Boa noite amigos,

2. É isso, pensei. Realmente,
os homens têm dificuldade em aceitar a condição humana que os submete a um
viver temporal comum a todos da mesma espécie (o tempo, o envelhecimento, a
morte). Ser apenas comum. Unicamente um exemplar temporal de uma
espécie, dentre as milhões de espécies do reino animal existentes no
universo e na história da humanidade, e que um dia qualquer vai desaparecer, sem
deixar pistas, é uma possibilidade que
assusta cada um de nós e desconstrói todos os sonhos e o mito de uma vida
espiritual, para além da morte, onde seríamos nós, para sempre, relevantes.
Mas, afinal, não é também uma possibilidade?
3. Na minha infância e juventude ouvi muitas
explicações a respeito da importância da religião e da crença na existência de
uma vida eterna. Garantiam alguns que a crença em Deus, na espiritualidade, na
possibilidade de uma vida eterna no Reino dos Céus, destinada a
compensar as agruras de uma vida terrena que poderia ser pobre, sofrida e
injusta seria fundamental para o equilíbrio na vida social. Logo, a existência
das religiões e a profecia que elas, a seu modo, oferecem ao povo, aos que
vivem de fé e esperança, consistiria, no passado e para sempre, a garantia de uma
moral objetiva calcada em valores, na prática do bem em detrimento do mal.
Será? Sem a fé e o credo no merecido paraíso, os homens deixariam prevalecer os
seus instintos e muitos se dedicariam ao mal, à pratica de crimes, sem
compaixão, cientes de que teriam que ter o que mais pudessem, nessa única vida apenas, sem
volta. O que me intrigava é que o mito da Justiça Divina e do Reino dos Céus
servia para manter o conformismo de
milhões de homens submetidos às mais cruéis e desumanas condições de
existência. Ora, para servir a própria religião e aqueles que dela se
utilizavam de forma mercantilista e odiosa, ora, em nome e na defesa da Nação,
do Estado, da moral, do patrão, da família, do raio que o parta.
4. - Sempre
achei uma sacanagem aquela história de que, até a última hora, nós eternamente
pecadores, poderíamos nos arrepender de tudo o que fizemos de errado nessa
vida, lá no finzinho dela, que Deus nos
concederia o perdão incondicional. Sem nem uma passadinha rápida pelo
purgatório. Mas vá que a gente morra sem
dar tempo do arrependimento eficaz, sem dar tempo do padre ou o pastor chegar para ouvir a nossa confissão e nos conceder o perdão, em nome de Deus. Aí, negão, primários ou não
iríamos arder no fogo do inferno para o resto da eternidade. Resto? E
eternidade tem resto?
5. Não se trata de fazer apologia do ateísmo ou
do agnosticismo, nem de criticar a posição de quem quer que acredite ou
professe qualquer crença, seita ou religião.
Minha natureza liberal e de respeito à diversidade, me impediria, como me impede, tal. O que deixo claro é que acredito meus amigos,
na existência e validade de um humanismo laico ou secular, não inspirado no
divino ou no transcendental, preconizado por homens que, com talento, sensibilidade e obras
magníficas, disseminam o bem e os valores de um humanismo verdadeiramente
voltado para a solidariedade e a justiça social. Esses seres acreditam que o
compromisso de uma vida inteira voltada para o bem e as obras sociais, é um
objetivo que justifica, compensa e satisfaz, por si só, tornando feliz e plena a vida
de um homem. Como diz a canção popular: A gente leva da vida, a vida que a gente
leva.
Até amanhã amigos,
P.S. (1) O humanismo secular ou laico é uma postura
filosófica que abraça a razão humana, a ética, a justiça social e o naturalismo
filosófico, rejeitando o dogma religioso, sobrenatural, pseudociência ou
superstição como a base da moralidade e de tomada de decisões. Ele postula que
os seres humanos são capazes de ser éticos sem religião ou sem um deus.
Fundamental para o conceito de humanismo secular é o ponto de vista fortemente
defendido de que a ideologia, seja ela religiosa ou política, tem de ser
cuidadosamente examinada por cada indivíduo e não simplesmente aceita ou
rejeitada na fé. Junto com isso, uma parte essencial do humanismo secular é uma
busca contínua da verdade, principalmente através da ciência e da filosofia.
P.S.
(2) Alguns humanistas seculares notórios
apontados pela organização não governamental norte-americana Council for
Secular Humanism e outras fontes: Voltaire,
David Hume, John Lennon, Frank Zappa, Sam Harris, Bertrand Russel, Richard
Dawkins, Andrei Sakharov, Jeremy Bentham, Steve Allen;
P.S.
(3) No Brasil são apontados, o médico Drauzio Varella e Herbert de Souza, o Betinho.
P.S.
(4) A imagem da coluna de hoje (do meu celular) é da Estátua da Liberdade,
não a original que se acha em Nova York, mas a sua imponente réplica levantada
em um hotel de Las Vegas, que visitei recentemente e aqui ilustra o pensamento
da coluna de hoje, ou seja, da beleza da liberdade conferida a cada ser humano
de conduzir a sua vida e a sua fé, ou falta de fé, à sua própria maneira e
deliberação.
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