Era um instante, uma
estante, estática.
Era um momento, um
lamento, um laço,
No meio da noite corpo
morno, manso, morto, esboço inacabado.
E o dia nasceu
impiedoso,
Como se não tivesse
acontecido nada.
(Prematura Partida, abril de 1982).
Não, não havia pistas, sinais, nem nada. Só restou a
surpresa, a incompreensão, a revolta, a sensação de que o desfecho poderia ter
sido evitado. E uma dolorosa sensação de culpa. Uma culpa coletiva que nem por
ser dividida dói menos. De um lado pela pretensão de que bastaria uma
intervenção, em certo tempo e medida,
para alterar o curso da vida e do destino; de outro, pelo sentimento de
que as coisas, no mundo, caminham equivocadas porque nós não buscamos corrigir
os erros, suprir as omissões. Restou a eloquência triste e forte do silêncio.
Um silêncio que se explica por si só. Você foi embora. Assim, sem
despedidas. Sem pedir socorro, sem
apelos. De forma cruel para os que ficam sem entender o sentido desta partida
tão prematura, tão injustificável, mesmo sendo tão amado. Só para confirmar que
no fundo, no fundo dessa nossa alma misteriosa, estamos sempre sozinhos. O que
nos resta é o consolo de que o amamos; que esse amor continuará a existir,
forte na ausência, no vazio, no silêncio, na saudade que se tornará cada vez
mais vaga com o passar do tempo para acalmar o nosso coração, deixando a suave
sensação de que você nos presenteou com a sua presença em parte estimada de
nossa contemporaneidade nesta vida, em que pudemos nos abraçar, sorrir juntos,
contar estórias, conceber e construir. Pena que você não tenha encontrado o seu
lugar neste mundo. Neste mundo cruel que você nunca entendeu. Um mundo tão
desigual, incoerente e carente de humanidade e de justiça. O sol nascerá todas
as manhãs como a pequena poesia que escrevi lá pelos anos 80, alheio ao que te
aconteceu e à nossa dor. Anunciando a
aurora de novos dias, para nós mais tristes pela sua ausência, Até o dia em que cada um de nós irá
embora também acreditando que a bondade divina nos torne possível um encontro
lá no infinito. Entre as estrelas. No meio das nuvens, das luzes. Na bonita luz
que iluminou a sua vida benfazeja. Descanse em paz, meu querido e amado
sobrinho. Mergulhe nessa paz que você
buscou com muito empenho e fervor e não encontrou nessa sua passagem meteórica
pelo planeta terra. Que Deus o receba na sua infinita misericórdia.
Bela reflexão Dr Jamil, lindo texto. Meus sentimentos pelo sobrinho.
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