domingo, 10 de novembro de 2019

JORGE LUIZ DE ALMEIDA - O JORGE PILHA FRACA


Boa noite amigos,


Dr. Jorge, primeiro a esquerda, em solenidade de entrega de
diploma. Foto emprestada de Diplomação do Acadêmico -
Fundador Advogado Douglas Mondo.
A voz era um misto de  suavidade e rouquidão,  caracteres que o talento, o bom humor e  a irreverência de um jovem estudante a ele conferiu a alcunha de “Jorge Pilha Fraca”.  O epíteto  se generalizou carinhosamente no ambiente acadêmico.  O tom sempre baixo da voz transmitia uma humildade que convidava ao encontro, ao entendimento, à harmonia. Assim se apresentava sempre esse homem que marcou sua longa passagem por este mundo com respeito ao próximo e  sabedoria, lucidez e objetividade, em todos os setores de sua vida pública e privada. Nossa amada Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade de Campinas, a Faculdade Padre Anchieta de Jundiaí, a Universidade Metodista de Piracicaba, as Faculdades Integradas de Itapetininga,  foram alguns dos centros de ensino e pesquisa em Direito que tiveram o grato privilégio de sua comprometida docência.  Marcante foi a sua influência nos milhares de alunos de graduação e pós-graduação, os quais conquistou  com seu talento, sua erudição e seu carisma e com um ensino voltado para um direito democrático, para a  filantropia, para os necessitados. Havia nele uma enorme disposição em servir, orientar, sugerir, corrigir os moços,  inseguros nos apelos, sonhos e perigos  da juventude. Não vou falar de seu passado no Ministério Público, instituição que certamente honrou com sua disciplina, seu incansável labor em favor dos que não tinham voz, numa árdua e contínua tarefa, da qual ouvi falar com entusiasmo e empolgação. Nem da Magistratura como Desembargador do TJ  de  São Paulo, onde sei que se destacou entre os pares, contribuindo, com seu exemplo e sabedoria,  para decisões justas e equilibradas e o aprimoramento da jurisprudência.  Fui alvo de sua generosidade em muitos momentos de minha vida pessoal e acadêmica. No início dos anos 80, quando coordenador do departamento de direito processual civil, me convidou para participar do projeto de   um novo modelo de assistência judiciária aos necessitados; um centro que, sem prejuízo de extensão como valioso serviço à comunidade carente, se notabilizasse pela complementação segura, técnica e ética, na formação de nossos alunos, futuros bacharéis. E, aprovado o projeto,  incumbiu a mim de dirigir esse novo departamento na sua implantação, para que não se desviasse de suas finalidades. A assistência judiciária dr. Carlos Foot Guimarães, como foi batizada, foi uma das minhas múltiplas moradias e paixões entre 1982, quando assumi a coordenação geral, até 1987, quando ingressei na magistratura e tive que deixar a coordenação. Mas aí está firme, mercê da permanente vigilância de meus sucessores e do empenho de funcionários, alunos e advogados professores, que o mantém com a excelência e a ética com que foi pensado e constituído. Ficou na minha memória uma  certa  noite em que levei Dr. Jorge até a Estação Rodoviária onde iria tomar um ônibus para sua Jundiaí. Estava eu prestes a prestar concurso para a Magistratura. Durante o trajeto  até o estacionamento, ele pôs  o braço direito entre o meu braço esquerdo e, enquanto assim caminhávamos  com os braços entrelaçados, me concedia o privilégio de suas advertências, conselhos e orientações, quase ao pé do ouvido, profundamente pertinentes para meu futuro desempenho como magistrado. Doutor Jorge nos deixou há duas semanas, quase um século depois do dia em que veio iluminar o mundo na sua sempre amada terra natal, - Itapetininga. Deixou esposa e uma família ilustre e bem constituída. E uma contribuição imensurável à educação, à cultura e à sociedade de seu tempo, favorecida com o seu trabalho e a sua forma sensível e humana que elegeu para viver e conviver neste mundo. Aos familiares minhas sinceras condolências. A  ele minha gratidão e saudade. Eternas, enquanto eu existir, na inspirada poesia de Vinícius.


Boa noite e até breve.



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