Boa noite amigos,
Capa do livro destacando a sensacional dupla de
compositores, Vinícius de Moraes e Antonio Carlos
Jobim, autores da música Garota de Ipanema, uma
das mais gravadas e executadas no mundo inteiro.
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A Editora carioca,
Estação Brasil, lançou no último mês de setembro, na linha de sua coleção batizada de “101”, o
livro 101 CANÇÕES QUE TOCARAM O BRASIL,
do paulista Nelson Motta (72 anos) conhecido jornalista, compositor, escritor, roteirista, teatrólogo, crítico musical e produtor cultural, e colaboração de Antônio Carlos
Miguel, no qual elege as 101 canções que
no seu entender somaram beleza poética, integração letra-música, inovação e
tornaram-se sucessos populares, tocados no rádio e na televisão nas respectivas épocas, ou em outras, quando relançadas. Tudo isso num
ciclo de pouco mais de 100 anos, a começar por O ABRE ALAS, de Chiquinha
Gonzaga, de 1.899 e terminar com o rap À PROCURA DA BATIDA PERFEITA, de Marcelo
D2 e David Corcos, de 2.003. Nelson, nascido em 1.944, mudou-se para o Rio
de Janeiro, onde reside até hoje, e acompanhou pessoalmente todos os movimentos
musicais a partir do nascimento da Bossa Nova.
Com apenas 20 anos venceu o I Festival Internacional da Canção (1966), com a
música “Saveiros”, feita em parceria com Dori Caymmi. E quem, sendo da minha
geração, não se lembra de O CANTADOR, música que fez com o mesmo parceiro da
época e que a jovem Elis Regina defendeu em 1.967, no III Festival da Música Popular
Brasileira, da TV Record de São Paulo?[1]. Sua obra conta hoje com mais de 300
canções, muitas de inesquecíveis sucessos como “Dancin’Days” e “Como uma Onda”,
em co-autoria com Lulu Santos. Produziu discos de cantoras importantes como Elis
Regina, Marisa Monte e Fernanda Takai. No posfácio do livro, afastando qualquer pretensão de ser o dono da verdade, começa por observar que “As
101 melhores, ou mais bonitas, ou mais
importantes canções brasileiras não existem”. Admite que existam e se possam
fazer inúmeras listas diferentes e respeitáveis, por gênero, época, importância
histórica ou sucesso popular, não de 101, mas de 1.001 músicas dos últimos 100 ou
50 anos, porque “Uma das grandes qualidades da música brasileira é a variedade
inigualável de gêneros, estilos, ritmos e misturas musicais, de Belém a Porto
Alegre, em épocas distintas e sob múltiplas influências, que representam nossa
diversidade étnica e cultural” (sic, fls.215).
Com bela e leve disposição
gráfica, em que numa das páginas comenta a história da música e, na outra,
estampa imagens dos compositores, cantores, discos ou cartazes de
publicidade da época das edições, o livro é um convite a uma leitura prazerosa, que mais lembra um
bate-papo com um amigo entendido do assunto, numa roda de café ou cerveja. É quase impossível ler sem cantarolar baixinho ou simplesmente memorizar a música focalizada, num exercício de retorno ao passado, gostoso e saudável. São notas de como a música nasceu ou foi
concebida por seus compositores, quem gravou, quem não quis gravar e se
arrependeu, quando surgiu o sucesso
popular, o que ela trouxe de inovação ou contribuiu para o movimento musical
específico[2]. E, ainda, detalhes considerados curiosos como a compra e venda de composições, prática
comum em certa época (a dos chamados comprositores)[3].Claro
que nesse rol se encontram canções de nossos mais respeitáveis compositores
como Chico Buarque (Apesar de Você; Construção; Olhos nos Olhos); Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes
(Chega de Saudade; Eu sei que Vou te Amar; Garota de Ipanema); Caetano Veloso
(Força Estranha; Sampa; Terra); Gilberto Gil (Domingo no Parque; Aquele
Abraço); Milton Nascimento (Travessia; Coração de Estudante); Luiz Gonzaga (Asa Branca); Gonzaguinha (Explode Coração; O Que é o Que é?); Noel Rosa (Feitiço da
Vila; Palpite Infeliz); Ary Barroso (Na Baixa do Sapateiro; Aquarela do Brasil; Pra Machucar meu Coração); Dorival Caymmi (Dora; Marina; João Valentão; Saudade
da Bahia); Cartola (O Sol Nascerá; As
Rosas não Falam; O Mundo é um Moinho); Nelson Cavaquinho (A Flor e o Espinho; Folhas Secas); Adoniran Barbosa (Trem das Onze); Paulinho da Viola (Foi um Rio que Passou na
Minha Vida; Coração Leviano); Roberto e
Erasmo Carlos (Detalhes; Emoções; Fera Ferida); Tim Maia (Não Quero Dinheiro); Raul Seixas (Ouro de Tolo; Metamorfose Ambulante); Cazuza (Pro dia Nascer Feliz; Brasil). Não
necessariamente as que eu e você colocaríamos nesse apertado rol de apenas uma
centena de canções. E outros compositores, como outras composições,
segundo critérios e gostos variáveis, porque, como adverte o próprio Motta, a
enorme diversidade, quantidade e qualidade da música popular brasileira,
permite a construção de listas diferentes e igualmente sustentáveis[4].
Para quem gosta de música, gosta de histórias de como elas são feitas,
gravadas, disputadas e caem na boca do povo, nos seus variados estilos e
apelos, as situações e motivações com que elas foram criadas, gravadas ou
censuradas, é um livro
de leitura imprescindível. Uma boa sugestão também para presentear os amigos que gostam de música, literatura e história.
Nelson e Elis Regina, uma de suas famosas
namoradas, para cuja obra o compositor
contribuiu, estudou e sobre a qual escre
veu.
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Nelson Motta atualmente, aos 72 anos de idade. |
Até mais amigos.
P.S. (1) A Editora
Estação Brasil se qualifica como o “ponto de encontro dos leitores que desejam
redescobrir o Brasil”. Afirma, ainda, a editora carioca: “ Queremos revisitar e
revisar a história, discutir ideais, revelar as nossas belezas e denunciar as
nossas misérias. Os livros da Estação Brasil misturam-se com o corpo e a alma
de nosso país, e apontam para o futuro. E o nosso futuro será tanto melhor
quanto mais e melhor conhecermos o nosso passado e a nós mesmos.” Está dito e registrado;
P.S. (2) O nome completo de Nelson Motta é Nelson Cândido Motta Filho. O compositor foi casado quatro vezes, com mulheres de destaque, como a atriz Marília Pera, morta recentemente, e a empresária, Constanza Pascolato. Foi também amigo e namorado de Elis Regina;
P.S. (3) Sobre Elis, escreveu uma crônica no jornal O Globo, em 03 de abril de 2.015, onde salienta: "Derrubado por uma gripe assassina e longe do noticiário político para evitar náuseas, passei a semana na cama com Elis Regina, navegando pela sua breve, incandescente e trágica trajetória, narrada com precisão e riqueza de detalhes por Julio Maria na biografia "Nada Será como Antes". Fui fã, produtor, amigo e namorado de Elis, acompanhei toda a sua carreira, pesquisei muito sua vida para escrever "Elis, a Musical", e quanto mais aprendia sobre ela, mais certeza tinha de que menos a conhecia, tão complexa era sua personalidade, tão imprevisíveis as suas atitudes. Depois do livro, entre lágrimas e risos, lembrando de tanta beleza musical que ela criou, de tantas coisas feias e rudes de sua vida, acho que não sei quase nada sobre uma das maiores artistas de nosso tempo."
P.S. (2) O nome completo de Nelson Motta é Nelson Cândido Motta Filho. O compositor foi casado quatro vezes, com mulheres de destaque, como a atriz Marília Pera, morta recentemente, e a empresária, Constanza Pascolato. Foi também amigo e namorado de Elis Regina;
P.S. (3) Sobre Elis, escreveu uma crônica no jornal O Globo, em 03 de abril de 2.015, onde salienta: "Derrubado por uma gripe assassina e longe do noticiário político para evitar náuseas, passei a semana na cama com Elis Regina, navegando pela sua breve, incandescente e trágica trajetória, narrada com precisão e riqueza de detalhes por Julio Maria na biografia "Nada Será como Antes". Fui fã, produtor, amigo e namorado de Elis, acompanhei toda a sua carreira, pesquisei muito sua vida para escrever "Elis, a Musical", e quanto mais aprendia sobre ela, mais certeza tinha de que menos a conhecia, tão complexa era sua personalidade, tão imprevisíveis as suas atitudes. Depois do livro, entre lágrimas e risos, lembrando de tanta beleza musical que ela criou, de tantas coisas feias e rudes de sua vida, acho que não sei quase nada sobre uma das maiores artistas de nosso tempo."
[1] A
música começava assim: “Amanhece preciso ir, meu caminho é sem volta e sem
ninguém, eu vou para onde a estrada levar, cantador só sei cantar, eu canto a
dor, canto a vida e a morte, canto o amor. Ai,
eu canto a dor, canto a vida e a morte, canto o amor.” Naquele tempo, a
Rádio Jovem Pan, do mesmo grupo da TV Record, já no dia seguinte das fases
eliminatórias do festival, mandava ao ar, pelos mesmos artistas que tinham interpretado
as canções classificadas, um jingle adaptado com propaganda da estação de
rádio. No caso de Elis, ela aparecia cantando assim: “Ai sou cantador, canto na
Jovem Pan, meu grande amor”.
[2]
O autor anota, quando comenta acerca
do samba de sucesso A VOZ DO MORRO, de
Zé Kéti, de 1.955, o seguinte: “Sim, foi decisiva a contribuição dos sambas de
roda do Recôncavo Baiano no começo do século XX, mas foi no Rio de Janeiro, a
partir do início dos anos 1930, com Noel Rosa, Pixinguinha, Ismael Silva e
demais bambas do Estácio, que o samba ganhou o seu formato
urbano, distanciando-se do maxixe, do coco, do samba de roda e demais
manifestações rurais. Carioca por adoção e formação, por meio do disco e do
rádio o samba se espalhou pelo Brasil”
[3] Observação que Nelson faz em relação à
música A FLOR E O ESPINHO, de autoria de Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito
e Alcides Caminha, de 1.957 (fls. 55).
[4] Uma das músicas mais memoráveis e que faz
parte da antologia da música popular brasileira, não relacionada pelo escritor
é CHÃO DE ESTRELAS (1.937), de Sílvio Caldas e do letrista, Orestes Barbosa. É considerada a letra mais bela de nossa música popular, que começa com uma linda
metáfora, citada invariavelmente pelas professoras de português da época, para exemplificar essa figura de linguagem: "Minha vida era um palco iluminado, eu vivia vestido de dourado,
palhaço das perdidas ilusões.” Poesia pura da melhor qualidade, não?
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