sábado, 10 de dezembro de 2016

MUSICAL SIMPLESMENTE ELIS - UM TRIBUTO QUE CUMPRE BEM O SEU PAPEL

Boa noite amigos.

Um dos cartazes de propaganda do espetáculo Simplesmen-
te Elis, tributo à Pimentinha, considerada a maior cantora-
brasileira de todos os tempos. Imagem emprestada de Viva
Tatuapé.

O público foi chegando devagarinho, ocupando praticamente todos os seiscentos lugares do Teatro Brasil Kirim, no Shopping Iguatemi, nesta noite de apresentação única do musical tributo, SIMPLESMENTE ELIS. Era marcante a presença de sessentões como eu e minha irmã, acompanhante desta noite, solidários na mesma paixão pela homenageada. Setentões e oitentões também não eram tão escassos por ali. Depois, cinqüentões, quarentões, como a minha sobrinha,  Luciana, que também nos acompanhava,  e, surpreendentemente,  jovens e adolescentes que ouviram em silêncio, aplaudiram muito, cantaram e bateram palmas, especialmente quando solicitados pela protagonista do espetáculo, a cantora santista que atende pelo nome artístico de Didi Gomes. Estava eu ali por curiosidade, cismado quanto à qualidade artística de um espetáculo que, com uma “cover” desconhecida do grande público, acompanhada por cinco músicos-maestros na arte de seus instrumentos,  se metia em atrevida aventura de dar voz a um monstro sagrado da música popular brasileira, reconhecida como uma das mais importantes personalidades artísticas do século XX, a despeito de sua breve passagem entre nós. Elis faleceu aos 36 anos em 1.982, deixando órfãos sua legião de admiradores e uma obra de muitíssima qualidade artística e que, por isso, vendeu quatro milhões de discos em 18 anos, superou a sua geração e transcenderá à atual, certamente. O show  começa com um pequeno relato acerca da cantora e de sua carreira e de como foi concebido o espetáculo-tributo, projeto que começou a ser executado há dois anos,  como lembra o seu produtor, Valter Nogueira Ferreira Junior.

A cantora Didi Gomes, que dá voz e intepretação às canções
que foram imortalizadas na voz de Elis Regina. Imagem em-
prestada de Dia-a-dia Revista.
Fã ardoroso da saudosa cantora, Valter se refere a Didi com muito carinho, lembrando dela como intérprete do samba da escola de samba Vai-Vai, que no ano passado foi campeã do Carnaval de São Paulo, com  o enredo, Simplesmente Elis. Em seguida, flashes de uma entrevista de Elis a um programa de televisão, em que ela fala de sua família gaúcha e do vaticínio do pai quanto ao seu brilhante futuro como cantora. Pronto! A cortina agora sobe ao som de Fascinação, canção que abre o espetáculo e que apresenta para o público, uma cantora baixinha como Elis, mas que em nada lembra fisicamente a Pimentinha a não ser pela altura e pelos dotes vocais logo apreciados pelo público. A voz é longa e as interpretações muito próximas às de Elis, mostrando que ela estudou profundamente os trejeitos da cantora, a sua forma de dançar, todas as suas gravações, sua irreverência na inserção de falsetes e de trechos inteiros que não constavam das letras e músicas dos compositores, muitos dos quais ela própria lançou para a fama. O público aparentemente frio e apreensivo, foi se soltando ao longo do espetáculo e à medida em que a intérprete ia descontraindo falando em linguagem intimista com a plateia, o show ganhava fôlego e substância.  Foram 15 músicas em sequência, com um único e breve intervalo, em que a artista sai de cena para  trocar de roupa e voltar: Depois de abertura com Fascinação,  seguem-se, nesta ordem:  Arrastão; Bala Com Bala; Alô,  Alô, Marciano, Aprendendo a Jogar; Cai Dentro; Chovendo na Roseira; Águas de Março, Vou Deitar e Rolar (quaquaraquaqua); Madalena; Casa de Campo. Lembrando que também é cantora e que está gravando um CD, Didi pede licença para cantar uma de sua músicas autorais Nova História. O samba agrada, tanto pela cadência, quanto pela letra e interpretação. Retorna, então, ao tributo, cantando o samba enredo Simplesmente Elis. Pausa na introdução da antológica Romaria, um hino de Renato Teixeira, imortalizado na interpretação da Pimentinha e  que agita o público, convidado a entoar o conhecido estribilho: Sou caipira, Pirapora nossa, senhora de Aparecida, ilumina a mina escura e funda, o trem da minha vida. Engata, na sequência, Como Nossos Pais, outro grande sucesso lançado no espetáculo Falso  Brilhante,  que nas décadas de 70/80 arrastou multidões para os teatros de São Paulo. Maria Maria, composição de Milton Nascimento feita para Elis (e o compositor mineiro fazia e faz  questão de dizer que compunha especialmente para ela)  encerra o espetáculo, com o público totalmente em pé, agitando os braços e cantando o lerelerelerele lerelerele.  A cantora e os músicos retornam atendendo o pedido de Bis insistente do público para mais dois sucessos, ambos de Edu Lobo: Upa Neguinho e Corrida de  Jangada. A desconfiança do começo e a frieza com que a platéia acompanhou o início do espetáculo estavam quebradas e já eram passadas, substituídas por uma saída de contida euforia comentários elogiosos e assovios das canções. O tributo Simplesmente Elis cumpre, a meu ver, a tarefa a que se propõe: Reunir fãs de todas as idades para uma viagem pelas canções imortalizadas pela diva da MPB,  num encontro musical para o qual demonstra preparo, talento, indiscutível qualidade e alcance vocal  e uma enorme empatia para convocar e trazer o espectador  à viagem pelo tempo e pela obra da cantora.


Até amanhã amigos.


P.S. (1) Os músicos responsáveis pelos arranjos e acompanhamento de Didi são Willians Alves, Márcio Furtado, Samuel Santos,André Rass e Thiago Sonho;

P.S. (2) Pimentinha foi o apelido que Vinícius de Moraes deu a Elis, depois que ela, em entrevista à imprensa, criticou o poeta e diplomata, acerca da produção do filme Garota de Ipanema. Elis reclamava do fato de Vinícius, segundo ela, não se propor a pagar músicos e cantores que apareciam no filme, segundo parâmetros compatíveis com a qualidade e o prestígio popular deles. E disparou com sua conhecida acidez: Ele pensa que todos vão se submeter a isso simplesmente porque ele  é o poetinha?



2 comentários: