quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

CAUSO - NOME SOCIAL

 

Boa noite amigos,

 

O velho dispensou companhia. Não quis motorista do Uber, pois não confiava nesse tipo de transporte moderno. Pediu um taxi e se dirigiu à clínica, onde, muito a contragosto, iria se submeter a um procedimento chamado colonoscopia. Com quase 80 anos, em exame de rotina, o médico da família lhe impôs o exame, tendo em vista queixas constantes de desconforto abdominal, nos últimos tempos. Buscou na internet conhecer as peculiaridades da intervenção a que se submeteria. O site dizia: “A colonoscopia é um método seguro e eficaz de examinar toda a mucosa (revestimento interno) do cólon e do reto, usando um instrumento tubular longo e flexível, chamado de colonoscópio.” Não era muito esclarecedor, mas desistiu de conhecer detalhes para não se estressar ainda mais. Chegando à clínica apresentou-se à atendente que lhe pediu documento de identidade e o cartão do plano de saúde. Ela indagou se o preparo recomendado tinha sido feito com o rigor necessário, ao que ele respondeu afirmativamente, não sem lembrar dos dois dias em que teve que fazer dieta líquida e ingerir medicamentos que lhe provocaram diarreias seguidas. Uma chatice! A moça ainda lhe solicitou que lesse com atenção um documento impresso, cujo conhecimento e assinatura eram obrigatórios. No título, em letras maiúsculas e destacadas lia-se que se cuidava de um TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO. E logo abaixo se seguiam Campos numerados. Campo 1, Campo 2, Campo 3, e assim por diante. A leitura rápida do texto completo lhe provocou profunda inquietação. Ali se afirmava que o procedimento poderia, embora não fosse esperado, causar lesão no abdômen e outros acidentes, inclusive fatais, sem que houvesse culpa dos profissionais envolvidos. Ficou com vontade de rasgar o tal impresso e desistir do exame. Tentou, no entanto, se acalmar e solicitou uma caneta para preencher os campos necessários. Campo 1 – Nome; Campo 2 – Nome social; Campo 3- Endereço; Campo 4- Medicamento de rotina etc. etc. etc.  Curiosamente, havia uma advertência no final, na qual se asseverava que os campos 1, 2, 3, 4 e 5 eram de preenchimento obrigatório. Meio trêmulo escreveu o nome completo no campo 1. Mas porque lhe perguntavam, no campo 2, o nome social? Tinha lido que esse tal “nome social” era utilizado por pessoas que tinham mudado de sexo biológico.  Olhou em volta os demais pacientes, os quais igualmente aguardavam a convocação para algum exame e pensou:- Será que estou em clínica errada? Será que a jovem atendente lhe entregara o documento correto e pertinente? Tomou coragem e foi ter com ela: - Por favor, é esse mesmo o documento que eu tenho que preencher e assinar? A senhora sabe que eu vou fazer uma colonoscopia? Ela respondeu afirmativamente a ambas as indagações. E aí vem uma terceira:- Sou obrigado a preencher os campos 1, 2, 3 e 4 como está aqui? Ela acenou com a cabeça indicando positivamente. Inconformado ele voltou ao seu lugar, sem saber que atitude tomava. Nisso surge uma enfermeira e o chama pelo nome. Era hora de ingressar na sala de procedimento. Voltou-se para a atendente  e perguntou se  poderia completar o documento, após o exame. Ela disse que não. O termo tinha que ser assinado antes. Impaciente, apavorado, mas resignado tomou coragem e fez a seguinte e última indagação em tom de advertência: - Olha moça, eu tenho quase 80 anos,  não tenho e nunca tive nome social, não mudei de sexo,  porque sou obrigado a preencher o campo 2, como a senhora disse?  Veio a resposta serena da jovem: - Não precisa ficar nervoso.  No campo 2, basta o senhor escrever:-  Não tenho.  – Ah, bom. Pediu um minuto para a enfermeira, completou o campo dois e entrou para o exame rezando baixinho para que o tal colonoscópio não lhe furasse o intestino.

Até mais amigos.

 

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