Boa noite amigos,
Capa do CD de autoria de Francesco Clemente. Reprodução
T Witter Marisa Monte.
|
MARISA MONTE é daquelas
raras artistas, cujo conceito altamente positivo, beira à unanimidade. Ou quase, para fugir à
maldição de Nelson Rodrigues. Com cerca de 30 anos de carreira, 10 álbuns gravados, que
venderam milhões, um repertório amplo,
versátil e de muito bom gosto, a cantora, musicista, compositora, produtora,
dentre outras atividades afins, todas exercidas com indiscutível competência, e
uma passagem relâmpago pelos TRIBALISTAS, um grupo que integrou com Arnaldo Antunes
e Carlinhos Brown, em 2.002 [1],
lançou, no último dia 29 de abril, a sua primeira coletânea, denominada COLEÇÃO, em duas versões de CDs. Uma de luxo, com custo médio de R$60,00, e
outra, comum, que se pode adquirir pela metade do preço. São 13 faixas de
músicas que não constam da discografia oficial da cantora, mas que foram por
ela gravadas, geralmente em duetos, com artistas nacionais e estrangeiros,
episodicamente e para determinados projetos específicos. Na coletiva que deu à imprensa, no lançamento do álbum, ela justificou a opção pela compilação
desses trabalhos: “Os fãs, às vezes, chegavam com um CD com essas músicas e me
davam. Achei que isso seria interessante para os fãs, faz parte do meu trabalho, mas não está na
minha obra. Está tudo espalhado“; “Por isso achei interessante fazer essa
escolha pessoal de mostrar esse arco de tempo, que tivesse um equilíbrio
interno, uma atmosfera boa de ouvir”. A faixa n. 1 "NU COM A MINHA MÚSICA”, de
Caetano Veloso, foi gravada originalmente para o projeto beneficente Red Hot –
Rio, em 2.011, juntamente com Rodrigo Amarante e Devendra Banhart. “CAMA” faixa
n. 2, é de autoria dela própria em parceria com Arnaldo Antunes e Carlinhos
Brown, seus companheiros do extinto
Tribalista, e foi composto para trilha sonora do filme nacional “ERA UMA VEZ” de Breno Silveira, em 2.008. É um primor a
gravação do antológico É DOCE MORRER NO MAR (faixa n. 3), com a cantora cabo-verdiana, Cesaria Evora, a rainha da Morna (vide PS 3), para ser incluído, como foi, no CD desta, "Café Atlântico", do ano de 1.999. A canção assinada por Dorival Caymmi e Jorge Amado, uma parceria inédita e igualmente histórica, traz os
versos pronunciados pelas cantoras, em tom profundamente melancólico, embalados pelo arranjo “chorado” das cordas de Cristovão Bastos, com ritmo resvalando para o fado português.
A cantora mexicana Julieta Venegas (imagem em-
prestada de www.suasletras.com.
|
Marisa cantou o clássico CARINHOSO de Pixinguinha
e João de Barros para o longa que Izabel
Jaguaribe produziu, em 2.003, para
contar a história de Paulinho da Viola (“Paulinho da Viola Meu Tempo é Hoje”).
A música integra a coletânea na faixa n. 4. ALTA NOITE de Arnaldo Antunes foi a
escolhida para a faixa n. 5, canção que ele e Marisa gravaram para o disco “Nome”,
produção solo do músico, de 1.993. A faixa n. 9 é uma conhecida versão
de autoria de Marc Anthony e Roberta Corte Real, que fez sucesso na voz do Rei Roberto Carlos e que Marisa
gravou para a trilha sonora do filme “A Taça do Mundo é Nossa”, de 2.003.
Trata-se de ESQUEÇA (do original Forget Him)....”ESQUEÇA, SE ELE NÃO TE AMA/ ESQUEÇA SE ELE NÃO TE QUER/ NÃO CHORE MAIS, NÃO SOFRA ASSIM/ PORQUE EU POSSO LHE
DAR AMOR SEM FIM....”. O tango, FUMANDO ESPERO, de Juan Viladomat
Masanas e Felix Garso, eu ouvi pela primeira vez num filme da eterna atriz de La Violetera, SARITA MONTIEL. Trata-se da película espanhola, El Último Cuplé, de 1.958 (e os sessentões, como eu, devem lembrar muito bem, sem dúvida, dessa atriz-cantora, de sua beleza, de seu talento e de seu charme, desaparecidos em 2.013, ano de seu falecimento, aos 85 anos de idade). Aqui, a versão desse clássico tango, de
autoria de Eugenio Paes, veio para a
faixa n. 11 e foi gravado, em 2.009, no Rio de Janeiro, no Show com
Café de Los Maestros. Marisa participa com a voz, o violão e o ukelelê e
a costumeira força de interpretação para entoar o final apoteótico: “....DÁ-ME,
DÁ-ME A TUA BOCA/ BEIJA ATÉ QUE FIQUE LOUCA/ QUERO ASSIM ENLOUQUECER DE PRAZER/ SENTINDO ESSE CALOR/ DE UM BEIJO EMBRIAGADOR/ QUE ACABA POR PRENDER A CHAMA
ARDENTE DESTE AMOR! “. OLÉ! Em
1.999, a própria artista produziu o
espetáculo TUDO AZUL da Velha Guarda da Portela. E com o grupo cantou VOLTA
MEU AMOR, um legítimo samba de Manacea e Áurea Maria que está na faixa n. 12.
Marisa e Arnaldo Antunes compuseram para a cantora portuguesa, Carminho, o fado CHUVA NO MAR, que está no CD “Canto” de
2.015, em faixa que ela divide com a própria Marisa. Destaque para o arranjo e
a guitarra portuguesa de Bernardo Couto
(faixa n. 10). Julieta Venegas
marcou presença no “I Tunes Live From São Paulo” em 2.011 e trouxe o seu hit
ILUSIÓN. Na
faixa n. 8, as duas cantoras que dividiram o palco naquela ocasião,dividem também a
interpretação, com frases alternadas em português e em espanhol. E agradam
bastante. A PRIMEIRA PEDRA, é uma composição do trio do ex-Tribalistas que
Marisa cantou com Gustavo Santaolalla na versão 2.013 do mesmo projeto. A
delicada letra (....QUEM DE VOCES RESISTE A UMA TENTAÇÃO/ QUEM PRETENDE REVOGAR A LEI DO
CORAÇÃO./...) está na faixa n. 6. O samba, DIZEM QUE O AMOR de Argemiro Patrocínio
está na faixa n. 7.
David Byrne e Marisa Monte dividem o estú-
dio de gravação em Nova York (imagem empres
tada de www.fotolog.com.)
|
E completando o CD o WATERS OF MARCH, nada mais, nada
menos, do que o clássico de Antonio Carlos Jobim, ÁGUAS DE MARÇO, que deveria
ser traduzido para o inglês como RAIN OF MARCH, no meu modo de entender, para
ser melhor compreendido na língua de Shakespeare. Mas a gravação, que está na
última faixa do CD e foi gravada em Nova York com David Byrne e a dupla esteve
no Red Hot-Rio, em 1.996. E acreditem, há coisas como “It’s a litte alone” para
verter para o inglês o....”É um pouco sozinho”. Mas digamos que seja aceitável
esse mix (português/inglês) da famosa canção imortalizada na voz de Elis
Regina. Em resumo, uma coletânea que apresenta a ótima MARISA MONTE distante de
sua discografia tradicional, mas em repertório esparso que, agora compilado, a ela sem incorpora, sem dúvida. Com muito estilo e originalidade.
Até breve amigos,
A jovem cantora portuguesa, Carminho (imagem empres-
tada de www.annaramalho.com.br).
|
P.S. (1) Maria do Carmo de Carvalho Rebelo de
Andrade, mundialmente
conhecida simplesmente como Carminho é uma cantora e compositora portuguesa de fado, de 31 anos de idade, considerada uma das mais talentosas e inovadoras cantoras de sua geração, interpretando outros gêneros musicais como a música popular portuguesa, a música popular brasileira, jazz, música pop e rock.
P.S. (2) David Byrne é um músico, compositor e produtor musical norte-americano de 64 anos, conhecido por ter fundado a banda Talking Heads, em 1.974, um dos grupos precursores do new wave e worldbeat. Foi premiado com diversos Grammys. Já recebeu o Oscar por trilhas sonoras, assim como o Globo de Ouro. Como membro do Talking Heads, Byrne foi incluído no Rock and Roll Hall of Fame.
P.S. (3) A morna é um gênero musical e de dança de Cabo Verde. Trata-se de um gênero que reflete o romantismo dos trovadores e especialmente o amor à terra, aquele drama de ter que partir e querer ficar, que também ter a ver com o fado português. É tocado tradicionalmente com instrumentos acústicos, para acompanhar as notas longas e ressonantes. Cesaria Evora foi a mais importante artista a disseminar esse gênero musical, conquistando os Estados Unidos e também a França. A artista morreu em Mindelo, Cabo Verde, onde também nasceu, aos 70 anos de idade, em dezembro de 2.011. Em sua vasta discografia consta o dueto com Marisa Monte (É doce Morrer no Mar), no álbum de 1.999, denominado "Café Atlântico".
[1] Trecho da música Tribalista, faixa do único
CD que o grupo gravou no ano de 2.002 e
que anunciava : “O tribalismo é um anti-movimento. Que
vai se desintegrar no próximo momento....”E se extinguiu mesmo. Não assim a
parceria entre os três ótimos artistas,que continuaram a gravar e
principalmente a compor várias músicas com muita qualidade.