Boa tarde amigos,
"Não, não vou me lembrar de sua
morte. Nem de sua maldita doença. Elas
não importam agora que você nos deixou e virou uma lembrança. Uma estrela no céu. Uma quimera, sei lá. Uma retórica qualquer, com sabor de
eternidade para se vingar do tempo. Um
tempo que nos limita. Um tempo que nos separa, impiedosamente, mas que também
nos deu a grata chance da contemporaneidade. Importa o que você construiu.
Importa a sua vida abençoada de doação para seus parentes, amigos, clientes e
desconhecidos, privilegiados pela sua mansidão, disponibilidade, sensibilidade, sua refinada educação, seu espírito voltado para a caridade e a
justiça. Importa o abraço, aquele abraço forte, sincero, tranqüilo, que você me deu na última vez que deixei
sua casa e que eu senti como uma doída despedida. Importa o vazio da orfandade
das cachorras que você não abandonava, fiéis companheiras em todos os momentos
de sua improvável convalescença. Importa a amizade, o carinho, a relevância do ser humano forte, do bom combate
travado, das boas causas e da busca incessante de aprimoramento da sabida ridícula e precária condição humana. Importam os amigos
de diversas origens e destinos, que você fez nas fugas para as pescarias
esportivas e nas viagens longínquas por caminhos áridos e perigosos, em busca
de sua essência interior e da natureza simples do mar e
dos peixes, da sensação de estar livre, provisoriamente que fosse, das questiúnculas suscitadas em processos que inundam os
tribunais humanos e dos desencontros forjados no convívio daqueles que lhe eram caros. Importa a sua
enorme disposição para perdoar as ingratidões e a falta de caráter das pessoas,
bondade para justificar tudo e a todos. Importa a nossa parceria forte sempre no
sentido da condução das pessoas à conciliação, ao perdão, à cata da vida como a
arte do encontro, como falou um dia a sensibilidade do poeta. Importa a alegria
das vitórias justas e a tristeza das derrotas injustas. Importa a solidariedade
da partilha de nossas indignações, diante das violências e injustiças sociais. Importam todas as manhãs dos dias seguintes às
nossas tragédias, em que a esperança sempre se renovava para alimentar a continuidade da luta, apesar de tudo. Importam aqueles momentos não raros de alegria, divididos com nossas mulheres, com amigos e com companheiros de escritório, em que trocávamos informações malucas e piadas, jurídicas e leigas, comemorando o lado bufão e leve da vida, às vezes regado à boa comida e a várias taças de vinho ou cerveja. Importa o exemplo e o legado que ficam e
devem inspirar Rodrigo e Pedro, seus filhos sempre venerados. Tchau Velho! Obrigado por tudo. Pela divisão
da vida, dos sentimentos perscrutados no recôncavo de nossas almas, pelo inaudita e inesgotável poder de compreensão e pelo ombro amigo. Te amo e esse amor fraterno permanecerá para
sempre, ainda que o sempre seja mais uma retórica para se vingar do tempo.".
Até breve amigos.
P.S. Em postagem de 16 de julho de 2.012, contei neste blog, as aventuras de Vicente e seus amigos pescadores em "Pescaria Esportiva no canal do Panamá".
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