Boa noite amigos,
Apesar de minha paixão pelo cinema, confesso que pouco me
atraíam, na juventude, os filmes de Frederico
Fellini, um dos mais respeitados diretores e cineastas da história
universal da sétima arte. Sua obra, incluindo as duas fases em que os críticos
distinguem a atuação do diretor (a primeira classificada como do "neorealismo”,
e a segunda, mais ou menos enquadrada teoricamente no movimento conhecido como “nouvelle vague”), certo é que
todos reconhecem em sua obra uma singularidade que escapa à tentativa de
extremá-lo em qualquer das categorias ou movimentos catalogados. Fato é que,
agora na terceira idade, sinto uma necessidade incrível de viajar pelo universo
do diretor italiano, pela importância de seus filmes, pela curiosidade que me
despertam e pela sua contribuição inegável para a
sétima arte. Dentre os longas da primeira fase, merece destaque “La
Strada”, que no Brasil, foi nominado de “A Estrada da Vida” (imagem da coluna de hoje emprestada de screamyell.com.br). Do ano de 1.954, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o longa se passa na Itália do final dos anos
40, um país depauperado e devastado pela segunda-guerra-mundial.
O protagonista é o rude, Zampano, um artista de circo, na pele
do insuperável Antony Quinn, que
ganha a vida correndo pelo país, exibindo, na lona, o seu velho e único número, no qual, contando com os gritos e os
suspiros de incautas plateias, arrebenta correntes só com a força de seu pensamento e de sua respiração profunda. Ao seu lado, Gelsomina
(Giulietta Masina), é uma jovem ajudante comprada de sua família
paupérrima e numerosa, por 10 mil liras.
O destino da dupla, a partir de então, é um só, pois a jovem, sem outra
alternativa de subsistência, deve acompanhar o seu amo nas longas viagens pelo país, suportando, além das
condições precárias de transporte, alimentação e pouso, os maus tratos e a arrogância do artista. Aos poucos, porém, vai entendendo que esse comportamento é
decorrente da ignorância e dos recalques daquele homem forjado na vida de luta
e sofrimento. A confusão de sentimentos nobres e vis, o amor, o ódio, a culpa,
o desrespeito, a rudeza, a necessidade de sobrevivência, são aspectos
que marcam o caminho indelével desses personagens, que se envolvem profissional
e afetivamente, evidenciando a preocupação de Fellini em documentar a natureza humana e as condicionantes decorrentes da pobreza, da falta de cultura e da influência de dogmas
impostos por instituições como Estado e Igreja. Em preto e branco, o longa é um drama duro, mas sensível e apaixonante.
Para alguns, esse seria o melhor filme
da primeira fase de Fellini e um belo exemplar do chamado “realismo italiano”. Gostei e muito!
Até amanhã.
P.S. (1) Frederico
Fellini desenvolveu sua filmografia composta de 24 títulos entre filmes de
ficção, documentários e comerciais, entre os anos de 1.950 a 1.993. Nasceu em
1.920, em Rimini, Itália e morreu em
1.993, em Roma, tendo tido um único casamento, contraído em
1.943, com a atriz, Giullietta Masina , protagonista deste filme e de tantos outros do
próprio marido famoso.
P.S. (2) Para quem quer conhecer ou já aprecia Fellini,
a obra do cineasta foi documentada em um livro: “Frederico Fellini – Filmografia Completa”, cujo autor é Chris Wiegand, do ano de 2.003, lançada
em português pela Editora Taschen;
P.S. (3) Os roteiros e os personagens dos filmes de Fellini, especialmente da segunda fase,
são considerados autobiográficos. Mas como é impensável que apenas a realidade
deva fazer parte da magia do cinema e daqueles que criam roteiros, parte deles
ou das características dos personagens foram inventados, isto é, não
representam exatamente o que é ou foi vivido pelo diretor. Por isso, sem se
importar, nem desmentir os que consideravam a sua obra “autobiográfica”, ele gostava de dizer que era também “Um grande mentiroso”. Provocação de gênio,
sem dúvida.
P.S. (4) A trilha sonora de Estrada da Vida é de Nino
Rota, habitual colaborador de Fellini,
em seus filmes. A respeito dele, disse um dia o cineasta: “Nossa integração foi
interessante: eu tinha decidido ser diretor, e Nino era uma premissa para que
continuasse a sê-lo. Tinha uma imaginação geométrica, uma visão musical das
esferas celestes, para quem não havia necessidade de ver as imagens de meus
filmes”. Nino também entrou para o cinema na década de 40, durante o
neorealismo;
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