sábado, 26 de julho de 2014

DANO MORAL POR RICOCHETE

Boa noite amigos,

A consideração de que o princípio da dignidade da pessoa humana é, na verdade, na esfera de nossa Constituição Federal de 1.988, um dos fundamentos da própria República Federativa do Brasil (art. 1° III), tem provocado verdadeira revolução na doutrina e na jurisprudência conservadoras, no campo da responsabilidade civil. Um dos aspectos que ilustram essa conclusão é o reconhecimento, de algum tempo para cá, da possibilidade de extensão de indenizações por danos morais, além daquela conferida à vítima direta, também  àqueles que, indiretamente, se sintam atingidos pelo efeito  reflexo do ato ilícito praticado pelo agente. A doutrina francesa, reconhecendo a possibilidade de reflexo do ato danoso também no patrimônio moral de terceiros, passou a admitir o que nominou de dano “par ricochet, ou seja, o que, derivado do mesmo ato do ofensor, atinge, reflexamente, pessoas que mantém, com a ofendida, estreita relação de afetividade. Tanto na Justiça Comum, como na Justiça do Trabalho, que passou a ter competência para julgar ações que derivem da relação de trabalho, mesmo quando propostas não pelo empregado, mas por outras pessoas de sua família ou rol de amizade, há inúmeros precedentes importantes, nesse sentido. O Superior Tribunal de Justiça, confirmando decisão de Tribunal Estadual, manteve a condenação do patrão a compensar mulher e filho de empregado, vitimado por acidente do trabalho, observando que:  “no caso em apreço, não pairam dúvidas que a esposa e o filho foram moralmente abalados com o acidente que vitimou seu esposo e pai, atualmente sobrevivendo em estado vegetativo, preso em uma cama, devendo se alimentar por sonda, respirando por traqueostomia e em estado permanente de tetraplegia, sendo que  “a esposa jamais poderá dividir com o marido as vicissitudes da vida cotidiana de seu filho, ou a relação marital que se esvazia, ou ainda, o filho que não será levado pelo pai ao colégio, ao jogo de futebol, ou até mesmo a colar as figurinhas da Copa do Mundo.” E o Ministro Relator, referindo-se  a inúmeras situações que devem merecer compensação pelo dano moral, assim prosseguiu: “Dessa forma, não cabe a este Relator ficar enumerando as milhões de razões que atestam as perdas irreparáveis que sofreram essas pessoas (esposa e filho), podendo qualquer um que já perdeu um ente querido escolher suas razões, todas poderosamente dolorosas; o julgamento de situações como esta não deve ficar preso a conceitos jurídicos ou pré-compreensões processuais mas levar em conta a realidade das coisas e o peso da natureza da adversidade suportada” (Agravo Regimental em Recurso Especial n. 1212322-SP 2010/0166978-7). Ainda recentemente, o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª. Região, sediado aqui em  Campinas, deferiu pleito do marido de empregada que sofreu acidente do trabalho, em virtude do qual experimentou lesão estética considerável, conferindo indenização a ele, independentemente daquela devida à mulher, vítima direta. Há também precedentes beneficiando cônjuge de empregado que sofre assédio moral ou sexual no trabalho; de marido de empregada que foi acusada da prática de furto; de cônjuge e filho de empregada que sofreu revista corporal abusiva, etc.. Note-se que, segundo esses julgados, para reclamar indenização ou compensação, a pessoa não precisa ser cônjuge, companheiro ou filha dependente do ofendido, bastando que possa demonstrar a existência de relação de afeto capaz de fazer presumir o sofrimento com o ato ilícito praticado.  A diferença consistirá apenas no ônus da prova, pois enquanto os parentes próximos não precisam demonstrar o dano moral ou o sofrimento, no caso sempre presumido, pessoa que não mantenha essa relação com o ofendido, deverá, se contestado o vínculo de afinidade, fazer a comprovação desse elo excepcional. São avanços compreensíveis e desejáveis da jurisprudência que, no entanto, deve sempre estar atenta a cada caso concreto para verificar se não  há abuso e se existe razoabilidade e fundamento para atendimento desses pleitos.

Até amanhã amigos.

P.S. (1) Esclarece  o jurista Yussef Said Cahali, em sua obra DANO MORAL, Editora RT,  que “embora o dano deva ser direto, tendo como titulares da ação aqueles que sofrem, de frente, os reflexos danosos, acolhe-se também o dano derivado ou reflexo “le dommage par ricochet”, de que são os titulares que sofrem, por consequência, aqueles efeitos, como no caso de dano moral sofrido pelo filho diante da morte de seus genitores e vice-versa”;

P.S. (2) Alguns precedentes do STJ admitindo a compensação do dano moral reflexo ou por ricochete: REsp. 1.041.715/ES, Rel. Min. MASSAMI UYEDA, DJe 13/06/2008; AgRg no AREsp. 104.925/SP, Rel. Min. MARCO BUZZI, DJU  26/06/2012; e AgRg no Ag 1.413.481/RJ, Rel. Min. RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, DJe 19/03/2012;


P.S. (3) A imagem caricatural da coluna de hoje foi emprestada de www.concurseirosligadosnotrt.com.


terça-feira, 22 de julho de 2014

BOA SORTE! COMEÇA O 6º PAULÍNIA FILM FESTIVAL.

Boa noite amigos,

Começa hoje, com cerimônia de abertura marcada para as 19,00 horas, o 6º Paulínia Film Festival, suspenso desde 2.012, por determinação do Prefeito da ocasião, José Pavan Junior, o que gerou fortes protestos da classe artística, política, Intelectual e do público em geral apreciador da sétima arte, na medida em que na última versão, o Festival de Cinema de Paulínia já havia registrado grande sucesso, pelo nível dos filmes e ainda pela presença maciça do público e vinha se transformando num dos mais importantes do país.  Há grande expectativa, pois,  nessa retomada do projeto pelo atual Prefeito, Edson Moura Junior. O festival vai de hoje até o dia 27, com programação que envolve exibição de filmes competitivos nas categorias de longas (9 entre ficções e documentários) e curtas-metragens (8 concorrentes). Os prêmios oferecidos totalizarão 800 mil reais em 20 categorias (o vencedor do longa metragem receberá sozinho 300 mil). Há ainda mostra paralela que terá também presença internacional, outro objetivo do novo projeto que busca pôr em funcionamento o formato híbrido do festival (nacional/internacional) já  para as próximas edições. Durante a semana haverá ainda oficinas e debates, com participação franqueada a qualquer pessoa. O ingresso é livre e grátis para todos os eventos do Festival, observada, porém,  a ordem de chegada e  o limite de lotação do Theatro Municipal Paulo Gracindo, que é de 1.300 lugares.  Há confirmação da presença de inúmeros atores-celebridades como Debora Secco, Fernanda Montenegro, Marcelo Novaes, Felipe Camargo, Irandhir Santos, Sandra Coverloni (vencedora do Urso de Prata do Festival de Berlim por sua atuação em Linha de Passe), Matheus Nactergale, dentre outros. Serão exibidos, em pré-estreia mundial, os filmes “Não Pare na Pista – A melhor História de Paulo Coelho”, de Daniel Augusto e Bem Vindo a Nova York de Abel Ferrara. O projeto tem tudo para se firmar definitivamente como um dos mais relevantes do Brasil, o que contribuirá para o incremento de retomada, também,  do Polo de Cinema da cidade de Paulínia, onde já foram rodados inúmeros filmes importantes. Finalmente,estão programadas duas homenagens: na abertura, à distribuidora brasileira Imovison, pelos 25 anos de existência e parceria com o Paulínia Festival; no encerramento, ao cineasta Cacá Diegues, pelo conjunto de sua obra. A expectativa também se dá por conta da anunciada presença de convidados estrangeiros, como a atriz britânica Jacqueline Bisset e  o cineasta norte-americano Abel Ferrara. De minha parte desejo sinceramente que o festival seja um marcante sucesso e que os homens públicos continuem investindo seriamente (em todos os sentidos, claro), em mais esse relevante segmento de cultura e lazer que é o cinema nacional.

Até mais amigos,


P.S. (1) Os longas-metragens em competição são os seguintes: 1) A Neblina, de Fernanda Machado (documentário-SP); 2) Aprendi a Jogar com Você, de Murilo Salles (documentário-RJ); 3) Boa Sorte, de Carolina Jabor (ficção-RJ); 4) Casa Grande de Felipe Barbosa (ficção-RJ); 5) A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante (ficção, RJ); 6) Castanha, de David Pretto (ficção RJ); 7) Infância, de Domingos de Oliveira (ficção, RJ); 8) Sangue Azul, de Lírio Ferreira (ficção, PE); 9) Sinfonia da Metrópole, de Juliana Rojas (ficção  SP);

P.S. (2) Os curtas-metragens que competem são os seguintes: 1) De Bom Tamanho, de Alex Vidigal; 2) Edifício Tatuapé Mahal, de Carolina Markowicz e Fernanda Salloun; 3) Jessy, de Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge; 4) 190, de Germano Pereira; 5) O Clube, de Allan Ribeiro; 6) O Bom Comportamento, de Eva Randolph; 7) O Menino Que Sabia Voar, de  Douglas Alves Ferreira; 8) Recordação,  de Marcelo Galvão;

P.S. (3) A primeira imagem da coluna de hoje (emprestada de www.correiobraziliense.com.br) é da frente do belíssimo Theatro Municipal de Paulínia, onde acontecem os eventos do festival. A segunda imagem emprestada de pictify.com.  é da juventude da  atriz britânica, Jacqueline Bisset,  hoje com  69 anos, cuja presença hoje na abertura do festival é esperada. A atriz têm na sua filmografia longas como Ricas e Famosas (1981), Mulheres Diabólicas (1995), Aeroporto (1970) e Cassino Royale (1967).

sexta-feira, 18 de julho de 2014

PELÉ ETERNO - UM DOCUMENTÁRIO PRA VALER

Boa tarde amigos,


Edson Arantes do Nascimento é seu  nome de batismo. Pelé, o epíteto pelo qual se tornou conhecido no mundo inteiro, num tempo em que as comunicações ainda se revelavam difíceis e precárias. Considerado o atleta do século, o jogador foi objeto de muitos estudos e vários documentários.  Criado e dirigido pelo cineasta Anibal Massaine Neto, com roteiro de José Roberto Torero e colaboração do saudoso jornalista Armando NogueiraPelé Eterno, é sem dúvida um dos melhores filmes que já se produziu sobre a vida e a carreira daquele que se tornou um mito, muito além do esporte que o revelou para o mundo. Foram 5 anos de extensa pesquisa e separação de toda a documentação que compõe o longa de 125 minutos, concebido e realizado com um orçamento de seis milhões de reais, em 2.004. São entrevistas feitas com familiares, amigos, ex-jogadores, jornalistas, especialistas e celebridades, dentre as quais,  o ex-técnico da seleção argentina, Cesar Menotti. E além disso, passagens e fatos pitorescos narrados por seus companheiros e pelo próprio ídolo.  E o mais importante: cerca de 400 gols dos 1.284 que o atleta fez durante sua prodigiosa carreira, envolvendo todos os campeonatos que disputou (regionais, nacionais, internacionais, mundiais e de quatro Copas do Mundo). Gols de todos os tipos, jogadas de gênio, dribles, gols com os dois pés (era ambidestro), de cabeça, de cobrança de falta, de pênalti, assim como as magníficas tabelas e as assistências que fazia para que seus companheiros de equipe pudessem concluir à meta. Curiosamente, aquele que foi considerado o gol mais bonito de sua carreira não foi documentado. Nenhum fotógrafo, nenhuma câmera de televisão esteve presente no acanhado estádio da Rua Javari, em São Paulo, no qual jogavam, pelo campeonato paulista, Santos e Juventus, para eternizar a sua mais genial jogada, que no longa é ilustrado com uma simulação de bonecos. Feliz foi o saudoso poeta Carlos Drumond de Andrade, ao sintetizar a diferença entre os gols de Pelé e outros de autoria alheia: “Difícil não é fazer mil gols como Pelé. Difícil é fazer um gol como Pelé”. O documentário em grande parte também registra para a história a ascensão do  Santos Futebol Clube das décadas de 60 e 70, a melhor equipe do Brasil, e suas esquadras maravilhosas,com Clodoaldo, Coutinho, Pepe, Zito, Formiga, e outros craques inesquecíveis. O Santos bicampeão da Libertadores e de Mundial de Clubes. O Santos,  oito vezes campeão paulista em 10 anos. Para quem, como eu, conheceu parte da obra de  Pelé, mas muito, muito menos do que se imagina, foi obrigatório ver o documentário com que um amigo me presenteou um dia do ano de 2.009. Um documentário que eu só vi agora, com calma, com a solidão necessária para ver, entender e sentir. E vibrar como nunca. Para os jovens que nunca viram Pelé jogar, é também obrigatório. Para todo brasileiro, qualquer que seja sua profissão ou vocação, mesmo para aqueles que não gostam de futebol, é também impositivo conhecer, em nome da história ou antologia deste país, o desempenho desse craque que encantou plateias do mundo inteiro, que se tornou conhecido em cada pedacinho do planeta, mais que o carnaval, que o samba, que o próprio Brasil. Um ídolo admirado por crianças, jovens, adultos e velhos. Um jogador negro que venceu todos os preconceitos e desafiou os limites; que mostrou categoria em todos os fundamentos do futebol; que aprendeu a vencer e a se livrar de quem quer que buscasse conter os seus avanços, os seus ataques, as suas mirabolantes jogadas, saltando ou se desvencilhando como um acrobata e levando consigo, sempre, colada ao pé, a bola, a sua eterna e obediente paixão. Pelé que injustamente expulso em partida fora do país, teve que voltar logo após, por imposição de toda a torcida que pagara para ver o seu espetáculo em campo, a despeito da partida e da rivalidade em si. Pelé que foi enaltecido pelos humildes e poderosos; que recebeu o reconhecimento e titulo de nobreza até da Rainha da Inglaterra. Pelé, cuja arte foi capaz de parar uma guerra e outros fatos impressionantes. Um documentário para ver, sem dúvida, nenhuma. Para admirar ainda mais e compreender a importância do atleta para a sua raça, para a sua família, para o futebol e o esporte em geral, e especialmente, para o nosso país, que a ele deve muito mais do que se imagina. E um documentário para ter, guardar e presentear os amigos e até, por generosidade, porque não, os inimigos. Em nome da arte. E da memória.

Até mais amigos,

P.S. (1) Em 21 (vinte e anos) de carreira, Pelé marcou 1.284 gols, em 1.375 jogos disputados. Foram 59 campeonatos e quatro Copas do Mundo (1.958, 1.962, 1.966 e 1.970), tendo sido tricampeão mundial (58 na Suécia, 62 no Chile e 70 no México). Foi durante dez anos consecutivos o artilheiro do campeonato paulista de futebol.

 P.S. (2) Em 25 de março de 1.958, antes da Copa do Mundo na Suécia, em que o Brasil conquistaria seu primeiro título, o jornalista, escritor e dramaturgo, Nelson Rodrigues, publicou sua primeira crônica sobre aquele menino de 17 anos que tinha encantado o Maracanã, num jogo com o América carioca, pelo Rio-São Paulo. Resultado Santos 5, América 3.  Veja os seguintes trechos dessa crônica:Depois do jogo América x Santos, seria uma crime não fazer de Pelé o meu personagem da semana. Grande figura, que o meu confrade Albert Laurence chama de “o Domingos da Guia do ataque”. Examino a ficha de Pelé e tomo um susto: — dezessete anos! Há certas idades que são aberrantes, inverossímeis. Uma delas é a de Pelé. Eu, com mais de quarenta, custo a crer que alguém possa ter dezessete anos, jamais. Pois bem: — verdadeiro garoto, o meu personagem anda em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Dir-se-ia um rei, não sei se Lear, se imperador Jones, se etíope. Racionalmente perfeito, do seu peito parecem pender mantos invisíveis. Em suma: — Ponham-no em qualquer rancho e sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor.”.  E ao aludir à auto-confiança que marcou também o atleta: “O que nós chamamos de realeza é, acima de todo, um estado de alma. E Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: — a de se sentir rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento. E o meu personagem tem uma tal sensação de superioridade que não faz cerimônias. Já lhe perguntaram: — “Quem é o maior meia do mundo?”. Ele respondeu, com a ênfase das certezas eternas: — “Eu”. Insistiram: — “Qual é o maior ponta do mundo?”. E Pelé: — “Eu”. Em outro qualquer, esse desplante faria rir ou sorrir. Mas o fabuloso craque põe no que diz uma tal carga de convicção, que ninguém reage e todos passam a admitir que ele seja, realmente, o maior de todas as posições. Nas pontas, nas meias e no centro, há de ser o mesmo, isto é, o incomparável Pelé.”  Finalmente, ao falar sobre mais um gol sensacional do atleta e ao exercer o seu vaticínio sobre o que aconteceria na Suécia alguns meses depois: “Ora, para fazer um gol assim não basta apenas o simples e puro futebol. É preciso algo mais, ou seja, essa plenitude de confiança, certeza, de otimismo, que faz de Pelé o craque imbatível. Quero crer que a sua maior virtude é, justamente, a imodéstia absoluta. Põe-se por cima de tudo e de todos. E acaba intimidando a própria bola, que vem aos seus pés com uma lambida docilidade de cadelinha. Hoje, até uma cambaxirra sabe que Pelé é imprescindível em qualquer escrete. Na Suécia, ele não tremerá de ninguém. Há de olhar os húngaros, os ingleses, os russos de alto a baixo. Não se inferiorizará diante de ninguém. E é dessa atitude viril e mesmo insolente que precisamos. Sim, amigos: — aposto minha cabeça como Pelé vai achar todos os nossos adversários uns pernas-de-pau.”

P.S. (3) A insistência da imprensa mundial, especialmente da argentina, de discutir quem foi o melhor jogador entre Pelé e Maradona é absolutamente irritante. São dois grandes jogadores, mas que viveram épocas diferentes, em tempos diferentes, quando o futebol tinha regras e concepções igualmente diversas. Além disso, Pelé não foi simplesmente um jogador de futebol. Pelé é um mito para além do futebol. Pelé, com sua arte e a sua notoriedade, promoveu a revisão de conceitos,  quebrou tabus e alavancou mudanças de valores sociais e morais. Daí a irrelevância e a inutilidade idiota dessa discussão, que absolutamente não leva a nada, nem faz jus aos atletas que merecem respeito pela história que construíram nas respectivas carreiras. Guardadas, é claro e sempre, as devidas e necessárias proporções.




domingo, 13 de julho de 2014

"A ESTRADA DA VIDA" DE FELLINI

Boa noite amigos,

Apesar de minha paixão pelo cinema, confesso que pouco me atraíam, na juventude, os filmes de Frederico Fellini, um dos mais respeitados diretores e cineastas da história universal da sétima arte. Sua obra, incluindo as duas fases em que os críticos distinguem a atuação do diretor (a primeira classificada como do "neorealismo”, e a segunda, mais ou menos enquadrada teoricamente no movimento conhecido como  “nouvelle vague”)certo é que todos reconhecem em sua obra uma singularidade que escapa à tentativa de extremá-lo em qualquer das categorias ou movimentos catalogados. Fato é que, agora na terceira idade, sinto uma necessidade incrível de viajar pelo universo do diretor italiano, pela importância de seus filmes, pela curiosidade que me despertam e pela sua contribuição inegável para a sétima arte. Dentre os longas da primeira fase, merece destaque  “La Strada”, que no Brasil, foi nominado de “A Estrada da Vida” (imagem da coluna de hoje emprestada de screamyell.com.br). Do ano de 1.954, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro,  o longa se passa na Itália do final dos anos 40, um país depauperado e devastado pela segunda-guerra-mundial. O protagonista é  o rude, Zampano, um artista de circo, na pele do insuperável Antony Quinn, que ganha a vida correndo pelo país, exibindo, na lona,  o seu velho e único  número, no qual, contando com os gritos e os suspiros de incautas plateias, arrebenta correntes só com a força de seu pensamento e de sua respiração profunda. Ao seu lado, Gelsomina (Giulietta Masina), é uma jovem ajudante comprada de sua família paupérrima e numerosa, por 10 mil liras. O destino da dupla, a partir de então, é um só, pois a jovem, sem outra alternativa de subsistência,  deve  acompanhar o seu amo nas longas  viagens pelo país, suportando, além das condições precárias de transporte, alimentação e pouso, os maus tratos e a  arrogância do artista.  Aos poucos, porém,  vai entendendo que esse comportamento é decorrente da ignorância e dos recalques daquele homem forjado na vida de luta e sofrimento. A confusão de sentimentos nobres e vis, o amor, o ódio, a culpa, o desrespeito,   a rudeza, a  necessidade de sobrevivência, são aspectos que marcam o caminho indelével desses personagens, que se envolvem profissional e afetivamente, evidenciando a preocupação de Fellini em documentar a natureza humana e as condicionantes decorrentes da pobreza, da falta de cultura e da influência de dogmas impostos por instituições como Estado e Igreja. Em preto e branco, o longa é um drama duro, mas sensível e apaixonante. Para alguns,  esse seria o melhor filme da primeira fase de Fellini e um belo exemplar do chamado “realismo italiano”. Gostei  e muito!

Até amanhã.

P.S. (1) Frederico Fellini desenvolveu sua filmografia composta de 24 títulos entre filmes de ficção, documentários e comerciais, entre os anos de 1.950 a 1.993. Nasceu em 1.920, em Rimini, Itália e morreu em 1.993, em Roma,  tendo tido um único casamento, contraído em 1.943,  com a atriz, Giullietta Masina , protagonista deste filme e de tantos outros do próprio marido famoso.

P.S. (2) Para quem quer conhecer ou já aprecia  Fellini, a obra do cineasta foi documentada em um livro: “Frederico Fellini – Filmografia Completa”, cujo autor é Chris Wiegand, do ano de 2.003, lançada em português pela Editora Taschen;

P.S. (3) Os roteiros e os personagens dos filmes de Fellini, especialmente da segunda fase, são considerados autobiográficos. Mas como é impensável que apenas a realidade deva fazer parte da magia do cinema e daqueles que criam roteiros, parte deles ou das características dos personagens foram inventados, isto é, não representam exatamente o  que é ou foi vivido pelo diretor. Por isso, sem se importar, nem desmentir os que consideravam a sua obra “autobiográfica”,  ele gostava de dizer que era também  “Um grande mentiroso”. Provocação de gênio, sem dúvida.

P.S. (4) A trilha sonora de Estrada da Vida é de Nino Rota, habitual colaborador de Fellini, em seus filmes. A respeito dele, disse um dia o cineasta: “Nossa integração foi interessante: eu tinha decidido ser diretor, e Nino era uma premissa para que continuasse a sê-lo. Tinha uma imaginação geométrica, uma visão musical das esferas celestes, para quem não havia necessidade de ver as imagens de meus filmes”. Nino também entrou para o cinema na década de 40, durante o neorealismo;

terça-feira, 1 de julho de 2014

SUPERSTAR E AS NOVAS BANDAS

Boa noite amigos,


Os festivais de música popular pipocavam na minha época de juventude, anos 60/70. A TV Record, então líder de audiência, realizou, com sucesso absoluto, três festivais de música popular brasileira, com fases de classificação e finais transmitidas ao vivo do Teatro Paramount em São Paulo, apinhado de gente, a maioria absoluta de estudantes universitários, que aplaudia e vaiava candentemente, ao manifestar suas escolhas. No dia seguinte às exibições, a Rádio Jovem Pan tocava o dia inteiro as novas canções para que os ouvidos se acostumassem com a melodia e letras das músicas classificadas. A TV Paulista, antecessora da Globo  cobria no Rio, o Festival Internacional da Canção, com fases internacional e nacional que também fizeram história. Seguiram-se outras: Bienal do Samba e  Festivais Universitários que a TV Tupi realizou para fazer concorrência com a Record. E tais festivais, sem dúvida, se não foram propriamente reveladores de artistas talentosos, sem dúvida, deram a eles, um tanto desconhecidos,  a visibilidade necessária para  que se tornassem célebres em todo o território nacional, e até no exterior,  a despeito das limitações de comunicação da época, ainda sem o  computador e a internet. Não me lembro, porém, de nenhum festival de músicos ou de conjuntos, como se dizia naquele tempo. Por isso, acompanho, desde a primeira edição, com curiosidade, o investimento que a TV Globo resolveu fazer num  reality show transmitido, ao vivo,  no  fim de noite de domingo, madrugada de segunda-feira, entre 23,00 e 1,00 hora, dedicado às bandas. Chamado de SuperStar, o festival vem empolgando mesmo, por  causa da qualidade das concorrentes. Claro que a seleção prévia mostra que as participantes, em regra, não são amadoras. São grupos profissionais, que já há algum tempo se apresentam por aí, nos  fins de semana e nos raros espaços  que  encontram neste país, em bares e churrascarias, sem grande valorização ou remuneração digna. Por isso, o grande mérito do programa consiste em revelar ao público  em geral, de todas as partes do Brasil, uma promissora nova geração de jovens talentosos, num segmento que não tem apresentado, nos últimos anos, grandes  novidades. A surpresa com  a qualidade das bandas que se apresentam, especialmente  as últimas seis, das quais apenas 4 se classificaram para a grande final, na noite de anteontem, não é apenas do público ou dos críticos, mas de artistas que são convocados, toda semana, para se misturarem ao público comum que forma o auditório do programa transmitido ao vivo. Vários integrantes de bandas tradicionais têm comparecido para elogiar e incentivar as candidatas, reconhecendo o esforço e a qualidade demonstrados nas apresentações. O júri formado pela cantora Ivete Sangalo, o ator-cantor, Fábio Junior e o roqueiro Dinho Ouro Preto, tem revelado a cada nova edição, mais entrosamento, renovado entusiasmo, razoável conhecimento da arte musical e muita sensibilidade na avaliação das candidatas. E Fernanda Lima, como apresentadora, é um show. A gaúcha reúne com naturalidade, uma extraordinária e serena beleza, com classe, bom gosto, e uma competência madura para comandar os nem sempre disciplinados comentaristas e integrantes da banda.  As quatro finalistas,  SURICATO, JAMZ, MALTA e LUAN E FORRÓ ESTILIZADO, são ótimas e demonstram que o estilo pode e deve ser versátil, explorando, quer na escolha do repertório, quer na roupagem de consagrados clássicos, os muitos e vários ritmos, universais e regionais,  de que se apropriou, ao longo do tempo, a chamada música pop.  Qualquer delas que vença a competição terá merecimento para isso. Mas acho que as que reúnem competência na execução cover de clássicos,  com músicas autorais, levam – e devem levar mesmo – vantagem, como é o caso da Banda Malta, que além de tudo, ainda tem um vocalista (e compositor) carismático, que ontem resolveu confessar algo de sua origem musical de formação e dileção, executando um clássico da inesquecível Aerosmith.  Vem coisa nova e boa por aí, com certeza!

Até breve amigos.


P.S. (1)  A imagem da coluna de hoje, da Banda Malta, favoritíssima aos prêmios oferecidos pelo programa para a melhor banda, foi emprestada de www.youtube.com.;

P.S (2) A Banda Aerosmith surgiu em 1.970 e está em atividade até hoje, com substituição de alguns de seus integrantes. Tornou-se célebre pela adoção do estilo hard rock, misturando vários ritmos como o blues, com elementos do pop, heavy metal e rhythm and blues. É considerada a mais famosa banda americana de rock de todos os tempos. Vendeu mais de 150 milhões de álbuns em todo o planeta. Acima um vídeo do Youtube com um de seus grandes sucessos: Crazy.

P.S. (3) O vocalista Bruno é o autor de praticamente todas as músicas autorais executadas pela banda Malta. Seu pai, que ele sequer chegou a conhecer por ter falecido quando o cantor e compositor tinha pouco tempo de vida, era um cantor sertanejo. Bruno confessou há pouco tempo que a influência da música sertaneja foi e continua sendo indiscutível na sua formação e evolução como profissional da música contemporânea. E embora tendo se tornado roqueiro, suas composições estão voltadas para um estilo de rock romântico, com influência melódica do sertanejo.


P.S. (4)  Para ilustrar e melhor entender o rock da Banda Malta:Hard rock é um estilo musical, subgênero do rock que tem suas raízes do rock de garagem e psicodélico do meio da década de 1960, que se caracteriza por ser consideravelmente mais pesado do que a música rock convencional, e marcada pelo uso de distorção, uma seção rítmica proeminente, arranjos simples e um som potente, com riffs de guitarra pesada e solos complexos. A formação típica era constituída por bateria, baixo, guitarra, e algumas vezes, um piano ou teclado, além de um vocalista que muitas vezes se utilizava de vocais agudos e roucos. Nos finais dos anos 60, os termos hard rock e heavy metal eram praticamente usados como sinônimos, mas o último gradualmente começou a descrever um estilo de música tocado ainda com mais volume e intensidade. Há ainda outra diferença chave, entre ambos sub-gêneros: Enquanto o hard rock manteve sua identidade blues e algum swing na batida, as melodias do metal são frequentemente ditadas por riffs agressivos de guitarra, desprovidos de swing” (www.wikipedia.com).