sábado, 23 de abril de 2022

HISTÓRIAS DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA - ADONIRAN - EU JÁ FUI UMA BRASA

Boa tarde amigos.


Foi no ano de 1.966 que o compositor paulista Adoniran Barbosa compôs um de seus antológicos sambas, batizado de “Eu Já fui Uma Brasa”. Afastado do rádio e da televisão, a sua última gravação datava de 1.958 e no início dos anos 60, rivalizando com a bossa nova de João Gilberto e Cia. dá-se a explosão do movimento conhecido como ié-ié-ié, comandado por Roberto e Erasmo Carlos e toda aquela geração que se notabilizou nos anos 60 e 70 e dominou o rádio e a televisão da época. O samba, nas suas várias versões, especialmente o samba canção, em voga nos anos 40 e 50, perdera espaço, conquanto jamais tenha desaparecido da nossa cultura. Adoniran, no início da letra desse samba revela sua mágoa com o esquecimento da mídia, mitigando esse sentimento menor, contudo, com um tom de saudosismo do tempo em que fora abraçado pelo público e crítica: “Eu também um dia fui uma brasa/E acendi muita lenha no fogão/ E hoje o que é que eu sou?/ Quem sabe de mim é meu violão/Mas lembro que o rádio que hoje toca/ ie-ie-ie o dia inteiro/ tocava saudosa maloca/ Crítica direta aos meninos, nem pensar. E com um tom de conciliação manda o seguinte verso: “Eu gosto dos meninos desse tal de ie-ie-ie, porque com eles canta a voz do povo”. Espontâneo, divertido e brincando com a imaginação e as metáforas, conclui: “E eu que já fui uma brasa/se assoprar eu posso acender de novo/. Ah, há espaço ainda para aquelas introduções características de suas composições em que, enquanto o músico dedilha o ritmo no violão, no cavaquinho e outro batuca no pandeiro, ele declama: “É negrão (hoje em dia expressão vedada pelo politicamente correto).... eu ia passando, o broto (gíria da época também dos jovens) olhou pra mim e disse: é uma cinza, mora?E repete enfaticamente: “Sim, mas se assoprarem debaixo desta cinza tem muita lenha para queimar.” O duplo sentido da brasa e da cinza, comum na época, transporta o ouvinte para um passado em que o machismo incrustado  na cultura popular dividia os homens em “potentes e brochas”. E publicamente todos se encontravam na primeira categoria. Verdade ou Fake News, pouco importava. He He He. O samba se tornou famoso e foi gravado por muitos cantores e conjuntos musicais. De Arnaldo Antunes a Casarina e Demônios da Garoa.

Bom carnaval.

 

 

 








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