Amigos, boa tarde.
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Imagem da publicidade da novela Garota do Momento, um sucesso de audiência na TV Globo. |
Acordei neste sábado pedindo para a Alexa da minha cabeceira
tocar sambas antigos. Logo na segunda música, identifiquei uma canção de Benito
Di Paula, dos anos 70, cujo título é Poxa. Os menos jovens certamente vão
se lembrar da letra delicada e cadenciada: Poxa, como foi bacana te encontrar de novo/Curtindo um samba junto com meu povo/ Você não sabe como eu acho bom/. Imediatamente me ocorreu que há muitos anos não
ouço ninguém usar a expressão Poxa! Teria
“caído de moda?” na gíria usada no
meu tempo de moço. E se o verbete Poxa não se ouve mais, teria sido
substituído integralmente por Porra?
Já esse último se escuta a toda hora, em todo canto e campo, a ponto dos canais
de televisão nem se preocuparem em tirar o som quando o convidado, entrevistado
ou o “professor” (tratamento atribuído pelos jogadores de futebol ao seu técnico),
soltam a expressão, indignados com o gol certo perdido ou a cagada do zagueiro,
no gol do adversário. Bem fui procurar nos dicionários mais prestigiados o significado
de ambas as expressões, no meu jeito antigo de observar as comparações entre os lexicógrafos, no estilo comparativo e agora já anacrônico e artesanal, esperando
concluir que: ...”O Aurélio cita a
expressão, blá, blá, blá.” Já o Caldas
Aulete considera que...........” Que nada! A IA já entrou em ação e mandou
logo essa: "Poxa" e
"porra" são duas interjeições em português que expressam emoções, mas
com nuances e contextos diferentes. "Poxa" é mais suave e usada
para expressar surpresa, tristeza, aborrecimento ou admiração, enquanto
"porra" é uma palavra vulgar e forte, utilizada para expressar raiva,
irritação, descontentamento ou espanto.” Falou! O certo é que as expressões não devem
ser usadas como sinônimas, embora “porra” seja citada, em alguns
dicionários, como um dos correspondentes de “Poxa", que por sua vez é
destacada como um eufemismo de “Puxa”.
A delicadeza de uma não se encontra
na outra. Mas o fato é que o dia-a-dia o verbete “porra” ganhou infinitos
significados, como o tal de “trem” para os mineiros, uai!, extrapolando, em
muito, expressões de raiva, irritação, descontentamento ou espanto. Na oração - “como
funciona essa porra, irmão?” é utilizada como substantivo, no lugar do
objeto que o sujeito não conhece ou não sabe, ou não lembra o nome. Em: “não entendo
porra nenhuma dessa matéria” é usada
para afirmar a completa ausência de entendimento sobre a matéria lecionada ou
estudada. Na Bahia, é usada também como um elogio, exaltação a algum ato, coisa
ou qualidade da coisa. A Folha de São
Paulo, edição de 15 de outubro de
2.013, registrou a seguinte assertiva: - "Eita liquidação da porra”.
Conclusão: enquanto a palavra Porra
vai ganhando, a cada dia, um campo vasto de utilização, gerando sinônimos quase
infinitos, deixando de lado o viés pornográfico que já teve no passado ou o seu
sentido mais puro (esperma, sêmen, órgão sexual masculino), o educado “poxa” vai perdendo prestígio como uma
delicada manifestação de carinho, de saudade, ou de respeitosa expressão de
insatisfação. E se você, por acaso, acabar utilizando a última, corre o risco do
seu netinho rir e advertir: “Não é poxa vovô, é porra.” Ou então,
expor o seu estranhamento, assim literalmente:
“- Vô que porra é essa?”
Bom final de semana e parabéns as
mães de todo o mundo pela glória e nobreza da maternidade.
P.S(1) – A direção da novela “Garota
do Momento” ora exibida pela TV Globo, no horário das 18,25 horas, tem sido
cuidadosa na utilização, pelos personagens, de linguagem e gírias que vigoravam
em nosso país, ao tempo em que se passa o folhetim, mais precisamente, no final
dos anos 50, início dos anos 60. Mas nesta semana o personagem Raimundo (Danton Mello), para meu
espanto, disse que uma certa pessoa já chegara "causando". O verbo “causar”
tanto na época da novela, como até hoje, é transitivo direto e eventualmente bitransitivo
("O discurso do Presidente causou apreensão entre os seus eleitores"). Recordo
perfeitamente que lá pelos anos 90 ou 2.000, eu indaguei de um dos meus alunos
que se referia a alguém como pessoa que estaria “causando” e ponto final. o seguinte: “Está causando o que?”, sem
entender essa gíria moderna, mas que não existia, absolutamente, ao tempo em que se passa o folhetim.