Boa
tarde amigos.
O
funcionário que limpava o banheiro parou para olhar a cor amarelada dos meus
olhos e das minhas lágrimas, que ficaram marcadas no papel-toalha disponível,
com o qual os enxuguei. Absorto, deve ter pensado com seus botões: “que raio é
isso?” De soslaio, percebi a estranheza do rapaz e quis sacanear. Há menos de
quinze minutos deixara o consultório do meu amigo Cleso, oftalmologista, que
durante a consulta de rotina utilizara um colírio de cor amarela, indicado para verificação da pressão ocular e
para diagnóstico de lesões do segmento anterior do olho. É estéril e logo o
colorido, lavado simplesmente com água, desaparece. Lembrei-me que na semana
anterior havia visitado meu gastro, com quem estava em falta por causa do afastamento
imposto pela pandemia. Queixei-me de algumas supostas irregularidades no
material decorrente de minhas evacuações e ele, além de mandar a secretária
preencher a guia do plano de saúde para a minha adiada colenoscopia, que agora
eu faria “na marra”, como deixou claro, com o seu silêncio revelador, me mandou
tomar, por três dias, um vermífugo chamado Anitta. Os comprimidos têm a cor amarelada pela utilização, na
fórmula do medicamento, de elementos com
essa coloração e, por isso, durante o
uso pelo paciente, a urina apresenta-se
fortemente amarelada ou num amarelo-esverdeado. A cor volta ao normal após a cessação do uso. Voltando àquele
cenário do banheiro fiz de conta que ignorava a curiosidade do jovem faxineiro.
Entrei num dos mictórios e urinei. A urina, ah, saiu bem amarela, como
acontecera naqueles dias. Não dei descarga, de propósito. Logo que deixei o
mictório, o moço entrou para limpar e deu de cara com aquela urina que, como as
lágrimas que saíram dos meus olhos e mancharam o papel-toalha, era intensamente
amarela. Voltei imediatamente e me desculpei pelo fato de não ter dado
descarga. O rapaz só observava e não dizia palavra. Mas, à medida em que eu me
aproximava ele recuava. Sua feição misturava surpresa, curiosidade e temor
de que eu pudesse estar contaminado por alguma doença estranha e letal. Voltei a ele e disse sorrindo: - Presença de
Anitta. Lavei as mãos e saí. Certamente ele não entendeu nada. Pode ter pensado
na cantora Anita, mas e daí, que relação havia entre a sensual artista e as
lágrimas e urina daquele misterioso senhor? Não, não tinha idade para ter
assistido a minissérie que consagrara a atriz Mel Lisboa. E nem poderia
imaginar que um remédio para vermes podia se chamar Anitta. Com dois “tes”, ainda.
Mais ou menos na base do “que
teria a ver o cu com as calças?”
Forte
abraço amigos e um feliz e iluminado Natal.
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