Boa
noite amigos,
1)
Os cineclubes surgiram no Brasil na
década de 20, com o objetivo de unir e reunir
os aficionados pela Sétima Arte, em torno de um lugar
comunitário destinado à exibição de filmes e vídeos produzidos por
essa mesma comunidade, ou de filmes de
arte, geralmente fora do circuito comercial, e discutir tudo, desde roteiros,
mensagens e objetivos do autor e do diretor, desempenho dos atores, cenários,
guarda-roupas, até trilha sonora.
Costuma-se afirmar que, diferentemente do cinema, em que o filme é uma mercadoria
de consumo e entretenimento ligeiro, que proporciona, às agências e
distribuidoras, o esperado lucro, e para o espectador, prazer que se goza sozinho ou acompanhado em
círculos muito reduzidos, no cineclube o que importa é o encontro[1] de
pessoas, unidas pelo objetivo comum de estabelecer um relacionamento, umas com
as outras, em torno do filme e sua mensagem, ou como produto meramente estético,
porém indispensável ao cidadão ávido de
conhecimento, cultura e, especialmente, de comunicação com os seus
semelhantes.[2]
2) Em Campinas, o cineclube surge em 1.950, por obra e graça de um ilustre
cidadão da terra, o arquiteto Marino
Ziggiatti, hoje quase nonagenário e atual Presidente do Centro de Ciências Letras e Artes. Marino
participou da criação de três importantes instituições ligadas à Sétima Arte: o
Clube de Cinema da Associação Campinense de Imprensa, o Cineclube da
Sociedade Reunidas e o Departamento de
Cinema do Centro de Ciências Letras e Artes. Para contar a história de 65 anos de Cineclube em Campinas, desde
o dia 15 de julho de 2.015, está em cartaz no Centro de Ciências, Letras e Artes, sob curadoria competente do
jornalista e escritor, João Antônio
Buhrer de Almeida, a Exposição “65
Anos de Cinema de Arte em Campinas”.
Na exposição, que visitei na data da abertura (ao lado foto de palestra do curador), podem ser vistos anúncios, cartazes, reportagens e materiais, como as
latas originais de João da Mata,
filme antológico de 1.923, de Amilar
Alves, que foi exibido em Campinas
em 1.950, no Teatro Municipal, com
enorme sucesso, tendo
[1] Dizia Vinícius de Moraes que “a vida é a
arte do encontro, embora exista tanto desencontro pela vida”;
[2] “Um cineclube se organiza antes de tudo
pela vontade do convívio comunitário, pelo desejo de reunir os amigos, de
participar de alguma atividade diferente da existente, de exercer a cidadania.
Cincelube é antes de tudo uma atitude cidadã! A organização burocrática vem
depois” Disponível em: http://www.culturadigital.br/cineclubes/cineclube/rtigos/o-que-e-um-cineclube/. <Acesso em 31 de julho de 2.015>
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como um dos produtores, José Ziggiatti, pai de Marino.
Essas latas estavam esquecidas embaixo
de uma escada de um antigo prédio. As reportagens, fotos e cartazes lembram os
vários ciclos de cinema, as jornadas de cineclubes, as palestras proferidas nas
dependências do CCLA e os festivais promovidos nas seis décadas decorridas,
graças ao empenho de Marino e de
cinéfilos da cidade, comprometidos com a continuidade e a excelência das
atividades do centro[1].
A exposição vai até o dia 15 de agosto de
2.015, e merece ser vista, pois é um registro importante da memória da cidade e
de seu envolvimento com a Sétima Arte.
Até
amanhã amigos.
P.S.
(1) As imagens da coluna de hoje, minhas e obtidas de celular, exceção à última, são todas da exposição 65 Anos de Cinema
e Arte de Campinas. A última imagem (emprestada de jornallocal.com.br) é do saudoso Cine Paradiso, aos fundos da Galeria Barão Velha;
P.S.
(2) Os cineclubes, seus adeptos e objetivos não desapareceram, absolutamente. Às
vezes, sem alusão a esse nome, algumas
companhias cinematográficas se propõem a
exibir filmes de arte, que estão fora dos circuitos comerciais, com ambiente propício para debates entre os espectadores, no final das sessões. Em Campinas,
tivemos o saudoso Cine Paradiso,
pequenino, situado aos fundos da também pequenina Galeria Barão Velho, na rua Barão
de Jaguara, 936, Loja n. 09, Centro
da cidade, que funcionou durante 17 anos, entre 1.992 e 28 de outubro de 2.009,
quando cerrou suas portas, exibindo o filme Os Amantes, para dar lugar a um restaurante. Um dos
proprietários, cinéfilo compromissado com a comunidade, escolhia os filmes,
vendia ele próprio os ingressos e recebia o público na
porta de entrada, tudo para baratear os custos e vivenciar pessoalmente a alegria
de dividir o prazer comum. Depois, encerrado o acesso, cerrava as portas e ia
assistir, com seus companheiros, aos
filmes em cartaz. No final das sessões
eram comuns comentários, conversas e debates acerca dos filmes. Infelizmente,
por absoluta falta de viabilidade financeira, o Cine Paradiso fechou as portas em
28 de outubro de 2.009. O Cine Jaraguá, funcionou durante algum
tempo, com proposta de cineclube, no Shopping Jaraguá, na Avenida Brasil, aqui em Campinas. Mas o
cinema e o próprio shopping desapareceram, dando lugar a outro tipo de empreendimento. O último reduto dos apreciadores do cinema de
arte na cidade, foi o cine Topázio do Shopping Prado, no Parque
Prado. Não resistiu, porém, às exigências de um
mercado cada vez mais fincado no cinema comercial de rápido consumo e lucro
fácil. Li nesta semana, no Correio
Popular, que no Distrito de Barão
Geraldo, já há um movimento para
tentar resgatar o cinema de arte, propondo alguns locais, horários e datas e
convocando os adeptos para auxílio na elaboração da programação e obtenção de
recursos.
[1] “Em 1.965 surgiu o Cineclube Universitário
de Cinema, que também se utilizou das dependências do CCLA, fiel parceiro
destes jovens cineclubistas. Os integrantes deste grupo foram Rolf Luna
Fonseca, Luís Carlos Borges e Days Fonseca. Permaneceram ligados ao CCLA até o
encerramento daquele Cineclube, em 1.974.” (notas extraídas do texto EXPOSIÇÃO “65
ANOS DE CINEMA DE ARTE EM CAMPINAS”, assinado pelo jornalista e curador da
exposição, João Antônio Buhrer de Almeida).
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