Boa noite amigos.
Nesses tempos bicudos de perdas e carências, em função da pandemia que ainda promete fazer muito estrago por aqui antes de ser derrotado, o assunto mais importante do dia é, acreditem, a final do BBB-21. Esse “reality show”, apesar das 20 anteriores versões e sem novidades no seu formato, parece ter sido eleito “a bola da vez”, o entretenimento que mobiliza adolescentes e adultos, em torno de uma disputa pelo prêmio de um milhão e meio de reais e de como eles convivem e se comportam reclusos do mundo, bem alimentados pelos patrocinadores e absolutamente ociosos, em dias e meses seguidos, entre risos e choros, festas e bebidas, crises e estratégias para fugir do paredão, ganhar a simpatia do público, obter lideranças etc.etc. e outras bobagens que nada acrescentam de positivo à educação dos nossos jovens, ainda em processo de formação do caráter e personalidade. De vez em quando, surge, aqui e acolá, uma discussão envolvendo preconceitos sociais e necessidade de respeito à dignidade de toda pessoa humana, mas ainda assim de forma absolutamente incidental e sem abordagem adequada e mais profunda de temas que a sociedade deve discutir com profissionais e especialistas, em instituições educacionais e programas sérios e comprometidos com a preservação ou criação de verdadeiros valores de igualdade e justiça social, de que a humanidade em geral tanto carece. Nada contra entretenimentos leves que, em si mesmos, não têm qualquer pretensão de suscitar reflexão, senão mera diversão e alívio, o que é muito na atual situação de sofrimento e isolamento social pelo que passamos todos. O que preocupa é a dimensão que esse jogo de cartas marcadas, direcionados, ora pelos próprios candidatos, ora pela direção do programa, assume na vida cotidiana das pessoas do mundo real. Chego a afirmar que se no passado o sujeito era beneficiado ou preterido pela cor da sua pele, ou pela opção sexual, agora corre o risco de ser julgado (e executado, se for o caso) em função do candidato pelo qual torce no BBB-21. O fato é que, embora me recusando a assistir esse reality, se você ligar a televisão em qualquer horário e programa da TV Globo e suas afiliadas, não há como fugir da maldição de ver infinitas discussões, previsões, críticas positivas e negativas sobre o comportamento desse ou daquele candidato, celebridades falando a respeito e denunciando o seu candidato de preferência, entrevistas de participantes excluídos pelo paredão e familiares, contando a sua vida passada e seus planos futuros, dentro e fora da reclusão. E o que dizer da avalanche de pseudo “especialistas” que surgem a cada dia com PHD em Big Brothers, anunciando uma nova profissão no mundo digital, a do “Influencer big brothers”, ensinando pretensos futuros candidatos, quais as estratégias para ser escolhido a participar, vender sua imagem e como se conduzir em grupos ou isoladamente. durante o decorrer da competição para aumentar as chances de vitória. Hoje o país especula em torno de qual dos três candidatos finalistas levará o voto em peso do público para ganhar os cobiçados um milhão e meio e, quiçá, um papel de destaque ou secundário na próxima novela das 7. Até eu que não vejo jamais esse programa, mas sofro os efeitos reflexos da intromissão dele (até durante a transmissão do meu futebol o tal do Cleber Machado e o Casão são obrigados a nos convidar para saber quem vai pro paredão no dia seguinte, quem é o “anjo” da vez, qual o tema da festa da noite, etc. e tal), sei que essa chata da Juliete já levou o caneco. A competição acaba hoje? Mas não se iludam meus amigos. Os seus efeitos deletérios reflexos serão produzidos ainda durante muito tempo, graças ao IBOPE que obteve, para compensar a dificuldade e lentidão na produção de novos conteúdos, necessários ao abastecimento das várias plataformas digitais concorrentes, com observância do protocolo sanitário. Deus nos ajude e se (perdão pela heresia senhor), não estiver “fechado”com a Juliete.
P.S. (1) A imagem da coluna de hoje é de Fiuk e Juliete, dois dos finalistas do Reality que termina hoje.