Meu amigo Garrido, em visita ao meu escri-
tório, relembrando os bons tempos de car-
torio.
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Boa tarde,
Garrido foi um amigo que marcou a minha mocidade. Eu
o conheci quando fui trabalhar no Cartório do 5º Ofício de Campinas, no
distante ano de 1.966. Tinha eu 13 anos e fui admitido como auxiliar, enquanto
o Garrido, oito anos mais velho, já ostentava a condição de Escrevente
Autorizado do 4º Ofício. Naquele tempo tudo se concentrava no prédio do Fórum da Rua Regente Feijó, um edifício moderno, de cinco pavimentos. Todas
as Varas e Cartórios Cíveis e Criminais,
o Juizado de Menores, os Cartórios de Registro de Imóveis e os
Tabelionatos se espalhavam por quatro dos cinco pavimentos, havendo espaço ainda para a
copa, o salão de barbeiro, os sanitários e os gabinetes dos Promotores Públicos
(hoje Promotores de Justiça). No último andar, funcionava a Câmara Municipal de
Campinas.Colega de trabalho como ressaltei, o Garrido se
notabilizava por várias virtudes. Dono de uma memória extraordinária, conhecia
todos os processos que corriam pelo seu Cartório, não só pela natureza da ação,
como pelo nome das partes e, pasmem, sabia o número que eles tinham recebido e
pelo qual eram processados, de cor e salteado, como se dizia outrora. Os próprios
advogados das partes se valiam de sua memória, quando não anotavam previamente
o número do processo que pretendiam examinar. Exímio datilógrafo dividia comigo
as audiências da 2ª. Vara Cível de Campinas, sob responsabilidade do nosso
saudoso Juiz Manuel Carlos de Figueiredo Ferraz Filho: enquanto ele fazia as
audiências do 4º Ofício, eu respondia pelas do 3º Ofício. Posteriormente, passei
a acompanhar e registrar todas as audiências da Vara, tanto as do 3º, quanto do 4º Ofícios. Introvertido,
porém humano e competente, Garrido ajudava a todos, facilitando a vida de
advogados, estagiários e dos funcionários de seu Cartório. Generoso se ofereceu como garante e efetivamente avalizou o empréstimo que eu fiz aos 18 anos,
junto ao City Bank, para comprar o meu primeiro fusquinha usado. De minha
parte, além de boa vontade e honestidade, nada podia oferecer, pois não
tinha “um gato para puxar pelo rabo” numa expressão daquela época, equivalente à absoluta pobreza patrimonial. Foi também o protagonista de um dos contos que escrevi para o
meu livro Causas & Causos, tomo III, ao se oferecer – e oferecer
imprudentemente - o seu próprio carro
para que eu e o Jeová, um outro cartorário, tomássemos com ele, as primeiras
aulas de direção. Quando se aposentou, Garrido deixou saudades. Ainda assim,
durante um bom tempo se dirigia ao Fórum e ali, como voluntário experiente,
auxiliava o Juiz e o Cartório, com seus valiosos conselhos e decisões. Fazia
tempo que eu não o via. Localizei seu contato e liguei convidando-o para o
lançamento do meu livro, no Fórum da Cidade Judiciária. Ele não pode ir por
conta de um acidente doméstico com a irmã que reside com ele. Mas esta semana,
a meu convite, esteve no escritório para
buscar o seu exemplar autografado. Foi um encontro com sabor de saudade dos
velhos tempos. Dentre as coisas que ele me disse, e eu não sabia, estava o fato de como começou a torcer para a
Ponte Preta, uma de suas poucas paixões, além do trabalho no Cartório ainda
morando na sua terra natal, São Sebastião do Paraíso. Em certa ocasião a Macaca
foi jogar contra um time local e perdeu o jogo. Nada obstante a derrota, por
razões que ele não sabe explicar, gostou do time e começou a acompanhar a sua
trajetória. Quando se mudou para Campinas foi morar encostado com o Majestoso.
E está lá até hoje. Aos 75 anos, bem vividos, o meu amigo me confidenciou, com a
sabedoria de quem mais viu e ouviu do que falou nesta vida, que naquele tempo a
gente tinha prazer em ir para o trabalho e as nossas relações eram
verdadeiramente afetivas e sinceras. É verdade. Não havia internet, nem
celulares. E tanto os abraços, quanto as brigas eram presenciais e não
virtuais. E a gente sofria de verdade, na própria carne, as sensações de prazer e de dor. Grande Garrido!
"CARRO
1. Quando completei exatos 18 anos de
idade me bateu um desejo incontrolável de comprar um automóvel. Vim de família
de classe média baixa, categoria que na década de 70 não tinha recursos para
adquirir veículo próprio, comodidade reservada aos mais abastados. Já
trabalhava no Fórum de Campinas há 5 anos e convivia com respeitáveis
Magistrados, Promotores e Advogados, além dos cartorários, muitos amigos
queridos que fiz durante a vida. O Garrido, um deles, mais velho e generoso, se
dispôs a ser avalista do financiamento que eu faria junto ao City Bank e ainda,
de quebra, como possuía um fusquinha, de iniciar, eu e o Jeová, na arte de
condução de veículos. Ambos os alunos eram absolutamente ignorantes, tanto na teoria, quanto na prática, na direção
de automóveis. Não sabia sequer onde ficava e para que serviam os pedais de
embreagem, de breque e como funcionava o câmbio de marchas. Podem crer. Tivemos
uma única e desastrada aula num sábado à tarde, que o Garrido cismou de nos
levar para uma estrada de terras em Valinhos. Lembro-me perfeitamente que o
Jeová entrou no carro no banco do motorista (e o Garrido, doido e corajoso, ao
lado). O instrutor amador mandou que ele pusesse na primeira marcha. O Jeová,
sem pisar na embreagem, tentou engatar a marcha e, ao forçar um pouco para o
engate, sem liberar a embreagem, começou
a gritar que o câmbio estava dando choque. E o Garrido com paciência de Jó. Foi
a minha vez. Consegui, orientado, colocar a marcha e pôr o carro em movimento.
Primeira, segunda. Atordoado com tantos
movimentos que deveria fazer simultaneamente (segurar a direção, olhar para a
frente, tirar o pé do acelerador, trocar a marcha pisando na embreagem), que desembestei
e por mais que o Garrido mandasse
brecar, eu não conseguia tirar o
pé do acelerador. Só fui parar no barranco, danificando levemente o carro e
lesionando o cotovelo direito do Garrido, que estava do lado de fora. O
Garrido nos perdoou, mas nos mandou para
a auto-escola." (CAUSAS E CAUSOS TOMO III, pág. 89/90).
MAIS FOTOS DO LANÇAMENTO.
Minha amiga de toda a vida, a Procuradora Estadual e ex-
professora da Faculdade de Direito da PUC-Campinas, Dra.
Cleuza Aparecida Carnieli.
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O advogado Cláudio Pires, filho do meu saudoso amigo, Dr.
Moacir Pires.
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Sou irmã do saudoso Luiz Vanderlei Lisboa gostaria de conversar com o Sr se for possível entrar em contato e um caso urgente desde já agradeço a atenção bom dia
ResponderExcluirCara senhora. Não tenho como fazer contato. Peço que ligue para o telefone (019) 32323548 do escritório e deixe contato ou marque com Dna. Márcia, consulta. Obrigado.
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