segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

EU E ELIS REGINA. CAPÍTULO I

 

Boa noite amigos, 


O apresentador pedia silêncio absoluto. Rapazes e moças foram se sentar no chão, bem próximos do pequeno palco improvisado no salão principal do Clube Fonte São Paulo, um dos mais tradicionais aqui em Campinas, Estado de São Paulo. A cantora viajava pelo Brasil, incluindo as capitais e os interiores dos estados, no chamado “Circuito Universitário”, um de seus projetos populares, que lhe dava imensa satisfação, como sempre admitiu.  Eis que Elis Regina surge no palco improvisado e logo o preenche com voz poderosa, a despeito de 1,53 m. de altura, a encantar todos os afortunados acadêmicos presentes. Não sei como eu e minha namorada, depois esposa, tínhamos participado desse encontro, pois não éramos sócios do clube, nem tínhamos dinheiro para pagar ingresso.  Provavelmente tenha sido convite ou doação do Dr. Mário Stucchi, sócio e diretor do clube, pessoa muito querida e que acompanhou a minha trajetória profissional, desde que eu era simples auxiliar de cartório. Hoje falecido e saudoso,  foi um dos nossos padrinhos de casamento no já distante ano de 1.975. Era o ano de 1.973 e o Brasil continuava  a conviver com a ditadura militar e a censura,  ano em que Elis lançava mais um álbum de sua carreira  (Elis, 1973) e participava  do Phono 73, um grande festival de música popular promovido pela gravadora Phonogram no centro de Convenções do Anhembi em São Paulo, que deu origem a três LPs. com as apresentações mais marcantes. Para que se tenha ideia das celebridades participantes e da vastidão de suas origens e ritmos, lá se apresentaram Caetano, Gil, Gal Costa, Jards Macalé, os Mutantes com a então vocalista Rita Lee, além de Roberto e Erasmo Carlos, Wanderléa, Milton Nascimento etc. etc.  Elis havia gravado, nesse disco de 1.973, uma faixa que virou música de trabalho, com  uma regravação de antiga composição do desconhecido Pedro Caetano, lançada como samba no carnaval de  1.948 e que, com a interpretação pessoal e o novo arranjo de Cesar Camargo Mariano, virou um estrondoso sucesso nacional. O samba-choro É com Esse que eu Vou, abriu o nosso encontro naquela noite,  e todos nós, surpreendidos  com a potência de voz,  a forte presença cênica, a  afinação e  ginga da Pimentinha, tratamos de ir decorando a letra, que dizia:  /É com Esse Que eu Vou/Sambar até cair no chão/Com esse que eu vou desabafar na multidão/Se ninguém se animar eu vou quebrar meu tamborim/Mas se a turma gostar vai ser pra mim (....). E seguia:“Quero ver o ronca-ronca da cuíca/Gente pobre, gente rica/deputado, senador/quebra, quebra que eu quero ver uma cabrocha boa/ No piano da patroa batucando/É com esse que eu vou/.  Para terminar, com toque de suingue, reproduzindo e misturando trechos da letra (Um Vamp?), criado espontaneamente pela intérprete se ajustando ao arranjo (ou este a ela): /eu sei que vou/com esse que vou/mas é com esse que eu vou, sambar na multidão/até cair no chão/ eu vou, eu sei que vou, eu vou.....” Esse foi o meu primeiro encontro pessoal com Elis que eu já conhecia do começo da carreira, especialmente pela divulgação, pela mídia, da canção “Arrastão”, composição de Edu Lobo e Vinícius de Moraes (com que ela venceu o I festival de MPB da extinta TV Excelsior e documentada num compacto duplo que trazia, do lado B, Aleluia, um samba do mesmo Edu, com letra de Ruy Guerra). Do aludido festival e dos gestos largos da menina de 19 anos,  que girava os braços como se estivesse a voar, foi chamada de Élis Regina (referência a hélice, uma maldade ou sacanagem inventada por Ronaldo Bôscoli, que depois se tornou seu marido). Esse foi só o começo de um encontro pessoal, dos poucos que ainda iriam acontecer ao vivo, mas que projetou, para sempre, a minha crescente voragem antropofágica por essa artista e tudo que ela cantava ou fazia e que se tornou minha maior inspiração, insubstituível antes e depois de seu precoce passamento em 1.982, com apenas 36 anos de idade.

Até mais amigos.

 

 

 


sábado, 22 de novembro de 2025

NOSSA SENHORA REDENTORA?

 

Boa tarde amigos,

 

Imagem da Virgem Maria criada por
IA.

Recentemente, por decreto do Papa Leão XIV, o Vaticano reafirmou a sua posição já manifestada anteriormente, de que a Virgem Maria não é redentora, nem corredentora, em eventual parceria com  Jesus Cristo, seu filho. O assunto me interessou sobremaneira, mas especialmente porque não me lembro de ter ouvido, nas lições de catecismo da minha infância e começo da juventude,  afirmação  de que a Virgem Maria detivesse o poder de perdoar os pecados e livrar, assim, a humanidade, da chamada morte definitiva. A Deus,  na forma humana de Jesus Cristo, que padeceu com a condenação, o sofrimento imposto e a morte, é que os católicos reservam o monopólio da redenção. Por curiosidade, então,  fui rever o inteiro teor das orações clássicas voltadas à Nossa Senhora, dentre as quais, a “Ave Maria” e a  “Salve Rainha” e, em ambas, o que se destaca é a sua condição fundamental de mera intercessora,  Vejamos, então: Na Ave Maria “... Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós os pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”   E na Salve Rainha: “.......  Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.[1] E, adiante: “Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. Para que sejamos sempre dignos das promessas de Cristo.” [2] Na obra literária, Auto da Compadecida,  ficção do escritor e poeta Ariano Suassuna,  a Virgem Maria surge no julgamento de João Grilo como- advogada-defensora, que intercede em seu favor,   rogando  para que o Criador lhe permita voltar à vida terrena e nela a oportunidade de se redimir dos pecados que ameaçam a sua eternidade no céu. No cinema, esse papel foi desempenhado, com autoridade e competência, pela nossa Fernanda Montenegro. À primeira vista, o decreto papal, parece sugerir uma novidade, retirando da Virgem Santa prerrogativa que estaria na sua órbita de competência (misogenia?).  Todavia, tal não  corresponde à realidade, pois em verdade o decreto papal reproduz a verdade teológica, que nunca reconheceu o poder de redentora à santa mãe de Cristo, senão de mera interventora.  E como advogada, dispensada de registro na OAB e isenta do pagamento das anuidades, esperamos que continue a interceder por todos nós, pobres pecadores, pelo seu dom de misericórdia e  prestígio perante o Pai e o Filho.

 Até mais amigos.

 

 



[1] Em Latim:  “Eia ergo, advocata nostra, illos tuos misericordes oculos ad nos convertde.

[2] Em Latim: “Ora pro nobis, Sancta Dei Génitrix. R: Ut digni efficiemur promissionibus Christi.”

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

ARMANDO PIRES - EU HEIN!

 

Boa tarde amigos,

 


Lá pelos idos de 1.990, quando mudei com a família  para o apartamento do Edifício Gauguin, no Cambuí, aqui em Campinas, prédio recém-inaugurado, tivemos o prazer de conhecer – e manter amizade,  por muito anos (alguns até hoje e para sempre, espero), com outros condôminos. Assim o Dr. Armando Pires entrou na nossa vida e de outros tantos vizinhos. Marido da síndica da época, a hoje saudosa Maria Alice, era gastroprotoctologista, simpático e agradável. Logo integrou-se ao grupo que iria, doravante e por muito tempo, reunir-se, aos fins de semana, no salão de festas do edifício, para encontros regados a muita cerveja e refrigerante e incontáveis churrascos, feijoadas, ou o que “pintasse” na hora. Armando era um exímio churrasqueiro, especialista em costelas bovinas, as quais iam para a churrasqueira logo de manhãzinha e ali permaneciam horas, sob supervisão do Armando,  até que estivessem aptas para o consumo. Baixinho, gordinho, descendente de portugueses tinha, não obstante, uma mão grande e nos ameaçava, amiúde, com eventuais exames de toque retal, exibindo o polegar direito, grosso, longo e levemente inclinado para a direita. Caio e Viviane, formavam um casal gaúcho, que passou a residir no edifício e a frequentar nossos almoços de domingo.  Passados alguns meses, em encontro ocasional comigo,  Caio, pessoa discreta e reservada, resolveu relatar uma passagem que teve com o Doutor  Armando, numa consulta profissional. A certa altura da anamnese, o médico perguntou a idade de Caio, tendo ele respondido que tinha cinquenta e poucos anos. Em seguida,  indagou se ele já se submetera, alguma vez, a uma colonoscopia, recebendo resposta negativa. Foi o suficiente para que Armando imediatamente prescrevesse o tal exame ao nosso prezado amigo Caio. Realizado o exame – e com o resultado em mãos – tratou de marcar nova consulta para a entrega  do laudo. Na oportunidade confidenciou ao Armando, aguardando  aprovação,  que o tal exame era “chatinho”, sobretudo, por conta do  preparo, que consistia em consumir medicamentos destinados à limpeza do intestino, dias antes. E aí,  estupefato e indignado,ouviu do doutor amigo, muito mais velho que ele (já contava mais de 60 anos na época) a seguinte resposta:  - Não sei, eu nunca fiz. Só prescrevo. Se vissem a cara do Caio quando me contou, estariam rindo, como eu ri, até agora. Esse é o Armando. Competente, amigo, cagão e. digamos, de uma sinceridade irritante. Há, há!

 

Até mais amigos,

 

P.S. -   Resposta em consulta à IA sobre o exame de colonoscopia: “O Preparo Intestinal: Muitas charges e piadas focam no "pré-exame", que envolve uma dieta restritiva e o uso de soluções laxativas para limpar completamente o intestino. O humor reside na experiência de passar horas no banheiro e nos desconfortos desse processo”

 

 

 

 

sábado, 25 de outubro de 2025

CINEMA NACIONAL - LUIZ MELODIA - NO CORAÇÃO DO BRASIL

 

Boa tarde amigos,


Confesso que não aprecio cinebiografias, a despeito do fato de que sou tentado a assistir todas as que envolvem os meus ídolos e gente que admiro.  Vi Piaf; Cazuza - O Tempo não para; Rapsodia Bohemia; Elvis; Elis; Hebe; Meu nome é Gal; Getúlio; Amadeus; Lincoln etc. E por mais que admire o extraordinário trabalho dos atores que interpretam todas essas celebridades  saio insatisfeito do cinema, às vezes com  o roteiro, a abordagem ou  a falta dessa ou daquela peça que reputo indispensável para registrar e entender as escolhas e a trajetória de vida do focalizado. Por isso prefiro mesmo os documentários, nos quais não há excessiva preocupação com o roteiro e construção de uma obra de ficção, nem há rigorosamente compromisso com a verdade ou realidade, mas sim com a reprodução de uma vida, aqui contada, pelo próprio artista, com a adição de relatórios, fotos e vídeos, materiais por ele mesmo ou por familiares e amigos franqueados. Assim assisti ao documentário, Luiz Melodia - No Coração do Brasil, dirigido por Alessandra Dorgan. que também assina o roteiro, em conjunto com Joaquim Castro.  A jornalista Patrícia Palumbo é a responsável pela irretocável direção musical e que trouxe para o longa a entrevista que tinha feito com o cantor em 2001, para um livro.  São 75 minutos dentro dos quais só vi pontos positivos, quer na utilização do material disponibilizado em original, incluindo os raros vídeos de infância e juventude do protagonista (sempre ele próprio, sem retoques, nem simulação), como nos encontros musicais e de gravação. Há efetivo foco na carreira do artista e menos na sua vida particular, o que a mim é preferível do que a abordagem em excesso e dispensável das relações pessoais como em Homem com H, embora a interpretação de Jesuíta Barbosa, na pele, na voz e na alma de Ney Matogrosso tenha sido fantástica. E não faltou nenhuma de suas canções autorais ou de interpretação original. Pérola Negra, Magrelinha, Juventude Transviada, Negro Gato, Codinome Beija-Flor, Estácio Holly Estácio. Polivalente o cantor desenvolveu a carreira com liberdade de criação e escolha, compondo e cantando os mais variados gêneros musicais, nunca cedendo às pressões de gravadoras ou daqueles que insistiam em vê-lo unicamente como um sambista, pela simples razão de ser negro,  carioca, nascido e criado no morro do São Carlos, ao lado da escola de samba Estácio de Sá.  As letras de suas composições são verdadeiras poesias da mais alta categoria. A presença, no papel deles próprios. dos cantores Gal Costa, Maria Bethania, Jars Macalé,  Caetano Veloso, Zezé Motta, Elza Soares, das atrizes Bruna Lombardi e Fernanda Montenegro e do saudoso humorista e apresentador, Jô Soares, em entrevista com o cantor no Programa do Jô, talk-show que foi exibido pela TV  Globo durante mais de uma década,  enriquece o roteiro e dá à obra esse caráter de documentário, sem apelo à ficção ou ao enfoque desnecessário da vida privada  de Melodia.  Gostei e indico.

 

Até mais amigos.



 

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

DISQUE M PARA MATAR - CINEMA CLÁSSICO

 

Boa noite amigos,



Cena do longa com destaque ao casal protago-
nista.

No distante ano de 1.954, o britânico, Alfred Hitchcook, então na fase de Hollywood, lançava mais um longa  que faria sucesso e seria elogiado pelo público e  crítica especializada. Só vi o filme 71 anos depois, agora em 2.025, por sugestão constante de playlist da companhia aérea pela qual viajei de Paris a Campinas, agora em outubro. Trata-se de mais um clássico delicioso de assistir,na vasta filmografia do diretor,  ao lado de outros como Um Corpo que Cai, Os Pássaros e Psicose,  pela técnica por ele utilizada,  conhecida como decupagem, expressão originária do verbo francês, dècouper, que significa recortar, dividir um roteiro em cenas, sequências e planos numerados. No melhor estilo de Agatha Christie, a rainha da literatura inglesa de suspense, o script gira em torno do planejamento detalhado de um crime encomendado pelo marido, Tony Wendice (Ray Millan) para matar a própria mulher, a ricaça senhora Margot Mary Wendice (Grace Kelly), de quem suspeita de traição, e daí por diante toda a investigação detalhada para encontrar a motivação do crime e o criminoso, autor intelectual do delito, que, não participando da execução, cuidou de incrementar o seu álibi. A forma de desenvoltura do roteiro, o seu encadeamento, a maneira especial de gravar, não deixa o menor espaço para que o espectador se distraia um só minuto. Daí a pertinência do depoimento que outro grande diretor, Scorsese, deu em entrevista  realizada por Thierry Jousse e Nicolas Saada (Londres, 3 de fevereiro de 1996):  Disque M para Matar é um filme maravilhoso de assistir. Uma lição de decupagem – tanto que o aconselho frequentemente a meus estudantes.  Foi vendo-o, em alto relevo, há 2 anos é que o compreendi”. E mais adiante: “O mais importante é o momento onde ele decide mudar o valor do quadro. É muito sutil. Ele não coloca um plano fechado repentinamente na tela. Ele move um pouco a câmera, ele ligeiramente muda o valor do quadro". É uma oportunidade ímpar, também, para ver na tela e conhecer, portanto,  a famosa atriz, Grace Kelly, que participou também de outros dois filmes do cineasta, Janela Indiscreta (1.954) e Ladrão de Casaca (1.955),  antes de abandonar a carreira para se casar com o príncipe de Mônaco. Duas curiosidades do cineasta: a) sempre escolher uma atriz loira, de preferência loiríssima, para suas protagonistas (além de Grace Kelly, Kim Novac em Um Corpo Que Cai  (1.958) e Janet Leigh em Psicose (1.960); b) ele próprio aparecia em seus filmes, sem entrar na história, primeiro por acidente no filme O Inquilino (1.927), para substituir um ator que havia faltado à gravação, e, depois, simplesmente para conectar-se com o público, assim criando uma tradicional brincadeira. Gosto do gênero, do cineasta morto em 1.980 e de seus filmes todos na linha do suspense. O principal deles, Psicose, além da cena icônica do assassinato da personagem, Marion Crane,  vivida por Janet Leigh, pelo psicopata, Norman Bates (Antony Perkins), na conhecida cena do banheiro,   tem um dos finais mais surpreendentes e sensacionais que já vi.  

Até mais amigos.

 

 

 

 

 


quinta-feira, 25 de setembro de 2025

CORINTHIANS E TRANSPLANTE DE CORAÇÃO.

 

Boa tarde amigos, 

O campeonato paulista de futebol foi o primeiro certame regional do país iniciado no distante ano de 1.902, pela Liga que hoje corresponde à Federação Paulista de Futebol. Decorridos mais de 120 anos da tradicional competição, o Corinthians Paulista aparece como o clube que mais títulos obteve (são 31, com o de 2.025, contra 26 do Palmeiras, segundo colocado).  No entanto, o maior jejum de títulos relevantes como esse (excluídas algumas Copas e Taças, sem expressão) foi experimentado exatamente pelo Timão, que venceu o certame no ano do IV Centenário de São Paulo, em 1.955, numa final contra o arquirrival Palmeiras e só voltou a ser campeão paulista no ano de 1.977, ou seja, mais de 22 anos depois, alimentando, nesse interminável intervalo,  a paixão, o  sofrimento e o fanatismo de milhões de torcedores. Numa final épica com a equipe da Ponte Preta de Campinas, um timaço na época,  aconteceram três partidas, todas marcadas para o Estádio do Morumbi. O Timão venceu a primeira por 1 a 0, gol de Palhinha,  mas perdeu a segunda, por 2 a 1, com gols de Dicá e Ruy Rei e Vaguinho, respectivamente. Na terceira e polêmica partida, apitada pelo não menos polêmico árbitro, Dulcídio Wanderley Boschillia, falecido em 1.998, o atacante Ruy Rei da Ponte Preta foi expulso aos 16 minutos do primeiro tempo, depois de reclamação considerada acintosa contra a marcação de uma falta para o adversário.  Muitas especulações a respeito, dirigidas tanto ao atleta, quanto o árbitro, ventilavam a possível “compra” de um ou outro para favorecer a equipe paulistana. O que se viu no apito final, foi algo inimaginável. Muitos torcedores invadiram o campo e foram festejar a conquista abraçados aos jogadores e cartolas, dançando, chorando, de joelhos para pagar promessa, outros empunhando terços e crucifixos. O famoso comediante Amácio Mazzaroppi,  fiel corinthiano, lançou, no ano de 1.966, a comédia "O Corintiano", que foi grande sucesso de público e bilheteria nos cinemas. O filme, inclusive, foi exibido várias vezes, no Museu do Futebol, sediado  no estádio do Pacaembu. Em 26 de maio de 1.968, ou seja, sete anos antes do título de 77, o Dr. Euryclides de Jesus Zerbini, realizava no Brasil, o primeiro transplante cardíaco, no Hospital das Clínicas da Usp,  cerca de apenas cinco meses depois que o médico sul-africano, Christiaan Barnard realizara a primeira cirurgia de transplante cardíaco do mundo.  Para enfatizar o progresso expressivo da medicina e ilustrar a paixão e o sofrimento dos corintianos com o jejum interminável,  o saudoso Sílvio Santos gravou uma marchinha de Carnaval nominada de “Transplante de Coração”, mas mais conhecida como “Coração Corintiano”; A marchinha de carnaval tinha um estribilho logo decorado pelos foliões que dizia: Doutor, eu não me engano, meu coração é corintiano”  E prosseguia: “Eu não sabia mais o que fazer/troquei meu coração cansado de sofrer. Para concluir: “Ai doutor eu não me engano/botaram outro coração corintiano.” E mal se sabia que o tal jejum duraria ainda mais nove longos anos.

 

Abraço amigos.

 

E.T. – A imagem da coluna de hoje é propaganda do filme brasileiro “O Corinthiano”, comédia estrelada pelo genial ator, produtor e cineasta corinthiano, Amacio Mazzaroppi, 

 

 

 

terça-feira, 16 de setembro de 2025

ESTOICISMO E TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

 

Boa tarde amigos,

Um Café Com Sêneca (capa).

O mundo, diria minha avó sobre  a geração subsequente à sua, anda de “pernas para o ar”, bordão antigo que ilustrava a concepção de que tudo estaria mudando, revirado ao avesso, incluindo os costumes e valores. A verdade, porém, é que a  história se repete e em ciclos.  É que o planeta Terra, com seus habitantes naturais, continuam com os mesmos problemas e questionamentos das épocas mais remotas, o que segundo a  observação de David Fideler[1]  “No fim das contas, a época de Sêneca é a nossa época. Ele é nosso contemporâneo e compartilhamos profundamente das mesmas preocupações.”  Tenho notado, nas minhas andanças pelas livrarias da vida, ter crescido significativamente a publicação e o consumo de obras sobre o estoicismo, movimento filosófico que teve em Sêneca (4.a.c.-65 d.C.), um de seus precursores. Esse fascínio por essa corrente filosófica muito se explica, no nosso modo de ver, pela necessidade das novas gerações, não só  discutir os mistérios da vida, como mero exercício de contemplação, como também a de experimentar, na prática, a vivência da chamada “vida que vale a pena ser vivida”, tal como apregoada pelo estoicismo. Envolvendo essencialmente  treino, o estoico defende  uma filosofia prática como o budismo, o que implica em  “colocar as soluções em uso para que funcionem”. O estoicismo nos convida a viver uma vida honesta, ética, com respeito à natureza, sem sofrimento, baseada no fato de que as coisas não são boas,  nem ruins, são como são e que o problema são as crenças e os sentimentos que nutrimos em relação a elas.  A preocupação (pré-ocupação) é um grande desafio do homem moderno, o que justifica a epidemia mundial da ansiedade, que parece ser o grande mal do século. Mark Twain, ironizando acerca da problematização mental sobre o futuro, afirma “Sou um homem velho e passei  por muitos problemas, mas a maioria deles nunca aconteceu.” Atribui-se à Sêneca, ensinamentos sobre o autocontrole e a necessidade de abandono dos fenômenos puramente psicológicos ou imaginários, assim consideradas as preocupações com o futuro ou qualquer espécie de arrependimento sobre o passado, sentimentos que apenas se prestam às emoções negativas, porquanto nenhum deles existe mais no mundo real. Essa maneira de vida negativa cria o medo, um medo inexplicável, que nos paralisa e nos abala profundamente. [2]Não ignorando, nem desprezando as emoções, admitindo existirem, ao lado das "doenças do corpo", "as doenças da alma", que devem ser tratadas, o estoicismo é muito próximo da terapia denominada hoje como cognitivo-comportamental, fundada pelo psicoterapeuta,  Alberto Ellis que ao iniciar o tratamento com novos pacientes, dava a eles, uma cópia da máxima estoica “Não são as coisas que nos perturbam e sim as crenças em relação a elas.”. E Laurence Becker, ainda a respeito da mesma terapia, afirma peremptoriamente que “as origens filosóficas da teoria cognitiva  podem ser rastreadas até os filósofos estoicos”. Com forte respaldo científico, esse tipo de terapia, comum nos dias que correm, tem se revelado eficaz no tratamento de diversos transtornos, como a depressão, a ansiedade generalizada, a insônia e as fobias em geral. Vale a pena se instruir um pouco tanto sobre a filosofia milenar dos estoicos, como sobre a terapia cognitivo-comportamental, a qual tem no estoicismo e seus conceitos,  o seu embrião e embasamento. O livro de David Fideler (Um Café com Sêneca – um guia estoico para a arte de viver), com  tradução de Robin Waterfield, da editora sextante, é uma ótima oportunidade de conhecer tanto essa linha da filosofia voltada para a busca da solução pragmática para o tratamento dos chamados “males da alma”, como  a terapia cognitivo-comportamental, estruturada para obter a mudança do paciente, necessária à modificação de seus sentimentos e forma de encarar as dificuldades próprias da vida de todos nós. 

 

 Boa noite amigos.

 

 



[1] Um Café Com Sêneca – Um guia Estoico para a arte de Viver – tradução Heci Regina Candiani, 1ª. edição, Rio de Janeiro, Sextante Editóra, 2.022, p. 24.

[2] “Como o passado e o futuro estão ausentes e não podemos sentir nenhum deles só as emoções, as oponiões ou a imaginação podem ser fonte de dor.”

sábado, 10 de maio de 2025

POXA!


Amigos, boa tarde.


Imagem da publicidade da novela
Garota do Momento, um sucesso
de audiência na TV Globo.

Acordei neste sábado pedindo para a Alexa da minha cabeceira tocar sambas antigos. Logo na segunda música, identifiquei uma canção de Benito Di Paula, dos anos 70, cujo título é Poxa. Os menos jovens certamente vão se lembrar da letra delicada e cadenciada: Poxa, como foi bacana te encontrar de novo/Curtindo um samba junto com meu povo/ Você não sabe como eu acho bom/. Imediatamente me ocorreu que há muitos anos não ouço ninguém usar a expressão Poxa! Teria “caído de moda?” na gíria usada no meu tempo de moço. E se o verbete Poxa não se ouve mais, teria sido substituído integralmente  por Porra? Já esse último se escuta a toda hora, em todo canto e campo, a ponto dos canais de televisão nem se preocuparem em tirar o som quando o convidado, entrevistado ou o “professor” (tratamento atribuído pelos jogadores de futebol ao seu técnico), soltam a expressão, indignados com o gol certo perdido ou a cagada do zagueiro, no gol do adversário. Bem fui procurar nos dicionários mais prestigiados o significado de ambas as expressões, no meu jeito antigo de observar as comparações entre os lexicógrafos, no estilo comparativo e agora já anacrônico e artesanal, esperando concluir que: ...”O Aurélio cita a expressão, blá, blá, blá.”  Já o Caldas Aulete considera que...........” Que nada! A IA já entrou em ação e mandou logo essa:  "Poxa" e "porra" são duas interjeições em português que expressam emoções, mas com nuances e contextos diferentes. "Poxa" é mais suave e usada para expressar surpresa, tristeza, aborrecimento ou admiração, enquanto "porra" é uma palavra vulgar e forte, utilizada para expressar raiva, irritação, descontentamento ou espanto.”  Falou! O certo é que as expressões não devem ser usadas como sinônimas, embora “porra” seja citada, em alguns dicionários, como um dos correspondentes de “Poxa", que por sua vez é destacada como um eufemismo de “Puxa”.  A delicadeza de uma não se encontra na outra. Mas o fato é que o dia-a-dia o verbete “porra” ganhou infinitos significados, como o tal de “trem” para os mineiros, uai!, extrapolando, em muito, expressões de raiva, irritação, descontentamento ou espanto. Na oração   -   “como funciona essa porra, irmão?” é utilizada como substantivo, no lugar do objeto que o sujeito não conhece ou não sabe, ou não lembra o nome. Em:  “não entendo porra nenhuma dessa matéria”  é usada para afirmar a completa ausência de entendimento sobre a matéria lecionada ou estudada. Na Bahia, é usada também como um elogio, exaltação a algum ato, coisa ou qualidade da coisa. A Folha de São Paulo, edição de 15 de outubro de 2.013, registrou a seguinte assertiva: - "Eita liquidação da porra”.  Conclusão: enquanto a palavra Porra vai ganhando, a cada dia, um campo vasto de utilização, gerando sinônimos quase infinitos, deixando de lado o viés pornográfico que já teve no passado ou o seu sentido mais puro (esperma, sêmen, órgão sexual masculino), o educado “poxa” vai perdendo prestígio como uma delicada manifestação de carinho, de saudade, ou de respeitosa expressão de insatisfação. E se você, por acaso, acabar utilizando a última, corre o risco do seu netinho rir e  advertir: “Não é poxa vovô, é porra.” Ou então, expor o seu estranhamento, assim literalmente:  “- Vô que porra é essa?”

Bom final de semana e parabéns as mães de todo o mundo pela glória e nobreza da maternidade.

P.S(1) – A direção da novela “Garota do Momento” ora exibida pela TV Globo, no horário das 18,25 horas, tem sido cuidadosa na utilização, pelos personagens, de linguagem e gírias que vigoravam em nosso país, ao tempo em que se passa o folhetim, mais precisamente, no final dos anos 50, início dos anos 60. Mas nesta semana o personagem Raimundo (Danton Mello),  para meu espanto, disse que uma certa pessoa já chegara "causando". O verbo “causar” tanto na época da novela, como até hoje, é transitivo direto e eventualmente bitransitivo ("O discurso do Presidente causou apreensão entre os seus eleitores"). Recordo perfeitamente que lá pelos anos 90 ou 2.000, eu indaguei de um dos meus alunos que se referia a alguém como pessoa que estaria “causando” e ponto final.   o seguinte: “Está causando o que?”, sem entender essa gíria moderna, mas  que não existia, absolutamente,  ao tempo em que se passa o folhetim. 

 

 

  

domingo, 4 de maio de 2025

BOI, BOI, BOI, BOI DA CARA PRETA




Bom dia amigos,

A morte de Nana Caymmi nesta semana foi bastante sentida, tanto pela classe artística, parentes e amigos, como pela legião de fãs que a cantora construiu durante seus 84 anos de vida. Dona de um timbre vocal ímpar, Nana se notabilizou pelo extremo bom gosto na escolha do repertório e pode ser considerada a mais especial intérprete das canções do pai, o compositor Dorival Caymmi. A propósito do nosso saudoso Caymmi, Nana cantou como ninguém o Acalanto do pai que o pessoal todo da minha geração e, talvez, da geração seguinte, de minha filha e genro, conhece como música de ninar. /É tão tarde, a manhã já vem/Todos dormem, a noite também/Só eu velo por você, meu bem/ Dorme, anjo, o boi pega neném/Lá no céu deixam de cantar/Os anjinhos foram se deitar/Mamãezinha precisa descansar/Dorme, anjo, papai vai lhe ninar. E aí o desfecho inusitado: boi, boi, boi/boi da cara preta/pega essa menina que tem medo de careta/ Como assim, é sério que é para assustar a menina mesmo? Bem a canção foi composta por Dorival para sua primogênita, ou seja, a própria Nana, no ano de 1.942, mas só ganhou uma gravação de estúdio em 1.960. Imagino que hoje a blitz do politicamente correto teria muitas objeções contrárias a essa letra, algumas supostamente sugerindo incidência do compositor mesmo em normas criminais. A defesa dos animais veria aí uma ofensa contra a dignidade do boi, que não existe para assustar ninguém, muito menos criança. E a cara preta do boi seria preconceito ou mesmo racismo? Mas Dori era negro e em sua defesa poderia invocar a inexistência de crime de autopreconceito ou autoracismo. Por fim, com certeza ele não escaparia do crime de tortura contra criança previsto no artigo 1º, inciso II, da Lei 9.455/97, ainda com a agravante de crime contra descendente, como decidiu recentemente a 5ª. Turma do STJ. Contudo, sites especializados na vida de ambos (pai e filha) garantem que Nana nunca teve medo de nada. Sem papas na língua certamente botaria esse boi de cara preta pra correr. E aí? Crime sem vítima ou crime de maltrato a animal? 

Até mais amigos.

sábado, 22 de março de 2025

O REMAKE DE "VALE TUDO"

 

Boa noite amigos, 

Imagem de Beatriz Segall a Odete Roitmann
da versão originária da novela.

A Rede Globo de Televisão, no seu centenário, e a TV Globo,  no seu sexagésimo aniversário,  resolveram apostar no remake de uma de suas notáveis novelas do passado, para superar a crise decorrente da perda de audiência e da concorrência com a diversificação dos streamings. E assim, a eleita foi VALE TUDO, novela de Gilberto Braga e Aguinaldo Silva,  que em 1.988 e 1.989, anos de sua exibição, atingiu médias elevadas de audiência e praticamente parou o Brasil no capítulo em que se revela a autoria do assassinato da vilã Odete Roitmann  (Beatriz Segall). Andei lendo que na nova versão, a escolha para essa personagem, não foi fácil,  e várias de nossas experientes e grandes atrizes foram cogitadas, incluindo Fernanda Torres, que não pode aceitar o convite por causa das viagens pelo mundo na divulgação do filme “Ainda estou Aqui”, película que recebeu mais de quarenta prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. No final, a escolha recaiu sobre Débora Bloch, cujo talento e competência na dramaturgia é incontestável. A tarefa, contudo, para qualquer uma que fosse eleita, seria árdua e desafiante, diante da antológica criação da personagem pela hoje falecida atriz Beatriz Segall, a ponto de ser impensável e até, digamos, impossível separar uma da outra. Vários atores do novo elenco, ouvidos, incluindo a autora da adaptação, Manuela Dias, fizeram questão de ressaltar a atualidade do enredo, decorridos mais de trinta anos. Bem, versando a novela sobre questões éticas (para vencer na vida qualquer meio é aceitável? Vale tudo?), associados às carências ou contingências humanas de ontem e de hoje (o alcoolismo invencível da sensível e carente personagem Heleninha, tão bem desempenhada pela  veterana Renata Sorrah), a obra estaria mesmo sempre atualizada, como continuam atuais, quinhentos anos depois, as peças do maior dramaturgo inglês de todos os tempos, Sir William Shakespeare, exatamente pela abordagem de temas universais e atemporais decorrentes de  comportamentos e conflitos típicos do ser humano,  desde o surgimento da espécie há 200.000 anos.  Por outro lado, esse nosso Brasil não mudou quase nada nesses trinta anos decorridos. A manutenção da trilha sonora de abertura, com Gal Costa interpretando Brasil, de Cazuza, foi acertada na minha opinião, considerado o  ambiente em que se passa a obra.  Agora esperar a estreia e conferir.

P.S. Na nova versão a Heleninha será interpretada por Paola Oliveira. Comentei com minha mulher que não vejo na atriz, ao menos antes de vê-la construindo o personagem, a cara da “Heleninha”, como via em Renata Sorrah. Aliás, considero que uma das tarefas mais difíceis para qualquer artista é interpretar de forma convincente a imagem de um bêbado, uma pessoa alcoolizada para além da conta. Ressalvo, na área da comédia, a competência do impagável Tom Cavalcante, transmitindo, embriagado, um jogo de futebol.

 

Abraço e até mais.

 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

O HAVER - VINÍCIUS DE MORAES

Boa tarde amigos,



Na vasta antologia do poeta, compositor, músico e diplomata,  Vinícius de Moraes, encontra-se  um poema profundo, denominado O HAVER,  que teria sido alterado em parte pelo autor, algumas vezes, sem que ocorresse, contudo,  mudança na sua essência. Musicado pelo também compositor, Edu Lobo e bastante complexo, na  opinião dos mais variados críticos literários, especialistas em sua obra,  é fruto de uma reflexão  do "poetinha", (epíteto que lhe atribuiu um dia a saudosa cantora Elis Regina) a respeito da natureza humana e sua contingência (Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo. Perdoai. Eles não têm culpa de ter nascido).  Nele Vinícius, com rara maestria, vai construindo seu pensamento, por meio de  metáforas  (Resta esse coração queimando como um círio numa catedral em ruínas, essa tristeza diante do cotidiano ou essa súbita alegria ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória....), pelas quais expressa os seus sentimentos acerca da vida e da morte, da tristeza e da alegria, da culpa,  das injustiças sociais, da pequenez do homem diante do universo (Resta essa imobilidade, essa economia de gestos, essa inércia cada vez maior diante do infinito),  da auto-comiseração e da  suposta inutilidade dos poetas e de suas poesias para mudar a realidade  (Resta essa vontade de chorar diante da beleza, essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido, essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa piedade de si e de sua inútil poesia e sua força inútil). E conclui o seu lamento, a sua catarse, à espera da  morte inevitável,  na figura de uma mulher e que chega,  como uma velha amante, agora sua mais  nova e definitiva companheira  (Resta esse diálogo cotidiano com a morte. Esse fascínio pelo momento a vir, quando emocionada ela virá me abrir a porta como uma velha amante. Sem saber que é a minha mais nova namorada).  Sem o prestígio de outras poesias e composições de Vinícius, como o Soneto da Fidelidade, Garota de Ipanema etc. etc., considero esse um dos mais relevantes poemas da segunda geração do modernismo brasileiro, ao qual pertencia o artista.

Grande abraço amigos!



 

 

sábado, 8 de fevereiro de 2025

ESFINCTERES E A VIDA QUE SEGUE

 

Bom dia amigos,


Cá eu dando tratos a bola, o que não me é incomum, acabei por imaginar um comparativo entre a anatomia do ser humano e a sua vida, que segue sempre em frente, apesar dos pesares. Explico: Quando o Criador esboçou a anatomia do corpo do homem e da mulher,  não esqueceu de enchê-la de  cavidades e de ..... esfíncteres!   Isso mesmo. Esfincter é o nome genérico dado aos músculos circulares que fecham as cavidades a que correspondem. Temos vários: esfíncter da bexiga, da boca, da vagina, do ânus, do esôfago. Em suma, tudo que ingerimos, que entra pela boca, deve seguir o seu destino pelos órgãos que integram o sistema digestivo. E os alimentos,  transportados e transformados em vitaminas, proteínas, minerais, carboidratos, etc., vão seguindo o seu rumo até que as sobras inaproveitáveis sejam expelidas. O perfeito desempenho das esfíncteres garantem o funcionamento natural dos nossos órgãos no exercício de suas funções. Aqui nada do tal  “junto e misturado”.  Não há, ou não deve haver nesse processo, retorno.   Assim também ocorre com a nossa existência. Não podemos viver ou nos prender ao passado. Ele já não existe. Um enorme esfíncter chamado “tempo” se encarrega de fechar  cada ciclo, obrigando-nos a viver sempre e apenas o presente na perspectiva de um futuro ignorado. A lógica da anatomia humana e dos processos do sistema digestivo vale igualmente para a vida. Bora, então, meus amigos, vivenciar com intensidade o momento presente, seja de festa ou de luto. E em seguida, fechar o ciclo. Do passado nos restam apenas as lembranças e as experiências. Do futuro, sempre hipotético, precisamos no presente de  bons e nobres projetos,  na mira dos quais encontramos, a cada dia,  razão ou objetivo para caminhar na trajetória incerta dessa vida terrena e contingente.

Forte abraço.

 

P.S. (1) A imagem acima, de parte do corpo humano, simula uma esfincter do estômago.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

SETENTA E TRÊS ANOS - FELIZ ANIVERSÁRIO.

TREZE

VINTE E TRÊS

TRINTA E TRÊS

QUARENTA E TRÊS

CINQUENTA E TRÊS

SESSENTA E TRÊS

SETENTA E TRÊS

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OMISSIS

Omissis.

..............

 

 

 

 

 

 


domingo, 19 de janeiro de 2025

GATOS AMERICANOS


 

Boa tarde amigos aí do nosso Brasil.

 

 

Aqui, em Orlando, na Flórida, são exatamente 12,00 horas do domingo, dia 12 de janeiro do recém inaugurado ano de 2025, duas horas a menos que aí, no hemisfério sul. A sequência de fotos que acompanha essa postagem revela um pouco da saga, ao menos com algum conforto, deste seu amigo, que se encontra num café (munch cofee),  sentado numa mesinha escondida no fundo do estabelecimento, desfrutando de um espresso e de um muffin, um bolinho sem graça parecido com aqueles  preparados da marca Sol de antigamente e que nem sei se ainda existem. E o resto da família? Bem, estão num outro ambiente fechado, um espaço reservado no qual se acham gatos esperando candidatos à adoção. O encontro tem que ser pré-agendado  e só para brincar ou brigar com os felinos por uma hora, você (não, euzinho!) paga 12 dólares por cabeça (no meu caso são 48 dólares para mulher, filha, genro e neto). Escapei por uma firme resistência ao assédio de minha filha que, antes de entrar, me incumbiu, por vingança certamente, de comprar para ela 1 espresso e um bolinho de muffin de chocolate e mandar entregar lá dentro. E eu, que não falo inglês, tive que me virar e solicitar  o nosso espresso, os bolinhos e a encomenda dela, para entrega pela atendente, lá no tal gatômetro, ao qual não tive acesso.  Não tenho nada contra os animais, embora no meu tempo de juventude, eles não fossem conhecidos como “pets”, nem fossem quase humanos. E se tivesse comida não suficiente para nós e para o gato da vizinha adivinha quem ficava “a ver navios”? Paro por aqui pelo risco de ser preso por algum crime de incitação de maus tratos a animal ou tentativa de violação do princípio da dignidade dos felinos (suspeito da existência de algum PL na Câmara ou no Senado, tratando do assunto). Daqui a poucos eles vão sair. E sinceramente ficarei satisfeito se não vierem com algum “cat” americano que resolveram adotar.

 

Tank you! Forte abraço.

 

PS (1) Esse espresso do café é com “s” mesmo ou com “x”? Na pesquisa que fiz cheguei à conclusão que deve ser com “s”, em respeito à tradição italiana que criou o tal café “pressionado para fora”, método de extração da bebida que apreciamos.

 

PS (2) Fui consolado pela família ao lamentar a perda de quase 50 dólares com o tal entretenimento, sob a alegação de que a arrecadação do dinheiro das visitas se destina à manutenção dos bichinhos, enquanto aguardam a adoção.