domingo, 13 de julho de 2014

"A ESTRADA DA VIDA" DE FELLINI

Boa noite amigos,

Apesar de minha paixão pelo cinema, confesso que pouco me atraíam, na juventude, os filmes de Frederico Fellini, um dos mais respeitados diretores e cineastas da história universal da sétima arte. Sua obra, incluindo as duas fases em que os críticos distinguem a atuação do diretor (a primeira classificada como do "neorealismo”, e a segunda, mais ou menos enquadrada teoricamente no movimento conhecido como  “nouvelle vague”)certo é que todos reconhecem em sua obra uma singularidade que escapa à tentativa de extremá-lo em qualquer das categorias ou movimentos catalogados. Fato é que, agora na terceira idade, sinto uma necessidade incrível de viajar pelo universo do diretor italiano, pela importância de seus filmes, pela curiosidade que me despertam e pela sua contribuição inegável para a sétima arte. Dentre os longas da primeira fase, merece destaque  “La Strada”, que no Brasil, foi nominado de “A Estrada da Vida” (imagem da coluna de hoje emprestada de screamyell.com.br). Do ano de 1.954, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro,  o longa se passa na Itália do final dos anos 40, um país depauperado e devastado pela segunda-guerra-mundial. O protagonista é  o rude, Zampano, um artista de circo, na pele do insuperável Antony Quinn, que ganha a vida correndo pelo país, exibindo, na lona,  o seu velho e único  número, no qual, contando com os gritos e os suspiros de incautas plateias, arrebenta correntes só com a força de seu pensamento e de sua respiração profunda. Ao seu lado, Gelsomina (Giulietta Masina), é uma jovem ajudante comprada de sua família paupérrima e numerosa, por 10 mil liras. O destino da dupla, a partir de então, é um só, pois a jovem, sem outra alternativa de subsistência,  deve  acompanhar o seu amo nas longas  viagens pelo país, suportando, além das condições precárias de transporte, alimentação e pouso, os maus tratos e a  arrogância do artista.  Aos poucos, porém,  vai entendendo que esse comportamento é decorrente da ignorância e dos recalques daquele homem forjado na vida de luta e sofrimento. A confusão de sentimentos nobres e vis, o amor, o ódio, a culpa, o desrespeito,   a rudeza, a  necessidade de sobrevivência, são aspectos que marcam o caminho indelével desses personagens, que se envolvem profissional e afetivamente, evidenciando a preocupação de Fellini em documentar a natureza humana e as condicionantes decorrentes da pobreza, da falta de cultura e da influência de dogmas impostos por instituições como Estado e Igreja. Em preto e branco, o longa é um drama duro, mas sensível e apaixonante. Para alguns,  esse seria o melhor filme da primeira fase de Fellini e um belo exemplar do chamado “realismo italiano”. Gostei  e muito!

Até amanhã.

P.S. (1) Frederico Fellini desenvolveu sua filmografia composta de 24 títulos entre filmes de ficção, documentários e comerciais, entre os anos de 1.950 a 1.993. Nasceu em 1.920, em Rimini, Itália e morreu em 1.993, em Roma,  tendo tido um único casamento, contraído em 1.943,  com a atriz, Giullietta Masina , protagonista deste filme e de tantos outros do próprio marido famoso.

P.S. (2) Para quem quer conhecer ou já aprecia  Fellini, a obra do cineasta foi documentada em um livro: “Frederico Fellini – Filmografia Completa”, cujo autor é Chris Wiegand, do ano de 2.003, lançada em português pela Editora Taschen;

P.S. (3) Os roteiros e os personagens dos filmes de Fellini, especialmente da segunda fase, são considerados autobiográficos. Mas como é impensável que apenas a realidade deva fazer parte da magia do cinema e daqueles que criam roteiros, parte deles ou das características dos personagens foram inventados, isto é, não representam exatamente o  que é ou foi vivido pelo diretor. Por isso, sem se importar, nem desmentir os que consideravam a sua obra “autobiográfica”,  ele gostava de dizer que era também  “Um grande mentiroso”. Provocação de gênio, sem dúvida.

P.S. (4) A trilha sonora de Estrada da Vida é de Nino Rota, habitual colaborador de Fellini, em seus filmes. A respeito dele, disse um dia o cineasta: “Nossa integração foi interessante: eu tinha decidido ser diretor, e Nino era uma premissa para que continuasse a sê-lo. Tinha uma imaginação geométrica, uma visão musical das esferas celestes, para quem não havia necessidade de ver as imagens de meus filmes”. Nino também entrou para o cinema na década de 40, durante o neorealismo;

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