Boa noite, amigos,
Desde Avenida Brasil, a TV Globo
não conseguia emplacar mais de 36 pontos no Ibope no horário mais nobre de sua
grade: o da novela das 21,00 horas. A
Força do Querer, folhetim que
começou em abril e terminou na sexta-feira passada, com média de 49% e picos de
mais de 50%, resgatou a audiência perdida nesses anos decorridos, por causa da mesmisse e
da falta de inspiração dos diversos autores para manter aceso o interesse do
público, com abordagens mais originais e
atuais, em tempos de pós-modernidade. Há quem sustente que a Televisão perdeu
audiência para a Internet, o que pode ser verdade. Porém, logo que seja possível apurar, de forma mais
abrangente, por quais meios o espectador está assistindo aos seus programas,
incluindo as telenovelas (visto que ele não o faz mais apenas na televisão da
sala, em tempo real de exibição) e essa afirmação poderá ser constatada ou contrastada de forma mais precisa. Não se pode
afirmar, outrossim, que ao falarmos do espectador das novelas, estaríamos nos
referindo exclusivamente às classes C e
D, as mais modestas, social, cultural e economicamente falando. Não! A
novela no Brasil adquiriu um
“status” que nenhum outro segmento de comunicação conseguiu superar ou destruir.
São décadas de tradição, construídas pelos inúmeros festejados autores que
surgiram, desde a geração de Ivani
Ribeiro e Janete Claire, ora a
contar a nossa história, com as chamadas
“novelas de época”, ora a abordar dramas contemporâneos, sob o enfoque de valores morais e sociais, ou simplesmente provocar distração, mas que também não se abstêm, via de regra, da crítica social bem humorada, aspecto que aprecio muito nesses folhetins. Dos anos 60 para cá, as telenovelas, a exemplo das antecessoras, as
radionovelas dos anos 40 e 50, permanecem vivas, mas necessitam, evidentemente,
de sucessivas reciclagens, para não se perderem no tempo. Claro que os
romances, as intrigas, as comédias e as tragédias, os dramas existenciais do
homem e, pois, da vida de cada um de nós, como temas universais e atemporais,
ainda que temperados pela ficção,
são sempre bem vindos e estão aí autores consagrados, cujas obras se mantêm
vivas, séculos passados, graças a esse
expediente, de que é exemplo emblemático William
Shekespeare, considerado o maior escritor em língua inglesa e que ainda figura no topo, como recordista disparado de encenações pelo mundo inteiro. Mas as
novelas no Brasil nunca se contentaram – e felizmente no meu modo de ver – em
permanecer à margem dos problemas e das questões que a sociedade brasileira
enfrentou e enfrenta a cada momento, ao menos para incentivar o telespectador a
discutir, a rever seus conceitos, a apurar e opinar, de preferência, com
conhecimento de causa. Cumprem, enfim, essa função social relevante, que não passa
despercebida por nenhuma das autoridades e instituições de poder no país. Não
levo muito a sério a corrente que considera apenas os pontos chamados de negativos das teledramaturgias, se é que podem ser comprovados, ou seja, de que
as mensagens por elas transmitidas visam unicamente provocar lavagem cerebral no povo mais
inculto, impor valores de interesse das empresas de comunicação e seus patrocinadores, dissociados da nossa cultura e tradição. Por outro lado,
aquela história de que novela é coisa de mulher, coisa de quem não tem o
que fazer, é mais uma lorota criada pela sociedade patriarcal e machista em que
vivemos. E, além de tudo, hipócrita.Esta semana o Ministro Alexandre
de Moraes, advogado e professor de Direito
Constitucional, ocupando atualmente uma das cadeiras da Suprema Corte do país, declarou a um
veículo de comunicação que vê novelas e fez comentários acerca da Força
do Poder. Mais à frente falarei a respeito dessa entrevista, com
detalhes. O fato é que, convenhamos, a telenovela no Brasil é uma realidade
incontestável e o maior veículo de comunicação, por atingir famílias inteiras de
todas as classes sociais, transmitida pela televisão aberta e gratuita, o instrumento mais democrático do país, ao lado do rádio (ainda, podem
crer). Daí porque as exigências em relação a esse relevante produto ser cada vez
maior e os canais abertos têm consciência do poder que ele exerce no espectador
ávido por entretenimento, emoção e porque não, também reflexão sobre questões
que o assaltam no dia a dia, como educação dos filhos, o país em que se vive, o
momento que a sociedade experimenta em relação às suas instituições, etc. Voltei dos Estados Unidos na sexta-feira e
pelo canal latino Unimás constatei pessoalmente o que sempre se soube – que a
novela brasileira é um dos nossos mais relevantes produtos de exportação e instrumento de divulgação de nosso país e de nossa cultura. Daí a
exigência da qualidade em todos os sentidos e setores que envolvem a sua construção, desde os roteiros, o desempenho dos atores, a direção, os recursos técnicos etc. O canal exibe, com dublagem em espanhol, uma após a outra, todos os dias em determinado horário, A Terra Prometida, uma produção da TV Record e Totalmente Diva, nome escolhido para a novela Totalmente Demais, produzida pela Rede Globo. E você, gostou do
final da novela de Glória Perez?
Amanhã começo a fazer as minhas considerações sobre a produção que vi quase na
integralidade, suas eventuais virtudes e defeitos. Claro na minha opinião,
compartilhada com prazer com você, meu amigo, e sempre com respeito à divergência.
Forte abraço.
P.S. (1) -
O folhetim da Globo deve
atingir mais de 36 pontos de média na Grande São Paulo e share superior a 55%. O share
corresponde ao percentual de
audiência apenas em relação aos
aparelhos de TV ligados;
P.S. (2) -
A cada ano o Kantar Ibope
atualiza o seu quadro de percentuais em função da atualização da população nos
centros onde os índices de audiência são medidos. Na atualização válida a partir de 1º de janeiro de 2.017, para a Grande
São Paulo, cada ponto representa 70,5 mil domicílios e 688,2 mil indivíduos;
P.S. (3) Os índices das novelas imediatamente anteriores foram os seguintes,
respectivamente, no geral e relativamente ao share (apenas os aparelhos
ligados): “A Lei do Amor” (25,9 pontos e
36,8%), “Velho Chico”
(28,7 pontos e 42,0%), “A Regra
do Jogo” (25,1 pontos e 37,8%), “Babilônia” (25,2 pontos e
39,2%), “Império”
(30,0 pontos e 48,6%), “Em
Família” (30,5 pontos e 49,6%), “Amor à Vida” (34,3 pontos e
54,8%), “Salve Jorge”
(30,3 pontos e 50,2%), “Avenida Brasil”
(36,4 pontos e 60,1%) e “Fina
Estampa” (38,0 pontos e 58,7%).
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