sábado, 10 de maio de 2025

POXA!


Amigos, boa tarde.


Imagem da publicidade da novela
Garota do Momento, um sucesso
de audiência na TV Globo.

Acordei neste sábado pedindo para a Alexa da minha cabeceira tocar sambas antigos. Logo na segunda música, identifiquei uma canção de Benito Di Paula, dos anos 70, cujo título é Poxa. Os menos jovens certamente vão se lembrar da letra delicada e cadenciada: Poxa, como foi bacana te encontrar de novo/Curtindo um samba junto com meu povo/ Você não sabe como eu acho bom/. Imediatamente me ocorreu que há muitos anos não ouço ninguém usar a expressão Poxa! Teria “caído de moda?” na gíria usada no meu tempo de moço. E se o verbete Poxa não se ouve mais, teria sido substituído integralmente  por Porra? Já esse último se escuta a toda hora, em todo canto e campo, a ponto dos canais de televisão nem se preocuparem em tirar o som quando o convidado, entrevistado ou o “professor” (tratamento atribuído pelos jogadores de futebol ao seu técnico), soltam a expressão, indignados com o gol certo perdido ou a cagada do zagueiro, no gol do adversário. Bem fui procurar nos dicionários mais prestigiados o significado de ambas as expressões, no meu estilo antigo de observar as comparações entre os lexicógrafos, no estilo comparativo e agora artesanal, esperando concluir que: ...”O Aurélio cita a expressão, blá, blá, blá.”  Já o Caldas Aulete considera que...........” Que nada! A IA já entrou em ação e mandou logo essa:  "Poxa" e "porra" são duas interjeições em português que expressam emoções, mas com nuances e contextos diferentes. "Poxa" é mais suave e usada para expressar surpresa, tristeza, aborrecimento ou admiração, enquanto "porra" é uma palavra vulgar e forte, utilizada para expressar raiva, irritação, descontentamento ou espanto.”  Falou! O certo é que as expressões não devem ser usadas como sinônimas, embora “porra” seja citada, em alguns dicionários, como um dos correspondentes de “Poxa", que por sua vez é destacada como um eufemismo de “Puxa”.  A delicadeza de uma não se encontra na outra. Mas o fato é que o dia-a-dia o verbete “porra” ganhou infinitos significados, como o tal de “trem” para os mineiros, uai!, extrapolando, em muito, expressões de raiva, irritação, descontentamento ou espanto. Na oração   -   “como funciona essa porra, irmão?” é utilizada como substantivo, no lugar do objeto que o sujeito não conhece ou não sabe, ou não lembra o nome. Em:  “não entendo porra nenhuma dessa matéria”  é usada para afirmar a completa ausência de entendimento sobre a matéria lecionada ou estudada. Na Bahia, é usada também como um elogio, exaltação a algum ato, coisa ou qualidade da coisa. A Folha de São Paulo, edição de 15 de outubro de 2.013, registrou a seguinte assertiva: - "Eita liquidação da porra”.  Conclusão: enquanto a palavra Porra vai ganhando, a cada dia, um campo vasto de utilização, gerando sinônimos quase infinitos, deixando de lado o viés pornográfico que já teve no passado ou o seu sentido mais puro (esperma, sêmen, órgão sexual masculino), o educado “poxa” vai perdendo prestígio como uma delicada manifestação de carinho, de saudade, ou de respeitosa expressão de insatisfação. E se você, por acaso, acabar utilizando a última, corre o risco do seu netinho rir e  advertir: “Não é poxa vovô, é porra.” Ou então, expor o seu estranhamento, assim literalmente:  “- Vô que porra é essa?”

Bom final de semana e parabéns as mães de todo o mundo pela glória e nobreza da maternidade.

P.S(1) – A direção da novela “Garota do Momento” ora exibida pela TV Globo, no horário das 18,25 horas, tem sido cuidadosa na utilização, pelos personagens, de linguagem e gírias que vigoravam em nosso país, ao tempo em que se passa o folhetim, mais precisamente, no final dos anos 50, início dos anos 60. Mas nesta semana o personagem Raimundo (Danton Mello),  para meu espanto, disse que uma certa pessoa já chegara "causando". O verbo “causar” tanto na época da novela, como até hoje, é transitivo direto e eventualmente bitransitivo ("O discurso do Presidente causou apreensão entre os seus eleitores"). Recordo perfeitamente que lá pelos anos 90 ou 2.000, eu indaguei de um dos meus alunos que se referia a alguém como pessoa que estaria “causando” e ponto final.   o seguinte: “Está causando o que?”, sem entender essa gíria moderna, mas  que não existia, absolutamente,  ao tempo em que se passa o folhetim. 

 

 

  

domingo, 4 de maio de 2025

BOI, BOI, BOI, BOI DA CARA PRETA




Bom dia amigos,

A morte de Nana Caymmi nesta semana foi bastante sentida, tanto pela classe artística, parentes e amigos, como pela legião de fãs que a cantora construiu durante seus 84 anos de vida. Dona de um timbre vocal ímpar, Nana se notabilizou pelo extremo bom gosto na escolha do repertório e pode ser considerada a mais especial intérprete das canções do pai, o compositor Dorival Caymmi. A propósito do nosso saudoso Caymmi, Nana cantou como ninguém o Acalanto do pai que o pessoal todo da minha geração e, talvez, da geração seguinte, de minha filha e genro, conhece como música de ninar. /É tão tarde, a manhã já vem/Todos dormem, a noite também/Só eu velo por você, meu bem/ Dorme, anjo, o boi pega neném/Lá no céu deixam de cantar/Os anjinhos foram se deitar/Mamãezinha precisa descansar/Dorme, anjo, papai vai lhe ninar. E aí o desfecho inusitado: boi, boi, boi/boi da cara preta/pega essa menina que tem medo de careta/ Como assim, é sério que é para assustar a menina mesmo? Bem a canção foi composta por Dorival para sua primogênita, ou seja, a própria Nana, no ano de 1.942, mas só ganhou uma gravação de estúdio em 1.960. Imagino que hoje a blitz do politicamente correto teria muitas objeções contrárias a essa letra, algumas supostamente sugerindo incidência do compositor mesmo em normas criminais. A defesa dos animais veria aí uma ofensa contra a dignidade do boi, que não existe para assustar ninguém, muito menos criança. E a cara preta do boi seria preconceito ou mesmo racismo? Mas Dori era negro e em sua defesa poderia invocar a inexistência de crime de autopreconceito ou autoracismo. Por fim, com certeza ele não escaparia do crime de tortura contra criança previsto no artigo 1º, inciso II, da Lei 9.455/97, ainda com a agravante de crime contra descendente, como decidiu recentemente a 5ª. Turma do STJ. Contudo, sites especializados na vida de ambos (pai e filha) garantem que Nana nunca teve medo de nada. Sem papas na língua certamente botaria esse boi de cara preta pra correr. E aí? Crime sem vítima ou crime de maltrato a animal? 

Até mais amigos.

sábado, 22 de março de 2025

O REMAKE DE "VALE TUDO"

 

Boa noite amigos, 

Imagem de Beatriz Segall a Odete Roitmann
da versão originária da novela.

A Rede Globo de Televisão, no seu centenário, e a TV Globo,  no seu sexagésimo aniversário,  resolveram apostar no remake de uma de suas notáveis novelas do passado, para superar a crise decorrente da perda de audiência e da concorrência com a diversificação dos streamings. E assim, a eleita foi VALE TUDO, novela de Gilberto Braga e Aguinaldo Silva,  que em 1.988 e 1.989, anos de sua exibição, atingiu médias elevadas de audiência e praticamente parou o Brasil no capítulo em que se revela a autoria do assassinato da vilã Odete Roitmann  (Beatriz Segall). Andei lendo que na nova versão, a escolha para essa personagem, não foi fácil,  e várias de nossas experientes e grandes atrizes foram cogitadas, incluindo Fernanda Torres, que não pode aceitar o convite por causa das viagens pelo mundo na divulgação do filme “Ainda estou Aqui”, película que recebeu mais de quarenta prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. No final, a escolha recaiu sobre Débora Bloch, cujo talento e competência na dramaturgia é incontestável. A tarefa, contudo, para qualquer uma que fosse eleita, seria árdua e desafiante, diante da antológica criação da personagem pela hoje falecida atriz Beatriz Segall, a ponto de ser impensável e até, digamos, impossível separar uma da outra. Vários atores do novo elenco, ouvidos, incluindo a autora da adaptação, Manuela Dias, fizeram questão de ressaltar a atualidade do enredo, decorridos mais de trinta anos. Bem, versando a novela sobre questões éticas (para vencer na vida qualquer meio é aceitável? Vale tudo?), associados às carências ou contingências humanas de ontem e de hoje (o alcoolismo invencível da sensível e carente personagem Heleninha, tão bem desempenhada pela  veterana Renata Sorrah), a obra estaria mesmo sempre atualizada, como continuam atuais, quinhentos anos depois, as peças do maior dramaturgo inglês de todos os tempos, Sir William Shakespeare, exatamente pela abordagem de temas universais e atemporais decorrentes de  comportamentos e conflitos típicos do ser humano,  desde o surgimento da espécie há 200.000 anos.  Por outro lado, esse nosso Brasil não mudou quase nada nesses trinta anos decorridos. A manutenção da trilha sonora de abertura, com Gal Costa interpretando Brasil, de Cazuza, foi acertada na minha opinião, considerado o  ambiente em que se passa a obra.  Agora esperar a estreia e conferir.

P.S. Na nova versão a Heleninha será interpretada por Paola Oliveira. Comentei com minha mulher que não vejo na atriz, ao menos antes de vê-la construindo o personagem, a cara da “Heleninha”, como via em Renata Sorrah. Aliás, considero que uma das tarefas mais difíceis para qualquer artista é interpretar de forma convincente a imagem de um bêbado, uma pessoa alcoolizada para além da conta. Ressalvo, na área da comédia, a competência do impagável Tom Cavalcante, transmitindo, embriagado, um jogo de futebol.

 

Abraço e até mais.

 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

O HAVER - VINÍCIUS DE MORAES

Boa tarde amigos,



Na vasta antologia do poeta, compositor, músico e diplomata,  Vinícius de Moraes, encontra-se  um poema profundo, denominado O HAVER,  que teria sido alterado em parte pelo autor, algumas vezes, sem que ocorresse, contudo,  mudança na sua essência. Musicado pelo também compositor, Edu Lobo e bastante complexo, na  opinião dos mais variados críticos literários, especialistas em sua obra,  é fruto de uma reflexão  do "poetinha", (epíteto que lhe atribuiu um dia a saudosa cantora Elis Regina) a respeito da natureza humana e sua contingência (Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo. Perdoai. Eles não têm culpa de ter nascido).  Nele Vinícius, com rara maestria, vai construindo seu pensamento, por meio de  metáforas  (Resta esse coração queimando como um círio numa catedral em ruínas, essa tristeza diante do cotidiano ou essa súbita alegria ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória....), pelas quais expressa os seus sentimentos acerca da vida e da morte, da tristeza e da alegria, da culpa,  das injustiças sociais, da pequenez do homem diante do universo (Resta essa imobilidade, essa economia de gestos, essa inércia cada vez maior diante do infinito),  da auto-comiseração e da  suposta inutilidade dos poetas e de suas poesias para mudar a realidade  (Resta essa vontade de chorar diante da beleza, essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido, essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa piedade de si e de sua inútil poesia e sua força inútil). E conclui o seu lamento, a sua catarse, à espera da  morte inevitável,  na figura de uma mulher e que chega,  como uma velha amante, agora sua mais  nova e definitiva companheira  (Resta esse diálogo cotidiano com a morte. Esse fascínio pelo momento a vir, quando emocionada ela virá me abrir a porta como uma velha amante. Sem saber que é a minha mais nova namorada).  Sem o prestígio de outras poesias e composições de Vinícius, como o Soneto da Fidelidade, Garota de Ipanema etc. etc., considero esse um dos mais relevantes poemas da segunda geração do modernismo brasileiro, ao qual pertencia o artista.

Grande abraço amigos!



 

 

sábado, 8 de fevereiro de 2025

ESFINCTERES E A VIDA QUE SEGUE

 

Bom dia amigos,


Cá eu dando tratos a bola, o que não me é incomum, acabei por imaginar um comparativo entre a anatomia do ser humano e a sua vida, que segue sempre em frente, apesar dos pesares. Explico: Quando o Criador esboçou a anatomia do corpo do homem e da mulher,  não esqueceu de enchê-la de  cavidades e de ..... esfíncteres!   Isso mesmo. Esfincter é o nome genérico dado aos músculos circulares que fecham as cavidades a que correspondem. Temos vários: esfíncter da bexiga, da boca, da vagina, do ânus, do esôfago. Em suma, tudo que ingerimos, que entra pela boca, deve seguir o seu destino pelos órgãos que integram o sistema digestivo. E os alimentos,  transportados e transformados em vitaminas, proteínas, minerais, carboidratos, etc., vão seguindo o seu rumo até que as sobras inaproveitáveis sejam expelidas. O perfeito desempenho das esfíncteres garantem o funcionamento natural dos nossos órgãos no exercício de suas funções. Aqui nada do tal  “junto e misturado”.  Não há, ou não deve haver nesse processo, retorno.   Assim também ocorre com a nossa existência. Não podemos viver ou nos prender ao passado. Ele já não existe. Um enorme esfíncter chamado “tempo” se encarrega de fechar  cada ciclo, obrigando-nos a viver sempre e apenas o presente na perspectiva de um futuro ignorado. A lógica da anatomia humana e dos processos do sistema digestivo vale igualmente para a vida. Bora, então, meus amigos, vivenciar com intensidade o momento presente, seja de festa ou de luto. E em seguida, fechar o ciclo. Do passado nos restam apenas as lembranças e as experiências. Do futuro, sempre hipotético, precisamos no presente de  bons e nobres projetos,  na mira dos quais encontramos, a cada dia,  razão ou objetivo para caminhar na trajetória incerta dessa vida terrena e contingente.

Forte abraço.

 

P.S. (1) A imagem acima, de parte do corpo humano, simula uma esfincter do estômago.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

SETENTA E TRÊS ANOS - FELIZ ANIVERSÁRIO.

TREZE

VINTE E TRÊS

TRINTA E TRÊS

QUARENTA E TRÊS

CINQUENTA E TRÊS

SESSENTA E TRÊS

SETENTA E TRÊS

........

OMISSIS

Omissis.

..............

 

 

 

 

 

 


domingo, 19 de janeiro de 2025

GATOS AMERICANOS


 

Boa tarde amigos aí do nosso Brasil.

 

 

Aqui, em Orlando, na Flórida, são exatamente 12,00 horas do domingo, dia 12 de janeiro do recém inaugurado ano de 2025, duas horas a menos que aí, no hemisfério sul. A sequência de fotos que acompanha essa postagem revela um pouco da saga, ao menos com algum conforto, deste seu amigo, que se encontra num café (munch cofee),  sentado numa mesinha escondida no fundo do estabelecimento, desfrutando de um espresso e de um muffin, um bolinho sem graça parecido com aqueles  preparados da marca Sol de antigamente e que nem sei se ainda existem. E o resto da família? Bem, estão num outro ambiente fechado, um espaço reservado no qual se acham gatos esperando candidatos à adoção. O encontro tem que ser pré-agendado  e só para brincar ou brigar com os felinos por uma hora, você (não, euzinho!) paga 12 dólares por cabeça (no meu caso são 48 dólares para mulher, filha, genro e neto). Escapei por uma firme resistência ao assédio de minha filha que, antes de entrar, me incumbiu, por vingança certamente, de comprar para ela 1 espresso e um bolinho de muffin de chocolate e mandar entregar lá dentro. E eu, que não falo inglês, tive que me virar e solicitar  o nosso espresso, os bolinhos e a encomenda dela, para entrega pela atendente, lá no tal gatômetro, ao qual não tive acesso.  Não tenho nada contra os animais, embora no meu tempo de juventude, eles não fossem conhecidos como “pets”, nem fossem quase humanos. E se tivesse comida não suficiente para nós e para o gato da vizinha adivinha quem ficava “a ver navios”? Paro por aqui pelo risco de ser preso por algum crime de incitação de maus tratos a animal ou tentativa de violação do princípio da dignidade dos felinos (suspeito da existência de algum PL na Câmara ou no Senado, tratando do assunto). Daqui a poucos eles vão sair. E sinceramente ficarei satisfeito se não vierem com algum “cat” americano que resolveram adotar.

 

Tank you! Forte abraço.

 

PS (1) Esse espresso do café é com “s” mesmo ou com “x”? Na pesquisa que fiz cheguei à conclusão que deve ser com “s”, em respeito à tradição italiana que criou o tal café “pressionado para fora”, método de extração da bebida que apreciamos.

 

PS (2) Fui consolado pela família ao lamentar a perda de quase 50 dólares com o tal entretenimento, sob a alegação de que a arrecadação do dinheiro das visitas se destina à manutenção dos bichinhos, enquanto aguardam a adoção.