Nesse primeiro de maio, dia do trabalho, depois de um gostoso passeio pelo suave sol de outono, mando aos amigos um causo que escrevi e publiquei no livro "Causas & Causos" n. 1, pela Editora Millenium, no já distante ano de 2.006.
"Doutora Elza ganhara o conceito de competente e combativa advogada criminal no foro de
Campinas.
Especializara-se em relaxamentos de prisões em
flagrantes, flagrantes esses que lhe chegavam de forma rápida ao conhecimento,
juntamente com a identidade do preso e o nome e endereço de parente próximo,
tudo por obra e graça de conhecido investigador do Distrito Policial, por ela
regiamente gratificado.
A par da fama de advogada, corria à boca pequena que
ela também gostava de prestar, digamos, uma certa “assistência” além da
judiciária, aos mais necessitados, sobretudo se fossem jovens, homens e
bonitos, sem exigir atestado de pobreza, presumindo mesmo o estado de
necessidade e de carência.
Com escritório montado a menos de duas quadras do fórum,
tinha fácil e rápido acesso aos Juízes e Cartórios Criminais.
Deu-se em certa ocasião, que: um conhecido lhe pedira,
embora com certo temor, para empregar um filho menor, pois a família passava
dificuldades financeiras, diante da inesperada perda de emprego do seu chefe e
arrimo.
O temor quase não tinha procedência, pois não constava
da fama da Dra. Elza qualquer preferência pela prática de pedofilia.
Havida por
autoritária e mau humorada, na verdade a causídica tinha o coração mole e,
ainda que achasse que não ia dar certo, concordou em receber, a título experimental,
o tal moleque, um guardinha de treze anos, atribuindo-lhe serviços gerais e
corriqueiros do escritório.
Eis que na segunda-feira ele se apresenta, e a
advogada explica rapidamente a natureza das tarefas, exigindo que tudo fosse
feito com presteza e qualidade.
Em seguida, lhe dá o seguinte aviso e advertência:
- Olhe, deve me telefonar o Senhor Fulano, pai de um
cliente meu. Diga-lhe que eu fui ao fórum e que volto logo. Peça que ele deixe
recado e o telefone de onde pode ser encontrado, que eu ligo logo que puder.
Ato contínuo, sai com o objetivo de ir ao Palácio da
Justiça.
Não demoraram dois minutos e veio o telefonema
esperado.
Ao receber a notícia de que a doutora não se
encontrava no escritório, o Fulano, nervoso, diz ao moleque:
- Como? A doutora não está? Eu combinei com ela que
ligaria nesta hora. Meu filho está preso e eu preciso falar imediatamente com
ela.
Pouco adiantou ao menino tentar acalmar o cliente,
garantindo que a doutora logo estaria de volta.
O homem insistia e exigia que ele fosse imediatamente
chamá-la, onde quer que se encontrasse, tudo sob ameaça explícita de
denunciá-la numa tal de “OAB”, coisa que o menino não fazia a menor idéia do
que fosse, mas que não devia ser coisa boa, isso lá não devia.
Desligando o telefone, atônito e apavorado, o
guardinha saí à rua, pouco sabendo como
se dirigir ao fórum.
Parando numa praça avista um policial e dele se
socorre:
- O Senhor sabe onde é que fica o fórum?
- Sim, siga em frente, vire à direita e depois outra
vez, primeira à esquerda. Pronto, você vai avistar um prédio de quatro andares.
É ali.
Orientação cumprida.
Ao entrar no pomposo edifício, meio constrangido,
ressabiado, dirige-se ao balcão de informações:
- Senhor! O Senhor conhece a doutora Elza de Tal?
- Conheço, sim.
- O Senhor sabe onde ela está?
- Sei sim, ela
está na Quarta Vara.
O moleque tomou um susto e num misto de surpresa e
incredulidade, não se conteve:
- Já? Será? Na quarta Vara? Pô, mas num faz nem cinco
minutos que ela saiu do escritório.
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