sexta-feira, 30 de junho de 2017

CAUSO - FORA NÚMERO UM

Boa tarde amigos,

Concorrentes de reality show com anãs que é sucesso nos

Estados Unidos. Imagem emprestada de recopia.
Aqui vai para iniciar as férias escolares e o recesso nos trabalhos das nossas combalidas instituições, um “causo” que publiquei no livro “Causas & Causos”, o primeiro, no ano de 2.006. Não sou Luiz Gonzaga, nem safoneiro, mas tenho um compadre Januário. É ele o protagonista desse causo, que posso jurar é inteiramente verdadeiro e se passou na Campinas de outrora, no tempo em que os cinemas todos eram localizados nas ruas do centro da cidade ou dos bairros e não se pensava em Shopping Centers. Vai lá o tal causo:

Caricatura de Mulher Maravilha decadente.

Da coleção "Superheroes Decadence" do
grande cartunista italiano, Donald Sof-
fritti. Imagem emprestada do blog do
Azevedo.

“Meu compadre Januário é um sujeito disposto e agitado. Nos seus quase setenta anos bem vividos, gosta ainda de se movimentar. Há quem garanta (e eu me incluo nesse rol) que para matá-lo, basta obrigá-lo a passar um dia inteiro parado e sem sair de casa. Fato é que, em certa manhã, o compadre se oferece para levar as três netinhas à sessão gazetinha que se anunciava num cinema local, no centro da cidade. Bons tempos, os de gazetinha!!!! A sessão estava marcada para as 10 horas. Às 9,30 horas já se formava uma fila ampla do lado de fora do estabelecimento, aguardando a abertura da porta. O compadre posta-se ali na fila com as crianças. Nada da porta abrir. E ele inquieto, como sempre. Já havia conversado com as netas, com o guarda, com o pipoqueiro. Na fila, imediatamente à sua frente, viu uma menina e um senhor que a acompanhava. Ambos estavam de costas, pois o antecediam na fila. Procurando ocupar o tempo e ser simpático, passa a mão por detrás, sobre a cabeça da menina, esfregando os seus cabelos e já disparando:  - Oi benzinho, você veio assistir a Branca de Neve com o papai. Imediatamente, ambos (o suposto pai ou avô e a suposta criança) voltam o rosto para trás. E aí o compadre constata que não se TRATAVA DE CRIANÇA NENHUMA, MAS SIMPLESMENTE DE UMA VELHA ANÃ. Ensaiando um sorriso amarelo, diante dos fulminantes olhares furiosos da anã e seu marido,  limitou-se o compadre a pedir desculpas pelo engano."


Até mais ver pessoal. 

domingo, 18 de junho de 2017

CRÔNICA - A RUA E SEUS ENCANTOS

Boa noite:


Rua, lugar
De Ver Gente
Divergente.
(Eu).

A Deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar
Nos seus olhos eu suponho
Que o sol, num dourado sonho
Vai claridade buscar.
(Jorge Farah/Newton Teixeira).










Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Para o meu
Para o meu amor passar
(Mário Lago/Chocolate).

Ode à rua.

Apresento-lhes, senhoras e senhores, sua majestade, a rua, o lugar onde  se experimenta a democracia absoluta, espontaneamente, em qualquer lugar do planeta.  É o espaço onde a vida acontece, sem pedir licença. O ponto de partida e de encerramento da comédia e da tragédia do homem.  É a alma e o encanto do mundo. Desde cedo, soube disso. Ou intuí.  Fui batizado de “rueiro”. Não sei se os dicionários registram esse substantivo, que também pode ser simplesmente adjetivo. Gostava da rua. É nela que eu buscava me situar e me entender no meu contexto e no do outro, dos outros. É nela que fiz amigos que, como eu, eram também  “rueiros”, ávidos pelo cheiro múltiplo, pelo jeito, e pela sabedoria da rua.  Em busca, talvez, do inusitado. Do que existe além de mim, diferente de mim, apesar de mim.  A rua me ensinou a importância da humildade e dos limites. Ensinou-me, especialmente, que o mundo girava além do meu umbigo; o sentido da imensidão e da pequenez, o amor e o respeito  pela natureza  e a necessidade da solidariedade para a subsistência biológica e afetiva. Ensinou-me que precisamos desde cedo abrir a porta da casa e com ela abrir a porta da alma.  Experimentar a sensação da liberdade, de viver a vida no palco do universo. Sem nenhuma garantia, sem a  precisão, como na poesia de Fernando Pessoa.[1]




 Amigos,

Saí neste sábado de manhã, pelo Cambuí, o velho e charmoso espaço da cidade de Campinas, batizado em homenagem à árvore do mesmo nome e que antigamente, muito mais que hoje,  em grande número,se espalhava pelo bairro, oferecendo a trégua de sombra e encanto a moradores e visitantes. Caminhei pela Avenida Julio de Mesquita, a mais imponente do bairro. Lá adiante, perto do Hospital Irmãos Penteado, me detive, num ponto de ônibus. Um daqueles mais modernos erguidos pela Administração Pública para abrigar os passageiros, protegendo-os do sol e da chuva. Apesar de aparentemente novo notei que servia,  além da finalidade pela qual foi erguido, de uma espécie de tribuna livre, onde as pessoas, ávidas de manifestação, buscavam comunicar-se com o mundo, mandando as suas mensagens gratuitas e dirigidas ao público em geral, ou a alguns, em particular, numa espécie de vale tudo. Vi e li as coisas mais diversas possíveis. Incríveis. Inusitadas.

Ofereciam-se “maridos de aluguel” que, ao contrário do que possa sugerir a proposta, não é um convite de suprimento sexual, mas a oferta de serviços domésticos, atribuídos, no passado, por excelência, ao marido, a quem incumbiam tais tarefas no protótipo que dele fazia a sociedade machista e patriarcal. Atividades como conserto de ferro, manutenção hidráulica e elétrica e outras que o homem moderno não executa mais, por inabilidade, ignorância ou preguiça, ressalvadas as exceções, que só confirmam a regra. Ao lado, outra oferta, agora de venda e financiamento de imóvel. Tinha mais. Um convite para que, num certo site, todo e qualquer usuário do ônibus urbano, se queixasse das dificuldades e deficiências desse sistema de transporte na cidade.  Pichações clássicas encobriam parte do registro das linhas e bairros atendidos naquele ponto e, dividindo o mesmo espaço, suficiente para todos, um protesto de alguém com um “Fora Temer”.
















Finalmente, para as mulheres carentes, não interessadas em protestos políticos, nem em ônibus urbanos, nem em financiamentos de casa própria, um certo cidadão, que se dizia  cheio de amor para dar, fazia propaganda de seu dote, jurando carinho e satisfação sexual para solteiras ou casadas interessadas, com promessa de sigilo absoluto “  É a rua, lugar de todos, para todos.

Até mais amigos.





[1]“ Navegar é preciso, viver não é preciso”, trecho de poema de Fernando Pessoa, que tem sua origem, segundo uma das fontes consideradas confiáveis,  em frase  dita por  Pompeu, general romano (106-48 a.C.),  aos marinheiros amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, segundo Plutarco.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

PARIS PODE ESPERAR - CINEMA PARA MOSTRAR A FRANÇA E SEUS ENCANTOS

Boa tarde amigos, 

A charmosa atriz, Dna Lane, no seu personagem Anne, em

cartaz de propaganda do longa Paris Pode Esperar. Ima--

gem emprestada de CinePOP.
Paris Pode Esperar (2.016)  filme americano de  Eleanor Coppola  é uma ode  à França e à gastronomia e cultura francesas. Na linha de Comer, Rezar, Amar (2.010) do diretor Ryan Murphy,  Eleanor, que também responde pelo roteiro, aborda a mesma temática universal tendo como pano de fundo, o drama do homem moderno, envolvido com compromissos e  refém da obstinada busca pelo  sucesso, poder e dinheiro (no longa representado pela cultura americana), o que o torna  carente de profundidade nas relações familiares e afetivas. O anseio agora é o de um novo modo de vida,  que o aproxime da essência das coisas e das relações humanas de compartilhamento da dor e do prazer.  A beleza da natureza, da arte, da gastronomia, da enologia, entendidas e vivenciadas como substratos da vida que merece ser vivida  se misturam como mensagem nesse filme que conta a história de Anne (Dana Lane), esposa e fiel acompanhante do marido, o famoso produtor de cinema, Michael, (Alec Baldwin) e  que, por circunstância de saúde, não viaja de avião com o marido para a capital da França, como inicialmente planejado.  O percurso da rota Cannes-Paris é feito todo de automóvel, na  companhia do amigo e sócio dele, o co-produtor Jacques Clèment (Arnaud Viard),  um francês solteirão e sedutor que a cobre de atenção e gentilezas durante o percurso,  estendido com desvios propositais para ver, sentir e  não perder as preciosidades da rota que remete à Riviera Francesa. Ilustra a diferença das culturas, a crítica contida no diálogo tomado em um dos restaurantes mostrados no filme, em que Jacques, dirigindo-se à companheira americana observa: - Vocês americanos precisam de uma razão para tudo. Nós, ao contrário, comemos o que gostamos. A proposta da diretora, uma documentarista por excelência, é atingida plenamente no seu novo incurso agora pelo gênero da ficção. Sem realizar nenhum grande filme, logra, o entanto, manter o interesse do espectador, que em nenhum momento sente enfado, mesmo em cenas banais e repetidas de restaurantes e explicações sobre comida e bebida. O intento é muito auxiliado pela ótima trilha sonora e especialmente pela fotografia, numa grande contribuição da direção de arte. O espectador viaja com os personagens e flerta com as curiosidades sobre iguarias da cozinha francesa e a imprescindível participação das ervas e dos cheiros na sua famosa gastronomia, com os museus, como o Lumière, que mostra um pouco dos irmãos que fizeram nascer a sétima arte e com a presença da arquitetura romana da idade média. Vá ao cinema como o estudante ou trabalhador que gazeteia. Celebre a vida!  Depois estique a noite com os amigos numa boa cantina, curtindo o prato de sua preferência, regado a um bom vinho francês. E vá dormir tendo certeza de que la vie est rose.

Até breve amigos.