terça-feira, 18 de setembro de 2018

O ZAGUEIRO ERALDO, DO BUGRE DOS ANOS 60, MARCADOR DE PELÉ, SE FOI....

“Tragédia não é a morte. Tragédia é não ter vivido.”  (de alguém que não me lembro).

Bom dia amigos,

Eraldo ao lado de Pelé, de 
quem se tornou amigo, em
foto do ano de 1.964.

No retorno ao blog, depois de algum tempo, por causa da preguiça diária e da sensação da inutilidade da minha prosa[1],como diria, com muito mais propriedade e poesia, o nosso saudoso Vinícius de Moares, registro o falecimento, no último sábado, aos 85 anos, do ex-zagueiro, Eraldo Correia de Araújo, de pia batismal, alagoano de Pilar, futebolista dos anos 50 e 60. Eraldo iniciou sua carreira no CSA, Clube Esportivo Alagoano, vindo em 1.955 para o Estado de São Paulo e a cidade de São José do Rio Preto, onde jogou pela tradicional equipe do América. Transferiu-se depois para o Clube Atlético Taquaritinga e, finalmente, para o Guarani Futebol Clube de Campinas, onde foi titular de 1.958 a 1.966, tendo realizado, pela equipe alviverde, em oito temporadas, 276 partidas, 190 delas oficiais e 86 amistosos. Ficou conhecido  por ter parado Pelé, numa partida histórica no Brinco de Ouro,  disputada no dia 18 de novembro de 1.964, quando o Bugre meteu uma goleada de  5 a 1 no Santos, então bicampeão mundial. A efeméride virou notícia nacional e internacional e marcaria a atuação do nordestino Eraldo para todo o sempre.  Em 1.967, de 34 para 35 anos, deixou o futebol, mas não a cidade, onde permaneceu até a sua morte.  Sem formação adequada, Eraldo perambulou por carreiras marginais, sendo a última a de corretor de imóveis, não obtendo sucesso, porém,  nem acumulando fortuna. Ao contrário, já idoso, passou por dificuldades financeiras, vivendo, nos últimos anos, de seguidas campanhas feitas pela diretoria e torcedores do Bugre e, ainda,  da contribuição de amigos. 

Meu neto Rafael, de 06 anos,
aproveitando a vida  e a pia
inacabada para enfiar a cabe
ça pelo vão e fingir que é
mágico. Foto do meu celu
lar.
Quando ainda gozava de relativa saúde, gostava de ficar ali no Café Regina, onde permanecia durante horas conversando com conhecidos e relembrando os bons tempos de juventude. Fiz com ele uma reportagem para este blog, publicada no dia 06 de novembro de 2.011 (Eraldo e O Dia em que o Bugrão Parou o Santos de Pelé),  ocasião em que me falou da vida e da carreira e, claro, da fama adquirida naquela partida, incumbido de marcar Pelé.  
Avenida Orozimbo Maia

quase esquina com a Via

Norte Sul em Campinas

agora cedo, florida, -
anunciando a primavera.
Foto do meu celular.


Presenteou-me com uma camisa do Bugre e uma foto ampliada daquele time sensação, que guardo entre os objetos de estimação.  Segundo a imprensa campineira, a Diretoria do Bugre prepara uma homenagem ao zagueiro, para  o próximo jogo, o primeiro após seu falecimento. Curiosamente,  essa partida será contra o CSA, das Alagoas, estado natal do jogador e clube no qual ele iniciou a vitoriosa carreira.  Agora, quando os pés de manacás enfeitam a cidade, anunciando a primavera que se aproxima Eraldo se foi. Discreto, humilde e pobre, como era. Nenhuma tragédia na sua morte natural. Fica a memória de um atleta brasileiro e nordestino,  que numa inesquecível partida, de uma improvável goleada do Bugre dos anos 60 contra o bicampeão mundial Santos, conseguiu a igualmente improvável façanha de parar Pelé, o Rei, o Atleta do Século, de quem orgulhosamente se gabava de ser amigo e  de ter sido um corajoso e eficiente coadjuvante, numa noite de 1.964. Descanse em paz meu amigo.



Até amanhã ou até breve amigos.

P.S. (1) Eraldo se queixava rindo, é claro, de que o jornalista Milton Neves o chamava de Eraldo Cabeção. Ele garantia que nunca teve esse apelido. E nem cabeça grande, pô!  

P.S. (2) "Nunca deixe que a saudade do passado e o medo do futuro estraguem a beleza de hoje, pois há dias que valem um momento, e há momentos que valem por toda uma vida" (de alguém que não se declarou).
  


[1]  “Resta essa vontade de chorar diante da beleza,
Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido,
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de sua inútil poesia e de sua força inútil.”  Vinícius de Moraes. O Haver.


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