o que ele quer/Se deitou na minha cama e me chama de mulher/.  No fim dessa história Chico nos brinda com essa linda metáfora: “Foi chegando sorrateiro/ e antes que eu dissesse não/Se instalou como um posseiro/dentro do meu coração.”  Sobre posse, possuidores, poceiros e posseiros eu costumo falar aos meus alunos da Faculdade de Direito, quando ingressamos no módulo dos Direitos Reais. 

 Até mais, amigos.

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