domingo, 9 de outubro de 2016

E O GUARANI VOLTA Á SERIE B DO BRASILEIRO

Amigos,

Foto oficial da equipe do Guarani Futebol Clube tirada no

jogo de ontem. Imagem emprestada de globoesporte.glo

bo.com.
O ex-goleiro e treinador, Leão, disse um dia  que o pior medo de uma equipe não era o medo de perder, mas o medo de ganhar. Junto a esse pensamento, outro do saudoso jornalista e comentarista esportivo, Armando Nogueira, que de certa feita, ao falar sobre uma dessas formações medíocres do Botafogo do Rio de Janeiro, time pelo qual torcia desde pequeno, desabafou: - O problema é que esse time não tem alma. Bem, fui ontem ressabiado para o Estádio Brinco de Ouro da Princesa. Bugrino, desde menino, me acostumei,  tanto com as vitórias, quanto com as derrotas, embora estas tenham sido a tônica do Guarani das últimas décadas, uma das equipes, senão a equipe que mais experimentou descensos nos campeonatos que disputou nos últimos anos. Resta sempre o consolo de falar do Bugre de outrora. Daquela equipe campeã brasileira, única do interior do Brasil, até hoje, como se mandou escrever, em letras garrafais, em cima do Tobogã do Brinco,  e que alguns amigos pontepretanos acham cafona, certamente por despeito,  para relembrar de um passado de glória que o torcedor das gerações mais novas jamais testemunhou. Mas se é verdade que é no sofrimento, no revés,  na desgraça, que as paixões mais se intensificam, certo é que esse ditado tem tudo a ver com a nova torcida bugrina. Nos anos 60, 70, o time do Guarani sempre merecia destaque, com ou sem a conquista de títulos. Mas a torcida não comparecia aos estádios com regularidade e em número compatível com a qualidade da equipe e do espetáculo. Reclamava-se de sua suposta indiferença, coisa que na época era sinônimo de clube de elite, não de massa, o que também se dizia do São Paulo e do Fluminense do Rio.  Lembro-me que o comentarista Juca Kfouri , destacado por um órgão de imprensa para cobrir a final entre Palmeiras e Guarani no Brinco de Ouro em 1.978, escreveu de madrugada, para sua coluna, de um hotel em que se hospedara na cidade,  que era incrível o silêncio que se sentia nas ruas, na noite da conquista do título inédito e importante. Os bugrinos teriam preferido comemorar a láurea no Tênis Clube de Campinas ou em outros locais mais elitizados da cidade. Os tempos mudaram, por certo. Voltando ao presente, fui ao estádio relutante, mas convicto de que era meu dever como bugrino ir lá e acreditar que a equipe seria capaz de reverter um resultado totalmente adverso na fase do mata-mata.  Uma equipe que há uma semana, simplesmente não entrou em campo na longínqua Arapiraca, no Estado das Alagoas para jogar contra o  ASA, apenas o quarto classificado da outra chave. 

O centroavante Eliandro, que veio do Bragantino, contrata-

do apenas para as duas partidas decisivas. Acabou sendo 

o grande herói do acesso ao marcar dois dos três gols do

Bugre na vitória de ontem sobre o Asa pelo placar de --

3 a 0. Imagem emprestada de www.yndooutube.com.
E que tomou três gols inacreditáveis, numa defesa que tinha feito um campeonato até então de muita regularidade e segurança. O que aconteceu? Coisas dos Deuses dos Estádios como diria um antigo locutor campineiro. Não era dia. Não era ano. Não era a vez. Tudo isso se misturava no pensamento durante a semana. E as estatísticas todas fatídicas: o Guarani não fez diferença de dois gols em praticamente nenhum jogo desse campeonato. As exceções foram 2 em 18 rodadas.  Tinha mais. O treinador   se especializara em fazer grandes campanhas na série C, e perder o acesso no mata-a-mata. Isso aconteceu nos dois anos anteriores. Com toda essa carga contrária, teve ainda um amigo bugrino que insistia em suspeitar do goleiro ou de jogador da defesa, que teria sido “comprado” no jogo de ida, como supostamente acontecera também em 1.982, na semifinal do Brasileiro, na derrota para o Flamengo. O nosso goleiro, o carioca Wendel,  tinha tomado três gols "suspeitos", em noite pouco inspirada, em que o Brinco de Ouro recebia mais de 52.000 torcedores, o seu recorde de público até hoje. O Fla, porém, era aquele timaço de Zico, Junior e Cia., capaz de reverter qualquer resultado negativo e que foi campeão brasileiro naquele ano, com todos os méritos.  Bem, vou, não vou. Fui. Animei-me com as notícias de que até a véspera mais de 10.000 ingressos tinham sido vendidos. A torcida acreditava. Estaria ao lado do time. E que alguns dos heróis do título brasileiro de 1.978, foram ao Brinco, para falar aos jovens atletas da necessidade de confiança e dedicação,  para uma perspectiva de sucesso e superação. Careca, Zenon, Renato Pé Murcho e Bozó teriam ilustrado a mensagem com histórias da superação do Guarani de 1.978.
Capa da revista de esportes PLACAR, edição

de agosto de 1.978, noticiando a conquista-

do título brasileiro pelo Bugre campineiro.

Imagem emprestada de imortaisdofutebol.

com.
Uma equipe do interior de São Paulo que tinha sido ridicularizada pela imprensa gaúcha, um dia antes de ter metido um 3 a 0 inesquecível sobre o temível Internacional de Porto Alegre de Falcão, Batista e outros craques, em pleno Beira Rio. Que nada obstante, ter sofrido uma goleada implacável de 5 a 0, imposta pelo Remo de Belém do Pará, em tarde inspirada de um tal jogador Bira, que não iria fazer  história relevante no futebol, foi capaz de superar tudo com vontade, qualidade e raça. Ao chegar no estádio senti a força da torcida presente.  Firme, barulhenta, alegre, transmitia otimismo e confiança na onda da ola que se seguia, envolvendo todos e cada um dos presentes. Busquei uma cadeira vaga na lotada vitalícia. Havia uma ao lado de um torcedor ilustre: Arthur Antunes Coimbra Junior, filho de ninguém mais, ninguém menos, do que o lendário jogador Zico. Junior torce pelo Bugre desde 1.986, quando o alviverde desclassificou o Vasco da Gama e foi para a final com o São Paulo, perdendo o título nas penalidades máximas. Quando a equipe surgiu em campo  aplaudida de pé, os jogadores devem ter sentido toda a energia que exalava das arquibancadas. O jogo começou a mil. Nesse exato momento não sei por que não tive dúvidas: O Guarani iria alcançar o seu objetivo. Tiraria a diferença e selaria o seu destino de acesso à série B do Campeonato Brasileiro. O time vibrava. Sem nenhuma exceção. Havia entrega absoluta dos atletas em campo. 

Eu e meu vizinho no setor de vita

lícias do Brinco de Ouro, o torce

dor ilustre, Arthur Antunes Co-

imbra Junior, filho de Zico, em 

imagem do meu celular.
A cada jogada de  recuperação de bola, cada metida para a lateral ou "limpada" de área era acompanhada de uma ovação da plateia. E quando a bola estava nos pés do adversário eram apupos e ensurdecedoras vaias. O trio de arbitragem sentia o peso do público. Pelo menos um cartão amarelo foi mostrado para jogador do Asa, por imposição daquela ruidosa platéia. Aí veio o gol. Fuma, o grande Fumagalli, o herói bugrino, levanta a bola na cabeça de Leandro Amaro, que fulmina para as redes, sem chances para o goleiro. 1 a 0. A torcida explode no estádio, comemorando a abertura do placar e o caminho para a  vitória e a classificação. A equipe se empolga. E ataca sem medo ou temor. Acaba o primeiro tempo, não sem antes sofrermos duas vezes o sufoco de chances perdidas pelo adversário. Fazia parte da estratégia do jogo. Que a sorte estivesse conosco, pois transpiração, ousadia e confiança não faltavam. O segundo tempo começa a todo vapor. Vem o segundo gol da forma mais improvável. O goleiro, ao cobrar um tiro de meta mete a bola contra a perna do centroavante Eliandro. E a pelota, com o choque, segue caprichosamente de mansinho para dentro do gol. 2 a 0 e a classificação encaminhada. Eram apenas 8 minutos do segundo tempo. O jogo poderia acabar ali. Mas restavam 37 longos minutos, uma eternidade no futebol. Pressão do adversário que, aquela altura não tinha nada a perder. O time faz menção de recuar, o que é natural. Mas fica firme na marcação, sufocando o adversário. Cada atleta se desdobra ao máximo. São bolas disputadas no alto e no chão. Muitas divididas. Aí aparece um jogador de entrega de corpo e alma e  que fez um campeonato irrepreensível: O volante Auremir nas suas cortadas, na sua velocidade, no seu empenho, era o símbolo do time em campo. A dupla de zaga, Leandro Amaro e Ferreira, soberba, representando a melhor defesa do campeonato e que  veio junto e entrosada, batizada no acesso do Mirassol para a divisão de elite do Paulista. Uma dupla competente que defende com firmeza e faz gols. Os laterais Lenon e Gilton que auxiliam na defesa e frequentemente sobem para o ataque muito bem. E Wesley, um 7, que inferniza a defesa adversária, com seu jeito moleque e a sua velocidade incrível. No meio campo, dos pés do sempre lúcido Fumagalli  se repetem as tabelas com Renatinho e Pipico, este um dos mais sérios e regulares jogadores dessa equipe e que merece muito destaque pela sua experiência e dedicação. Vários foram os contra-ataques que o Bugre armou sobre o desespero do Asa. Num deles, Eliandro, vocacionado ou iluminado pelo destino, faria o terceiro gol, o golpe de misericórdia, aos 27 minutos, para nova explosão dos torcedores. Ganhando dos zagueiros no corpo, vê o goleiro saindo e de cabeça, o encobre, mandando a bola para as redes. Acabou! Mais alguns minutos e o destino estaria selado. O Bugre, depois de longos e penosos 4 anos de série C, garantiria o acesso à segundona do Brasileiro. Um acesso que teve sabor de alívio e de conquista, com superação. 
O técnico Marcelo Chamusca que levou o Guarani de volta

à série B do Campeonato Brasileiro. Imagem emprestada-

de www.guaranifc.com.br.
Superação também para o  técnico Marcelo Chamusca que com o acesso encerra a maldição de perder no mata-a-mata. O placar eletrônico adverte para que a torcida não invada o campo, temendo por punição ao clube. Mas o que se viu foi um final com uma torcida disciplinada. Sem deixar o estádio e ao som do hino do clube e dos fogos de artifício que a Diretoria mandou soltar depois do jogo, aplaudia e gritava o nome de cada jogador que dava a volta olímpica. Os aplausos também foram para o técnico Marcelo Chamusca que tirou de vez a  "nhaca" que rondava a sua carreira, valorizada daqui para a frente, por certo.

Jogadores festejam no final da -

partida junto com a torcida.   -

Festa e volta olímpica como-

se fosse um título. Imagem do

meu sobrinho Silvano Bressan.
Aqui os nomes dos jogadores que estarão na história de um Guarani vencedor: Leandro, Lenon, Leandro Amaro, Ferreira, Auremir, Gilton, Wesley, Renatinho, Fumagalli, Eliandro e Pipico. E, ainda, Denis Neves, Evandro, Marcinho, Zé Antonio, Diogo, Caio, Bruno, Roger, Lucas Bahia, Pegorari e alguns outros do elenco montado para a disputa da série C.


Até mais amigos.



 P.S. (1) Com o tobogã ainda interditado pelo Corpo de Bombeiros, o Estádio Brinco de Ouro recebeu um público de 12.713, o maior do ano na cidade de Campinas. 

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