Boa
noite amigos,
Arlete
Pinheiro Esteves Torres, nascida em 16 de outubro de 1.929 é uma atriz
brasileira. Conhecem? Bem, pelo nome de batismo, provavelmente não. Arlete,
hoje uma respeitável senhora de 84 anos, virou Fernanda Montenegro (nome de
guerra, como se dizia, na década de 40,
quando abraçou a difícil e então marginal
carreira artística). E com intensa participação em cinema, teatro e
televisão, a atriz viria a se tornar um “monstro sagrado” e “a grande dama da
dramaturgia brasileira”. Durante muito tempo fiquei me perguntando se
efetivamente Fernanda tinha méritos que
justificassem os vários epítetos que a ela se atribuíam, todos na linha dos
superlativos, colocando-a em posição de destaque e importância dentro das
artes cênicas. Afinal, eu via em outras atrizes brasileiras, espanholas, americanas, italianas e francesas, da minha
juventude (Tonia Carrero, Sarita
Montiel, Betty Davis, Brigite Bardot, Sofia Loren, para citar algumas que me
impressionavam), virtudes que não identificava
na badalada Fernanda que, além de tudo, tinha um rosto comum, de gente comum e
nem bonita era. À medida em que fui
amadurecendo, e a carreira da atriz se
consolidando no desempenho de papéis variados e de destaque, ou, ainda de
pequenas participações marcantes, fui
dissipando as dúvidas a respeito. E há dias atrás, quando ouvi pela TV, a
notícia de que Fernanda Montenegro ganhava o prêmio Emmy Internacional de
2.013, na categoria melhor atriz, pela participação no caso especial feito para a
televisão, Doce de Mãe, fiquei visivelmente emocionado. Duplamente
emocionado. Quando em dezembro do ano
passado, assisti a esse filme feito e exibido pela Globo especialmente para sua programação de final
de ano, não tive dúvidas em considerá-lo o grande destaque do ano. Com enredo nem
tão original, focalizando uma viúva octogenária de classe média às voltas com o
problema da idade e a preocupação dos filhos, à medida em que se desenvolve a trama ela vai crescendo, consideravelmente. A velhinha, muito bem
humorada, escapa das várias armadilhas que os filhos criam para fazê-la aceitar
a companhia de empregadas e de sujeição a regras que contemplam valores morais
e sociais burgueses, para viver a sua vida, com sabedoria, alegria e liberdade. E, de
quebra, ainda planeja e auxilia na solução dos problemas pessoais dos
filhos adultos. A mamãe aí é Fernanda, leve, solta, planando no papel da doce Dona Picucha, a protagonista.
Imperdíveis: a trama e a interpretação. O prêmio foi comemorado e muito por
Fernanda, pelos autores, pela Globo e por nós brasileiros que adoramos a atriz e somos bairristas, com orgulho. A primeira artista brasileira a ganhar um Emmy
Internacional, na categoria de melhor atriz. E o Emmy é considerado o Oscar da
Televisão. O prêmio, merecidíssimo, aliás, apenas aplaca um pouco a nossa ira
pela presepada da Academia Americana não ter conferido, em 1.999, a estatueta a Fernanda, indicada por sua magistral atuação
no filme de Walter Salles, Central do
Brasil, escolhendo, no seu lugar, a americana Gwlyneth Paltrow, por seu papelzinho água com açúcar, no bom filme Shakespeare Apaixonado, embora o simples
fato da indicação para o prêmio tenha sido histórico, na medida em que foi a
primeira e única atriz latino americana, até hoje, indicada para o Oscar de
melhor atriz. Fernanda continua trabalhando intensamente, cada vez mais, tanto no teatro, como
na televisão e, ainda, no cinema. E como os vinhos, cada vez melhor. Saúde, muita
saúde para nossa caríssima dama.
Até
amanhã amigos.
P.S.
(1) Dona Picucha, personagem de Fernanda em Doce
de Mãe, me fez lembrar um outro filme,
belo e sensível, que focaliza o romance de um casal de terceira idade, que tenta viver um relacionamento baseado na liberdade e na ausência de
preconceitos, apesar dos problemas de
saúde e da ditadura imposta pela pretensa necessidade de proteção dos filhos. Trata-se de Elza e Fred, um drama espanhol com
Blanca Portilho e Roberto Carnaghi;
P.S.
(2) Fernanda ganhou o Urso de Prata de Melhor Atriz do Festival de Berlim de
1.998, por sua Dora, de Central do Brasil.Também foi indicada para
o Globo de Ouro, pelo mesmo filme e personagem;
P.S.
(3) A atriz foi duas vezes convidada para ser Ministra da Cultura do Brasil,
nos governos de José Sarney e de Itamar Franco. Em ambas as oportunidades,
apesar da relevância do cargo e dos convites, deles abdicou, justificando que
seu destino era representar. Ainda bem, essa história de se meter em política,
num país como o nosso, em que pouco sobra para a Cultura e há carências enormes
na educação, na saúde e em outras áreas sociais, é, como diz um amigo meu
“arrumar pra cabeça”.
P.S. (4) Ao contrário de muitos atores e atrizes menos dotados, que gostam de esnobar a
televisão, ressaltando a preferência pelo teatro dentro das artes cênicas, Fernanda sempre enfatizou que aprecia teatro,
cinema e televisão igualmente, conhecendo, como ela conhece, perfeitamente, as
virtudes e os defeitos de cada um desses veículos de arte e entretenimento, e as
exigências e qualidades que eles requerem dos atores. Quem sabe, sabe;
P.S. (5) Uma coisa parece certa: apesar da crítica que
fiz no item anterior, o teatro não comporta atores forjados ou criados como a
televisão e, eventualmente, o cinema. E é verdade que especialmente a televisão
se notabilizou, em certa época (a moda parece ter passado, mas ainda tenho dúvidas), em transformar carinhas bonitas de passarelas, em atrizes, da noite
para o dia. Nada contra "as" e "os" modelos. Mas "cada macaco no seu galho" continua sendo um atual e sábio ditado.
P.S. (6) A
Falecida, drama de Nelson Rodrigues escrito para o teatro, foi o primeiro filme
de Fernanda Montenegro, sua estréia, pois, no cinema. Nos idos de 1.964;
P.S. (7) A atriz participou de muitas novelas na
televisão brasileira, a maior parte na TV Globo. Em 1.967, integrou o elenco de
Redenção, a mais longa novela da
televisão brasileira. O folhetim de Raimundo
Lopes, dirigido por Reynaldo Boury e Waldemar de Moraes, que a extinta TV Excelsior mandou ao ar de 1.966 a 1.968, teve nada menos
do que 596 capítulos e durou 24 meses e 17 dias. Um recorde não superado até hoje.
P.S. (8) Fernanda também ganhou, em 1.999, a Grã Cruz
da Ordem Nacional do Mérito, prêmio conferido pelo Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por sua destacada importância nas Artes Cênicas;
P.S. (9) As imagens da coluna de hoje são de
personagens de Fernanda Montenegro em papéis que considero
particularmente os mais marcantes da atriz, embora seja muito difícil fazer
escolhas, em se tratando de quem se trata. Vamos lá: imagem n. 1 – Dona
Picucha, com Daniel de Oliveira, em Doce de Mãe (www.gtelemaniacos.com.br); imagem
n. 2 – Zulmira, em A Falecida, filme
de 1.964, com Paulo Gracindo (viveracenarecife.blogspot.com); imagem n. 3 – Nossa Senhora, em Auto
da Compadecida, filme baseado no clássico romance de Ariano Suassuna (canalviva.globo.com); imagem n. 4 –
Regina de O Outro Lado da Rua, longa metragem de 2.000 com Raul Cortez, a única película da América Latina a participar de
longas de ficção do festival de Tribica, festival esse no qual a artista venceu o concurso de
melhor atriz (vejasp.abril.com.br); imagem n. 5 - A Dora de Central do
Brasil, filme de 1.998, com o menino Vinícius de Oliveira (vejasp.abril.com.br); imagem n. 6 –
Dona Candinha de Saramandaia, novela
de Dias Gomes, que foi apresentada como remake em 2.013 (wp.clkicrbs.com.br); imagem n. 7 – a madrasta (1ª. parte) e a
narradora da história (2ª. parte), Hoje é
Dia de Maria, minissérie, com Daniel de Oliveira (memoriaglobo.globo.com); imagem n. 8 – A Quitéria de Incidente em Antares, minissérie de
1.994, baseada no romance homônimo do saudoso Érico Veríssimo (www.teledossie.com.br); imagem n. 9 – Vó Manuela, da minissérie Riacho Doce, Globo 1990/1991) (oglobo.globo.com); imagem n. 10 - a Charlotte de Alcântara
Pereira Barreto, com Paulo Autram, na primeira versão da novela Guerra dos
Sexos, em 1.983 (veja.abril.com.br);
P.S. (10) Duas atrizes americanas que sempre considerei fantásticas, às quais equiparo o talento e a versatilidade de nossa Fernanda Montenegro: a saudossíma Betty Davis e a atuante e espetacular Meryl Stripp.
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