Boa
noite amigos,
Muitos
“causos” se contam a respeito da figura do “caboclo” que, nascido e criado no
mato, vive curiosas e às vezes perigosas experiências quando posto em contato
com a cidade grande, que agrega rotinas, valores e costumes muito diferentes da
vida bucólica do campo. Ilustrando,
segue um dos “causo” que se conta por aí e que se garante ser verdadeiro.
“SERVINDO
O EXÉRCITO”.
O
Nando nasceu no sítio e foi criado junto com galinhas, porcos e carneiros,
chupando laranja diretamente do pé, à sombra dos “calipá”. Quando completou 17
anos teve que se alistar para o exército. No ano seguinte foi convocado.
Apresentou-se no quartel da metrópole tal como era: simplório nos gestos, nas
vestimentas e econômico nas palavras, pois não dominava bem a “tar” língua
portuguesa. Os outros rapazes eram quase todos dali mesmo e não disfarçavam o
orgulho de serem mais experientes e menos incautos. Os dias foram se passando
muito iguais: trabalho intenso, broncas
e ensinamentos. O Nando se sentia internado junto com os outros “recos”,
soldados rasos. Quinze dias depois, o Leonço, seu colega de quarto, chegou com
uma notícia que parecia boa. No final da tarde, começo da noite, fariam um
programa diferente. O Nando topou, sem saber bem do que se tratava. Mas ruim,
pior que aquilo ali de todo dia, não
podia ser. Na hora marcada, por orientação do Leonço, seguiram para o meio do mato, nos fundos da
grande área que abrigava o quartel. Ali já se formava uma fila de soldados.
Entraram na dita fila. À frente se notava um enorme barril velho com um furo no
meio. Os rapazes, um a um, abriam a braguilha da calça, davam uma olhada de
lado e, enquanto os outros disfarçavam, usavam o tal buraco do barril, digamos, para fins libidinosos. O Nando
achou aquilo estranho. Na sua vez, no entanto, repetiu o procedimento. Que
experiência maravilhosa! Que raio de buraco era aquele bão demais. Os dois
minutos reservado para cada um se passaram rapidamente. O Nando foi embora
feliz. Afinal, a vida de quartel não era assim tão ruim. Tinha coisa boa
também. Não é que o “tar” buraco do barril era mais gostoso que o cu das
galinha e das cabra que o moleque tinha experimentado. Os dias foram se
passando. O Nando, inquieto, questionava
o Leonço sobre quando haveria uma nova sessão daquela. Era só de 15 em 15 dias.
Finalmente, chegou o dia ansiosamente aguardado. O Nando tratou logo de chamar
o Leonço “pra mor de não atrasa o programa”. Foram para lá. Rapidamente o Nando
se dirigiu para o final da fila, que
ainda era pequena. Mas imediatamente foi impedido pelo colega de quarto que,
virando-se para ele, sem dó, nem piedade, e para espanto do caboclo, foi logo
dizendo: Nananinaná. Nada de fila. HOJE É SEU DIA DE ENTRÁ NO BARRIL.
Inté mais vê, amigos,
P.S.
(1) A foto que ilustra a coluna de hoje foi tirada do meu celular em San Diego,
Califórnia, uma das mais belas cidades daquele Estado americano. O curioso
barril, igualzinho ao da história do conto acima, estava postado na calçada,
defronte a um restaurante mexicano situado na San Diego Avenue, local de intenso
comércio de produtos e cultura mexicanos. Tive curiosidade de saber se havia
algum soldado dentro dele. Mas, por via das dúvidas, não espiei.
P.S.
(2) A cidade de San Diego situa-se na fronteira com o México e faz divisa com a
cidade de Tihuana. Há entre as duas cidades, uma área binacional. San Diego é considerado um grande centro de
biotecnologia e de estratégia militar.
P.S.
(3) Lá em casa todo mundo sabe do “causo”. E quando alguém tenta escapar de
tarefas que são divididas como, por exemplo,
lavar a louça no domingo ou coisa que o valha, os outros vão logo
advertindo o espertinho: “Nananinaná. Hoje é seu dia de entrá no barril”. Essa
linguagem, para nós de casa, é auto-explicativa e o seu sentido figurado não
carece de explicação.
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