Boa
noite amigos,
Era
uma terça feira útil e eu, depois da frustração de um compromisso profissional em
São Paulo, para onde viajo agora muito raramente, resolvi
visitar o Masp. Não tenho certeza, mas julgo que
nunca estive no mais famoso museu de artes da América Latina. É incrível imaginar como alguém que reside há cinquenta e oito anos em Campinas, a apenas 97 km. da Capital e que durante muitas décadas
cumpria agenda profissional quase que semanalmente em São Paulo; um apreciador
de todas as artes, incluindo literatura, escultura e pintura, não tenha um dia
se programado para visitar o museu
fundado por Assis Chateaubriand, o polêmico dono dos Diários Associados. O Masp (Museu de Arte de São Paulo), hoje oficialmente, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, além disso, é uma
instituição de reconhecimento internacional e que
sempre esteve em dois endereços diferentes: Rua 7 de Abril, 230, no Centro (de 1.947 a 1.968), e Avenida Paulista (a partir de 1.968 até hoje), ambos muito disponíveis para quem está ou vai a Capital paulistana. Some-se a isso o fato de que, em minhas andanças sessentonas, já visitei os maiores museus do mundo, como o
Louvre, em Paris, o Prado, em Madri, e o Metropolitan, em Nova York, para citar
alguns. O certo é que a gente costuma se
interessar por conhecer tudo o que pode, quando viaja; quando está distante de casa; quando tem consciência de
que dificilmente haverá ensejo para voltar um dia ali. O que está em casa; o que
está próximo; o que está à mão, esse, além de não se dar o devido valor, ao
contrário daquele que se confere ao estrangeiro (uma espécie de xenofobia, às
avessas), a gente acha que visita a qualquer hora e que não faltará
oportunidade. E assim vai deixando para depois, para algum dia qualquer. Bem, mas voltando ao museu ele é realmente surpreendente.
Caminhando por seus dois pavimentos, a cada metro quadrado, pode-se apreciar obras autênticas de
renomados pintores e escultores brasileiros, italianos, franceses e de outras
diversas nacionalidades. Pinturas emblemáticas de movimentos diversificados como a Série Bíblica de Cândido Portinari, e de Ernesto Fiori, artista italiano que viveu e morreu no Brasil e que teve suas
obras doadas por seus herdeiros, após exposição temporária; preciosidades como A Ressurreição
de Cristo, de Rafael, e Rosa e Azul As Meninas
Cahen d’Anvers, de 1.881, uma das telas mais importantes e valorizadas
de Pierre Auguste Renoir. Os vários ambientes, envoltos no que existe de fundamental e relevante em matéria de pintura e escultura universais, de diversos e importantes artistas e suas fases, de múltiplas culturas e movimentos, são de visita obrigatória, porquanto significativos para se aprender, apreender e se encantar. Por fim, nos subsolos há acesso à biblioteca, ao café e a livros que contam a história do museu, de seus fundadores, presidentes, de suas exposições, mostras, cursos e visitantes ilustres, como a Rainha Elizabeth da Inglaterra. Ali, ainda no subsolo, abre-se um bom espaço para palestras e conferências, espaço esse que naquele momento se encontrava fechado para reforma ou manutenção. Absolutamente imperdível. Para ir e voltar sempre, com as novidades de mostras e exposições que a instituição promove rotineiramente.
Até breve amigos,
P.S.
(1) Menotti Del Picchia afirmou certa vez sobre Assis Chateaubriand e seu sonho
de legar ao Brasil o seu mais importante museu de arte: “Nele, a vontade e a
força são tão violentas que, no seu cérebro ‘imaginar’ já é começar a
realizar”;
P.S.
(2) Três nomes fundamentais na concepção e nascimento do Museu de Arte de São
Paulo: Pietro Maria, sua mulher, a arquiteta Lina Bo Bardi e Assis
Chateubriand. Os dois primeiros, italianos de nascimento, vieram ao Brasil no
ano de 1.946, de navio, carregando, no porão dessa embarcação, 54 telas dos
séculos XIII e XVIII, para aqui realizar
a Exposição de Pintura Italiana Antiga, promovida pelo Ministério da Educação e
Saúde. Aqui conheceram o dono dos Diários Associados e o trio foi o
responsável, a partir daí, pela rica história do Museu, uma referência cultural
de arte, a mais importante, sem dúvida, da história do Brasil;
P.S.
(3) A descrição do projeto definitivo do
prédio do Museu na Av. Paulista, é assim
relatada em livro produzido para comemorar os 60 Anos do Museu:
“Ao lado do marido, a arquiteta Lina Bo Bardi
teve intensa participação no circuito intelectual brasileiro, conquistando
também um espaço privilegiado na moderna arquitetura do país ao conceber, no
final da década de 1950, o projeto da sede definitiva do museu. Integrado à
modernidade da avenida Paulista, suas linhas arrojadas surpreendem até hoje
pela peculiaridade: quatro pilares de concreto suspendem, a 8,5 metros do piso,
os dois andares que formam o bloco principal do edifício, que se complementava
com dois pavimentos ocultos e o subsolo”.
P.S.
(4) Agora sobre o famoso Vão do Masp, prossegue o relato: “Entre ambos, o imenso vão livre de 74 metros,
o maior do mundo à época da construção. Hoje, quem olha para o imponente
edifício percebe facilmente que nele estão estampadas a vocação modernista e a
identidade inconfundível da grande metrópole. Mesmo o observador mais distraído
notará a existência de grandes espaços abertos, intencionalmente concebidos
para serem preenchidos pelo uso cotidiano da comunidade.”;
P.S.
(5) Muitas exposições temporárias foram realizadas pelo Masp nos seus 67 anos de
existência. Algumas, que merecem destaque: de Aldemir Martins, o primeiro aluno da
Escola do Masp (mostra que contou com 192 obras, sendo 136 pinturas e 56 obras
sobre papel e o lançamento do livro Aldemir Martins por Aldemir Martins); a
Megaexposição de Renoir em 2002; e, a do francês Claude Monet, que bateu recordes
de visitação em 1.997. O Masp realizou
centenas de eventos de arte, promoveu cursos e recebeu milhões de visitantes. É referência internacionalmente reconhecida e respeitada;
P.S.
(6) A biblioteca do Museu possui cerca de 68.400 exemplares entre livros, catálogos,
revistas, boletins e raridades. Oferece ainda para consulta, coleção de obras
raras sobre historia da arte e arquitetura existentes no Brasil, doada em
1.977, pelo casal Pietro Maria e Lina Bo Bardi;
P.S.
(7) Na tarde de minha visita ao Masp no vão do prédio acontecia uma manifestação de professores. O espaço é rotineiramente utilizado como tribuna de protestos e reivindicações, ou exposições de arte. É o coração do Masp que, cumprindo o seu destino, aquele para o qual foi preconizado pela arquiteta e executores, dá vida às obras estáticas imortalizadas nos pincéis, tintas, martelos e formões dos grandes pintores e escultores da história;
P.S. (8) As imagens da coluna de hoje são de telas famosas de propriedade do Museu de Arte de São Paulo, grande parte adquirida por Assis Chateaubriand, com a colaboração do casal, Pietro-Lina Bo Bardi, no final da década de 40, na Europa, aproveitando a grande crise econômica pós Segunda Guerra Mundial. Pela ordem: 1) Rosa e Azul de Renoir; 2) O Filho do Carteiro, de Van Gogh - 1.888; 3) Retrato de Suzanne Bloch, Fase Azul de Pablo Picasso; 4) Banco de Pedra no Asilo de Saint-Remy, de Van Gogh; 5) O Lavrador de Café do brasileiro Cândido Portinari.