Boa noite amigos,
O estranho pedido de um barco, feito por um súdito, ao seu rei, com a intenção de poder viajar pela imensidão dos mares, à procura da ilha desconhecida é a
metáfora que o escritor lusitano, José
Saramago utiliza, com sua sensibilidade e talento, para
contar a história de um homem simples, mas incomum, em busca da realização de seus sonhos, contra o status
quo social e político, que lhe impõe dificuldades, dúvidas, desestímulo, limitações e
insegurança de toda ordem, incrementada pela vaga noção que ele próprio tem do que vai encontrar pela frente,
e do que o destino, sempre imprevisível e imponderável, lhe reservará. Otimismo, coragem, dúvidas e contradições são
sentimentos antagônicos, mas presentes, que se misturam e criam a dificuldade de como enfrentar o
monstro do mar[1],
por quem nunca aprendeu a navegar [2]. A ilha desconhecida é o
próprio ser perscrutando o seu interior, a sua alma na mais relevante
profundeza, o que deve ser enfrentado sem medo ou receio, com força e
obstinação[3]: “Tenho, tive, terei se for
preciso, mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu
quando nela estiver. Não o sabes. Se não sais de ti, não chegas a saber quem és”,
eis o trecho que revela, dentre outros, o sentido da ilha desconhecida. A mensagem: Podemos passar toda a vida apenas na superficialidade do conhecimento acerca de nós mesmos e do mundo; Ou podemos optar por uma vida que se compromete em controverter esse conhecimento, com o objetivo de aperfeiçoamento. O Conto da ilha Desconhecida é mais uma obra do escritor, capaz de emocionar
e de revelar a genialidade do autor de Ensaio sobre a Cegueira e outras preciosidades da literatura universal. São vários os formatos, edições e idiomas
em que o Conto da Ilha Desconhecida
se apresenta ao leitor. Refiro-me aqui à interessante publicação da Companhia das Letras na sua 36ª.
impressão, veiculada em 63 páginas, com capa e aquarelas internas de Arthur Luiz Piza (vide imagem da coluna
de hoje, emprestada de www.garagemdearte.com.br).
Imperdível àqueles que apreciam a obra desse grande escritor e de sua vasta e relevante literatura.
Até amanhã amigos,
[1] “Sozinho não serei capaz de governar o
barco, Pensasses nisso antes de ir pedi-lo ao rei, o mar não ensina a navegar”
(fls. 57)
[2] “E tu para que queres um barco, pode-se
saber, foi o que o rei de facto perguntou quando finalmente se deu por instalado,
com sofrível comodidade, na cadeira da mulher da limpeza. Para ir à procura da
ilha desconhecida, respondeu o homem. Que ilha desconhecida, perguntou o rei,
disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, dos que têm
a mania das navegações, a quem não seria bom contrariar logo de entrada.” (fls.
16/17).
[3]
“Não queres vir comigo conhecer o
teu barco por dentro, Tu disseste que era teu, Desculpa, foi só porque gostei
dele, Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior
maneira de gostar.” (fls. 32).