Amigos,
Uma improvável parceria decorrente do acaso fez nascer um dos
clássicos da música popular brasileira. Em maio de 1.957 o selo Continental
lançava a gravação de um samba-canção chamado BOM DIA TRISTEZA. Letra de Vinícius
de Moraes, música de Adoniran
Barbosa, um compositor paulista da terra que um dia, por descuido e
posterior arrependimento, o poetinha chamaria de “Túmulo do Samba”. Há duas versões para
o nascimento do samba. A primeira é que Vinícius,
embaixador do Brasil na França,
escrevera esses versos numa folha de papel, que posteriormente enviou para sua
amiga Aracy de Almeida, dizendo que ela fizesse daqueles versos o que
quisesse. Aracy então, companheira,
a esse tempo, de Adoniran na TV Record de São Paulo, entregou os
versos a este, propondo que ele musicasse.
Adoniran, na década de 60, entrevistado por Elis Regina durante participação no Fino da Bossa, famoso
programa comandado pela Pimentinha na época, confidenciou
que achou os versos belíssimos, mas tristes e delicados, entendendo que merecia
uma música adequada, um samba-canção, pensou, do tipo “dor de cotovelo”. E
assim, sem que os compositores nem sequer se conhecessem surgiu o “BOM DIA TRISTEZA”: “Bom dia tristeza/que tarde tristeza/você
veio hoje me ver/estava ficando até meio triste/de ficar tanto tempo longe de
você/ Se chegue tristeza/Se sente comigo/Aqui na mesa de bar/Beba do meu copo/E
me dê o seu ombro/Que é para eu chorar/Chorar de tristeza/Tristeza de Amar.” A
canção foi cantada e gravada por muitos famosos, além do próprio Adoniran.
Maysa, Chico Buarque de Holanda, Elis Regina, Altemar Dutra, Roberto
Ribeiro, Jair Rodrigues, a “divina” Elisete Cardoso, foram algumas das
celebridades que registraram, para sempre, o som e os versos da triste e suave
canção. E, sem dúvida, também Aracy
de Almeida, a amiga destinatária dos queixumes do poetinha, escritos, como
se supõe, num dos múltiplos rompimentos com parceiras que suscitaram inúmeras
paixões. A segunda versão da história é igualzinha a primeira, apenas
divergindo sobre o palco em que Vinícius
teria escrito os versos (eles não teriam origem em qualquer canto de Paris, mas sim num bar que o poeta
frequentava no Rio de Janeiro e isso
depois de goles generosos de seu “cachorro engarrafado” e tendo um
guardanapo como veículo de assentamento). Ouvi muitas das gravações da música,
inclusive a de Aracy de Almeida. E
essa gravação me chamou a atenção pois a cantora troca a ordem dos versos na
segunda estrofe e com isso provoca um esquisito desajuste. Em vez de dizer “Beba do meu copo e me dê o seu ombro, que é para eu chorar”, diz, “Me dê o seu ombro, beba do meu copo, que é para eu
chorar”. Pô? Chorar no ombro é legal, mas no copo...? Vale a pena conferir.
P.S. A propósito de
Elis e Vinícius, quem primeiro chamou o compositor de “poetinha” foi Elis em
momento de fúria reclamando dele quanto à proposta de participação dela no
filme “Garota de Ipanema” onde deveria aparecer e cantar, em dupla com Chico
Buarque, Noite dos Mascarados (o episódio foi substituído por uma gravação). Vinícius, comentando a declaração da cantora,
é que a chamou de “Pimentinha”. Curioso é que ambos posteriormente voltaram a
se entender, mas os dois apelidos se juntaram a eles para sempre.
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