quinta-feira, 23 de maio de 2019

ANTONIO CARLOS GARRIDO




Meu amigo Garrido, em visita ao meu escri-

tório, relembrando os bons tempos de car-
torio.
Boa tarde, 

Garrido foi um amigo que marcou a minha mocidade. Eu o conheci quando fui trabalhar no Cartório do 5º Ofício de Campinas, no distante ano de 1.966. Tinha eu 13 anos e fui admitido como auxiliar, enquanto o Garrido, oito anos mais velho, já ostentava a condição de Escrevente Autorizado do 4º Ofício. Naquele tempo tudo se concentrava no prédio do Fórum da Rua Regente Feijó, um edifício moderno, de cinco pavimentos. Todas as Varas e  Cartórios Cíveis e Criminais, o Juizado de Menores, os Cartórios de Registro de Imóveis e os Tabelionatos se espalhavam por quatro dos  cinco pavimentos, havendo espaço ainda para a copa, o salão de barbeiro, os sanitários e os gabinetes dos Promotores Públicos (hoje Promotores de Justiça). No último andar, funcionava a Câmara Municipal de Campinas.Colega de trabalho como ressaltei, o Garrido se notabilizava por várias virtudes. Dono de uma memória extraordinária, conhecia todos os processos que corriam pelo seu Cartório, não só pela natureza da ação, como pelo nome das partes e, pasmem, sabia o número que eles tinham recebido e pelo qual eram processados, de cor e salteado, como se dizia outrora. Os próprios advogados das partes se valiam de sua memória, quando não anotavam previamente o número do processo que pretendiam examinar. Exímio datilógrafo dividia comigo as audiências da 2ª. Vara Cível de Campinas, sob responsabilidade do nosso saudoso Juiz Manuel Carlos de Figueiredo Ferraz Filho: enquanto ele fazia as audiências do 4º Ofício, eu respondia pelas do 3º Ofício. Posteriormente, passei a acompanhar e registrar todas as audiências da Vara, tanto as do 3º, quanto do 4º Ofícios. Introvertido, porém humano e competente, Garrido ajudava a todos, facilitando a vida de advogados, estagiários e dos funcionários de seu Cartório. Generoso se ofereceu como garante e efetivamente avalizou o empréstimo que eu fiz aos 18 anos, junto ao City Bank, para comprar o meu primeiro fusquinha usado. De minha parte, além de boa vontade e honestidade, nada podia oferecer, pois não tinha “um gato para puxar pelo rabo” numa expressão daquela época, equivalente à absoluta pobreza patrimonial. Foi também o protagonista de um dos contos que escrevi para o meu livro Causas & Causos, tomo III, ao se oferecer – e oferecer imprudentemente -  o seu próprio carro para que eu e o Jeová, um outro cartorário, tomássemos com ele, as primeiras aulas de direção. Quando se aposentou, Garrido deixou saudades. Ainda assim, durante um bom tempo se dirigia ao Fórum e ali, como voluntário experiente, auxiliava o Juiz e o Cartório, com seus valiosos conselhos e decisões. Fazia tempo que eu não o via. Localizei seu contato e liguei convidando-o para o lançamento do meu livro, no Fórum da Cidade Judiciária. Ele não pode ir por conta de um acidente doméstico com a irmã que reside com ele. Mas esta semana, a meu convite,  esteve no escritório para buscar o seu exemplar autografado. Foi um encontro com sabor de saudade dos velhos tempos. Dentre as coisas que ele me disse, e eu não sabia,  estava o fato de como começou a torcer para a Ponte Preta, uma de suas poucas paixões, além do trabalho no Cartório ainda morando na sua terra natal, São Sebastião do Paraíso. Em certa ocasião a Macaca foi jogar contra um time local e perdeu o jogo. Nada obstante a derrota, por razões que ele não sabe explicar, gostou do time e começou a acompanhar a sua trajetória. Quando se mudou para Campinas foi morar encostado com o Majestoso. E está lá até hoje. Aos 75 anos, bem vividos, o meu amigo me confidenciou, com a sabedoria de quem mais viu e ouviu do que falou nesta vida, que naquele tempo a gente tinha prazer em ir para o trabalho e as nossas relações eram verdadeiramente afetivas e sinceras. É verdade. Não havia internet, nem celulares. E tanto os abraços, quanto as brigas eram presenciais e não virtuais. E a gente sofria de verdade, na própria carne, as sensações de prazer e de dor. Grande Garrido!


"CARRO 1.  Quando completei exatos 18 anos de idade me bateu um desejo incontrolável de comprar um automóvel. Vim de família de classe média baixa, categoria que na década de 70 não tinha recursos para adquirir veículo próprio, comodidade reservada aos mais abastados. Já trabalhava no Fórum de Campinas há 5 anos e convivia com respeitáveis Magistrados, Promotores e Advogados, além dos cartorários, muitos amigos queridos que fiz durante a vida. O Garrido, um deles, mais velho e generoso, se dispôs a ser avalista do financiamento que eu faria junto ao City Bank e ainda, de quebra, como possuía um fusquinha, de iniciar, eu e o Jeová, na arte de condução de veículos. Ambos os alunos eram absolutamente ignorantes,  tanto na teoria, quanto na prática, na direção de automóveis. Não sabia sequer onde ficava e para que serviam os pedais de embreagem, de breque e como funcionava o câmbio de marchas. Podem crer. Tivemos uma única e desastrada aula num sábado à tarde, que o Garrido cismou de nos levar para uma estrada de terras em Valinhos. Lembro-me perfeitamente que o Jeová entrou no carro no banco do motorista (e o Garrido, doido e corajoso, ao lado). O instrutor amador mandou que ele pusesse na primeira marcha. O Jeová, sem pisar na embreagem, tentou engatar a marcha e, ao forçar um pouco para o engate, sem liberar a embreagem,  começou a gritar que o câmbio estava dando choque. E o Garrido com paciência de Jó. Foi a minha vez. Consegui, orientado, colocar a marcha e pôr o carro em movimento. Primeira, segunda.  Atordoado com tantos movimentos que deveria fazer simultaneamente (segurar a direção, olhar para a frente, tirar o pé do acelerador, trocar a marcha pisando na embreagem), que desembestei e por mais que o Garrido mandasse  brecar, eu  não conseguia tirar o pé do acelerador. Só fui parar no barranco, danificando levemente o carro e lesionando o cotovelo direito do Garrido, que estava do lado de fora. O Garrido  nos perdoou, mas nos mandou para a auto-escola."     (CAUSAS E CAUSOS TOMO III, pág. 89/90).

MAIS FOTOS DO LANÇAMENTO.

Minha amiga de toda a vida, a Procuradora Estadual e ex-

professora da Faculdade de Direito da PUC-Campinas, Dra.
Cleuza Aparecida Carnieli.



Dr. Pedro Antunes Negrão, médico e Presidente da Creche
Lar Ternura e da Unicred e sua mulher, Dra. Ana Maria de
Melo Negrão, advogada, professora, escritora e membro
da Academia Campinense de Letras.

O advogado Cláudio Pires, filho do meu saudoso amigo, Dr.
Moacir Pires.


2 comentários:

  1. Sou irmã do saudoso Luiz Vanderlei Lisboa gostaria de conversar com o Sr se for possível entrar em contato e um caso urgente desde já agradeço a atenção bom dia

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  2. Cara senhora. Não tenho como fazer contato. Peço que ligue para o telefone (019) 32323548 do escritório e deixe contato ou marque com Dna. Márcia, consulta. Obrigado.

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