domingo, 27 de novembro de 2016

DOIS MENINOS, UM DE 19, OUTRO DE 42. E O PALMEIRAS É CAMPEÃO BRASILEIRO DE 2.016. DÁ-LHE PORCO!

Boa noite amigos,

O atacante Dudu, de 24 anos, na melhor fase de sua carrei-
ra foi um dos responsáveis pela campanha vitoriosa do
Palmeiras no título de 2.016, com gols importantes e gran-
des assistências. Imagem emprestada de gazeta.press. 

Palmeiras 1, Chapecoense 0. O apito final do árbitro sacramentou o que já era esperado: o Verdão é o grande Campeão Brasileiro de 2.016 e mais de 40.000 torcedores explodiram de alegria, choro e oração na  Arena Allianz, a nova casa da Sociedade Esportiva Palmeiras, um clube de enorme tradição, detentor  do maior número de títulos brasileiros, depois da última unificação feita pela CBF. Com o de hoje são  9 títulos brasileiros. Com uma rodada de antecedência, o Verdão conquista merecidamente o campeonato, o primeiro na era dos pontos corridos, depois de uma abstinência de 22 anos (o último nacional foi em 1.994, ainda no tempo da patrocinadora Parmalat). O alviverde de São Paulo, depois de anos formando times de baixa qualidade e experimentando  rebaixamentos para a série B, com problemas de gestão e de ordem financeira,  há algum tempo  vem se organizando em termos de empresa. A diretoria atual, sem grandes loucuras, mostrou competência e serenidade para administrar a crise que há alguns anos insistia em rondar o Palestra Itália e, depois da construção do Allianz Parque, uma grande parceria para o clube, logrou formar uma equipe equilibrada, comandada por dois meninos, como diz o título da postagem de hoje. Um de 19 anos, o Gabriel de Jesus, que também está brilhando na Seleção Brasileira de Tite, e surge como uma das mais  auspiciosas esperanças do renovado futebol brasileiro e o “garoto” capitão Zé Roberto, com sua invejável condição atlética aos 42 anos de idade, mercê do seu exemplo como profissional e dos cuidados que dedica à sua saúde física e mental. Claro, que há muitos outros nesse time campeão. O goiano  Dudu,  meia atacante destro talentoso, mais maduro e disciplinado,   na melhor fase de sua carreira;   Cleiton Xavier,  que volta anos depois de sua passagem  e que não se importa em ficar na reserva, um reserva de luxo, pois quando entrou, sempre deu conta do recado; Edu Dracena, zagueiro com substancioso currículo, no qual se incluem vários títulos nacionais, na reserva do badalado zagueiro, Mina, da Seleção Colombiana de Futebol e que, segundo se comenta, já teria até um pré-contrato com o Barcelona.  Substituir um dos maiores ídolos do clube, ou seja, o goleiro Fernando Prass, não foi motivo de intimidação para o então desconhecido Jailson que nunca antes jogara numa equipe da 1ª. divisão do futebol brasileiro, mas que mostrou muita personalidade e segurança, além de competência,  em todas as rodadas de que participou, ajudando o time a sofrer o menor número de gols dentre todos os 20 participantes do campeonato. Também para a láurea contou a estrutura montada pelo clube, o bom trabalho de toda a comissão técnica, tendo à testa o palmeirense confesso, Cuca, que passou como jogador pelo clube nos anos 90, sem nunca, porém, ter tido o privilégio de conquistar um campeonato nacional. 
Aos 19 anos, Gabriel de Jesus é grande aposta
do futebol brasileiro para a Copa do Mundo da
Rússia e vai jogar na Inglaterra em 2.017, con-
tratado pelo Manchester City.
O Palmeiras, meus amigos, não foi uma equipe de grandes ou inesquecíveis jornadas capazes de empolgar os amantes do futebol-arte, tão badalado e esquecido. Não, ao contrário. Em muitos jogos venceu mais pela obediência tática, raça e disposição física, do que propriamente pela qualidade técnica, até porque não tem um plantel de grandes estrelas. Mas a sua regularidade foi incontestável. Além disso, montou um elenco igualmente equilibrado, mesclando jovens promessas com atletas rodados e experientes, o que é fundamental num campeonato longo como o brasileiro. Atingindo 77 pontos, resultado de 23 vitórias, 8 empates e apenas 6 derrotas, faltando ainda uma rodada para o término do Brasileirão de 2.016, ostentando o segundo melhor ataque e a  melhor defesa da competição,o Palmeiras é um incontestável campeão e a sua imensa e fiel torcida, que jamais esteve ausente nos estádios em que a equipe jogou, dentro e fora de São Paulo,  pode e deve comemorar esse importante título, pois o Verdão é, agora, eneacampeão. E dá-lhe Porco!

Até amanhã amigos.

Aos 42 anos, ostentando invejável condição atlética, o lateral
e meia, Zé Roberto, que foi titular na Copa do Mundo de 2006
foi um gigante dentro e fora do campo, orientando os atletas-
para o desafio da conquista do título. Imagem emprestada de -
globoesporte.com.
 P.S. (1) Registro o elenco palmeirense responsável pela conquista que já está na história do Verdão: Goleiros: Fernando Prass, Jailson, V. Silvestre, Vagner; Zagueiros: Edu Dracena, Mina, R. Carvalho. T. Martins e Vitor Hugo; Laterais: Egídio, Fabiano, Jean, João Pedro e Zé Roberto; Volantes: Arouca, Gabriel, T. Santos, Matheus Sales, Rodrigo, Tchê Tchê; Meias: Allione, Cleiton Xavier, Fabrício, Moisés, Vitinho; Atacantes: Alecsandro, Dudu, Erik, Gabriel Jesus, L. Barros, L. Pereira. R. Marques e Roger Guedes.


P.S. (2) Os 9 títulos nacionais do Palmeiras, são os seguintes: 1.960 – Campeonato Brasileiro; 1.967 (Taça Brasil); 1.967 (Torneio Roberto Gomes Pedrosa); 1.969 (Torneio Roberto Gomes Pedrosa); 1.972, 1.973, 1.993, 1.994 e 2.016 (campeonato brasileiro na versão atual);

P.S. (3) Continuo contrário a essa unificação de títulos feita pela CBF. Os torneios e campeonatos supostamente nacionais anteriores a 1.971, não tinham essa característica. As equipes eram convidadas sem observância de  índice técnico, eram poucos os jogos e não havia cruzamento entre todos os times. Ao contrário depois de uma pequena fase de classificação, a coisa se resolvia no mata-mata, como na Copa do Mundo, que também não passa de um torneio como a Copa do Brasil.



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

E A VIDA CONTINUA... A REABERTURA DO BATACLAN EM PARIS. E ELIS, O FILME, VEM AÍ.



Queridos amigos:

Fachada em estilo chines do Bataclan no centro de Paris, -
antes do atentado. Imagem emprestada de www.vermelho
org.br.
UM....

“Mas é claro que o sol, vai voltar amanhã, mais uma vez eu sei, escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã. Espera que o sol já vem.”  Os versos do nosso saudoso Renato Russo, lembram, é claro, que apesar de todo o obscurantismo, de toda a violência dos homens contra os homens, de  todo fanatismo, do terror e da injustiça que marca e mancha a história da humanidade, a vida sempre continua. À escuridão da noite, segue-se indefectivelmente nova aurora da manhã, apesar de todos e quaisquer pesares.[1] E prevalece  a lei da continuidade da vida que nenhum dos apocalipses sustentados por seitas e  religiões foram capazes, ainda, de revogar. Permanece recente em nossa memória o episódio de terrorismo que sacudiu a boate Bataclan, em Paris, há um ano. Um atentado que vitimou 130 pessoas, cuja autoria foi reivindicada pelo temível Estado Islâmico. O sangue de inocentes que ali, na noite mágica da cidade-luz, buscavam a alegria do encontro na arte da música e da dança, escorreu impiedosamente pelos cantos da belíssima arquitetura chinesa da centenária casa de espetáculo e pelas calçadas da Boulevard Voltaire, no centro da capital da França. Reformada, a casa reabriu com um espetáculo do cantor inglês, Sting, cuja renda integral será revertida para as famílias das vítimas. A partir da meia-noite de hoje, dia 13, a casa permanecerá fechada por 24 horas, num dia de luto, em memória dos inocentes vitimados na tragédia. Todas as mensagens de artistas e pessoas ilustres, assim como de anônimos frequentadores do café-teatro, se abriam em duas vertentes: de um lado a homenagem às vítimas e palavras de consolo aos seus familiares; de outro, a lembrança de que a melhor maneira de homenageá-las era a reabertura da casa, depois de reformada, resistindo assim ao brutal ato de barbárie, como tributo à cultura, à arte, ao entendimento humano e ao encontro que o estabelecimento representava em Paris, o centro da democracia, da liberdade e fraternidade entre os homens, bandeiras do iluminismo que ali floresceu.


A atriz Andreia Horta caracterizada para 
viver na tela a cantora Elis Regina. Imagem
emprestada de O DIa.com.br.
DOIS....

Está concluído o filme ELIS, que retrata a vida e a carreira da Pimentinha, a mais importante cantora brasileira de todos os tempos, morta aos 36 anos de idade, em 1.982. A atriz Andreia Horta ganhou o papel da protagonista e ficou extremamente sensibilizada com o convite e a oportunidade de representar a artista que foi sua  inspiração nos tempos de juventude. A atriz se parece com a cantora, especialmente naquele sorriso largo que deixa transparecer parcela das gengivas superiores e procurou cortar os cabelos como os de Elis, nos vários momentos de sua carreira. A voz inigualável da estrela é mesmo de Elis, mas Andreia teve que treinar muito a voz para cantar junto, dublando com o máximo de realismo para dar autenticidade às cenas. Agora é esperar. Os ardorosos fãs da cantora, assim como toda a crítica especializada esperavam ansiosamente pelo preenchimento dessa lacuna na sétima arte nacional. Afinal, Vinícius, Tom Jobim, Chico, Bethânia, Zezé de Camargo e Luciano,  Cazuza, Renato Russo, Paulinho da Viola e outros tantos já tiveram suas vidas contadas na telona. Espero que o filme faça jus à competência e importância de Elis para a música brasileira e internacional.


Até mais amigos.








[1]  Nos anos 70, numa noite de melancolia, escrevi uma breve poesia que chamei de Suicídio. Um grande amigo muito jovem tinha se ido. Não suportara a pressão que os fatos da vida exerciam sobre a  sua sensível natureza. Sua morte, incompreensível para mim, me causara profunda comoção e revolta. Revolta contra o sol que nascera brilhante no dia subsequente. O poema dizia assim:  “Era um instante, uma estante, estática. Era um lamento, um momento, um laço. No meio da noite, corpo morno, morto, esboço inacabado. E o dia nasceu impiedoso... Como se não tivesse acontecido nada.”

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

LITERATURA - MEU REINO POR UM CAVALO - AUTORIAS E CLICHÊS

Boa tarde amigos,

     Capa de apresentação do livro
      "Meu Reino por Um Cavalo" da
       Editora L& PM.
Outro dia, fuçando pelas prateleiras da Livraria Cultura, buscando alguma novidade que me interessasse, fora dos grandes clássicos permanentemente reeditados, e das mesmices dos livros de auto-ajuda, tive minha atenção despertada para um título destacado, na capa,  em letras garrafais: MEU REINO POR UM CAVALO.  Trata-se de conhecida frase pronunciada por personagem de William Shakespeare, o rei Ricardo III da Inglaterra, na peça teatral do mesmo nome, ao perder seu cavalo, em plena luta, na batalha de Bosworth,  na qual foi derrotado pelo seu desafeto, o conde de Richamond.  Gosto de reproduzir a citação, lembrada por escritores civilistas, em minhas aulas de Direito, para ilustrar a figura do “estado de perigo”, um dos vícios de consentimento que o novo Código Civil[1] criou, ao lado do “erro”, “dolo” e “coação”. Consistiria o tal “estado de perigo” numa promessa que se faz em momento em que o agente se encontra em situação de risco grave, de ordem pessoal ou patrimonial. Aí essa manifestação de vontade passa a ter valor relativo, pois não agiria ele em condições  normais de deliberar quanto aos elementos e conteúdos da proposta. Perfeito, então, o exemplo. Vale notar que no caso da famosa peça, a proposta foi inútil, pois o monarca perdeu o cavalo, não conseguiu outro, e perdeu também o reino. Bem, voltando ao livro que me chamou a atenção, procurei conhecer o seu autor. Mas, claro, logo descobri que, qualificando-se como um livro de citações, aforismas  e frases célebres, uma mera coletânea do que se disse por aí, no presente e nos passados próximo e remoto, o autor não é o editor, mas os filósofos, dramaturgos e escritores,  ou, ainda melhor, os seus personagens, pois, no caso de William Shakespeare, por exemplo, é quase impossível separar a criatura do criador, e suponho que muitas de suas citações e aforismas sejam mais conhecidos pelos personagens, em cujas bocas foram pronunciados,  do que propriamente pela autoria das peças. Não duvide que muita gente que sabe quem foi Romeu e Julieta, nunca ouviu falar do dramaturgo. Minha avó vivia nos alertando que "Nem tudo que reluz é ouro", mas decerto nunca soube quem foi o Mercador de Veneza. E o não menos famoso "O que não tem remédio remediado está" andou pela boca de muita gente simples que de Otelo, no máximo teve notícias do pequeno Grande Otelo, o nosso lendário Macunaíma, herói brasileiro de saudosa memória.  Pensei com meus botões: Como as frases que se tornam conhecidas e notáveis, por gerações e gerações, se juntam mais aos personagens do que aos seus criadores. E em muitos casos, curiosamente, se desprendem de um e outro, do contexto da obra, da própria obra, para ganhar feição e vida próprias. Aí viram clichês, que se prestam para tudo e para todos, ganhando autonomia e até supostos outros autores ou coautores. [2]

Cena do filme  O Carteiro e o Poeta, uma produção ítalo-fran-
cesa de 1.996, vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora,
focalizando os atores, Philippe Noiret (Neruda) e Massimo
Troisi (O Carteiro). Imagem emprestada de www.outrospla-
nos.com.br).
Em O Carteiro e o Poeta,  filme do diretor Michael Radford, que retrata o relacionamento do poeta Pablo Neruda, exiliado e isolado em uma ilha remota do Mediterrâneo,   com um carteiro, que lhe leva a correspondência, há uma cena marcante. Depois de descobrir que o carteiro teria presenteado uma namorada com  versos de sua autoria, segue-se o seguinte diálogo entre êles - Eu te dei meus livros para ler, mas não te autorizei a roubar os meus poemas. Deste a Beatrice o poema que escrevi para Matilde.  Ao que o humilde e sensível carteiro, responde: - A poesia não  pertence a quem a escreve mas àqueles que precisam dela.”[3]. Pois bem, voltando à livraria, indago dos amigos: Quem compraria um livro que se limita a reproduzir frases, pensamentos ou aforismas de  notoriedade, que se acham, aos punhados, na Internet? Pois bem, eu comprei. Paguei cerca de vinte e poucos reais um livro de apresentação, diagramação e ilustração muito modestas,  por uma razão muito simples: prefiro sempre as versões físicas das coisas, do que as virtuais. E há também  um critério de organização que facilita a localização pelo índice e a reunião dos assuntos, em cada capítulo, o último dos quais reservado para, em poucas linhas, destacar quem foi cada um dos autores das citações colacionadas. Ah! Fiquei sabendo que o livro é um sucesso de venda, coisa rara nos dias que correm. Acho que também por um último detalhe que me passou. Há espaços  nele para que o leitor escreva os pensamentos que quiser (aqueles que nunca esqueceu ou que foram importantes para ele, segundo adverte o organizador Ivan Pinheiro Machado, na apresentação).  Bela sacada de marketing! 
Caricatura de Millor Fernandes 
(1923/2012), desenhista, humo-
rista, dramaturgo, escritor, poe
ta, tradutor e jornalista.

Vivemos num mundo em que as pessoas querem interagir, não apenas olhar, ver, curtir, na linguagem internauta. Dar um pitaco  aqui e acolá. Arrumar com um jeitão próprio. Um meter um pouco a colher no brigadeiro do outro. Ou como diria meu neto Rafael para justificar porque rabiscou o desenho, ou mudou as cores com que ele foi pintado pelo avô: Vô, só que eu num gostei, tá?  Tá.

Boa semana amigos.

P.S. (1) O organizador dedica o livro ao saudoso Millôr Fernandes. Dele destaca uma frase, que de certa forma poderia resumir  a intenção desta postagem, depois de reflexões sobre  pensamentos, autorias, ignorâncias, vôos, cultura e clichês: “SHEIKESPIR, SIM, É QUE ERA BÃO: SÓ ESCRIVIA CITAÇÃO!”




[1] A gente continua chamando de “novo” para diferenciar do “velho”, o de 1.916, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1.917, antes da Primeira Guerra Mundial, e que se manteve vivo, na quase totalidade,  até 11 de janeiro de 2.003, quando foi revogado e substituído pelo atual. Mas o vigente já é mocinho, está com 13 anos e, como adolescente, vive as contradições de sua idade, num mundo em que tudo se renova rapidamente. O Direito de Família, por exemplo, como está disciplinado no atual Código Civil, tirante algumas regras de caráter patrimonial, praticamente nada tem a ver com o formato da família atual ou com a jurisprudência que se vem construindo sobre o assunto.
[2] Cheguei a pensar que o tal “Nem tudo que reluz é ouro” era de minha vó. E pensei: Eta veinha porreta, sabichona! E é comum ainda ouvir muita gente, ao fazer citações, começar por: - Como dizia minha avó. Como dizia Jô Soares.. Como dizia fulano, ciclano, E por aí afora. Essa gente toda só reproduziu, mas ganhou, de graça, a fama de criador, de autor ou de coautor É, por assim dizer, a função democrática da literatura.
[3] Aqui podemos dizer que se trata da função social mesmo da literatura, que socorre aqueles carentes de talento para traduzir, em palavras, os seus sentimentos, as suas visões do mundo e da vida. Beleza!