quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O HOMEM COMUM E O HUMANISMO SECULAR

Boa noite amigos,

                         1.  Outro dia na Império, a novelinha atual das oito  da Globo, que começa às 9,15, e quando tem horário político, às 15 para as 10, a filha do personagem José Pedro (vivido pelo ator Alexandre Nero),  um nordestino que veio para São Paulo sem lenço, nem documento, e que se tornou, por força de algumas coincidências do destino, um dos mais famosos comerciantes de diamantes do Brasil, pergunta ao pai, diante da afirmação dele que  tem projeto de se tornar mais rico e poderoso  à frente da empresa de jóias,  se ele já não se sente suficientemente rico e poderoso. Em resposta o empresário afirma que esse objetivo visa apenas distraí-lo, fazendo-o esquecer que  vai morrer como um homem comum.  E remata: - Não acho certo, não acho justo ter que morrer, não me conformo  de ter que morrer como um homem comum. 


                             2. É isso, pensei. Realmente, os homens têm dificuldade em aceitar a condição humana que os submete a um viver temporal comum a todos da mesma espécie (o tempo, o envelhecimento, a morte).   Ser apenas comum.  Unicamente um exemplar temporal de uma espécie, dentre as milhões de espécies do reino animal existentes no universo e na história da humanidade, e que um dia qualquer vai desaparecer, sem deixar pistas,  é uma possibilidade que assusta cada um de nós e desconstrói todos os sonhos e o mito de uma vida espiritual, para além da morte, onde seríamos nós, para sempre, relevantes. Mas, afinal,  não é também uma possibilidade?

                            3.  Na minha infância e juventude ouvi muitas explicações a respeito da importância da religião e da crença na existência de uma vida eterna. Garantiam alguns que a crença em Deus, na espiritualidade, na possibilidade de uma vida eterna no Reino dos Céus, destinada a compensar as agruras de uma vida terrena que poderia ser pobre, sofrida e injusta seria fundamental para o equilíbrio na vida social. Logo, a existência das religiões e a profecia que elas, a seu modo, oferecem ao povo, aos que vivem de fé e esperança, consistiria, no passado e para sempre, a garantia de uma moral objetiva calcada em valores, na prática do bem em detrimento do mal. Será? Sem a fé e o credo no merecido paraíso, os homens deixariam prevalecer os seus instintos e muitos se dedicariam ao mal, à pratica de crimes, sem compaixão, cientes de que teriam que ter o que mais pudessem, nessa única vida apenas, sem volta. O que me intrigava é que o mito da Justiça Divina e do Reino dos Céus servia  para manter o conformismo de milhões de homens submetidos às mais cruéis e desumanas condições de existência. Ora, para servir a própria religião e aqueles que dela se utilizavam de forma mercantilista e odiosa, ora, em nome e na defesa da Nação, do Estado, da moral, do patrão, da família, do raio que o parta.

                            4. - Sempre achei uma sacanagem aquela história de que, até a última hora, nós eternamente pecadores, poderíamos nos arrepender de tudo o que fizemos de errado nessa vida, lá no finzinho dela,  que Deus nos concederia o perdão incondicional. Sem nem uma passadinha rápida pelo purgatório.  Mas vá que a gente morra sem dar tempo do arrependimento eficaz, sem dar tempo do padre ou o pastor chegar para ouvir a nossa confissão e nos conceder o perdão, em  nome de Deus. Aí, negão, primários ou não iríamos arder no fogo do inferno para o resto da eternidade. Resto? E eternidade tem resto?

                          5.  Não se trata de fazer apologia do ateísmo ou do agnosticismo, nem de criticar a posição de quem quer que acredite ou professe qualquer crença, seita ou religião.  Minha natureza liberal e de respeito à diversidade, me impediria, como me impede, tal.  O que deixo claro é que acredito meus amigos, na existência e validade de um humanismo laico ou secular, não inspirado no divino ou no transcendental, preconizado por homens que,  com talento, sensibilidade e obras magníficas, disseminam o bem e os valores de um humanismo verdadeiramente voltado para a solidariedade e a justiça social. Esses seres acreditam que o compromisso de uma vida inteira voltada para o bem e as obras sociais, é um objetivo que justifica, compensa e satisfaz, por si só, tornando feliz e plena a vida de um homem.  Como diz a  canção popular: A  gente leva da vida, a vida que a gente leva.

Até amanhã amigos,


P.S. (1)  O humanismo secular ou laico é uma postura filosófica que abraça a razão humana, a ética, a justiça social e o naturalismo filosófico, rejeitando o dogma religioso, sobrenatural, pseudociência ou superstição como a base da moralidade e de tomada de decisões. Ele postula que os seres humanos são capazes de ser éticos sem religião ou sem um deus. Fundamental para o conceito de humanismo secular é o ponto de vista fortemente defendido de que a ideologia, seja ela religiosa ou política, tem de ser cuidadosamente examinada por cada indivíduo e não simplesmente aceita ou rejeitada na fé. Junto com isso, uma parte essencial do humanismo secular é uma busca contínua da verdade, principalmente através da ciência e da filosofia.


P.S. (2)  Alguns humanistas seculares notórios apontados pela organização não governamental norte-americana Council for Secular Humanism e outras fontes: Voltaire, David Hume, John Lennon, Frank Zappa, Sam Harris, Bertrand Russel, Richard Dawkins, Andrei Sakharov, Jeremy Bentham, Steve Allen;

P.S. (3) No Brasil  são apontados,  o médico Drauzio Varella e Herbert de Souza, o Betinho.

P.S. (4) A imagem da coluna de hoje (do meu celular) é da Estátua da Liberdade, não a original que se acha em Nova York, mas a sua imponente réplica levantada em um hotel de Las Vegas, que visitei recentemente e aqui ilustra o pensamento da coluna de hoje, ou seja, da beleza da liberdade conferida a cada ser humano de conduzir a sua vida e a sua fé, ou falta de fé, à sua própria maneira e deliberação.



Nenhum comentário:

Postar um comentário