Boa
noite, amigos.
Em imagem emprestada do site tudo com.vc., Beth abre os -
braços para cantar o seu samba, num gesto de simpatia e --
acolhimento. A mulher foi embora. Ficou o mito.
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Das
centenas e milhares de manifestações de famosos e anônimos nas redes sociais a
respeito da morte de Beth Carvalho, talvez a que melhor reflita o mérito da carreira de mais de meio século da consagrada
e respeitada cantora e compositora foi o pronunciamento de Marisa Monte, para quem Beth
conseguiu abrir caminho para as mulheres em meio a tantos bambas, num mundo essencialmente masculino como o do
samba. Deveras: Mulher culta da zona sul do Rio de Janeiro, consagrada numa edição do memorável Festival Internacional da Canção,
defendendo, ao lado dos Golden Boys, Andança, uma toada de Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, de 1.968, que caiu no gosto do público e entrou para antologia da MPB[1],
podia permanecer na zona de conforto da bossa nova, ritmo que ganhava prestígio
internacional na década de 60.
Apaixonou-se, porém, pelo samba, como já afirmara em inúmeras
reportagens, o samba urbano carioca, concebido e desenvolvido nos botequins da
periferia da cidade, na vida suburbana da cidade maravilhosa e, especialmente, nas favelas espalhadas pelos morros da cidade, onde o anonimato, a pobreza e a marginalidade escondiam o talento de sambistas que Beth encontrou,
cantou e patrocinou, trazendo seus sambas da melhor cepa para os meios de comunicação do
Brasil inteiro. Madrinha sim, madrinha foi o epíteto que mais se ouviu a seu
respeito. E eu complementaria afirmando que era uma fada. Uma fada madrinha que
nos presenteou com memoráveis sambistas que descobriu como Zeca Pagodinho,
Jorge Aragão, Dudu Nobre, Arlindo Cruz e outras celebridades do gênero. Foi a
maior e mais perfeita intérprete de Nelson Cavaquinho, incluindo o seu
belíssimo samba-canção, Folhas Secas, e deu vida, ajudando a popularizar a
poesia de Cartola, com a gravação de uma das dez mais lindas canções
brasileiras de todos os tempos, As Rosas Não Falam. Beth se impôs,
portanto, como lembra a genial Marisa Monte, como mulher e como profissional,
num tempo em que as mulheres não tinham espaço, nem eram reconhecidas
profissionalmente não só na música é verdade, mas em todos os setores da
atividade humana. Com ela o samba ficou também feminino, delicado, forte quando
precisou de força, suave quando a cantiga assim reclamava. Só para lembrar
alguns de seus sucessos que estão e permanecerão, por certo, na nossa, na sua e certamente na boca do povo: Andança
(1.969); Folhas Secas (Nelson Cavaquinho e Guilherme Brito); Pandeiro e Viola
(Gracia do Salgueiro); 1.800 Colinas (Gracia do Salgueiro); As Rosas Não Falam
(Cartola); Saco de Feijão (Chico Santana); Vou Festejar (Jorge Aragão, Neoci
Dias e Dida); Coisinha do Pai (Jorge Aragão, Almir Gurato e Luiz Carlos); A
Chuva Cai (Argemiro Patrocínio, Casquinha); Camarão que Dorme a Onda Leva (Beto
Inácio, Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz). Acompanhada da legião de amigos,
parentes e fãs, Beth foi velada hoje na sede do Botafogo, clube de sua
paixão e o seu velório se converteu numa imensa roda de samba, em que seus sucessos foram lembrados, como ela gostaria que fossem.
Até amigos.
[1]
Nos Karaokes da vida, Andança
sempre foi uma das músicas mais cantadas em grupo, por homens e mulheres dividindo as duas partes da canção (a feminina, interpretada por Beth, e a
masculina, pelos Golden Boys, um conjunto que ganhou destaque na década de 60 e
70). A música também foi e continua sendo lembrada e cantada nos encontros de família. Na minha, inclusive.
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