sexta-feira, 14 de novembro de 2025

ARMANDO PIRES - EU HEIN!

 

Boa tarde amigos,

 


Lá pelos idos de 1.990, quando mudei com a família  para o apartamento do Edifício Gauguin, no Cambuí, aqui em Campinas, prédio recém-inaugurado, tivemos o prazer de conhecer – e manter amizade,  por muito anos (alguns até hoje e para sempre, espero), com outros condôminos. Assim o Dr. Armando Pires entrou na nossa vida e de outros tantos vizinhos. Marido da síndica da época, a hoje saudosa Maria Alice, era gastroprotoctologista, simpático e agradável. Logo integrou-se ao grupo que iria, doravante e por muito tempo, reunir-se, aos fins de semana, no salão de festas do edifício, para encontros regados a muita cerveja e refrigerante e incontáveis churrascos, feijoadas, ou o que “pintasse” na hora. Armando era um exímio churrasqueiro, especialista em costelas bovinas, as quais iam para a churrasqueira logo de manhãzinha e ali permaneciam horas, sob supervisão do Armando,  até que estivessem aptas para o consumo. Baixinho, gordinho, descendente de portugueses tinha, não obstante, uma mão grande e nos ameaçava, amiúde, com eventuais exames de toque retal, exibindo o polegar direito, grosso, longo e levemente inclinado para a direita. Caio e Viviane, formavam um casal gaúcho, que passou a residir no edifício e a frequentar nossos almoços de domingo.  Passados alguns meses, em encontro ocasional comigo,  Caio, pessoa discreta e reservada, resolveu relatar uma passagem que teve com o Doutor  Armando, numa consulta profissional. A certa altura da anamnese, o médico perguntou a idade de Caio, tendo ele respondido que tinha cinquenta e poucos anos. Em seguida,  indagou se ele já se submetera, alguma vez, a uma colonoscopia, recebendo resposta negativa. Foi o suficiente para que Armando imediatamente prescrevesse o tal exame ao nosso prezado amigo Caio. Realizado o exame – e com o resultado em mãos – tratou de marcar nova consulta para a entrega  do laudo. Na oportunidade confidenciou ao Armando, aguardando  aprovação,  que o tal exame era “chatinho”, sobretudo, por conta do  preparo, que consistia em consumir medicamentos destinados à limpeza do intestino, dias antes. E aí,  estupefato e indignado,ouviu do doutor amigo, muito mais velho que ele (já contava mais de 60 anos na época) a seguinte resposta:  - Não sei, eu nunca fiz. Só prescrevo. Se vissem a cara do Caio quando me contou, estariam rindo, como eu ri, até agora. Esse é o Armando. Competente, amigo, cagão e. digamos, de uma sinceridade irritante. Há, há!

 

Até mais amigos,

 

P.S. -   Resposta em consulta à IA sobre o exame de colonoscopia: “O Preparo Intestinal: Muitas charges e piadas focam no "pré-exame", que envolve uma dieta restritiva e o uso de soluções laxativas para limpar completamente o intestino. O humor reside na experiência de passar horas no banheiro e nos desconfortos desse processo”

 

 

 

 

sábado, 25 de outubro de 2025

CINEMA NACIONAL - LUIZ MELODIA - NO CORAÇÃO DO BRASIL

 

Boa tarde amigos,


Confesso que não aprecio cinebiografias, a despeito do fato de que sou tentado a assistir todas as que envolvem os meus ídolos e gente que admiro.  Vi Piaf; Cazuza - O Tempo não para; Rapsodia Bohemia; Elvis; Elis; Hebe; Meu nome é Gal; Getúlio; Amadeus; Lincoln etc. E por mais que admire o extraordinário trabalho dos atores que interpretam todas essas celebridades  saio insatisfeito do cinema, às vezes com  o roteiro, a abordagem ou  a falta dessa ou daquela peça que reputo indispensável para registrar e entender as escolhas e a trajetória de vida do focalizado. Por isso prefiro mesmo os documentários, nos quais não há excessiva preocupação com o roteiro e construção de uma obra de ficção, nem há rigorosamente compromisso com a verdade ou realidade, mas sim com a reprodução de uma vida, aqui contada, pelo próprio artista, com a adição de relatórios, fotos e vídeos, materiais por ele mesmo ou por familiares e amigos franqueados. Assim assisti ao documentário, Luiz Melodia - No Coração do Brasil, dirigido por Alessandra Dorgan. que também assina o roteiro, em conjunto com Joaquim Castro.  A jornalista Patrícia Palumbo é a responsável pela irretocável direção musical e que trouxe para o longa a entrevista que tinha feito com o cantor em 2001, para um livro.  São 75 minutos dentro dos quais só vi pontos positivos, quer na utilização do material disponibilizado em original, incluindo os raros vídeos de infância e juventude do protagonista (sempre ele próprio, sem retoques, nem simulação), como nos encontros musicais e de gravação. Há efetivo foco na carreira do artista e menos na sua vida particular, abordagem em excesso e dispensável como em Homem com H, embora a interpretação de Jesuíta Barbosa, na pele, na voz e na alma de Ney Matogrosso tenha sido fantástica. E não faltou nenhuma de suas canções autorais ou de interpretação original. Pérola Negra, Magrelinha, Juventude Transviada, Negro Gato, Codinome Beija-Flor, Estácio Holly Estácio. Polivalente o cantor desenvolveu a carreira com liberdade de criação e escolha, compondo e cantando os mais variados gêneros musicais, nunca cedendo às pressões de gravadoras ou daqueles que insistiam em vê-lo unicamente como um sambista, pela simples razão de ser negro,  carioca, nascido e criado no morro do São Carlos, ao lado da escola de samba Estácio de Sá.  As letras de suas composições são verdadeiras poesias da mais alta categoria. A presença, no papel deles próprios. dos cantores Gal Costa, Maria Bethania, Jars Macalé,  Caetano Veloso, Zezé Motta, Elza Soares, das atrizes Bruna Lombardi e Fernanda Montenegro e do saudoso humorista e apresentador, Jô Soares, em entrevista com o cantor no Programa do Jô, talk-show que foi exibido pela TV  Globo durante mais de uma década,  enriquece o roteiro e dá à obra esse caráter de documentário, sem apelo à ficção ou ao enfoque desnecessário da vida privada  de Melodia, fora da carreira.  Gostei e indico.

 

Até mais amigos.



 

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

DISQUE M PARA MATAR - CINEMA CLÁSSICO

 

Boa noite amigos,



Cena do longa com destaque ao casal protago-
nista.

No distante ano de 1.954, o britânico, Alfred Hitchcook, então na fase de Hollywood, lançava mais um longa  que faria sucesso e seria elogiado pelo público e  crítica especializada. Só vi o filme 71 anos depois, agora em 2.025, por sugestão constante de playlist da companhia aérea pela qual viajei de Paris a Campinas, agora em outubro. Trata-se de mais um clássico delicioso de assistir,na vasta filmografia do diretor,  ao lado de outros como Um Corpo que Cai, Os Pássaros e Psicose,  pela técnica por ele utilizada,  conhecida como decupagem, expressão originária do verbo francês, dècouper, que significa recortar, dividir um roteiro em cenas, sequências e planos numerados. No melhor estilo de Agatha Christie, a rainha da literatura inglesa de suspense, o script gira em torno do planejamento detalhado de um crime encomendado pelo marido, Tony Wendice (Ray Millan) para matar a própria mulher, a ricaça senhora Margot Mary Wendice (Grace Kelly), de quem suspeita de traição, e daí por diante toda a investigação detalhada para encontrar a motivação do crime e o criminoso, autor intelectual do delito, que, não participando da execução, cuidou de incrementar o seu álibi. A forma de desenvoltura do roteiro, o seu encadeamento, a maneira especial de gravar, não deixa o menor espaço para que o espectador se distraia um só minuto. Daí a pertinência do depoimento que outro grande diretor, Scorsese, deu em entrevista  realizada por Thierry Jousse e Nicolas Saada (Londres, 3 de fevereiro de 1996):  Disque M para Matar é um filme maravilhoso de assistir. Uma lição de decupagem – tanto que o aconselho frequentemente a meus estudantes.  Foi vendo-o, em alto relevo, há 2 anos é que o compreendi”. E mais adiante: “O mais importante é o momento onde ele decide mudar o valor do quadro. É muito sutil. Ele não coloca um plano fechado repentinamente na tela. Ele move um pouco a câmera, ele ligeiramente muda o valor do quadro". É uma oportunidade ímpar, também, para ver na tela e conhecer, portanto,  a famosa atriz, Grace Kelly, que participou também de outros dois filmes do cineasta, Janela Indiscreta (1.954) e Ladrão de Casaca (1.955),  antes de abandonar a carreira para se casar com o príncipe de Mônaco. Duas curiosidades do cineasta: a) sempre escolher uma atriz loira, de preferência loiríssima, para suas protagonistas (além de Grace Kelly, Kim Novac em Um Corpo Que Cai  (1.958) e Janet Leigh em Psicose (1.960); b) ele próprio aparecia em seus filmes, sem entrar na história, primeiro por acidente no filme O Inquilino (1.927), para substituir um ator que havia faltado à gravação, e, depois, simplesmente para conectar-se com o público, assim criando uma tradicional brincadeira. Gosto do gênero, do cineasta morto em 1.980 e de seus filmes todos na linha do suspense. O principal deles, Psicose, além da cena icônica do assassinato da personagem, Marion Crane,  vivida por Janet Leigh, pelo psicopata, Norman Bates (Antony Perkins), na conhecida cena do banheiro,   tem um dos finais mais surpreendentes e sensacionais que já vi.  

Até mais amigos.

 

 

 

 

 


quinta-feira, 25 de setembro de 2025

CORINTHIANS E TRANSPLANTE DE CORAÇÃO.

 

Boa tarde amigos, 

O campeonato paulista de futebol foi o primeiro certame regional do país iniciado no distante ano de 1.902, pela Liga que hoje corresponde à Federação Paulista de Futebol. Decorridos mais de 120 anos da tradicional competição, o Corinthians Paulista aparece como o clube que mais títulos obteve (são 31, com o de 2.025, contra 26 do Palmeiras, segundo colocado).  No entanto, o maior jejum de títulos relevantes como esse (excluídas algumas Copas e Taças, sem expressão) foi experimentado exatamente pelo Timão, que venceu o certame no ano do IV Centenário de São Paulo, em 1.955, numa final contra o arquirrival Palmeiras e só voltou a ser campeão paulista no ano de 1.977, ou seja, mais de 22 anos depois, alimentando, nesse interminável intervalo,  a paixão, o  sofrimento e o fanatismo de milhões de torcedores. Numa final épica com a equipe da Ponte Preta de Campinas, um timaço na época,  aconteceram três partidas, todas marcadas para o Estádio do Morumbi. O Timão venceu a primeira por 1 a 0, gol de Palhinha,  mas perdeu a segunda, por 2 a 1, com gols de Dicá e Ruy Rei e Vaguinho, respectivamente. Na terceira e polêmica partida, apitada pelo não menos polêmico árbitro, Dulcídio Wanderley Boschillia, falecido em 1.998, o atacante Ruy Rei da Ponte Preta foi expulso aos 16 minutos do primeiro tempo, depois de reclamação considerada acintosa contra a marcação de uma falta para o adversário.  Muitas especulações a respeito, dirigidas tanto ao atleta, quanto o árbitro, ventilavam a possível “compra” de um ou outro para favorecer a equipe paulistana. O que se viu no apito final, foi algo inimaginável. Muitos torcedores invadiram o campo e foram festejar a conquista abraçados aos jogadores e cartolas, dançando, chorando, de joelhos para pagar promessa, outros empunhando terços e crucifixos. O famoso comediante Amácio Mazzaroppi,  fiel corinthiano, lançou, no ano de 1.966, a comédia "O Corintiano", que foi grande sucesso de público e bilheteria nos cinemas. O filme, inclusive, foi exibido várias vezes, no Museu do Futebol, sediado  no estádio do Pacaembu. Em 26 de maio de 1.968, ou seja, sete anos antes do título de 77, o Dr. Euryclides de Jesus Zerbini, realizava no Brasil, o primeiro transplante cardíaco, no Hospital das Clínicas da Usp,  cerca de apenas cinco meses depois que o médico sul-africano, Christiaan Barnard realizara a primeira cirurgia de transplante cardíaco do mundo.  Para enfatizar o progresso expressivo da medicina e ilustrar a paixão e o sofrimento dos corintianos com o jejum interminável,  o saudoso Sílvio Santos gravou uma marchinha de Carnaval nominada de “Transplante de Coração”, mas mais conhecida como “Coração Corintiano”; A marchinha de carnaval tinha um estribilho logo decorado pelos foliões que dizia: Doutor, eu não me engano, meu coração é corintiano”  E prosseguia: “Eu não sabia mais o que fazer/troquei meu coração cansado de sofrer. Para concluir: “Ai doutor eu não me engano/botaram outro coração corintiano.” E mal se sabia que o tal jejum duraria ainda mais nove longos anos.

 

Abraço amigos.

 

E.T. – A imagem da coluna de hoje é propaganda do filme brasileiro “O Corinthiano”, comédia estrelada pelo genial ator, produtor e cineasta corinthiano, Amacio Mazzaroppi, 

 

 

 

terça-feira, 16 de setembro de 2025

ESTOICISMO E TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

 

Boa tarde amigos,

Um Café Com Sêneca (capa).

O mundo, diria minha avó sobre  a geração subsequente à sua, anda de “pernas para o ar”, bordão antigo que ilustrava a concepção de que tudo estaria mudando, revirado ao avesso, incluindo os costumes e valores. A verdade, porém, é que a  história se repete e em ciclos.  É que o planeta Terra, com seus habitantes naturais, continuam com os mesmos problemas e questionamentos das épocas mais remotas, o que segundo a  observação de David Fideler[1]  “No fim das contas, a época de Sêneca é a nossa época. Ele é nosso contemporâneo e compartilhamos profundamente das mesmas preocupações.”  Tenho notado, nas minhas andanças pelas livrarias da vida, ter crescido significativamente a publicação e o consumo de obras sobre o estoicismo, movimento filosófico que teve em Sêneca (4.a.c.-65 d.C.), um de seus precursores. Esse fascínio por essa corrente filosófica muito se explica, no nosso modo de ver, pela necessidade das novas gerações, não só  discutir os mistérios da vida, como mero exercício de contemplação, como também a de experimentar, na prática, a vivência da chamada “vida que vale a pena ser vivida”, tal como apregoada pelo estoicismo. Envolvendo essencialmente  treino, o estoico defende  uma filosofia prática como o budismo, o que implica em  “colocar as soluções em uso para que funcionem”. O estoicismo nos convida a viver uma vida honesta, ética, com respeito à natureza, sem sofrimento, baseada no fato de que as coisas não são boas,  nem ruins, são como são e que o problema são as crenças e os sentimentos que nutrimos em relação a elas.  A preocupação (pré-ocupação) é um grande desafio do homem moderno, o que justifica a epidemia mundial da ansiedade, que parece ser o grande mal do século. Mark Twain, ironizando acerca da problematização mental sobre o futuro, afirma “Sou um homem velho e passei  por muitos problemas, mas a maioria deles nunca aconteceu.” Atribui-se à Sêneca, ensinamentos sobre o autocontrole e a necessidade de abandono dos fenômenos puramente psicológicos ou imaginários, assim consideradas as preocupações com o futuro ou qualquer espécie de arrependimento sobre o passado, sentimentos que apenas se prestam às emoções negativas, porquanto nenhum deles existe mais no mundo real. Essa maneira de vida negativa cria o medo, um medo inexplicável, que nos paralisa e nos abala profundamente. [2]Não ignorando, nem desprezando as emoções, admitindo existirem, ao lado das "doenças do corpo", "as doenças da alma", que devem ser tratadas, o estoicismo é muito próximo da terapia denominada hoje como cognitivo-comportamental, fundada pelo psicoterapeuta,  Alberto Ellis que ao iniciar o tratamento com novos pacientes, dava a eles, uma cópia da máxima estoica “Não são as coisas que nos perturbam e sim as crenças em relação a elas.”. E Laurence Becker, ainda a respeito da mesma terapia, afirma peremptoriamente que “as origens filosóficas da teoria cognitiva  podem ser rastreadas até os filósofos estoicos”. Com forte respaldo científico, esse tipo de terapia, comum nos dias que correm, tem se revelado eficaz no tratamento de diversos transtornos, como a depressão, a ansiedade generalizada, a insônia e as fobias em geral. Vale a pena se instruir um pouco tanto sobre a filosofia milenar dos estoicos, como sobre a terapia cognitivo-comportamental, a qual tem no estoicismo e seus conceitos,  o seu embrião e embasamento. O livro de David Fideler (Um Café com Sêneca – um guia estoico para a arte de viver), com  tradução de Robin Waterfield, da editora sextante, é uma ótima oportunidade de conhecer tanto essa linha da filosofia voltada para a busca da solução pragmática para o tratamento dos chamados “males da alma”, como  a terapia cognitivo-comportamental, estruturada para obter a mudança do paciente, necessária à modificação de seus sentimentos e forma de encarar as dificuldades próprias da vida de todos nós. 

 

 Boa noite amigos.

 

 



[1] Um Café Com Sêneca – Um guia Estoico para a arte de Viver – tradução Heci Regina Candiani, 1ª. edição, Rio de Janeiro, Sextante Editóra, 2.022, p. 24.

[2] “Como o passado e o futuro estão ausentes e não podemos sentir nenhum deles só as emoções, as oponiões ou a imaginação podem ser fonte de dor.”

sábado, 10 de maio de 2025

POXA!


Amigos, boa tarde.


Imagem da publicidade da novela
Garota do Momento, um sucesso
de audiência na TV Globo.

Acordei neste sábado pedindo para a Alexa da minha cabeceira tocar sambas antigos. Logo na segunda música, identifiquei uma canção de Benito Di Paula, dos anos 70, cujo título é Poxa. Os menos jovens certamente vão se lembrar da letra delicada e cadenciada: Poxa, como foi bacana te encontrar de novo/Curtindo um samba junto com meu povo/ Você não sabe como eu acho bom/. Imediatamente me ocorreu que há muitos anos não ouço ninguém usar a expressão Poxa! Teria “caído de moda?” na gíria usada no meu tempo de moço. E se o verbete Poxa não se ouve mais, teria sido substituído integralmente  por Porra? Já esse último se escuta a toda hora, em todo canto e campo, a ponto dos canais de televisão nem se preocuparem em tirar o som quando o convidado, entrevistado ou o “professor” (tratamento atribuído pelos jogadores de futebol ao seu técnico), soltam a expressão, indignados com o gol certo perdido ou a cagada do zagueiro, no gol do adversário. Bem fui procurar nos dicionários mais prestigiados o significado de ambas as expressões, no meu jeito antigo de observar as comparações entre os lexicógrafos, no estilo comparativo e agora já anacrônico e artesanal, esperando concluir que: ...”O Aurélio cita a expressão, blá, blá, blá.”  Já o Caldas Aulete considera que...........” Que nada! A IA já entrou em ação e mandou logo essa:  "Poxa" e "porra" são duas interjeições em português que expressam emoções, mas com nuances e contextos diferentes. "Poxa" é mais suave e usada para expressar surpresa, tristeza, aborrecimento ou admiração, enquanto "porra" é uma palavra vulgar e forte, utilizada para expressar raiva, irritação, descontentamento ou espanto.”  Falou! O certo é que as expressões não devem ser usadas como sinônimas, embora “porra” seja citada, em alguns dicionários, como um dos correspondentes de “Poxa", que por sua vez é destacada como um eufemismo de “Puxa”.  A delicadeza de uma não se encontra na outra. Mas o fato é que o dia-a-dia o verbete “porra” ganhou infinitos significados, como o tal de “trem” para os mineiros, uai!, extrapolando, em muito, expressões de raiva, irritação, descontentamento ou espanto. Na oração   -   “como funciona essa porra, irmão?” é utilizada como substantivo, no lugar do objeto que o sujeito não conhece ou não sabe, ou não lembra o nome. Em:  “não entendo porra nenhuma dessa matéria”  é usada para afirmar a completa ausência de entendimento sobre a matéria lecionada ou estudada. Na Bahia, é usada também como um elogio, exaltação a algum ato, coisa ou qualidade da coisa. A Folha de São Paulo, edição de 15 de outubro de 2.013, registrou a seguinte assertiva: - "Eita liquidação da porra”.  Conclusão: enquanto a palavra Porra vai ganhando, a cada dia, um campo vasto de utilização, gerando sinônimos quase infinitos, deixando de lado o viés pornográfico que já teve no passado ou o seu sentido mais puro (esperma, sêmen, órgão sexual masculino), o educado “poxa” vai perdendo prestígio como uma delicada manifestação de carinho, de saudade, ou de respeitosa expressão de insatisfação. E se você, por acaso, acabar utilizando a última, corre o risco do seu netinho rir e  advertir: “Não é poxa vovô, é porra.” Ou então, expor o seu estranhamento, assim literalmente:  “- Vô que porra é essa?”

Bom final de semana e parabéns as mães de todo o mundo pela glória e nobreza da maternidade.

P.S(1) – A direção da novela “Garota do Momento” ora exibida pela TV Globo, no horário das 18,25 horas, tem sido cuidadosa na utilização, pelos personagens, de linguagem e gírias que vigoravam em nosso país, ao tempo em que se passa o folhetim, mais precisamente, no final dos anos 50, início dos anos 60. Mas nesta semana o personagem Raimundo (Danton Mello),  para meu espanto, disse que uma certa pessoa já chegara "causando". O verbo “causar” tanto na época da novela, como até hoje, é transitivo direto e eventualmente bitransitivo ("O discurso do Presidente causou apreensão entre os seus eleitores"). Recordo perfeitamente que lá pelos anos 90 ou 2.000, eu indaguei de um dos meus alunos que se referia a alguém como pessoa que estaria “causando” e ponto final.   o seguinte: “Está causando o que?”, sem entender essa gíria moderna, mas  que não existia, absolutamente,  ao tempo em que se passa o folhetim. 

 

 

  

domingo, 4 de maio de 2025

BOI, BOI, BOI, BOI DA CARA PRETA




Bom dia amigos,

A morte de Nana Caymmi nesta semana foi bastante sentida, tanto pela classe artística, parentes e amigos, como pela legião de fãs que a cantora construiu durante seus 84 anos de vida. Dona de um timbre vocal ímpar, Nana se notabilizou pelo extremo bom gosto na escolha do repertório e pode ser considerada a mais especial intérprete das canções do pai, o compositor Dorival Caymmi. A propósito do nosso saudoso Caymmi, Nana cantou como ninguém o Acalanto do pai que o pessoal todo da minha geração e, talvez, da geração seguinte, de minha filha e genro, conhece como música de ninar. /É tão tarde, a manhã já vem/Todos dormem, a noite também/Só eu velo por você, meu bem/ Dorme, anjo, o boi pega neném/Lá no céu deixam de cantar/Os anjinhos foram se deitar/Mamãezinha precisa descansar/Dorme, anjo, papai vai lhe ninar. E aí o desfecho inusitado: boi, boi, boi/boi da cara preta/pega essa menina que tem medo de careta/ Como assim, é sério que é para assustar a menina mesmo? Bem a canção foi composta por Dorival para sua primogênita, ou seja, a própria Nana, no ano de 1.942, mas só ganhou uma gravação de estúdio em 1.960. Imagino que hoje a blitz do politicamente correto teria muitas objeções contrárias a essa letra, algumas supostamente sugerindo incidência do compositor mesmo em normas criminais. A defesa dos animais veria aí uma ofensa contra a dignidade do boi, que não existe para assustar ninguém, muito menos criança. E a cara preta do boi seria preconceito ou mesmo racismo? Mas Dori era negro e em sua defesa poderia invocar a inexistência de crime de autopreconceito ou autoracismo. Por fim, com certeza ele não escaparia do crime de tortura contra criança previsto no artigo 1º, inciso II, da Lei 9.455/97, ainda com a agravante de crime contra descendente, como decidiu recentemente a 5ª. Turma do STJ. Contudo, sites especializados na vida de ambos (pai e filha) garantem que Nana nunca teve medo de nada. Sem papas na língua certamente botaria esse boi de cara preta pra correr. E aí? Crime sem vítima ou crime de maltrato a animal? 

Até mais amigos.