domingo, 30 de setembro de 2018

A VOZ DO BRASIL SE CALA: MORREU ANGELA MARIA, A SAPOTI

Boa noite amigos,

Ângela cantando com Agnaldo Rayol, outra voz respeita-

bilíssima no elenco dos grandes cantores brasileiros de -
todos os tempos. Imagem emprestada de Flertaí.
Calou-se na noite de ontem, a voz feminina que encantou o Brasil e o mundo desde a década de 40 e marcou definitivamente a música popular brasileira.  Ângela Maria, considerada uma das maiores vozes da MPB morreu  aos 89 anos, depois de um curto período de internação, por conta de uma infecção. Quase nonagenária, ainda fazia shows e mantinha potente e límpida a voz espetacular com que foi premiada. Expoente da Era do Rádio, a fluminense Abelim Maria da Cunha foi fonte de inspiração para artistas e cantores do porte de Elis Regina, Djavan, Milton Nascimento, Gal Costa, Nei Matogrosso e Cesária Évora e sua arte foi alvo de admiração  e elogio de personalidades do mundo todo, dentre as quais, os ex-Presidentes Getúlio  Vargas e Juscelino Kubitschek, a rainha do Fado, Amália Rodrigues, o cantor e músico norte-americano Louis Armstrong e a francesa Édith Piaf. Precisa dizer mais?

Nos velhos tempos de Rainha do Rádio na companhia

do amigo eterno, Cauby Peixoto e da cantora Emili-
nha Borba. Imagem emprestada de Exame.
 Por longo período Ângela foi reputada a cantora mais popular do Brasil, em pesquisa feita pelo Ibope e marcou sucessos como Babalu (Margarita Lecuona), Gente Humilde (Garoto/Chico Buarque/Vinícius de Moraes), Cinderela (Adelino Moreita), Orgulho (Waldir Rocha/Nelson Wederkind). 


Amada por muitos, aqui, em imagem emprestada de Clacri, 

o beijo dos cantores sertanejos, Chitãozinho e Xororó.

Era dela, para mim e para grande parte das pessoas que conheço, a música mais expressiva em homenagem às mães, que eu ouvia e gostava quando era criança, cujos versos começavam assim: “[1]Ela é a dona de tudo, ela é a rainha do lar, ela vale mais para mim, que o céu, que a terra e o mar. Ela é a palavra mais linda, que um dia o poeta escreveu, ela é o tesouro que o pobre, das mãos do senhor recebeu.. mamãe, mamãe, mamãe, ....tu és a razão dos meus dias.....”  

A cantora ao lado do jogador Neymar, que foi prestigiá-la.

Imagem emprestada de Terra.
Participou de diversos movimentos e gêneros musicais, foi alvo de homenagem da escola de samba paulistana,  Rosas de Ouro que em 1.994, sagrou-se campeã do carnaval de São Paulo, com o tema Sapoti, epíteto com que também era conhecida. 
O único companheiro com quem efetivamente Angela se

casou oficialmente e com que vivia desde que completara 
51  anos: Daniel D'Ângelo, 32 anos mais novo que ela e 
que esteve ao seu lado até a morte. Imagem emprestada -
de Record TV.
Gravou 114 discos, que venderam ao todo cerca de 60 milhões de exemplares, teve uma vida pessoal tumultuada com seis casamentos e nenhum filho, um sonho que ela nutria, mas que não se realizou em razão de uma deficiência congênita para procriação, o que a levou a adotar quatro crianças, que manteve longe da curiosidade da imprensa e do mundo artístico. Em 2.015, teve sua biografia escrita pelo jornalista Rodrigo Faour. 
Angela e Alcione. Imagem da Revista Quem.


 Ângela Maria foi e será para a memória das novas gerações brasileiras, como atriz e cantora,  o que Frank Sinatra significa para os norte-americanos. Uma referência permanente de voz, não qualquer voz, mas A VOZ: THE VOICE.

Até mais amigos,





[1] Em pesquisa feita hoje na Internet não consegui descobrir o nome do compositor/compositora/compositores dessa  jóia do cancioneiro brasileiro, que Ângela gravou mais de uma vez, sozinha ou em dueto com o cantor e amigo (que também foi durante algum tempo seu motorista particular), Agnaldo Timóteo. 

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A GRANDE FINAL DO THE VOICE 2.018

Boa noite amigos,
O grande cantor, dançarino e ator, Sammy

Davis Junior, falecido em 1.990. Imagem-
emprestada de Open Spotify.
São exatamente 23,30 horas e a Globo apresenta ao vivo a final de mais uma edição do The Voice. Assisti praticamente a todos os programas da série e confesso que o nível dos candidatos, como têm sido regra, é altíssimo,a maioria gente experiente e que vive, direta ou indiretamente, da música. São quatro os finalistas, duas mulheres (Isa Guerra e Erica Natuza) e dois homens (Kevin Djana e Leo Pain). Desde a última terça-feira, quando foi ao ar a semifinal, com votação mista, parte do público e uma pontuação a mais de cada um dos jurados, aposto num candidato: Kevin Djana.  Ele me lembra o falecido músico, dançarino e ator norte-americano, Sammy Davis Junior. Estiloso, com voz potente e suingada, quando a canção pede, ou mais sóbria e enxuta, quando interpreta música romântica, o jovem canta e dança com  muita desenvoltura. Carismático é intensa a sua presença cênica. Vamos ver o resultado.  De qualquer maneira, os quatro candidatos finalistas representam bem o alto nível geral do programa e o que ele teve de melhor na ótica dos jurados e do público, de sorte que qualquer que seja o vencedor o prêmio terá sido bem atribuído.

Até breve amigos,


(P.S.) Várias são as curiosidades que fãs e historiadores registram no Wikipédia, acerca do lendário Sammy Davis Junior. Aí vão algumas emprestadas do aludido site:
·         Foi o primeiro artista negro a conseguir estrelar o seu próprio programa de televisão.
·         Em 1954, após lançar seu primeiro álbumStarring Sammy Davis Jr., fica um período afastado devido a um acidente automobilístico que lhe provocou a perda de um olho.
·         Converteu-se  ao judaísmo, o que, segundo alguns, provocou uma grande ira na sociedade conservadora dos Estados Unidos.
·         Michael Jackson, assumidamente fã de Davis desde criança, compôs a canção You Were There para o especial de 60 anos de aniversário de Sammy Davis, apresentando-a ao vivo em 1989.
·         É citado nos seriados Seinfeld (no primeiro episódio da 8ª temporada) e Eu, a patroa e as crianças.
·         No filme Uma vida iluminada, o cão-guia Sammy Davis Jr. tem o nome em homenagem ao cantor.
·         Participou de um episódio da série Jeannie é um Gênio (1965-1970), na 2ª temporada da série, em 1967. Nesse episódio, além de contracenar com Barbara Eden e Larry Hagman, Sammy canta suas canções.
·         Sammy Davis Jr. compôs e gravou em 1975 a música "Keep Your Eye on the Sparrow", que foi o tema de abertura do seriado Baretta, estrelada pelo ator Robert Blake. A música, inclusive, chegou a tocar nas rádios e virou um hit na época.
·         Participou num episódio da série All in the family (vigésimo primeiro episódio da 2ª temporada 1971-72).


sexta-feira, 21 de setembro de 2018

CRÔNICA - POU - A MORTE ANUNCIADA



Boa noite amigos, 

Olha aí o Pou. Pelo jeitão bem alimentado e com as neces-

sidades satisfeitas. Imagem emprestada de Pou v.1.4.12.
Lá em casa, como de resto acontece no mundo inteiro, todos têm seu celular individual, com exceção da gata e de meu neto Rafael, que completou 6 anos e já está reivindicando o seu.  Hoje, um sujeito sem celular não constrói história, nem sequer tem identidade reconhecida junto à  família e à comunidade. O celular é o objeto do desejo de toda criança, de todo adolescente, de todos os adultos. independente do gênero, que nem sei se existe ainda, e até dos velhinhos da terceira idade. É a coisa, objeto ou gente, sei lá, como vai ser considerado doravante, com que ou com quem o indivíduo mais se relaciona  (conecta, na linguagem da era digital). Experimente andar pela rua e observar as pessoas dentro e fora das casas e estabelecimentos. Asseguro a vocês que de dez indivíduos, os dez estarão olhando para o celular[1], ignorando o que passa à sua volta, inclusive os seguranças que são pagos para vigiar e, amiúde, permanecem mergulhados nos sites, redes sociais ou na internet, pouco percebendo o que se passa no seu entorno. Pois bem, lá em casa, voltando ao assunto, não preciso dizer que o que menos tem familiaridade com o objeto sou eu, que  faço uso dele, por isso mesmo, com a parcimônia que me é permitida (embora minha mulher garanta que eu uso tanto ou mais que ela própria, afirmação que, vinda de quem tem o maior interesse na conclusão, não merece crédito algum). Meu neto, aproveitando-se da generosidade do avô, vem ultimamente me pedindo o celular para usar. Contando com a complacência dos pais, que preferem nitidamente que ele monopolize o meu aparelho do que o deles (dos quais também não desgrudam),  baixa determinados aplicativos com os joguinhos de sua preferência. Não é que outro dia, sem que eu soubesse ou fosse comunicado, baixaram um jogo que consiste num bicho chamado POU, que deve ser alimentado (com comida virtual, sei lá) e cuidado,  regularmente (me disseram até que tem que levá-lo ao banheiro para que ele urine e defeque).  Quando não recebe os cuidados cotidianos, começa a murchar, até que, ávido de fome ou necessidades  não satisfeitas, sucumbe.  E é um tal do Rafa, logo que chega na minha casa, pedir o celular. É um tal da mãe dele, minha filha, também fazer o mesmo e dar uma desculpinha qualquer para não usar o dela (esqueci; o meu está sem bateria; é rapidinho, etc.) e ninguém me contou porra nenhuma. Hoje fui almoçar com minha filha. Terminando o almoço ela me pediu o celular. Para que? Perguntei. Para ver como está o Pou. Que Pou? O Bichinho do jogo. Aí baixou o tal aplicativo e me apresentou o distinto, que já estava triste e cabisbaixo. E em seguida me deu uma bronca: - pai você precisa alimentar o Pou. Olhe ele está abatido e esfomeado. Se você não der comida a ele, morre. Era só o que me faltava. Ter que dar comida e levar o bicho virtual para as necessidades fisiológicas (tem mesmo tais necessidades? Fala sério?). Ter que lembrar  de baixar  o bendito aplicativo, perguntar para o Pou como ele vai, o que ele quer comer hoje, se quer ir ao banheiro etc.. Já estou sonhando com isso. Ninguém merece! pensei com os meus botões. De todos os meus compromissos e preocupações vou ter que lembrar ou agendar, quem sabe, diariamente, uma visitinha para o Pou, com o objetivo de vê-lo e saber como ele está. Por que se eu não fizer, ninguém mais vai fazer, com a desculpa de que o celular é meu e eu sou responsável pelo que acontecer. Já aviso os meus amigos que se o Pou morrer, a culpa não é minha. Quem pariu Pou que o embale, para usar uma expressão antiga e sábia. E se eu não conseguir assim mesmo a absolvição, pelo menos vou tentar uma desclassificação para homicídio culposo, aquele que a Globo diz que é sem intenção de matar. E vou invocar a minha primariedade e o meu direito a sursis pelo prazo de quatro anos, tendo em vista a minha idade. Socorro! Cadê o Estatuto do Idoso?  

Boa noite amigos.

























[1] Superando a estatística do sabonete Lux que na minha época exibia uma propaganda,  com um bordão, segundo o qual, nove entre dez estrelas de cinema usam lux.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

O ZAGUEIRO ERALDO, DO BUGRE DOS ANOS 60, MARCADOR DE PELÉ, SE FOI....

“Tragédia não é a morte. Tragédia é não ter vivido.”  (de alguém que não me lembro).

Bom dia amigos,

Eraldo ao lado de Pelé, de 
quem se tornou amigo, em
foto do ano de 1.964.

No retorno ao blog, depois de algum tempo, por causa da preguiça diária e da sensação da inutilidade da minha prosa[1],como diria, com muito mais propriedade e poesia, o nosso saudoso Vinícius de Moares, registro o falecimento, no último sábado, aos 85 anos, do ex-zagueiro, Eraldo Correia de Araújo, de pia batismal, alagoano de Pilar, futebolista dos anos 50 e 60. Eraldo iniciou sua carreira no CSA, Clube Esportivo Alagoano, vindo em 1.955 para o Estado de São Paulo e a cidade de São José do Rio Preto, onde jogou pela tradicional equipe do América. Transferiu-se depois para o Clube Atlético Taquaritinga e, finalmente, para o Guarani Futebol Clube de Campinas, onde foi titular de 1.958 a 1.966, tendo realizado, pela equipe alviverde, em oito temporadas, 276 partidas, 190 delas oficiais e 86 amistosos. Ficou conhecido  por ter parado Pelé, numa partida histórica no Brinco de Ouro,  disputada no dia 18 de novembro de 1.964, quando o Bugre meteu uma goleada de  5 a 1 no Santos, então bicampeão mundial. A efeméride virou notícia nacional e internacional e marcaria a atuação do nordestino Eraldo para todo o sempre.  Em 1.967, de 34 para 35 anos, deixou o futebol, mas não a cidade, onde permaneceu até a sua morte.  Sem formação adequada, Eraldo perambulou por carreiras marginais, sendo a última a de corretor de imóveis, não obtendo sucesso, porém,  nem acumulando fortuna. Ao contrário, já idoso, passou por dificuldades financeiras, vivendo, nos últimos anos, de seguidas campanhas feitas pela diretoria e torcedores do Bugre e, ainda,  da contribuição de amigos. 

Meu neto Rafael, de 06 anos,
aproveitando a vida  e a pia
inacabada para enfiar a cabe
ça pelo vão e fingir que é
mágico. Foto do meu celu
lar.
Quando ainda gozava de relativa saúde, gostava de ficar ali no Café Regina, onde permanecia durante horas conversando com conhecidos e relembrando os bons tempos de juventude. Fiz com ele uma reportagem para este blog, publicada no dia 06 de novembro de 2.011 (Eraldo e O Dia em que o Bugrão Parou o Santos de Pelé),  ocasião em que me falou da vida e da carreira e, claro, da fama adquirida naquela partida, incumbido de marcar Pelé.  
Avenida Orozimbo Maia

quase esquina com a Via

Norte Sul em Campinas

agora cedo, florida, -
anunciando a primavera.
Foto do meu celular.


Presenteou-me com uma camisa do Bugre e uma foto ampliada daquele time sensação, que guardo entre os objetos de estimação.  Segundo a imprensa campineira, a Diretoria do Bugre prepara uma homenagem ao zagueiro, para  o próximo jogo, o primeiro após seu falecimento. Curiosamente,  essa partida será contra o CSA, das Alagoas, estado natal do jogador e clube no qual ele iniciou a vitoriosa carreira.  Agora, quando os pés de manacás enfeitam a cidade, anunciando a primavera que se aproxima Eraldo se foi. Discreto, humilde e pobre, como era. Nenhuma tragédia na sua morte natural. Fica a memória de um atleta brasileiro e nordestino,  que numa inesquecível partida, de uma improvável goleada do Bugre dos anos 60 contra o bicampeão mundial Santos, conseguiu a igualmente improvável façanha de parar Pelé, o Rei, o Atleta do Século, de quem orgulhosamente se gabava de ser amigo e  de ter sido um corajoso e eficiente coadjuvante, numa noite de 1.964. Descanse em paz meu amigo.



Até amanhã ou até breve amigos.

P.S. (1) Eraldo se queixava rindo, é claro, de que o jornalista Milton Neves o chamava de Eraldo Cabeção. Ele garantia que nunca teve esse apelido. E nem cabeça grande, pô!  

P.S. (2) "Nunca deixe que a saudade do passado e o medo do futuro estraguem a beleza de hoje, pois há dias que valem um momento, e há momentos que valem por toda uma vida" (de alguém que não se declarou).
  


[1]  “Resta essa vontade de chorar diante da beleza,
Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido,
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de sua inútil poesia e de sua força inútil.”  Vinícius de Moraes. O Haver.