Amigos, bom dia.
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Somos o que nossa memória ainda é capaz de dizer sobre
nós. Sem memória apenas estamos neste
mundo. Ou já fomos embora dele e só arrastamos a matéria de que somos feitos
pelos caminhos e veredas do planeta. Se
“esquecer” é o verbo que nos liberta do
passado, da culpa, de outros sentimentos positivos ou negativos, a verdade é
que também, quando a memória desaparece por completo, deixamos de existir na
perspectiva de um ser humano ciente de sua história e dotado da dignidade que
ela possa nos trazer, do ponto de vista individual e social. O
grande neurocirurgião Nubor Facuri, que por vezes encontro passeando, de braços colados, com sua esposa, pelo Shopping Iguatemi, foi o
responsável, com absoluto sucesso, por uma cirurgia delicada a que minha mãe
teve que se submeter, há mais de 40 anos, por causa de um aneurisma cerebral. A cirurgia, indispensável pelo risco de vida que o aneurisma expunha a paciente, resultaria,
quase que certamente, em alguma sequela
física ou mental. E mesmo com o resultado 100% positivo da delicada intervenção,
o Dr. Nubor, não atribuía a si, ao seu talento, à sua expertise, a ausência
dessas prováveis sequelas, mas às condições orgânicas da paciente e o
posicionamento do aneurisma no cérebro. E, finalmente, à ajuda espiritual que
eventualmente estivesse recebendo durante essa e outras intervenções
profissionais. E é essa figura humana incrível que, em elucidativo artigo
acessível na internet[1],
nos ensina que possuímos a memória semântica e a episódica, ambas fazendo parte da memória
declarativa, e a memória implícita ou de procedimentos. Enquanto a memória
semântica refere-se ao conhecimento que aprendemos durante a vida (Paris é a
capital da França, o Brasil fica na América do Sul, etc. etc.), a memória
episódica é personalizada, isto é, ela se refere a fatos pessoais vividos por
nós, o que implica dizer que ela é narrativa, e por isso mesmo, falha. A
memória episódica refere-se a eventos pessoais vividos por nós, recentes ou não
(onde almocei ontem,; em que ordem se encontram os quadros de Picasso na
exposição de seus quadros etc.). A memória episódica tem um viés temporal e é
fortemente contextualizada, com as
marcas do tempo (fui à praia no verão passado, viajei a Aparecida na Semana
Santa), ou ligadas ao contexto (quebrei a perna quando estávamos chegando ao
cinema; assisti ao filme que venceu o Oscar de 2.022; fiquei surpreso ao encontrar
Vera naquele evento). E, conquanto
possam ser resgatadas, como são retidas, principalmente, no hipocampo, são
fugidias e enganosas. Por isso a cada lembrança ou relembrança, necessariamente,
fazemos uma nova descrição daqueles fatos. Em resumo, recontamos o fato, nunca
exatamente como fizemos na última vez, ou como ele ficou retido na lembrança no momento em
que se passou. Por isso há incerteza nos
testemunhos dos episódios da vida. Essa narrativa, essa recontagem, não tem
necessariamente qualquer componente consciente do narrados, ou sua intenção de inverter, aumentar,
subverter. Como juiz sempre considerei essas pequenas diferenças, durante a
coleta da chamada prova testemunhal, ao ouvir versões recontadas pelos depoentes
e avaliar a existência de crime de falso testemunho, que só existe na
modalidade dolosa. Tais memórias,
quando carregadas de forte emoção física ou psíquica, explicam em boa parte os
nossos medos, fobias, crises de pânico, o pavor de entrar num elevador, de
encontrar uma cobra ou simplesmente uma barata, uma lagartixa, falar em
público. Dr. Nubor sempre foi espírita
e, sem embargo de sua visão transcendental ou religiosa, é um cientista e
clínico cirurgião da mais alta qualidade e traz, nesse artigo, valioso cabedal
de conhecimento de neurologia, ao esclarecer de forma didática, como nosso
cérebro é composto, as funções neurológicas e a sua participação na teoria do
conhecimento ou cognitiva. E nos ajuda a entender um pouco das dificuldades que
ainda cerca esse ramo da medicina e seu objeto: o maravilhoso e misterioso
cérebro humano, cujos comandos ilimitados, nos proporciona todas as sensações,
lembranças, dores e prazeres a que todo
ser humano está sujeito neste mundo.
Bom domingo amigos.
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