sábado, 14 de dezembro de 2013

DOCE DE MÃE - UM EMMY PARA NOSSA MELHOR ATRIZ

Boa noite amigos,



Arlete Pinheiro Esteves Torres, nascida em 16 de outubro de 1.929 é uma atriz brasileira. Conhecem? Bem, pelo nome de batismo, provavelmente não. Arlete, hoje uma respeitável senhora de 84 anos, virou Fernanda Montenegro (nome de guerra, como se dizia,  na década de 40, quando abraçou a difícil e então marginal  carreira artística). E com intensa participação em cinema, teatro e televisão, a atriz viria a se tornar um “monstro sagrado” e “a grande dama da dramaturgia brasileira”. Durante muito tempo fiquei me perguntando se efetivamente Fernanda tinha méritos  que justificassem os vários epítetos que a ela se atribuíam, todos na linha dos superlativos, colocando-a em   posição de destaque e importância dentro das artes cênicas. Afinal, eu via em outras atrizes brasileiras, espanholas,  americanas, italianas e francesas, da minha juventude (Tonia Carrero, Sarita Montiel, Betty Davis, Brigite Bardot, Sofia Loren, para citar algumas que me impressionavam), virtudes que não identificava na badalada Fernanda que, além de tudo, tinha um rosto comum, de gente comum e nem bonita era.  À medida em que fui amadurecendo,  e a carreira da atriz se consolidando no desempenho de papéis variados e de destaque, ou, ainda de pequenas participações marcantes, fui dissipando as dúvidas a respeito. E há dias atrás, quando ouvi pela TV, a notícia de que Fernanda Montenegro ganhava o prêmio Emmy Internacional de 2.013, na categoria melhor atriz,  pela participação no caso especial feito para a televisão, Doce de Mãe,  fiquei visivelmente emocionado. Duplamente emocionado. Quando em dezembro do ano  passado, assisti a esse filme feito e exibido pela Globo  especialmente para sua programação de final de ano, não tive dúvidas em considerá-lo o grande destaque do ano.  Com enredo nem tão original, focalizando uma viúva octogenária de classe média às voltas com o problema da idade e a preocupação dos filhos, à medida em que se desenvolve a trama ela vai crescendo, consideravelmente. A velhinha,  muito bem humorada, escapa das várias armadilhas que os filhos criam para fazê-la aceitar a companhia de empregadas e de sujeição a regras que contemplam valores morais e sociais burgueses, para viver a sua vida, com sabedoria, alegria e liberdade. E, de quebra, ainda  planeja e  auxilia na solução dos problemas pessoais dos filhos adultos. A mamãe aí é Fernanda, leve, solta, planando no papel  da doce Dona Picucha, a protagonista. Imperdíveis: a trama e a interpretação. O prêmio foi comemorado e muito por Fernanda, pelos autores, pela Globo e por nós brasileiros que adoramos a atriz  e somos bairristas, com orgulho. A primeira artista brasileira a ganhar um Emmy Internacional, na categoria de melhor atriz. E o Emmy é considerado o Oscar da Televisão. O prêmio, merecidíssimo, aliás, apenas aplaca um pouco a nossa ira pela presepada da Academia Americana não ter conferido, em 1.999, a estatueta  a Fernanda, indicada por sua magistral atuação no filme de Walter Salles, Central do Brasil, escolhendo, no seu lugar, a americana Gwlyneth Paltrow, por seu papelzinho água com açúcar, no bom filme Shakespeare Apaixonado,  embora o simples fato da indicação para o prêmio tenha sido histórico, na medida em que foi a primeira e única atriz latino americana, até hoje, indicada para o Oscar de melhor atriz. Fernanda continua trabalhando intensamente, cada vez mais, tanto no teatro, como na televisão e, ainda, no cinema. E como os vinhos, cada vez melhor. Saúde, muita saúde para nossa caríssima dama.

Até amanhã amigos.

P.S. (1) Dona Picucha, personagem de Fernanda em Doce de Mãe, me fez lembrar um outro filme,  belo e sensível, que focaliza o romance de um casal de terceira idade, que tenta viver um relacionamento baseado na liberdade e na ausência de preconceitos,  apesar dos problemas de saúde e da ditadura imposta pela pretensa necessidade de  proteção dos filhos. Trata-se de Elza e Fred, um drama espanhol com Blanca Portilho e Roberto  Carnaghi;

P.S. (2) Fernanda ganhou o Urso de Prata de Melhor Atriz do Festival de Berlim de 1.998, por sua Dora, de  Central do Brasil.Também foi indicada para o Globo de Ouro, pelo mesmo filme e personagem;


P.S. (3) A atriz foi duas vezes convidada para ser Ministra da Cultura do Brasil, nos governos de José Sarney e de Itamar Franco. Em ambas as oportunidades, apesar da relevância do cargo e dos convites, deles abdicou, justificando que seu destino era representar. Ainda bem, essa história de se meter em política, num país como o nosso, em que pouco sobra para a Cultura e há carências enormes na educação, na saúde e em outras áreas sociais, é, como diz um amigo meu “arrumar pra cabeça”.

P.S. (4) Ao contrário de muitos atores e atrizes  menos dotados, que gostam de esnobar a televisão, ressaltando a preferência pelo teatro dentro das artes cênicas,  Fernanda sempre enfatizou que aprecia teatro, cinema e televisão igualmente, conhecendo, como ela conhece, perfeitamente, as virtudes e os defeitos de cada um desses veículos de arte e entretenimento, e as exigências e qualidades que eles requerem dos atores. Quem sabe, sabe;

P.S. (5) Uma coisa parece certa: apesar da crítica que fiz no item anterior, o teatro não comporta atores forjados ou criados como a televisão e, eventualmente, o cinema. E é verdade que especialmente a televisão se notabilizou, em certa época (a moda parece ter passado, mas ainda tenho dúvidas), em transformar carinhas bonitas de passarelas, em atrizes, da noite para o dia. Nada contra "as" e "os" modelos. Mas "cada macaco no seu galho" continua sendo um atual e sábio ditado.
P.S. (6)  A Falecida, drama de Nelson Rodrigues escrito para o teatro, foi o primeiro filme de Fernanda Montenegro, sua estréia, pois, no cinema. Nos idos de  1.964;
P.S. (7) A atriz participou de muitas novelas na televisão brasileira, a maior parte na TV Globo. Em 1.967, integrou o elenco de Redenção, a mais longa novela da televisão brasileira. O folhetim de Raimundo  Lopes, dirigido por Reynaldo Boury e Waldemar de Moraes, que a extinta TV Excelsior  mandou ao ar de 1.966 a 1.968,  teve nada menos do que 596 capítulos e durou  24 meses e 17 dias. Um recorde não superado até hoje.
P.S. (8) Fernanda também ganhou, em 1.999, a Grã Cruz da Ordem Nacional do Mérito, prêmio conferido pelo Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por sua destacada importância nas Artes Cênicas;


P.S. (9) As imagens da coluna de hoje são de personagens de Fernanda Montenegro em papéis que considero particularmente os mais marcantes da atriz, embora seja muito difícil fazer escolhas, em se tratando de quem se trata. Vamos lá:  imagem n. 1 – Dona Picucha, com Daniel de Oliveira,  em Doce de Mãe (www.gtelemaniacos.com.br); imagem n. 2 – Zulmira, em A Falecida, filme de 1.964, com Paulo Gracindo (viveracenarecife.blogspot.com); imagem n. 3 – Nossa Senhora, em Auto da Compadecida, filme baseado  no clássico romance de Ariano Suassuna (canalviva.globo.com); imagem n. 4 – Regina de O Outro Lado da Rua, longa metragem de 2.000 com Raul Cortez, a única película da América Latina a participar de longas de ficção do festival de Tribica, festival esse no qual a artista venceu o concurso de melhor atriz (vejasp.abril.com.br);  imagem n. 5 - A Dora de Central do Brasil, filme de 1.998, com o menino Vinícius de Oliveira (vejasp.abril.com.br);  imagem n. 6 – Dona Candinha de Saramandaia, novela de Dias Gomes, que foi apresentada como remake em 2.013 (wp.clkicrbs.com.br); imagem n. 7 – a madrasta (1ª. parte) e a narradora da história (2ª. parte), Hoje é Dia de Maria, minissérie, com Daniel de Oliveira (memoriaglobo.globo.com); imagem n. 8 – A Quitéria de Incidente em Antares, minissérie de 1.994, baseada no romance homônimo do saudoso Érico Veríssimo (www.teledossie.com.br); imagem n. 9 – Vó Manuela, da minissérie Riacho Doce, Globo 1990/1991) (oglobo.globo.com);  imagem n. 10  - a Charlotte de Alcântara Pereira Barreto, com Paulo Autram, na primeira versão da novela Guerra dos Sexos, em 1.983 (veja.abril.com.br); 

 P.S. (10) Duas atrizes americanas que sempre considerei fantásticas, às quais equiparo o talento e a versatilidade de nossa Fernanda Montenegro: a saudossíma Betty Davis e a atuante e espetacular Meryl Stripp.

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