sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A NINA MORREU...


Boa tarde amigos,


Imagem de gato emprestada de Petz.
A Nina morreu. Quem me comunicou aos prantos foi minha filha. A Nina era uma gata que há 15 ou 16 anos foi adotada por nós, por insistência de minha filha. Ainda com poucos meses de vida a gatinha estava sendo oferecida numa feira, para adoção, na cidade litorânea de Bertioga.  Nunca tive paixão por animais. Se quisesse conviver com um talvez optasse pelo cachorro  que, segundo a literatura e a experiência dos donos, é mais amoroso e fiel, ao contrário do gato, em regra  egoísta e mal agradecido. Deve ter alguma virtude, mas confesso a minha ignorância e o meu desinteresse pelo assunto. Pois bem, vindo  conosco para Campinas quem cuidava mesmo dela era minha sogra, que sempre morou conosco até falecer. Pessoa de muitas virtudes e solidária,  Dona Geny não deixava faltar nada ao bichinho. Alimentação diária adequada, segundo os nutricionistas. Passeios matinais dentro do limites do condomínio ou pelas redondezas. E carinho, muito carinho. Com a morte da sogra,   a função foi assumida por minha mulher, cuja dedicação supriu necessidades materiais e afetivas da felina. Quanto à minha filha, mãe adotiva, não preciso dizer que se casou, mudou, mas deixou a Nina sobre nossos cuidados, avós maternos e eternos provedores. Bem, resumindo:  depois de uma vida de recursos e tranquila,  a Nina teve, anteontem,  uma parada respiratória logo após uma cirurgia para extração de nódulos decorrentes de um  suposto câncer. E a veterinária garantiu que a cirurgia foi bem sucedida e que a parada respiratória ocorreu depois, durante a recuperação.  Foi mesmo? Estou em dúvida. A vida da Nina, a gata, foi  boa? Outra dúvida.  Teve alimentação farta e adequada e carinho dos seus donos. Mas também foi castrada e morou dentro dos limites de apartamentos e casas. Uma vida sem liberdade, sem aventura, sem filhos, sem parceiro ou sexo. Uma vida que a ela foi imposta contra a sua natureza animal. Nunca concordei com a maneira como os homens tratam os bichos. Pensei, como homem da lei, em invocar, por analogia, em benefícios dos animais submetidos a essa vida encarcerada, o princípio da dignidade da pessoa humana (no caso, felina).  A liberdade ē um direito fundamental e inalienável e deve ser estendida aos animais, porquanto vinculada à natureza de um ser vivente, um semovente, que não precisa de ninguém para existir.  Ninguém pode ser feliz sendo forçado a sublimar a sua natureza. Outra coisa: da mesma maneira que os avanços da medicina, da engenharia genética, da nanotecnologia, permitem hoje que a vida humana se prolongue,  é quase certo que teremos um câncer,  em qualquer  de seus tipos, depois de 80 anos.  Trata-se de uma contingência igualmente vinculada à natureza humana. Gastamos, como gastam as máquinas. O corpo, a única forma com que existimos neste mundo, envelhece e as suas engrenagens tão bem concebidas, começam a falhar e a não funcionar como e para o que  foram programadas.  Nem venham dizer que se você fizer exercícios regulares, tomar vitamina, não comer carboidratos ou proteínas, não fumar, não beber etc etc. você ficará livre disso. Tenho múltiplos amigos que nunca fumaram, nem beberam, fizeram exercícios, e já se foram desta vida. Alguns vítimas de acidentes (vascular cerebral ou de trânsito). Pior que o  atropelante nem quis saber do estado de saúde de sua vítima, se era gorda ou magra, jovem ou velha, se o colesterol estava alto ou baixo, se era pobre ou rica.  Nenhum cuidado exagerado que possamos ter se justifica se subtrair de nós, a liberdade e o direito de viver ou ser feliz, segundo a nossa maneira de ser e existir. Bem, voltando ao nosso tema, Se a vida da Nina foi boa? Dizem que foi. Eu discordo. E ela não teve como se manifestar a respeito. Resta-nos a dúvida insuperável. Tudo bem que, da forma como foi tratada (comida à vontade, de boa qualidade e farta, sombra e água fresca) a presunção seria de que a vida dela foi boa mesmo, porque quem é que não gosta dessas coisas. Mas, cuidado! Lembrem-se da advertência do saudoso Bernard Shaw: “Não faça aos outros, o que gostarias que fizessem a ti. O gosto deles pode não ser o mesmo.” A Nina morreu. E com ela a incógnita de saber se ela achou que a vida dela foi boa ou não. Mas será que gato “acha” alguma coisa?

Até mais amigos.


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