Amigos,
foto do ator Domingos Montagner, protagonista de Velho
Chico, morto por afogamento no Rio São Francisco, em -
acidente que sensibilizou todo o Brasil (imagem em-
prestada de famososnoweb.com.).
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Terminou, ontem, de
forma emocionante para o elenco, a direção e para o espectador da categoria, a novela Velho Chico, que uma equipe comandada
por Benedito Ruy Barbosa escreveu e
a TV Globo produziu e mandou ao ar,
no horário nobre das 21,00 horas, entre 14 de março e 30 de setembro de 2.016. E o que dizer dessa telenovela, no vasto rol da rica dramaturgia da emissora,
que já não tenha sido dito anteriormente de produções que arrancaram emoções, suspenses,
suspiros e elogios de toda ordem, do público e da imprensa, no país e no
exterior, de que é insuspeitada testemunha a conquista, por várias vezes, de prêmios internacionais de realce, como o Grammy, equivalente ao Oscar da Televisão. Diferente das últimas
produções do horário, Velho Chico não se preocupou em prender
o telespectador com entretenimento. Ao contrário, não
havia um só núcleo da novela voltado para o humor, a caricatura ou a exploração
da já consagrada cultura do escracho, do deixa a vida me levar, da malandragem
brasileira, ou de qualquer forma de leveza ou alívio ao telespectador, que vive
dias difíceis com a estagnação da economia e seus nefastos
efeitos, como inflação e desemprego.
Séria, e por vezes sombria, a novela registrou pesados diálogos entre os personagens para marcar a intenção das mensagens
explícitas ou sublineares: a ditadura dos coronéis no sertão do nordeste
brasileiro, a exploração predatória da terra e das águas, o desapreço pelos recursos da natureza, tendo
como pano de fundo o Rio São Francisco e o intrincado projeto de sua transposição, isso tudo intrometido com a corrupção
institucionalizada nos meios políticos. Esses temas, não dispensaram, porém,
aqueles ligados à natureza humana e suas contradições: vida e morte, arbítrio e
humildade, vingança e perdão e a vitória do amor para além do tempo e da vida. Por fim, uma colher de chá à esperança, com a
prisão dos políticos corruptos comandados até então pelo Coronel Saruê (Antonio Fagundes), convertido no seu
alter-ego, Afrânio, e sua delação
premiada à Polícia Federal, esta no
foco da principal, senão única instituição com credibilidade no país, neste
momento, para combater eficazmente o crime organizado e levar à prisão figuras
exponenciais da política brasileira ou em torno dela. No folhetim, papel destinado ao
deputado federal, Dr. Carlos Alberto
(Marcelo
Serrado), personagem emblemático do parlamentar que se sustenta no
crime e na corrupção, morto por fim, sufocado na própria gana de
poder. Embora tais temas não sejam, nem de longe, virgens na dramaturgia[1] foram
tratados com atualidade e realismo, talvez com a deliberada intenção de levar o
espectador a uma reflexão sobre a sua própria vida e o seu papel de cidadão
dentro da comunidade. Intenções à parte, a novela termina com crédito e com uma
audiência média dentro dos padrões da
emissora para o horário.
Foi impulsionada, por certo, pela morte de dois dos
atores durante as gravações: Umberto
Magnani, em abril de 2.016, de causas naturais, obrigando os escritores a trocar o seu
personagem (o Padre Romão), por
outro padre (o Padre Benício), na
pele do excelente ator, Carlos Vereza. Muito mais sentida, porém, foi a inesperada morte de um dos protagonistas, o ator Domingos Montagner (Santo
dos Anjos), que se deu no último dia 15 de setembro, no
município de Canindé de São Francisco,
Estado
de Sergipe, aos 54 anos de idade, afogado nas águas do próprio Rio São Francisco, o mesmo manancial
que carregou seu personagem Santo, ferido à
bala, até próximo a uma aldeia,
onde foi resgatado e socorrido pelos indígenas. O episódio comoveu todo o país,
por diversas razões, dentre as quais: a) o ator era muito querido pelo seu
temperamento ameno, sua generosidade e o seu elogiado caráter; b) estava no
frescor de sua carreira como ator e no seu principal papel até então; c)
contava apenas 54 anos, estava bonito e saudável; d) deixou mulher e três
filhos menores e era considerado bom marido e pai presente e dedicado à prole:
e) foi tragado pelas águas traiçoeiras daquela praia, embora soubesse nadar e
estivesse próximo à atriz e companheira de elenco, Camila
Pitanga que, tendo logrado abrigar-se numa pedra no meio do rio, nada pode
fazer para salvar o companheiro, senão gritar inutilmente por socorro e vê-lo
afundar no rio, sem voltar à superfície, para ser resgatado, quatro horas
depois, já falecido; f) a praia em questão era
considerada perigosa e imprópria para banho, por causa da formação de
redemoinhos, invisíveis na superfície, que dificultavam a movimentação de
banhistas, arrastando-os perigosamente para o ferimento ou o afogamento.O
acidente porém não alterou os rumos que os escritores tinham dado à novela, já
nos últimos capítulos, nem o destino do personagem Santo dos Anjos. Em homenagem a Domingos, não houve substituição do ator e seu personagem termina casando com sua amada, Tereza (Camila Pitanga). Foi
representado nas cenas faltantes, subjetivamente, por sua voz sobreposta e uma câmera para a qual o
seu interlocutor falava. Uma solução técnica que agradou a todos e fez emocionada homenagem póstuma ao ator.
Até mais amigos,
P.S. (1) O elenco fixo
foi um dos menores, senão o menor, das novelas das nove. Apenas 30. E, à medida em que os capítulos iam se
desenvolvendo, era nítido o crescimento dos atores, nos respectivos papéis.
Tanto dos veteranos, como Fagundes (Afrânio ou Coronel Saruê), Christiane Torlone
(Iolanda
de Sá Ribeiro), Dira Paes (Beatriz, a professora que se
elegeu Prefeita no final da trama),
Irandhir Santos (Bento dos Anjos), com destaques para as sensacionais
interpretações de Selma Egrei ( como
a centenária, Encarnação de Sá Ribeiro) e de Marcos Palmeira (o matuto Ciço),
como dos iniciantes, Lucas Veloso (Lucas), Giullia Buscácio (a graciosa e determinada Olívia) e destaque para Lucy Alves (no difícil e rançoso papel de
Luzia e sua inseparável sanfona) e de Gabriel Leone (o idealista e revolucionário Miguel, filho de Santo dos
Anjos e neto do Coronel Saruê Afrânio, a quem couberam as mais
profundas reflexões, diálogos e mensagens que os autores pretenderam enviar).
Loas.
P.S.
(2) A trama teve 173 capítulos, desenvolvidos em duas fases. Na primeira fase contou com Rodrigo Santoro, Carol Castro, Selma Egrei, Tarcísio Meira, Rodrigo Lombardi, Fabiula Nascimento, Cyria Coentro,Chico Diaz, Marina Nery, Júlio Machado,
Bárbara Reis, Rafael Vitti, Pablo Morais, Larissa Góes, Julia Dalavia e Renato Góes nos
papéis principais.
Na
segunda fase atuaram Domingos Montagner, Camila Pitanga, Lucy Alves, Antônio Fagundes, Christiane Torloni, Selma Egrei, Lee Taylor,Dira Paes, Irandhir Santos, Zezita de Matos, Marcos Palmeira, Mariene de Castro, Luíza Brunet, Marcelo Serrado, Gabriel Leone e Giullia Buscacio nos papéis principais.
[1]
A chamada “politicagem” ou a demagogia
na política brasileira foi explorada, com retumbante sucesso e de forma bem
humorada, na novela “O Bem Amado” de 1.973, tendo como protagonista o saudoso
ator Paulo Gracindo, num de seus mais memoráveis papéis, o do Prefeito Odorico
Paraguaçu.
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