Boa tarde amigos,
Na vasta antologia do poeta, compositor, músico e diplomata, Vinícius de Moraes, encontra-se um poema profundo, denominado O HAVER, que teria sido alterado em parte pelo autor, algumas vezes, sem que ocorresse, contudo, mudança na sua essência. Musicado pelo também compositor, Edu Lobo e bastante complexo, na opinião dos mais variados críticos literários, especialistas em sua obra, é fruto de uma reflexão do "poetinha", (epíteto que lhe atribuiu um dia a saudosa cantora Elis Regina) a respeito da natureza humana e sua contingência (Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo. Perdoai. Eles não têm culpa de ter nascido). Nele Vinícius, com rara
maestria, vai construindo seu pensamento, por meio de metáforas (Resta esse coração queimando como um círio numa catedral em ruínas, essa tristeza diante do cotidiano ou essa súbita alegria ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória....), pelas quais expressa os seus sentimentos acerca da vida e da morte, da tristeza e da alegria, da culpa, das injustiças sociais, da pequenez do homem diante do universo (Resta essa imobilidade, essa economia de gestos, essa inércia cada vez maior diante do infinito), da auto-comiseração e da suposta inutilidade dos poetas e de suas poesias para mudar a realidade (Resta essa vontade de chorar diante da beleza, essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido, essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa piedade de si e de sua inútil poesia e sua força inútil). E conclui o seu lamento, a sua catarse, à espera da morte inevitável, na figura de uma mulher e que chega, como uma velha amante, agora sua mais nova e definitiva companheira (Resta esse diálogo cotidiano com a morte. Esse fascínio pelo momento a vir, quando emocionada ela virá me abrir a porta como uma velha amante. Sem saber que é a minha mais nova namorada). Sem o prestígio de outras poesias e composições de Vinícius, como o Soneto da Fidelidade, Garota de Ipanema etc. etc., considero esse um dos mais relevantes poemas da segunda geração do modernismo brasileiro, ao qual pertencia o artista.
Grande abraço amigos!