“O dramático empate sem gols nesta sexta-feira, no Brinco de
Ouro, ratificou a permanência na série B do Campeonato Brasileiro e, ao mesmo
tempo, rebaixou o Luverdense com uma rodada de antecedência. É pouco para a
história dessa camisa, mas serve de presente aos 6.648 torcedores que foram ao
estádio” (globoesporte.com.)
Boa noite amigos,
O meia Fumagalli, ídolo do Guarani, que provavelmente
encerrou sua carreira como jogador de futebol no jogo
contra o Luverdense. Imagem emprestada de meninosdavila.
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É, sem
dúvida pouco mesmo para a história dessa camisa que na segunda metade do século
passado fez impressionante história no futebol nacional, com um título de
campeão brasileiro (1978), dois
vice-campeonatos (1.986 e 1.987) e, ainda, de campeão da chamada Taça de Prata,
correspondente à 2ª. divisão do brasileiro. Guarani e Ponte, na década de 70,
converteram a cidade de Campinas na capital do futebol nacional e o refinado e
competitivo futebol que praticavam foram
considerados pelo Le Monde da França, como a mais fina
flor do futebol brasileiro naquela época. Mas a realidade desse século é bem outra. Ao contrário de sua principal rival, o clube,
assolado por sucessivas crises políticas e financeiras, deixou o futebol, razão
maior de sua existência, à deriva, e as equipes montadas e
desmontadas, foram escrevendo episódios de participações pífias, com sucessivos
fracassos e rebaixamentos, a ponto de hoje nem sequer figurar entre os times que disputam primeira divisão nacional e paulista. Assim, foi com muito esforço
de uma equipe formada praticamente na temporada, e com um orçamento
infinitamente menor do que o do Internacional de Porto Alegre, ou do Goiás, que
também jogam a mesma competição neste ano, que se manteve, na penúltima
rodada, livre do ameaçado rebaixamento para a série C. Ontem, fui ao Estádio
ressabiado, como sempre. E como era de se esperar, foram rigorosos 99 minutos
de apreensão, até o apito final do árbitro, que selava, definitivamente, a
sorte da partida e dos concorrentes: a da bravo Luverdense, que jamais se entregou, teve domínio
territorial e ameaçou seriamente a meta do goleiro Leandro Santos em pelo menos
três oportunidades reais de gols, mas que amargou um rebaixamento esperado, desde a derrota, em casa, na rodada
anterior, para a equipe do Boa; a do
Bugre que, finalmente, depois de tantos empates indesejados em seus domínios,
perseguiu senão a vitória, que não veio, ao menos a agora suficiente igualdade
que o livra da degola. O Bugre jogou pelo empate? Não, absolutamente.
Richarlison meteu uma bola na trave, num lindo lance que merecia morrer nas
redes e Paulinho perdeu um gol incrível aos 46 do segundo tempo, quando teve,
em suas mãos, livre e escancarada, a chance de inaugurar o marcador. Como
franco atirador e precisando desesperadamente da vitória, o protagonista foi o
adversário matogrossense que jogou um bom e eficiente futebol na defesa e no
meio campo, pecando, porém, nas conclusões, enquanto o Bugre contou também com
uma boa postura de sua defesa para segurar o marcador, sem, contudo, conseguir, como pretendia, executar
com perfeição os contra-ataques a que se propunha e o rival oferecia, inúmeros no decorrer da partida. Um 0 a 0,
pois, como se disse, precioso pelo seu significado e que foi comemorado pela
torcida, pelos jogadores e pela comissão técnica como se fosse um título.
FUMAGALLI
A disputa estava acirrada como nunca. O placar teimava em não
sair do zero. Um zero a zero que seria suficiente para evitar a degola do
Bugre, desde que o adversário não balançasse as redes, condição que ninguém se
atrevia a garantir naquela altura do espetáculo. Eram 09 minutos do segundo tempo quando o
representante da Federação ergue as placas indicativas de substituição no
Guarani. Sai Fumagalli, entra o jovem
Luiz Fernando. Nesse momento, se encerrava, ao menos supostamente, a carreira
de um grande e querido jogador de futebol. De um dos mais importantes atletas
que passaram pelo Guarani Futebol Clube,
desde sua fundação. José Fernando Fumagalli, aos 40 anos, dera muitas
entrevistas anteriores, salientando que ao final desta temporada, encerraria
sua carreira como jogador de futebol. O estádio todo ficou em pé, aguardando a
saída do atleta para homenageá-lo. E ao se dirigir para a lateral do campo,
acompanhado pelo árbitro, que queria pressa na substituição, Fuma foi aplaudido
de pé pelos quase 7.000 torcedores presentes, que entoaram o famoso grito de
guerra conhecido dos bugrinos e temido pelos adversários: Fumagalli eh, eh; O Fuma Gol. Lágrimas rolaram dos olhos do atleta,
emocionado, acenando para a multidão que o reverenciava, com muita justiça. Mas
ainda não era tempo de comemorações. Nem de falar da história gloriosa dessa
carreira. O jogo corria solto e o atleta esperou o apito final, que selaria a sorte
de seu amado clube na competição para daí, aliviado, atender a uma multidão de
repórteres que se acotovelavam à cata de seu depoimento. Atendendo a todos com
a elegância e a humildade que o caracterizam como homem e profissional, então,
aos prantos, destacou a união, a expectativa e o sofrimento dos últimos tempos
e especialmente da última semana em que, sem ser escalado teve que seguir com a
equipe para Londrina, pelo seu fundamental papel de líder junto ao elenco. E a
despeito da derrota no Estádio do Café, foi chamado também à concentração
com os colegas para o confronto do final
de semana contra o Luverdense, decisivo para as pretensões do Bugre de
permanecer na série B do Brasileiro. Falou de seus temores, da responsabilidade
que pesava sobre seus ombros, do filho pequeno que se negava a dormir sem a
presença do pai, da importância da família que lhe deu o apoio necessário para
que pudesse se dedicar nesses momentos, integralmente ao clube e aos colegas,
no objetivo traçado e perseguido. Não há ainda certeza de que o atleta efetivamente
encerrou sua carreira como jogador, na sexta-feira. Pode ser que decida ainda
jogar o campeonato paulista da série B, ou alguns jogos, ao menos, com a
intenção de ver seu clube retornar à primeira divisão do Paulista no ano que vem, se o clube
renovar o seu contrato. Não há nenhuma censura nessa incerteza que invade os
homens de bem e que são importantes naquilo que fazem nesta vida. Pelé se
despediu inúmeras vezes da carreira.
Hebe Camargo também. E mais recentemente, o piloto Felipe Massa. A importância de Fumagalli para a história do
Guarani não se restringe ao campo de jogo, embora neste, os números sejam impressionantes:
89 gols que o converteram no quarto maior artilheiro do Bugre, à frente de Neto, Jorge Mendonça, Zenon, China, Evair e Renato Pé Murcho, superado apenas por Careca com 118, Nenê com
mais de 120 e Zuza, recordista com 149 gols. Dos 89 gols assinalados foram 35
de penalidades máximas, 10 de faltas, que cobrava com perfeição, especialmente do
lado esquerdo e 2 gols olímpicos. Gols ou assistências, que levaram o Bugre, em
2.012, ao vice-campeonato paulista daquele ano, derrotando, nas quartas e na semi-final,
respectivamente, o Palmeiras e a Ponte Preta, dois potentes e qualificados
adversários. Três gols e uma assistência na impressionante goleada de 6 a 0 sobre o ABC no
vice-campeonato brasileiro da série C de 2.016. Não, não! Além disso, Fumagalli foi importante
fora do campo. Sua serenidade, seu respeito pelo corpo, seu comprometimento com
a carreira, com o clube e a torcida eram evidentes, mesmo nos momentos de crise
administrativa e financeira, que quase sempre interferiam negativamente no
campo de jogo. Fuma vivia e respirava o Brinco. Algumas vezes pude observá-lo
de longe, sem que ele soubesse da minha existência, por nunca termos sido
apresentados, durante a semana, no Shopping Center ou em restaurantes de Campinas, acompanhando
atletas muito jovens que tinham sido contratados ou emprestados ao Guarani, aos
quais recebia carinhosamente como bom anfitrião, para ambientá-los na cidade e
no clube. Alguma dúvida sobre a sua enorme relevância dentro e fora do campo? O
torcedor não tem nenhuma e espera, senão contar com o seu futebol por mais uma
temporada, que ele assuma logo função que faça jus à sua história, ao seu
talento, ao seu amor pelo clube e ao seu caráter como homem e profissional. Que
Deus dê ao Fuma e à sua família, saúde e harmonia que eles merecem. A nós torcedores
só resta dizer: Obrigado Fuma. Você faz parte da história deste clube e desta
camisa. E sabemos que, na sua modéstia, por essa história que você escreveu no
Guarani e o respeito que conquistou, você tem o maior orgulho. Nós também
temos. Forte abraço.
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