Boa noite amigos,
O principal mérito
do longa nacional “Getúlio” (2013), talvez
tenha sido o fato de seu diretor, João Jardim,
ter efetivamente, como um dos novos e nossos principais documentaristas
contemporâneos (vide co-direção de Janela da Alma (2001)
e Lixo Extraordinário (2.010), assumido
a responsabilidade de trazer para as telas, um dos personagens mais importantes
da história do Brasil. Enquanto nosso jovens cansam de assistir atualmente um
rosário de cinebiografias de personagens americanos
ou europeus (A Dama de Ferro (2011, Phyllida Doyd); Hitchocock (2.013,
Sacha Gervasi); O Discurso do Rei (2010, Tom
Hooper); A Rainha (2006, Stephen Frears); Lincoln (2012, Steven Spielberg), só para citar
alguns, o cinema nacional é muito pobre em roteiros que envolvam personagens e movimentos que se
tornaram célebres, muitos dos quais compondo
nossa antologia e definindo o rumo da história do Brasil. Getúlio Vargas, foi sem dúvida, o nosso mais importante
Presidente e o que ocupou o Palácio do Catete (antiga
sede do governo federal) por mais tempo, quer como líder de governo provisório, quer como
ditador na implantação do chamado “Estado Novo”, quer, finalmente, no exercício de mandato
decorrente de vitória nas urnas (foram quase 19 anos ao todo). Impossível assim
reproduzir na telona, em apenas um longa de duas ou três horas, todos os fatos
e acontecimentos relevantes de
seus governos e de sua vida pessoal. O diretor preferiu o recorte de um dos acontecimentos
políticos, ocorrido apenas 19
dias anteriores ao seu suicídio, o chamado “atentado da Rua
Tonelero”, visando o assassinato de seu principal opositor, o jornalista e político, Carlos Lacerda, atribuído ao Chefe de sua guarda pessoal, a guerra dos bastidores que se estabeleceu a
partir daí, até o conhecido desfecho (o
premeditado suicídio, antecedido de uma carta em que o Presidente, para não
renunciar, afirma que saí da vida para entrar na história). O personagem
principal é vivido pelo ator Tony Ramos (30
quilos mais gordo artificialmente), num dos muitos
desafios de sua carreira. Faltou o sotaque gaúcho do presidente, uma de suas
marcas pessoais. Os outros papéis mais importantes, do jornalista Carlos Lacerda e da filha do Presidente são competentemente
desempenhados por Alexandre Borges e Drica Moraes, respectivamente.
A iluminação impecável contribui com o tom dramático do dilema vivido pelo
acuado Presidente e muitas das cenas se passam em seu quarto, com longos
momentos de silêncio, em ritmo europeu de fazer cinema, o que,
para quem está acostumado ao movimento típico do cinema americano de efeitos
especiais (não é o meu caso, diga-se de passagem), traz um pouco de marasmo e
monotonia. O resultado final entre virtudes e defeitos é bastante razoável. De
mais relevante mesmo é, sem dúvida, o valor documentário do filme, que o torna
obrigatório para os nossos jovens estudantes e nossas escolas. Atribuir ao filme uma nota 3, numa escala de 0 a 5, me parece justo e adequado.
Até amanhã amigos,
P.S. (1) O filme foi
rodado, em grande parte, no próprio Palácio do Catete, Rio de Janeiro,
palco real do drama presidencial. O revólver mostrado é a mesmo que Getúlio utilizou para o seu suicídio;
P.S. (2) Getúlio Dornelles Vargas,
advogado e político brasileiro, foi líder civil da Revolução de 1.930 que pôs fim à chamada República Velha, depondo o último
presidente, Washington
Luis e impedindo a posse
do presidente eleito em 1º de março de 1.930, Julio Prestes. Foi Presidente do Brasil em dois períodos distintos. O primeiro, de 15 anos,
de 1.930 a 1.945, dividiu-se em três fases: de 1.930 a 1.934 foi Chefe do Governo Provisório; de
1.934 a 1.937 como Presidente da República do Governo Constitucional, tendo
sido eleito, pela Assembléia Nacional Constituinte de 1.934; e
de 1.937 a 1.945, como Presidente Ditador, enquanto durou o Estado Novo,
implantado após um golpe de Estado. No segundo período, em que foi eleito por voto direto, Getúlio governou o Brasil como Presidente da
República, por 3 anos e meio: de 31 de janeiro de 1.951 até o seu suicídio em 24
de agosto de 1.954;
P.S. (3) Grandes
avanços nos direitos dos empregados surgiram no governo Vargas e
por sua iniciativa. Dessa época é a nossa Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), na sua versão
original, que corresponde ao Decreto-lei
n. 5.452, que foi publicado no Dia do Trabalho de 1.943 (1º de maio)
e entrou em vigor em 10 de novembro do mesmo ano, em plena ditadura. De notar que o Decreto-Lei era o instrumento
utilizado pelo Executivo para legislar em substituição ao Poder Legislativo,
como previsto na Constituição de 1.934, uma das duas Cartas
Constitucionais outorgadas (a outra foi a de 1.824, por D. Pedro I, logo
após a proclamação da independência do Brasil).
P.S. (4) Na primeira
imagem da coluna de hoje (emprestada de noticias.bol.uol.com.br), uma
cena do filme do diretor João
Jardim. Na
segunda e última imagem, os retratos do ator Tony
Ramos e do próprio Presidente Vargas para confronto de eventuais semelhanças e
diferenças. Registre-se que, na foto, o ator não está usando maquilagem e
outros truques que o tornaram semelhante ao Presidente no filme. A imagem foi emprestada
do site www.purepeople.com.br.
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