sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

CINEMA - O TREM ITALIANO DA FELICIDADE


 Boa noite amigos, 



O Trem Italiano da Felicidade (2024, Netflix) é uma das raras preciosidades do bom cinema italiano, que, em alguns momentos, lembra o badalado “Cinema Paradiso” (1988) e “O Carteiro e o Poeta” (1994), sem, porém,  o acabamento e o primor de seus antecessores.  As questões que se colocam não são fáceis de responder: É possível perseverar na busca de uma vocação num mundo cruel e impiedoso que rejeita todas as possibilidades de ascensão? Pode uma criança conviver com a repetida afirmação de que é "um castigo de Deus"  para a família? O sentimento de amor e cuidado é compatível com a aspereza, a agressão física e moral, em nome de uma segurança hipotética ditada pelo sofrimento e desilusão? É ainda possível converter em amor um ato de caridade de uma mãe “postiça”, que desconhece o afeto, endurecida pela ideologia política de desprezo ao fascismo e amor ao comunismo? Com adaptação do romance CRIANÇAS DE GUERRA: A HISTÓRIA SOBRE O TREM ITALIANO DA FELICIDADE, de Viola Ardone, o longa se passa no pós segunda guerra mundial, dando ênfase ao movimento do Partido  Comunista Italiano e da Unione Donne Italiano, entre 1945 e 1.952, de enviar crianças do Sul da Itália, para famílias do Norte, tendo em vista a  absoluta precariedade e miséria em que elas viviam nas famílias de origem, sem o mínimo para sobrevivência com alguma dignidade. Nesse cenário, o menino Amerigo Spera (Christian Cervone) é enviado ao Norte, onde é adotado provisoriamente por uma mulher solteira e passa a receber  o essencial como boa alimentação, teto, roupas adequadas e educação, até retornar para o lar materno onde encontra novamente a mãe biológica na mesma vida de penúria. Com direção da italiana Cristina Comencini, o tempo presente mostra  um famoso maestro, já na maturidade, recebendo a notícia do falecimento de sua mãe de sangue, antes de uma de suas famosas apresentações públicas com teatro lotado, mas prefere manter o espetáculo. Depois se dirige à humilde, quase miserável residência daquela mãe, com quem teve grandes embates e desencontros  e ali, enquanto revê objetos e fotos, vêm à tona à sua memória episódios de sua vida e seus relacionamentos, desde a infância, a sua transferência para a família adotiva e a luta para estudar música e se tornar uma referência internacional na arte. Profundo, o longa transmite comportamentos  antagônicos dos personagens que buscam subsistir no caos e na miséria, mesclando sentimentos de amor e revolta, incompreensão e desrespeito, paixão, admiração, amizade, lealdade e tudo o mais que a supressão do mínimo existencial possa provocar em mães e filhos, ricos e pobres e a discussão sobre os rumos políticos da Itália pós guerra com o crescimento do comunismo e a forte rejeição ao fascismo e ao nazismo, derrotados no final da segunda guerra mundial. Sensível e delicado, melancólico e, ao mesmo tempo, didático e humano,  talvez sejam os adjetivos que melhor expressem o que os ótimos atores, especialmente as crianças conseguem transmitir. Não deixe de ver!

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