segunda-feira, 16 de abril de 2018

A MORTE - CRENÇAS E RITUAIS DAS RAÇAS ANTIGAS E A PÓS MODERNIDADE

Boa noite amigos,


Caveirinhas de açucar - Dia dos Mortos no México. 
Imagem emprestada de Galeria de Fotos Windows
Ontem falamos sobre a animação Coco (Viva: A Vida é uma Festa), baseada na cultura mexicana e nos festejos tradicionais do Dia de los Muertos. A morte e a existência ou não de outra vida para além da terrena, sempre constituíram, para todas as gerações, um mistério, que cada civilização resolvia à sua maneira e segundo suas crenças. No livro A CIDADE ANTIGA, um clássico do historiógrafo Fustel de Coulanges,  pequenos trechos que destaquei, nos dão ideia de que é muito antiga a crença de que os mortos vivem uma segunda vida debaixo da terra, próximos de seus amigos e familiares, e conservam corpo e alma, pelo que precisam, além dos rituais, das mesmas necessidades dos vivos e da lembrança permanente de seus familiares para não desaparecer de vez, como se viu na bela animação, fiel à tradição mexicana.

Vamos lá para conferir:


Katrina - personagem que representa a morte na cultura
mexicana. Imagem emprestada de Galeria de Fotos
Windows.
Por muito que remontemos na história da raça indo-européia, de que as populações gregas e itálicas descendem, notamos não ter esta raça acreditado que tudo se acabasse com a morte, para o homem, depois desta curta vida. As mais antigas gerações, muito antes ainda de existirem filósofos, acreditam já em uma segunda existência passada para além desta nossa vida terrena. Encaravam a morte, não como decomposição do ser, mas como simples mudança de vida.”  (p. 7)[1]

O Paraíso acima das nuvens habitado por deuses
e pelos mortos que o merecessem só foi conce-
bido lá no alto, acima das nuvens, pela civi-
lização grega.  Caricatura emprestada de Can  Stock
Photos.com.

“Desta crença primitiva surgiu para o homem a necessidade de uma sepultura. Para a alma se fixar na morada subterrânea destinada a esta segunda vida, impõe-se, igualmente, que o corpo, ao qual a alma está ligada, seja coberto de terra. A alma que não tivesse o seu túmulo não teria morada. Era errante.”  (p. 9/10)

“Havia troca perpétua de bons serviços entre os vivos  e os mortos de cada família. O antepassado recebia de seus descendentes a série de refeições fúnebres, únicos prazeres usufruídos na sua segunda vida. O descendente alcançava do seu antepassado o auxílio e toda a força de que necessitava. O vivo não podia passar sem o morto, nem este sem aquele. Por este motivo, poderoso laço se estabelecia unindo todas as gerações de uma mesma família, fazendo dela um corpo eternamente inseparável.  Cada família tinha o seu túmulo, onde os seus mortos repousavam juntos, um após outro. Todos os do mesmo sangue deviam ser enterrados ali, com exclusão de toda e qualquer pessoa de outra família. Ali se celebravam as cerimônias e se festejavam os aniversários. Cada família julgava ter ali os seus sagrados antepassados. Em tempos muito antigos, o túmulo estava no próprio seio da família, no centro da casa, não longe da porta, “a fim de que” cita um antigo, “os filhos, tanto ao entrar como ao sair de sua casa, encontrem sempre a seus pais, e, de que cada vez que o façam, lhes dirijam uma invocação.” (p. 30/31).

Caricatura - A Morte Pede Carona. Imagem emprestada
de Depositphotos.com.
Nenhuma religião, nenhuma seita, nenhum culto acredita hoje que o corpo continuaria vivo e encerrado junto com a alma, quando a pessoa morre. No mesmo sentido, pode-se afirmar quanto à suposição da existência de  uma segunda vida, debaixo da terra, dentro da sepultura, assim como que os mortos teriam necessidade de alimentação e bebida para continuarem a existir ali, próximos de seus entes queridos. Apesar disso, continuamos a reproduzir os rituais e os costumes dessas raças antigas, sem que tenhamos consciência de seu significado e muito menos da razão pela qual agimos assim. Alguém já se perguntou por que enterramos nossos mortos? Já nos demos conta de que precisamos fazê-lo numa sepultura? Que essa sepultura recebe, em regra, as pessoas de uma mesma família, excluindo outros? Por que razão os corpos são colocados em um caixão que é fechado e depois enterrado? Essa prática, convenhamos, só tem sentido se acreditarmos, como eles, que é nessa sepultura, debaixo da terra, que o morto passará a viver uma segunda vida. E se não chegamos a levar alimentos e bebida para o cemitério, muitos costumam enterrar com os seus entes queridos, um ou mais objetos que o defunto gostava, usava ou precisava durante a vida.

Curioso, não?

Até mais amigos,













[1] CIDADE ANTIGA, FUSTEL DE COULANGES, Tradução de Fernando de Aguiar, 4ª. edição, 2ª. tiragem, 2.000:  São Paulo,  Editora Martins Fontes.

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