Boa noite amigos,
O velho dispensou companhia. Não quis motorista do Uber, pois
não confiava nesse tipo de transporte moderno. Pediu um taxi e se dirigiu à
clínica, onde, muito a contragosto, iria se submeter a um procedimento chamado colonoscopia. Com quase 80 anos, em
exame de rotina, o médico da família lhe impôs o exame, tendo em vista queixas
constantes de desconforto abdominal, nos últimos tempos. Buscou na internet
conhecer as peculiaridades da intervenção a que se submeteria. O site dizia: “A colonoscopia é um método seguro e eficaz
de examinar toda a mucosa (revestimento interno) do cólon e do reto, usando um
instrumento tubular longo e flexível, chamado de colonoscópio.” Não era
muito esclarecedor, mas desistiu de conhecer detalhes para não se estressar
ainda mais. Chegando à clínica apresentou-se à atendente que lhe pediu
documento de identidade e o cartão do plano de saúde. Ela indagou se o preparo
recomendado tinha sido feito com o rigor necessário, ao que ele respondeu
afirmativamente, não sem lembrar dos dois dias em que teve que fazer dieta
líquida e ingerir medicamentos que lhe
provocaram diarreias seguidas. Uma chatice! A moça ainda lhe solicitou que
lesse com atenção um documento impresso, cujo conhecimento e assinatura eram
obrigatórios. No título, em letras maiúsculas e destacadas lia-se que se
cuidava de um TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO. E logo abaixo se seguiam Campos
numerados. Campo 1, Campo 2, Campo 3, e assim por diante. A leitura
rápida do texto completo lhe provocou profunda inquietação. Ali se afirmava que
o procedimento poderia, embora não fosse esperado, causar lesão no abdômen e
outros acidentes, inclusive fatais, sem que houvesse culpa dos profissionais
envolvidos. Ficou com vontade de rasgar o tal impresso e desistir do exame. Tentou,
no entanto, se acalmar e solicitou uma caneta para preencher os campos
necessários. Campo 1 – Nome; Campo 2 – Nome social; Campo 3- Endereço; Campo 4-
Medicamento de rotina etc. etc. etc.
Curiosamente, havia uma advertência no final, na qual se asseverava que
os campos 1, 2, 3, 4 e 5 eram de preenchimento obrigatório. Meio trêmulo
escreveu o nome completo no campo 1. Mas porque lhe perguntavam, no campo 2, o
nome social? Tinha lido que esse tal “nome social” era utilizado por
pessoas que tinham mudado de sexo biológico. Olhou em volta os demais pacientes, os quais
igualmente aguardavam a convocação para algum exame e pensou:- Será que estou
em clínica errada? Será que a jovem atendente lhe entregara o documento correto
e pertinente? Tomou coragem e foi ter com ela: - Por favor, é esse mesmo o
documento que eu tenho que preencher e assinar? A senhora sabe que eu vou fazer
uma colonoscopia? Ela respondeu afirmativamente a ambas as indagações. E aí vem
uma terceira:- Sou obrigado a preencher os campos 1, 2, 3 e 4 como está aqui?
Ela acenou com a cabeça indicando positivamente. Inconformado ele voltou ao seu
lugar, sem saber que atitude tomava. Nisso surge uma enfermeira e o chama pelo
nome. Era hora de ingressar na sala de procedimento. Voltou-se para a atendente
e perguntou se poderia completar o documento, após o exame.
Ela disse que não. O termo tinha que ser assinado antes. Impaciente, apavorado,
mas resignado tomou coragem e fez a seguinte e última indagação em tom de
advertência: - Olha moça, eu tenho quase 80 anos, não tenho e nunca tive nome social, não mudei
de sexo, porque sou obrigado a preencher
o campo 2, como a senhora disse? Veio a
resposta serena da jovem: - Não precisa ficar nervoso. No campo 2, basta o senhor escrever:- Não tenho.
– Ah, bom. Pediu um minuto para a enfermeira, completou o campo dois e
entrou para o exame rezando baixinho para que o tal colonoscópio não lhe
furasse o intestino.
Até mais amigos.
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