Boa tarde amigos,
Não sou “noveleiro”, como se costuma dizer por aí. Mas também estou longe de nutrir qualquer preconceito pelo gênero, que tem sido a grande opção de entretenimento de considerável parcela do povo. Ou, então, de sofrimento consentido (afinal, sobrevivendo neste país acho que temos algo de masoquismo no nosso DNA coletivo, ainda a ser revelado). E ao contrário das rádios-novelas, em moda nos anos 40 e 50, que só alimentavam um "vale de lágrimas" e não se via a cara, nem a casa de ninguém, para copiar, os folhetins da TV, exercem na sociedade uma influência significativa, ditando, não raro, costumes e modas, de linguagem a comportamentos. Bem, esse é um assunto que já foi muito debatido por nossos sociólogos, filósofos e que tais. O que me atrai nas novelas, especialmente as da TV Globo, de reconhecido bom nível técnico, um dos produtos de exportação do país, é muito mais uma curiosidade estética do que propriamente de outra ordem. Mas não nego que, de vez em quando, alguns autores, grandes atores e roteiros originais me provocam para acompanhar a trama com a regularidade que minha vida profissional e pessoal me permitem. Foi assim com Além do Tempo (Globo, 18,30 horas), que terminou na última sexta-feira, felizmente sem aqueles alongamentos irritantes, mas costumeiros, quando o folhetim emplaca uma boa audiência para o horário, o que efetivamente ocorreu com a trama de Elizabeth Jihn.
Dividindo os capítulos em
duas épocas distintas, a primeira passada no século XIX e a segunda nos anos contemporâneos, a escritora explorou como tema central o
renascimento na visão da doutrina espírita, embora a emissora, por seus
diretores e técnicos, afirme que não se objetivou qualquer
espécie de proselitismo e que a doutrina da reencarnação é sustentada por várias religiões e seitas
diferentes, sob os mais diversificados fundamentos e aspectos. Na novela,
porém, a questão da reencarnação é utilizada com muito equilíbrio e bom senso, mais um artifício supostamente ficcional, ou
um mote para, a um só tempo: a) propagar, com louvável ufanismo, valores como a bondade, a solidariedade, a misericórdia, o perdão, a igualdade livre de preconceitos de
cor, raça e origem e, b) para recontar a história dos personagens, para as
quais o renascimento cria nova oportunidade de resgate de má conduta de vidas
passadas (caso da personagem Melissa,
vivida pela ótima atriz Paola Oliveira), ou para viabilizar
a sobrevivência de um romance convertido em casamento, ceifado anteriormente pelas armadilhas
preparadas pelos maus espíritos (caso de Felipe
e Lívia, interpretados,
respectivamente, pelos atores Rafael Cardoso e Alline
Moraes). Nesse ponto, a autora conseguiu garantir para si a simpatia do
público pelo final da trama, ao contrário do que aconteceu com Alma Gêmea, novela que a Globo transmitiu no mesmo horário,
entre 2.005/2006, de autoria de Walcyr
Carrasco, que também explorou o tema do espiritismo, mas que termina com a
morte dos protagonistas, Rafael (Eduardo Moscovis) e Serena (Priscila
Fantin). Uma insatisfação que o público não quer experimentar. Novela que se preze tem que acabar bem para o mocinho e a mocinha viverem o esperado “Felizes para Sempre”, com todo o vigor e a dignidade que o
sofrimento a eles imposto, durante os longos dias em que correram os capítulos,
exige, como recompensa. Outro ponto
positivo para o merecido sucesso de Além
do Tempo, foi a escolha do elenco. As atrizes Irene Ravache e Ana
Beatriz Nogueira, que nos dois tempos viveram os personagens Vitória Ventura e Emília Navona Beraldini (no primeiro como sogra e nora e, no segundo, como mãe e filha), seguraram a dramaticidade da
obra, incomum para o horário das seis e meia. Destaque também para o versátil Luis
Melo, com a sua categoria de sempre, no papel do criativo e
extrovertido, Massimo Vicenzo e para
um ator jovem, Emílio Dantas, que
interpretou o invejoso Pedro,
resoluto na sua maldade, da qual não se redimiu nem mesmo na chance de
reencarnação que a autora lhe deu. Por fim, caiu muito bem a presença do
personagem apenas citado como Mestre dos
Anjos, vivido pelo magnífico Othon Bastos, um ator que admiro desde
sua fantástica interpretação do bandido Corisco,
no antológico filme nacional do Cinema Novo, Deus e o Diabo na Terra do Sol (1.964), do saudoso Glauber Rocha.
As suas raras aparições sempre foram oportunas, para explicar os limites da intervenção metafísica no mundo real, segundo preconiza a doutrina kardecista, ora dialogando com um de seus discípulos, o Ariel (Michel Melamed), para lamentar os desencontros, ou exigir dele que não interferisse no “livre arbítrio” dos personagens, ora para encorajar almas que pretendiam a regeneração, a buscá-las com ânimo e afinco, como no caso do personagem Bento Ventura, vivido pelo ator Luiz Carlos Vasconcelos. E finalmente, entre vinhas, vinhos e espiritismo, gostei mesmo do nome dado ao vinho produzido pela vinícola de Felipe e sua sócia de último capítulo, Lívia. O “Além do Tempo” é realmente um bom nome para vinho. Principalmente, porque como dizem, quanto mais velho for o vinho, tanto melhor. Imagine, então, se for de outra encarnação!
Não sou “noveleiro”, como se costuma dizer por aí. Mas também estou longe de nutrir qualquer preconceito pelo gênero, que tem sido a grande opção de entretenimento de considerável parcela do povo. Ou, então, de sofrimento consentido (afinal, sobrevivendo neste país acho que temos algo de masoquismo no nosso DNA coletivo, ainda a ser revelado). E ao contrário das rádios-novelas, em moda nos anos 40 e 50, que só alimentavam um "vale de lágrimas" e não se via a cara, nem a casa de ninguém, para copiar, os folhetins da TV, exercem na sociedade uma influência significativa, ditando, não raro, costumes e modas, de linguagem a comportamentos. Bem, esse é um assunto que já foi muito debatido por nossos sociólogos, filósofos e que tais. O que me atrai nas novelas, especialmente as da TV Globo, de reconhecido bom nível técnico, um dos produtos de exportação do país, é muito mais uma curiosidade estética do que propriamente de outra ordem. Mas não nego que, de vez em quando, alguns autores, grandes atores e roteiros originais me provocam para acompanhar a trama com a regularidade que minha vida profissional e pessoal me permitem. Foi assim com Além do Tempo (Globo, 18,30 horas), que terminou na última sexta-feira, felizmente sem aqueles alongamentos irritantes, mas costumeiros, quando o folhetim emplaca uma boa audiência para o horário, o que efetivamente ocorreu com a trama de Elizabeth Jihn.
Imagem emprestada de www.tvpravc.combr., dos persona-
gens Lívia e Felipe, vividos por Alline Moraes e Rafael Car-
doso, com vestes da primeira fase da novela, que se -
passou no século XIX.
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As suas raras aparições sempre foram oportunas, para explicar os limites da intervenção metafísica no mundo real, segundo preconiza a doutrina kardecista, ora dialogando com um de seus discípulos, o Ariel (Michel Melamed), para lamentar os desencontros, ou exigir dele que não interferisse no “livre arbítrio” dos personagens, ora para encorajar almas que pretendiam a regeneração, a buscá-las com ânimo e afinco, como no caso do personagem Bento Ventura, vivido pelo ator Luiz Carlos Vasconcelos. E finalmente, entre vinhas, vinhos e espiritismo, gostei mesmo do nome dado ao vinho produzido pela vinícola de Felipe e sua sócia de último capítulo, Lívia. O “Além do Tempo” é realmente um bom nome para vinho. Principalmente, porque como dizem, quanto mais velho for o vinho, tanto melhor. Imagine, então, se for de outra encarnação!
Até amanhã amigos,
P.S. (1) A novela Além do Tempo é a quarta escrita pela
autora, Elisabeth Jihn, versando
sobre tema da espiritualidade. As três antecessoras foram, Amor Eterno Amor (2.012); Escrito
nas Estrelas (2.010) e Eterna Magia
(2.007);
P.S. (2) A mensagem transmitida pela voz do médium mineiro, Chico Xavier, encerrando o último capítulo da novela, foi uma das
surpresas reservadas ao público e que reafirma que a doutrina explorada na
trama se fundamenta no espiritismo de natureza kardecista. Uma grande lição de
humanismo, independentemente de dogmas ou
predileções por doutrinas e religiões.
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