Boa noite amigos,
O homus
sapiens não nasceu para a solidão, assim como só a vivência gregária
explica a possibilidade de subsistência
e a proteção recíproca de outras espécies animais indispensável à manutenção do
ecossistema. Precisamos um do outro
nesse mundo de tantos perigos e dificuldades. Dependemos de outros seres para
sermos concebidos e para nascer. Pequeninos, carentes de autossuficiência é indispensável que aqueles que nos geraram,
ou alguém por eles, nos alimente, nos
ensine e nos proteja. Quando nos tornamos finalmente adultos e nos desligamos
dos laços paternos precisamos de amigos e, na maior parte das vezes, de um
companheiro ou companheira para conviver e dividir os nossos projetos de
existência. A aversão pela socialização é tida, ainda no nosso tempo, como uma
característica de doença mental ou social e não como uma maneira de ser ou uma
escolha de vida que deve ser, como qualquer outra opção, respeitada. Mas
dividir a vida, respeitando cada qual o seu livre arbítrio, ou seja, sem a
intenção de posse física ou psicológica do outro, também tem sido um grande desafio. A
necessidade de exercer alguma espécie de poder possível sobre um, alguns, uma
comunidade, um povo inteiro, e assim por diante, é marca registrada do ser
humano e o que se vê nas relações amorosas ou conjugais, em regra, é um
desequilíbrio entre os parceiros, prevalecendo o domínio de um deles sobre o
outro em maior ou menor porção. Os possessivos não querem dividir o ser
possuído com ninguém. Tornam-se obsessivos na exigência cotidiana da ruptura do
companheiro ou companheira com todas as outras pessoas, os amigos, os
encontros, os prazeres, qualquer coisa
de um mundo dos quais se sente excluído ou com paixão dividida. Na sociedade
machista em que ainda vivemos, normalmente os opressores são os homens, o que
explica o grande número de feminicídeos dos nossos tempos e especialmente no
país em que vivemos. Mas as mulheres também exercem, sem violência, mas mediante
grave ameaça, o que dá no mesmo, a arte da possessão. É o tradicional "Ou ele ou
ela, ou eu. Escolha".
O saudoso cantor Nelson Gonçalves se
notabilizou na interpretação de sambas-canções que falam do egoísmo e da
incompreensão de companheiras a exigir essa exclusividade de paixão e atenção.
Uma delas se chama MEU DILEMA e tem os seguintes últimos e trágicos versos: “Fiquei
entre a cruz e a espada/quando ela desesperada/obrigou-me a escolher/e agora/ o
meu dilema persiste/viver sem ela é tão triste/sem ti não posso viver.”
Tudo por causa de um violão. O cigarro,
um instrumento, o trago, os amigos, são companheiros que cada um elege para
dividir os momentos de tristeza ou alegria, de reflexão, de aconselhamento,
seja lá o que for. Na literatura e na
música tem sido freqüente a eleição do violão como o companheiro leal, sincero
e respeitoso, com quem compensa dividir as agruras de uma paixão impossível ou
de uma tristeza incontida. E nas notas que as mãos de seu proprietário ou
portador vão suavemente deslizando sobre as cordas, têm sido compostas lindas canções, dando o tom
da poesia, do poeta, do compositor. Mas, por que o violão se existem outros
instrumentos de corda ou percussão que poderiam desempenhar o mesmo papel? Suponho que o violão, especialmente ele, pelo
seu formato, é que mais se aproxima dos contornos do corpo de mulher, da
lembrança da mulher. E com vantagens incontáveis sobre ela, pois como diria um
amigo meu, boêmio e convicto solitário, o violão não te contraria, não manda
você parar de trabalhar, nem lavar a louça, mudar de amigo, parar de beber, não tem vergonha de seus
porres, não pede dinheiro pra feira, não quer jamais discutir como anda a
relação. Acha pouco? A minha, se por
acaso ler essas reflexões antes da postagem certamente dirá: Vai postar isso, mesmo? É sério?
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