Boa noite
amigos,
Caveirinhas de açucar - Dia dos Mortos no México.
Imagem emprestada de Galeria de Fotos Windows
|
Ontem falamos
sobre a animação Coco (Viva: A Vida é uma Festa), baseada na cultura mexicana e
nos festejos tradicionais do Dia de los
Muertos. A morte e a existência ou
não de outra vida para além da terrena, sempre constituíram, para todas as
gerações, um mistério, que cada civilização resolvia à sua maneira e segundo
suas crenças. No livro A CIDADE ANTIGA,
um clássico do historiógrafo Fustel de Coulanges, pequenos
trechos que destaquei, nos dão ideia de que é muito antiga a crença de que os
mortos vivem uma segunda vida debaixo da terra, próximos de seus amigos e
familiares, e conservam corpo e alma, pelo que precisam, além dos rituais, das
mesmas necessidades dos vivos e da lembrança permanente de seus familiares para
não desaparecer de vez, como se viu na bela animação, fiel à tradição mexicana.
Vamos lá para
conferir:
Katrina - personagem que representa a morte na cultura
mexicana. Imagem emprestada de Galeria de Fotos
Windows.
|
“Por muito que remontemos na história da
raça indo-européia, de que as populações gregas e itálicas descendem, notamos
não ter esta raça acreditado que tudo se acabasse com a morte, para o homem,
depois desta curta vida. As mais antigas gerações, muito antes ainda de
existirem filósofos, acreditam já em uma segunda existência passada para além
desta nossa vida terrena. Encaravam a morte, não como decomposição do ser, mas
como simples mudança de vida.” (p. 7)[1]
“Desta crença primitiva surgiu para o homem a
necessidade de uma sepultura. Para a alma se fixar na morada subterrânea
destinada a esta segunda vida, impõe-se, igualmente, que o corpo, ao qual a
alma está ligada, seja coberto de terra. A alma que não tivesse o seu túmulo
não teria morada. Era errante.” (p.
9/10)
“Havia troca perpétua de bons serviços entre os
vivos e os mortos de cada família. O
antepassado recebia de seus descendentes a série de refeições fúnebres, únicos
prazeres usufruídos na sua segunda vida. O descendente alcançava do seu
antepassado o auxílio e toda a força de que necessitava. O vivo não podia
passar sem o morto, nem este sem aquele. Por este motivo, poderoso laço se
estabelecia unindo todas as gerações de uma mesma família, fazendo dela um
corpo eternamente inseparável. Cada
família tinha o seu túmulo, onde os seus mortos repousavam juntos, um após
outro. Todos os do mesmo sangue deviam ser enterrados ali, com exclusão de toda
e qualquer pessoa de outra família. Ali se celebravam as cerimônias e se
festejavam os aniversários. Cada família julgava ter ali os seus sagrados
antepassados. Em tempos muito antigos, o túmulo estava no próprio seio da
família, no centro da casa, não longe da porta, “a fim de que” cita um antigo, “os
filhos, tanto ao entrar como ao sair de sua casa, encontrem sempre a seus pais,
e, de que cada vez que o façam, lhes dirijam uma invocação.” (p. 30/31).
Caricatura - A Morte Pede Carona. Imagem emprestada
de Depositphotos.com.
|
Nenhuma
religião, nenhuma seita, nenhum culto acredita hoje que o corpo continuaria
vivo e encerrado junto com a alma, quando a pessoa morre. No mesmo sentido,
pode-se afirmar quanto à suposição da existência de uma segunda vida, debaixo da terra, dentro da
sepultura, assim como que os mortos teriam necessidade de alimentação e bebida
para continuarem a existir ali, próximos de seus entes queridos. Apesar disso,
continuamos a reproduzir os rituais e os costumes dessas raças antigas, sem que
tenhamos consciência de seu significado e muito menos da razão pela qual agimos
assim. Alguém já se perguntou por que enterramos nossos mortos? Já nos demos
conta de que precisamos fazê-lo numa sepultura? Que essa sepultura recebe, em
regra, as pessoas de uma mesma família, excluindo outros? Por que razão os
corpos são colocados em um caixão que é fechado e depois enterrado? Essa
prática, convenhamos, só tem sentido se acreditarmos, como eles, que é nessa
sepultura, debaixo da terra, que o morto passará a viver uma segunda vida. E se
não chegamos a levar alimentos e bebida para o cemitério, muitos costumam enterrar
com os seus entes queridos, um ou mais objetos que o defunto gostava, usava ou
precisava durante a vida.
Curioso, não?
Até mais amigos,
[1]
CIDADE ANTIGA, FUSTEL DE COULANGES, Tradução de Fernando de Aguiar, 4ª. edição, 2ª.
tiragem, 2.000: São Paulo, Editora Martins Fontes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário