Boa noite amigos.
Um dos cartazes de propaganda do espetáculo Simplesmen-
te Elis, tributo à Pimentinha, considerada a maior cantora-
brasileira de todos os tempos. Imagem emprestada de Viva
Tatuapé. |
O público foi chegando devagarinho, ocupando praticamente todos os
seiscentos lugares do Teatro Brasil
Kirim, no Shopping Iguatemi,
nesta noite de
apresentação única do musical tributo, SIMPLESMENTE
ELIS. Era marcante a presença de sessentões como eu e minha irmã,
acompanhante desta noite, solidários na mesma paixão pela homenageada. Setentões e oitentões
também não eram tão escassos por ali. Depois,
cinqüentões, quarentões, como a minha sobrinha, Luciana, que também nos acompanhava, e, surpreendentemente, jovens e adolescentes que ouviram em silêncio,
aplaudiram muito, cantaram e bateram palmas, especialmente quando solicitados
pela protagonista do espetáculo, a cantora santista que atende pelo nome artístico
de Didi Gomes. Estava eu ali por curiosidade, cismado quanto à
qualidade artística de um espetáculo que, com uma “cover” desconhecida do grande público, acompanhada por cinco músicos-maestros na arte
de seus instrumentos, se metia em atrevida aventura de dar voz a um monstro sagrado da música popular brasileira, reconhecida como uma das mais importantes personalidades
artísticas do século XX, a despeito de sua breve passagem entre nós. Elis
faleceu aos 36 anos em 1.982, deixando órfãos sua legião de admiradores e uma obra de muitíssima qualidade
artística e que, por isso, vendeu quatro milhões de discos em 18 anos, superou a sua geração e transcenderá à atual, certamente. O show começa com um pequeno
relato acerca da cantora e de sua carreira e de como foi concebido o
espetáculo-tributo, projeto que começou a ser executado há dois anos, como lembra o seu produtor, Valter Nogueira Ferreira Junior.
A cantora Didi Gomes, que dá voz e intepretação às canções
que foram imortalizadas na voz de Elis Regina. Imagem em-
prestada de Dia-a-dia Revista.
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Fã
ardoroso da saudosa cantora, Valter se
refere a Didi com muito carinho,
lembrando dela como intérprete do samba da escola de samba Vai-Vai, que no ano passado foi campeã do Carnaval de São Paulo,
com o enredo, Simplesmente Elis. Em
seguida, flashes de uma entrevista de Elis
a um programa de televisão, em que ela fala de sua família gaúcha e do
vaticínio do pai quanto ao seu brilhante futuro como cantora. Pronto! A cortina
agora sobe ao som de Fascinação,
canção que abre o espetáculo e que apresenta para o público, uma cantora
baixinha como Elis, mas que em nada
lembra fisicamente a Pimentinha a
não ser pela altura e pelos dotes vocais logo apreciados pelo público. A voz é
longa e as interpretações muito próximas às de Elis, mostrando que ela estudou profundamente os trejeitos da
cantora, a sua forma de dançar, todas as suas gravações, sua irreverência na
inserção de falsetes e de trechos inteiros que não constavam das letras e
músicas dos compositores, muitos dos quais ela própria lançou para a fama. O
público aparentemente frio e apreensivo, foi se soltando ao longo do espetáculo
e à medida em que a intérprete ia descontraindo falando em linguagem intimista com a plateia,
o show ganhava fôlego e substância. Foram 15 músicas em sequência, com um único e
breve intervalo, em que a artista sai de cena para trocar de roupa e voltar: Depois de abertura
com Fascinação,
seguem-se, nesta ordem: Arrastão;
Bala Com Bala; Alô, Alô, Marciano, Aprendendo a Jogar; Cai Dentro; Chovendo na Roseira; Águas de Março, Vou
Deitar e Rolar (quaquaraquaqua); Madalena; Casa de Campo. Lembrando que
também é cantora e que está gravando um CD, Didi pede licença para cantar uma
de sua músicas autorais Nova História. O
samba agrada, tanto pela cadência, quanto pela letra e
interpretação. Retorna, então, ao tributo, cantando o samba enredo Simplesmente
Elis. Pausa na introdução da antológica Romaria, um hino de Renato Teixeira, imortalizado
na interpretação da Pimentinha e que agita o público, convidado a entoar o conhecido
estribilho: Sou caipira, Pirapora nossa, senhora de Aparecida, ilumina a mina
escura e funda, o trem da minha vida. Engata, na sequência, Como
Nossos Pais, outro grande sucesso lançado no espetáculo Falso
Brilhante, que nas décadas de
70/80 arrastou multidões para os teatros de São Paulo. Maria Maria, composição de Milton
Nascimento feita para Elis (e o
compositor mineiro fazia e faz questão de dizer que compunha especialmente para ela) encerra o espetáculo, com o público totalmente em pé, agitando os braços e
cantando o lerelerelerele lerelerele. A cantora e os músicos retornam atendendo o pedido de Bis insistente do
público para mais dois sucessos, ambos de Edu
Lobo: Upa Neguinho e Corrida de Jangada.
A desconfiança do começo e a frieza com que a platéia acompanhou o início
do espetáculo estavam quebradas e já eram passadas, substituídas por uma saída
de contida euforia comentários elogiosos e assovios das canções. O tributo Simplesmente Elis
cumpre, a meu ver, a tarefa a que se propõe: Reunir fãs de todas as idades para uma viagem pelas canções imortalizadas pela diva da MPB, num encontro musical para o qual demonstra preparo, talento, indiscutível qualidade e alcance vocal e uma enorme empatia para convocar e trazer o espectador à viagem pelo tempo e pela obra da cantora.
Até amanhã amigos.
P.S. (1) Os músicos
responsáveis pelos arranjos e acompanhamento de Didi são Willians Alves, Márcio Furtado, Samuel Santos,André Rass e Thiago
Sonho;
P.S. (2) Pimentinha foi o apelido que Vinícius de Moraes deu a Elis, depois que ela, em entrevista à
imprensa, criticou o poeta e diplomata, acerca da produção do filme Garota
de Ipanema. Elis reclamava
do fato de Vinícius, segundo ela, não
se propor a pagar músicos e cantores que apareciam no filme, segundo parâmetros
compatíveis com a qualidade e o prestígio popular deles. E disparou com sua
conhecida acidez: Ele pensa que todos vão se submeter a isso simplesmente
porque ele é o poetinha?
AMEI ELA É MARAVILHOSA
ResponderExcluirSIMPLESMENTE ETERNA. Laila
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