domingo, 26 de fevereiro de 2023

AO MEU SOBRINHO SILVANO


Era um instante, uma estante, estática.

Era um momento, um lamento, um laço,

No meio da noite corpo morno, manso, morto, esboço inacabado.

 

E o dia nasceu impiedoso,

Como se não tivesse acontecido nada.

(Prematura Partida, abril de 1982). 


Bom dia amigos,

 

Não, não havia pistas, sinais, nem nada. Só restou a surpresa, a incompreensão, a revolta, a sensação de que o desfecho poderia ter sido evitado. E uma dolorosa sensação de culpa. Uma culpa coletiva que nem por ser dividida dói menos. De um lado pela pretensão de que bastaria uma intervenção, em certo tempo e medida,  para alterar o curso da vida e do destino; de outro, pelo sentimento de que as coisas, no mundo, caminham equivocadas porque nós não buscamos corrigir os erros, suprir as omissões. Restou a eloquência triste e forte do silêncio. Um silêncio que se explica por si só. Você foi embora. Assim, sem despedidas.  Sem pedir socorro, sem apelos. De forma cruel para os que ficam sem entender o sentido desta partida tão prematura, tão injustificável, mesmo sendo tão amado. Só para confirmar que no fundo, no fundo dessa nossa alma misteriosa, estamos sempre sozinhos. O que nos resta é o consolo de que o amamos; que esse amor continuará a existir, forte na ausência, no vazio, no silêncio, na saudade que se tornará cada vez mais vaga com o passar do tempo para  acalmar o nosso coração, deixando a suave sensação de que você nos presenteou com a sua presença em parte estimada de nossa contemporaneidade nesta vida, em que pudemos nos abraçar, sorrir juntos, contar estórias, conceber e construir. Pena que você não tenha encontrado o seu lugar neste mundo. Neste mundo cruel que você nunca entendeu. Um mundo tão desigual, incoerente e carente de humanidade e de justiça. O sol nascerá todas as manhãs como a pequena poesia que escrevi lá pelos anos 80, alheio ao que te aconteceu e à nossa dor.  Anunciando a aurora de novos dias, para nós mais tristes pela sua ausência, Até o dia em que cada um de nós irá embora também acreditando que a bondade divina nos torne possível um encontro lá no infinito. Entre as estrelas. No meio das nuvens, das luzes. Na bonita luz que iluminou a sua vida benfazeja. Descanse em paz, meu querido e amado sobrinho.  Mergulhe nessa paz que você buscou com muito empenho e fervor e não encontrou nessa sua passagem meteórica pelo planeta terra. Que Deus o receba na sua infinita misericórdia.

 

 Forte abraço.

 

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