segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

CRÔNICA - DAR UMA DE MORTO......

 Amigos,


Na sossegada rotina do interior da minha infância ouvi jargões e ditados que carreguei pela vida afora. Essas pequenas frases, adverte Rebeca Fuks,[1]fazem parte da tradição oral da sabedoria popular e sintetizam ideias sobre a convivência em sociedade, trazendo muitas vezes conselhos valiosos a respeito das relações humanas”.  O  “ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão” revela uma espécie de tolerância e  justificativa popular à ancestral aceitação da vingança privada  baseada no “olho por olho, dente por dente”, da Lei do Talião.  “Quem não tem competência não se estabelece” é ditado invariavelmente  usado para censurar a petulância de quem sai de um casamento para outro e não consegue  ganhar o suficiente para sustentar ou  pagar pensão para duas mulheres e uns tantos filhos menores.  E por aí se multiplicam: “O olho do dono é que engorda o boi”, lembrando a necessidade do patrão estar à testa do negócio, vigiando como se comportam os empregados perante os fregueses. E é nesse cipoal de clichês (por que não?), que muitas pessoas repetem, ignorando muitas vezes  o seu  real significado, que se insere o conhecido ditado que exalta a  discrição e  a esperteza como estratégias  contra o adversário ou o oponente: “ dou uma de morto para entrar no cu dos vivos”. OK, morto é morto, vivo é vivo. O morto morreu e dele nada se pode esperar. Nenhuma reação, mas também nenhuma imputação pela singela razão de que ele não pode ser agente de ato algum, doloso ou culposo, por ação ou omissão. Mas não é que ultimamente a criatividade dos larápios de plantão, defendendo seus esquemas contra as expertises da segurança que, a todo tempo, o serviço de inteligência do Estado e das instituições visam aprimorar, ameaçam esses ditados, cunhados na longeva observação de tudo que acontece neste planeta desde o tempo dos dinossauros. Ouvi agora há pouco na TV que uma quadrilha está sendo desmantelada pela Polícia Federal, especializada em fazer migrar as multas de trânsito e, bem assim, os pontos perdidos pelo motorista infrator, para outras pessoas. Muito bem. E quem seriam essas pessoas? Acreditem os senhores são pessoas mortas. Não há no país qualquer esquema conjunto que permita o compartilhamento dos óbitos ocorridos no território nacional com os arquivos eletrônicos da segurança pública. Então, pensei cá comigo: O que esses caras tão fazendo é inverter o velho ditado. O larápio não dá uma de morto para entrar no cu dos vivos. Dá uma de vivo (esperto) para entrar no cu dos mortos. Sai fora, diria minha secretária Márcia.  Seria nova modalidade de crime de vilipêndio a cadáver? Gente safada, filho da puta não?

Até mais amigos.

P.S. Na imagem de hoje, caveirinhas de açúcar, uma das guloseimas apreciadas pelos mexicanas na famosa festa do Dia dos Mortos. 

 



[1]     62 Ditados Populares e seus Significados, in < https://www.culturagenial.com/ditados-populares-e-seus-significados/> acesso em 18 de dezembro de 2.020.

sábado, 5 de dezembro de 2020

EU ERA FELIZ E NÃO SABIA 1 - EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS

Boa tarde amigos,



No final da década de 70 fomos surpreendidos com o aparecimento de um novo e terrível vírus, o HIV, potencialmente letal. Na época, assim como agora, e possivelmente assim será no futuro, se a humanidade não se emendar, foi ele vinculado à praga divina contra os ímpios e às práticas homossexuais, ou seja, os carolas e os heterossexuais estariam livres desse mal, que representava a vingança de Deus contra os “veados” e suas “poucas vergonhas”. O tempo mostrou, porém, que o vírus poderia contaminar pessoas de qualquer gênero, em relações homo ou hetero, e se propagaria, nas condições que a ciência indicava, entre ateus e crentes, patrícios e plebeus, homo ou heterossexuais, aumentando-se o risco significativamente, conforme a variação de parceiros, ou seja, o grau de promiscuidade. Remédio não havia, nem expectativa de cura ou longevidade para aqueles que desenvolviam a chamada AIDS. Porém, mantendo os parceiros em relações sexuais monogâmicas ou utilizando a chamada “camisinha”, tanto a masculina e, também a feminina, posteriormente inventada e eventualmente com o uso correto de antirretrovirais,  o risco praticamente era zero. A experiência mostrou que mais expostos a risco não eram os homens ou as mulheres, os heteros ou homos, mas sim os que se frequentemente praticavam a penetração anal, sem proteção, e os que compartilhavam agulhas de seringas para consumo de drogas. Risco também acentuado corriam as pessoas que dependiam de sucessivas transfusões de sangue, como os hemofílicos, descoberta que serviu para um controle mais rigoroso dos doadores e da exigência prévia de exame específico para HIV. De forma natural o coito vaginal oferece menos riscos teóricos de contaminação que o anal, explicavam os especialistas, porquanto a mucosa vaginal é mais espessa e tem lubrificantes naturais que a tornam menos suscetíveis a traumas, por onde o vírus costuma ingressar, enquanto a mucosa do ânus, além de ser mais fina, não conta com tais lubrificantes, sujeitando a mucosa a mais frequentes traumas e feridas, por onde o vírus penetra. Bem, isso todo mundo já sabe hoje. O que quero registrar é o meu mais veemente protesto contra o coronavírus, agente propagador da Covid-19. Naquele tempo, a gente podia restringir os parceiros, usar camisinha e levar uma vida mais ou menos normal. Essa porra do corona, no entanto, não me deixa sair de casa. Estou no grupo de risco, a vacina não chega, tenho de usar máscara que me sufoca e dizem que se eu puser o pé pra fora da porta de casa, uma carrocinha da Prefeitura denominada “Cata veio” me pega e me leva preso. Puta que pariu! Diria a minha amiga Terezona que, esperta, antes de chegar esta merda, se mandou desse mundo. E dizem que lá onde supostamente ela está (e não há qualquer indicação que seja no céu, obviamente), não tem perigo de você pegar a Covid. Sei não! 

Até mais amigos.


P.S. (1) Caros amigos, o respeito ao outro, seja ele de qualquer cor, raça, religião, condições de saúde e econômica, a humildade de se sentir igual a qualquer outro ser humano, na ciência de que essa igualdade humana significa que somos todos potencialmente capazes da prática de toda sorte de atos nobres ou torpes, constituem os segredos para viver a vida com alegria e gratidão, tornando-nos preciosos para a família, os amigos e para aqueles que, cruzando o nosso caminho por qualquer circunstância, se sentirem relevantes e recompensados, em razão do nosso interesse, paciência e compreensão.